domingo, 8 de janeiro de 2017

OS MAGOS - EPIFANIA DO SENHOR

OS MAGOS - EPIFANIA DO SENHOR

“NÓS VIMOS A SUA ESTRELA NO ORIENTE, E VIEMOS PARA PRESTAR-LHE HOMENAGEM”. (Mt 2,2).

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Diácono Milton Restivo

No segundo domingo depois do Natal a Igreja celebra a festa da Epifania do Senhor.
Epifania, em grego, significa manifestação. Em várias ocasiões Jesus se manifesta e dá-se a conhecer a diferentes pessoas e de modos únicos.
Embora Jesus tenha se manifestado em diversos momentos a diferentes pessoas, a Igreja celebra como epifanias três eventos: a epifania aos magos (Mt 2,1-12); a epifania a João Batista no rio Jordão (Mt 3,13-15; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22; Jo 1,32-34), e a epifania a seus discípulos e começo de sua vida pública com o milagre em Caná (Jo 2,1-12).
Podem ser entendidas, também, como epifanias, o anúncio dos anjos aos pastores e a visita deles a Jesus recém-nascido na manjedoura (Lc 1,8-20) e a transfiguração de Jesus a três dos seus discípulos (Mt 17,1-8).
A primeira leitura desta liturgia evoca um dos trechos mais jubilosos do livro de Isaías, profetizando uma luz que brilhará sobre Jerusalém, o próprio Messias, e a visita de povos estrangeiros representados por altos mandatários ao “recém-nascido rei dos judeus”: “Levante-se, Jerusalém! Brilhe, pois chegou a sua luz, a glória de Yahweh brilha sobre você. [...] Sob a luz de você caminharão os povos, e os reis andarão ao brilho do seu esplendor. [...]... porque estarão trazendo para você os tesouros do além-mar, estarão chegando a vocês as riquezas das nações. Uma grande multidão de camelos a invade, camelos de Madiã e Efa; de Sabá vem todo mundo, ouro e incenso e o que trazem, e vêm anunciando os louvores de Yahweh.” (Is 60,1.3.5b-6). 
         O Salmo responsorial diz que o Messias vai “governar o seu povo com justiça e seus pobres conforme o direito” e faz uma previsão: “Que os reis de Tarsis e das ilhas lhe paguem tributos. Que os reis de Sabá e Seba lhe ofereçam seus dons. Que todos os reis se prostrem diante dele, e as nações o sirvam”. (Sl 71(72),2.8-10). Não foi isso que aconteceu na visita dos magos?
O Evangelho desta liturgia narra a segunda manifestação de Jesus, desta feita aos magos, homens sábios, vindos do Oriente e que haviam visto uma estrela diferente, que entenderam ser o prenúncio de um grande acontecimento, e a seguiram. Saíram de suas terras e vieram até onde estava o menino Jesus para adorá-lo: ”Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2).
Mais de mil anos antes do nascimento de Jesus o profeta Balaão já profetizara sobre essa estrela vista pelos magos: “Eu o verei, mas não agora; eu o contemplarei, mas não de perto; nascerá uma estrela de Jacó, levantar-se-á uma vara de Israel...” (Nm 24,17).
O profeta Isaías, seiscentos anos antes desses acontecimentos, com grande esplendor, também se manifesta e profetiza essa grande maravilha, a estrela de Belém, anunciando o nascimento do Messias: “recebe a luz, Jerusalém, porque chegou a tua luz, e a glória do Senhor nasceu sobre ti. Porque eis que as trevas cobrirão a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti nascerá o Senhor, a sua glória se verá em ti. As nações caminharão na tua luz, e os reis, ao resplendor de tua aurora.” (Is 60,1-3). E Isaías continua: “Então tu verás, estarás na abundância, o teu coração se espalhará e se dilatará fora de si mesmo, quando se voltarem para ti as riquezas do mar, e a fortaleza das nações vier ter contigo. Ver-te-ás inundada duma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e de Efa; todos virão de Sabá, trazendo-te ouro e incenso, e publicando os louvores do Senhor.” (Is 60,5-6). E Isaías não se cala: “Estarão sempre abertas as tuas portas; elas não se fecharão nem de dia nem de noite, a fim que te seja trazida a riqueza das nações e te sejam conduzidos os seus reis.” (Is 60,11). E, para que se cumprissem essas profecias, os magos, em terras longínquas, lá do Oriente, vêem uma estrela inusitada no céu que anunciava o nascimento de um grande rei e não tiveram dúvidas, colocaram-se a caminho para irem de encontro ao acontecimento esperado desde o início dos tempos e adorarem o Rei dos Judeus, o Rei dos reis que havia nascido.
As Sagradas Escrituras omitem-se quanto ao número de magos: poderiam ser dois ou cinco ou mais; a tradição optou pelo número três, possivelmente pelo número dos presentes que foram dados ao “Rei dos Judeus recém-nascido”: ouro, incenso e mirra.
Nos escritos sagrados também não é citada a nobreza que a tradição atribui a esses magos.
O Evangelista Mateus apenas se atém a chamá-los de “magos”, sem se preocupar quantos eram e o grau de dignidade ou importância que eles poderiam ter na sociedade ou nas terras de onde vieram. Nos sagrados escritos também é omitido o nome desses personagens, deixando-os no anonimato, mas, a partir do século VIII começaram a ser mencionados seus nomes, como sendo Melchior, Baltazar e Gaspar, sendo este último, negro, mas isso apenas nos é transmitido pela tradição. E assim o Evangelista Mateus nos narra a significativa visita dos magos a Jesus, após o seu nascimento: “Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos chegaram do Oriente a Jerusalém, dizendo: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Porque nos vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’” (Mt 2,1-2).
O Messias nasceu na penúria em Belém, cidade e casa do rei Davi; nasceu para a salvação de Israel e glória de Judá. Belém quer dizer: “casa do pão”, e ali nasceu “o pão da vida [...] o pão vivo que desceu do céu”. (Jo 6,35.41.51).
Mas nem Israel e nem Judá deram importância a esse acontecimento maravilhoso que fora predito, cantado e esperado por todos os profetas do Antigo Testamento.
Somente os pobres e humildes pastores vieram até ele, convidados que foram pelos anjos (Lc 2,8-13). Somente os pobres, humildes e oprimidos pastores chegaram até Jesus para adorá-lo no seu berço improvisado colocado num curral de animais. Ninguém mais... Israel, Judá, ou a cidade de Belém e de Jerusalém não se importaram e nem se alegraram com o nascimento do Salvador.
A salvação que ele veio trazer a todos os homens é oferecida a todos, mas somente é bem recebida aos que a procuram com o coração puro e sincero.
Quanto tempo depois de seu nascimento é que surgiram os magos? Não sabemos. Ninguém sabe, porque os Evangelhos não o citam. Pelos fatos que se seguiram, e pelas atitudes de Herodes, possivelmente, o menino Jesus estive com aproximadamente dois anos de idade.
Não vamos nos ater a isso; o importante é que, uma estrela diferente de todas as conhecidas até então, brilha no firmamento; uma estrela que já fora preconizada e antevista pelos profetas antes de Cristo. Todo o povo de Israel e todos aqueles que se diziam conhecedores das Sagradas Escrituras conheciam essas profecias e sabiam que, quando nascesse o Messias, o Salvador aguardado, alguma coisa de diferente aconteceria nos céus, pois os profetas Balaão e Isaías já haviam alertado sobre esse fenômeno, mas ninguém se importou com isso.
Alguns estrangeiros, os magos, a viram lá de longe, de muito longe de suas terras e sabiam que essa estrela tinha um significado todo especial e se propuseram a seguí-la, fosse para onde fosse, não se importando com a distância e nem com os contratempos que isso fosse acarretar.
E essa estrela conduziu os magos até a cidade de Belém.
Quando eles saíram de suas terras, qual o percurso que fizeram e quanto tempo caminharam? Não sabemos. O que sabemos é que os magos concluíram, através de seus estudos e meditações, que aquela estrela era o prenúncio de um grande acontecimento e que os céus abriram suas portas e a salvação havia chegado, e que o menino recém-nascido era o “Rei dos Judeus”, que nem os próprios judeus tinham conhecimento que havia nascido; o maior de todos os reis da terra e de todos os tempos, o Rei dos reis e, talvez por isso, os magos passaram primeiro no palácio do rei Herodes porque, imaginavam, um grande rei só poderia ter nascido num palácio real, e esta foi a primeira grande contradição que Jesus trouxe aos homens; ele, o Rei dos reis não nasceu em palácio mas em um humilde abrigo de animais à beira da estrada e na entrada da cidade.
Ao chegarem a Jerusalém, perguntaram: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2).
A chegada dos magos em Jerusalém com seu séquito provocou um grande alvoroço na cidade e na corte real. O rei Herodes ficou surpreso e, “ao ouvir isso, o rei Herodes turbou-se, e toda a Jerusalém com ele.” (Mt 2,3).
O rei Herodes, além de perturbado e surpreso, ficou também alarmado: como poderia ter nascido o rei dos judeus, se os judeus só tinham um rei que era ele próprio?
E a cidade de Jerusalém também ficou alarmada, porque conhecia o rei que tinha, que não pensaria duas vezes para provocar uma carnificina para afastar o perigo de seu trono ser tomado por um outro rei. Herodes sentiu-se ameaçado no seu poder e o seu trono estava ameaçado de ser usurpado por um inocente menino recém-nascido. Como isso poderia ter acontecido se ele, Herodes, o rei dos judeus, não havia sido notificado a respeito?
Herodes pressentiu seu trono ameaçado e abalado e isso Maria, a mãe de Jesus já havia prenunciado e cantado quando de sua visita à sua parenta Isabel: “Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso; depôs poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.” (Lc 1,51-52).
Herodes era um homem sanguinário; não hesitaria exterminar quem quer que fosse para preservar o seu trono; prova disso é que já havia mandado matar vários de seus palacianos, algumas esposas e até filhos seus. Então, Herodes “convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Messias. E eles disseram: “Em Belém de Judá, porque assim foi escrito pelo profeta (Mq 5,l): “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe, que apascentará Israel, meu povo.” (Mt 2,4-6).
Diante da notícia trazida pelos magos e de sua pergunta: “onde havia de nascer o Messias?”, Herodes, a princípio, fingiu curiosidade, humildade, submissão e alegria e muita fé e procurou tirar proveito daquela situação diante dos estrangeiros. Mandou chamar secretamente os magos para que lhe informassem onde pudesse localizar esse “pretenso rei” para que ele também fosse prestar-lhe homenagens, mas a sua intenção era outra: “Então Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela; e, enviando-os a Belém, disse: ‘Vão e informem-se bem acerca do menino, e, quando vocês o encontrarem, comuniquem-me, a fim de que eu o vá adorar.” (Mt 2,7-8).
E os magos partiram de Jerusalém à busca do “rei dos judeus”; “... e eis que a estrela que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando sobre o lugar onde estava o menino, (a estrela) parou. Vendo novamente a estrela, ficaram possuídos de grande alegria. E, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se, o adoraram.”  (Mt 2,7-11).
Onde encontraram o menino não era um palácio, como certamente esperavam, mas nem por isso se decepcionaram; prostraram-se e adoraram o menino no colo de sua mãe.
Por não ser um palácio, como esperavam, a fé e esperança deles não vacilaram e nem diminuíram um só pouquinho. Por inspiração divina sabiam que se encontravam na presença daquele que, nascido de mulher (cf Gl 4,4) e na mais extrema pobreza e desamparo, era o Rei, não só dos judeus, mas do Universo.
Entraram na casa e ali encontraram o menino com Maria, sua mãe e, tomados do mais profundo respeito e veneração, prostraram-se por terra e adoraram o menino, reconhecendo nele Deus e Salvador do mundo.
Com quem estava o menino? “Com Maria, sua mãe”.
O primeiro trono do Rei dos reis é o colo de sua mãe, e o Rei dos reis deve ser adorado no seu trono que é o símbolo da sua dignidade, e o trono do rei é inviolável porque, se for violado, depõe contra a majestade do rei e quem o difamar está sujeito a penalidades. Maria, a mãe do Rei dos reis é o trono por excelência do Rei Messias, Salvador do mundo, adorado pelos magos.
E os magos, “entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se, o adoraram.” (Mt 2,11), realizando assim as profecias de Isaías que, inspirado por Iahweh, disse e escreveu: “Os reis serão os que te alimentarão, e as rainhas as tuas amas; com o rosto inclinado até a terra te adorarão e lamberão o pó de teus pés. E saberás que eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que esperam em mim.” (Is 49,23), e “As nações caminharão à tua luz, e os reis, ao resplendor da tua aurora.” (Is 60,3).
E os magos, “abrindo seus tesouros, lhe ofereceram presentes de ouro, incenso e mirra.” (Mt 2,11). Isaías preconizara: “Então tu verás, estarás na abundância, o teu coração se espantará e se dilatará fora de si mesmo, quando se voltarem para ti as riquezas do mar, e a fortaleza das nações vier ter contigo. Ver-te-ás inundada duma multidão de camelos, de dromedários e de Efa; todos virão de Sabá trazendo-te ouro e incenso, e publicando os louvores do Senhor.” (Is 60,5-6).
O rei Davi, o grande rei, guerreiro e profeta, cantor e salmista, também inspirado pelo Espírito do Senhor, profetizou: “Os reis de Tarsis e as ilhas lhe oferecerão dons; os reis da Arábia e de Sabá lhe trarão presentes; e adorá-lo-ão todos os reis da terra, todas as nações o servirão, porque livrará o pobre do poderoso, e o indigente que não tem quem lhe valha.” (Sl 72 (71),10-13).          
Os magos, depois de se inclinarem por terra e adorarem o menino no colo de sua mãe, ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra. Esses presentes retratam um simbolismo todo especial.
O ouro é o símbolo dos reis, da majestade, do poder, da riqueza e glorifica a realeza divina de Jesus Cristo com um símbolo material; presenteando ao Senhor Jesus com ouro os magos reconhecem em Jesus o Rei dos reis, o Imperador de todas as nações.
O incenso é a homenagem e o reconhecimento da onipotência do Senhor Jesus. Através do ouro reconheceram em Jesus ”o homem”, a sua humanidade e através do incenso reconheceram a sua natureza divina, o Filho do Pai Eterno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
A mirra é uma planta do oriente de onde se extrai uma goma aromática que os antigos usavam para embalsamar os corpos de seus entes queridos falecidos; a mirra foi, portanto, um preito àquele que “Foi oferecido em sacrifício, porque ele mesmo quis, e não abriu a sua boca; como uma ovelha que é levada ao matadouro, como um cordeiro diante do que o tosquia, guardou silêncio e não abriu sequer a boca.” (Is 53,7).“Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas, ele mesmo carregou as nossas dores; nós o reputamos como um leproso, como um homem ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa das nossas iniquidades, foi despedaçado por causa dos nossos crimes; o castigo que nos devia trazer a paz caiu sobre ele, e nós fomos sarados com as suas pisaduras. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se extraviou por seu caminho; e o Senhor carregou sobre ele a iniquidade de todos nós.” (Is 53,4-6). A mirra foi um preito ao “Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), à Vítima que seria imolada, carregando no seu sacrifício supremo todos os pecados do gênero humano.
O ouro, o incenso e a mirra são o símbolo do amor, da oração e da morte.
A estrela que brilhou e levou os magos até onde estava o Menino Deus continua brilhando para nós, ainda hoje, e para todo o sempre; essa estrela é a nossa consciência que, cada vez que praticamos o bem e respeitamos o próximo, nos leva até Jesus e, ao contrário, quando descumprimos os mandamentos do Senhor ela se apaga e desaparece...
Os magos são para nós o maior exemplo de fé e perseverança.
Não sabemos exatamente de onde vieram os magos, mas de uma coisa temos certeza: eles vieram de muito longe, de tão longe que o Senhor Nosso Deus os equipou de um guia especial: uma estrela diferente brilhando no firmamento para orientá-los nessa longa jornada e conduzi-los e orientá-los até onde estava o Messias, e eles tinham certeza que, seguindo aquela estrela encontrariam o Rei dos Reis, a Salvação.
Não desistiram. Não sabemos por quanto tempo, mas caminharam até encontrar o “Rei dos judeus” anunciado em todo o Antigo Testamento. Tiveram fé, acreditaram e encontraram a Salvação. Não se intimidaram com o sanguinário Herodes: “E, avisados por Deus em sonhos para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra.” (Mt 2,12).
A atitude de rancor, histeria e ímpeto sanguinário de Herodes ao se ver ludibriado pelos magos, tomamos conhecimento por Mateus: “Então Herodes, vendo que tinha sido enganado pelos magos, irou-se em extremo, e mandou matar todos os meninos, que haviam em Belém, e em todos os seus arredores, da idade de dois anos para baixo, segundo a data  que tinha averiguado dos magos.” (Mt 2,16), isso numa tentativa extremamente criminosa e desesperada de que, no meio dos meninos com menos de dois anos de idade que fossem sacrificados em Belém e na redondeza, à espada, estivesse também o “Rei dos Judeus recém-nascido”.
Tristemente mais uma profecia é cumprida: “Isto diz o Senhor: foram ouvidas no alto vozes de lamentação, de pranto e de choro, são de Raquel, que chora os seus filhos e não quer ser consolada acerca deles, porque já não existem.” (Jr 31,15).
Que triste ironia: os magos vêm de longe para adorarem e proclamarem o nascimento do Messias e partem, deixando atrás de si um rastro de sangue inocente, desolação, morte e desespero provocado pela ganância, sede de poder e autoritarismo de um débil mental que não mediu consequências para se manter no poder...
Outras coisas desse acontecimento poderão passam-nos despercebidas e até julgamos que servem apenas para enfeitar a narrativa dos Evangelistas, tornando-as até românticas e, na maioria das vezes, não nos preocupamos em parar para refletir os seus verdadeiros significados.
Na passagem, por exemplo, dos magos do Oriente que vieram adorar o Menino Deus, deparamos-nos com uma estrela: “... nós vimos a sua estrela no oriente...” (Mt 2,2).
Essa estrela para nós, à primeira vista, não passa de uma coisa romântica e poética, que serve apenas para deixar a narrativa mais bonita, mais emocionante.
Os magos deixaram a sua terra, saíram de seus países porque viram uma estrela diferente que lhes chamou a atenção e, através de seus estudos sabiam que aquela estrela indicava que a Boa Nova prometida aos homens em todo o Antigo Testamento e desde a criação do mundo havia chegado e a estrela, luzindo no firmamento, os convidava para irem ao seu encontro. E eles partiram de onde estavam à busca dessa Boa Nova.
A estrela de Belém tem um papel preponderante no contexto evangélico.
Mateus cita essa estrela que permaneceu cintilante até o encontro dos magos com o Menino e não mais se referencia a ela na volta dos magos para as suas pátrias. Quando encontram o Menino com sua mãe a estrela simplesmente desaparece porque já havia cumprido a sua missão: a de levar até Jesus Cristo homens sedentos da verdade, ansiosos da Boa Nova e com os corações cheios de fé e, depois desse encontro, preocupados em mudar de vida e de mentalidade.
Essa estrela é o símbolo do cristão autêntico. A estrela, simplesmente, trouxe os magos até onde estava Jesus. Essa foi a sua função.
Os cristãos têm por função fundamental a de levar todos os homens até onde está Jesus e apresentá-los a ele, e depois, sair de cena... Essa é a função do cristão, a exemplo de João Batista: “Esta é a minha alegria, e ela é muito grande. É preciso que ele cresça e eu diminua”. (Jo 3,29b-30). A estrela brilhou na escuridão e se destacou dentre todas as demais que haviam no céu e jamais se perdeu em qualquer constelação mas sempre se manteve em evidência para que os magos não a perdessem de vista em hipótese alguma. Assim também deve ser o cristão: brilhar na escuridão do mundo e ser refratário ao pecado, sem contaminar-se; destacar-se entre todos os homens porque o cristão é alguém diferente, é alguém escolhido para viver uma vida nova, única e diferente.
O cristão não pode deixar-se perder no emaranhado das idéias errôneas e doutrinas falsas que tentam levar os homens para caminhos diferentes daqueles que conduzem até Belém, onde está Jesus.    O cristão, como a estrela de Belém, deve sempre manter-se em evidência, viver uma vida diferente daquela que os homens do mundo levam; uma vida de testemunho de quem acredita que aquele que nasceu num curral de animais é verdadeiramente “o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36), “o Filho de Deus que se fez homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus”, como disse Agostinho de Hipona. O cristão, como a estrela de Belém, não é um anônimo no meio da multidão, mas alguém que brilha na escuridão para indicar a todos os homens de boa vontade o caminho que leva até Jesus Cristo. O cristão, como a estrela de Belém, tem a função de levar todos os homens a adorarem Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, nascido de uma virgem por obra e poder do Espírito Santo (Lc 1,31).
O brilho do cristão deve ser o seu modo de vida porque é vivendo como verdadeiros seguidores de Jesus Cristo que se destaca no meio de todos os homens e, através desse brilho que vem do alto todos os homens possam vê-lo e identificá-lo no meio da multidão e da escuridão do mundo, e possam seguí-lo pelo “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6) que é Jesus Cristo.
Os magos, ao adorarem o Menino Deus, fizeram ver ao mundo que a estrela havia cumprido a sua missão e, a partir daquele momento desaparecido de cena.
O cristão, como a estrela de Belém, depois de conduzir todos à presença do Divino Mestre, deve também sair de cena para que somente apareça Jesus Cristo e somente Jesus Cristo seja colocado em evidência na vida de todos os homens, como fez João Batista ao apontar a dois de seus discípulos Jesus que passava: “No outro dia João lá estava novamente com dois de seus discípulos e, vendo Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. Ouvindo as suas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus.” (Jo 1,35-36). Os dois discípulos, apresentados a Jesus por João, seguiram a Jesus e, a partir daí, João Batista saiu de cena, como aconteceu com a estrela de Belém e como deve ser todos os cristãos autênticos: “É preciso que ele cresça e eu diminua”. (Jo 3,30).

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