domingo, 19 de fevereiro de 2017

VII DOMIGO DO TEMPO COMUM

“SEJAM PERFEITOS COMO É PERFEITO O PAI DE VOCÊS QUE ESTÁ NO CÉU”.
(Mt 5,48)

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Diácono Milton Restivo

Desde o quarto domingo do Tempo Comum o Evangelho lido na liturgia aborda os ensinamentos de Jesus proferidos no monte das bem-aventuranças, numa sequência lógica, e assim irá continuar até o nono Domingo do Tempo Comum.
O sermão da montanha trata dos ensinamentos básicos para o seguimento a Jesus, ou seja, para que os seus discípulos “sejam perfeitos como é perfeito o Pai que está nos céus”. (Mt 5,48).
A liturgia de hoje foca essa perfeição e, na primeira leitura, “Yahweh falou a Moisés: ‘Diga a toda a comunidade dos filhos de Israel: Sejam santos, porque eu, Yahweh, o Deus de vocês sou santo”. (Lv 19,1) como já havia dito a esse mesmo povo, anteriormente, em outra oportunidade: “E vocês foram santificados e se tornaram santos, porque eu sou santo [...] Eu sou Yahweh, que os tirei do Egito, para ser o Deus de vocês: sejam santos porque eu sou santo” (Lv 11,44.45), e diria mais tarde: “Sejam santos para mim, porque eu, Yahweh, sou santo. Eu separei vocês de todos os povos para que vocês pertençam a mim”. (Lv 20,26).
Essa ordem de o povo de Israel ser santo como Yahweh é santo, foi determinada pelo próprio Yahweh a Moisés.
No Evangelho de hoje Jesus repetirá essa ordem aos seus discípulos: “sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está nos céus”. (Mt 5,48).
Na sua carta, Pedro reforça essa ordem, transmitindo-a à Igreja de Jesus Cristo daquele tempo e também para a Igreja, do mesmo Cristo, do terceiro milênio: “Assim como é santo o Deus que os chamou, também vocês tornem-se santos em todo o comportamento, porque a Escritura diz: ‘sejam santos porque eu sou santo.”. (1Pd 1,15-16).
Paulo, Apóstolo, assimilou de tal maneira e com perfeição essa chamada para a santidade, e escreve aos tessalonicenses: “Deus não nos chamou para a imoralidade, mas para a santidade. Portanto, quem despreza essas normas, não despreza um homem, mas o próprio Deus, que dá o Espírito Santo para vocês” (1Ts 4,7-8).
Mas, o que é ser santo? 
      Santo é o oposto de pecador, de impuro. Onde impera a santidade não tem espaço para o pecado, para a violência, para a discriminação, para os desvarios do desejo da carne.
Ser santo é ser afastado, separado do impuro, do profano: “Isso para que vocês possam distinguir entre o sagrado e o profano, entre o impuro e o puro...” (Lv 10,10).
No Antigo Testamento Yahweh é o Santo dos Santos, três vezes santo: “Santo, Santo, Santo é Yahweh dos exércitos, a sua glória enche toda a terra” (Is 6,3; Apo 4,8), dito que a Igreja proclama em todas as celebrações da Santa Missa na Oração Eucarística e antes da consagração.
Nas Sagradas Escrituras quando a mesma palavra é repetida simultaneamente por três vezes, é como se a tivesse elevada ao superlativo: Santíssimo, infinitamente Santo; e isso é Yahweh: Santo, Santo, Santo - Santíssimo.
Yahweh é o modelo de santidade para todo o seu povo: “sejam santos porque eu sou santo” (Lv 11,45); “sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está nos céus”. (Mt 5,48).
Deus é a fonte da santidade. Toda santidade vem de Deus.
A santidade de Deus torna-se modelo e critério para a santidade do homem. Yahweh exige essa santidade como um Deus ciumento: “Porque Yahweh, seu Deus, é um Deus ciumento que mora no meio de você” (Dt 4,24; 6,15; Js 24,19).
No Novo Testamento Jesus diminui a distância que existia entre Yahweh e o homem, e o chama de “Pai Santo”, e intercede para que o Pai Santo santifique os seus discípulos: “Santifica-os na verdade” (Jo 17,11.17).
A santidade não é privilégio de ninguém; a santidade é obrigação de todo cristão, de todo batizado e, por isso, Yahweh determina: “sejam santos porque eu sou santo” (Lv 11,45) e Jesus ratifica: “sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está nos céus”. (Mt 5,48).
A santidade é possível e acessível a todos.
Quando perguntaram à Teresa de Calcutá se era difícil ser santo, ela respondeu: “Ser santo não é fácil e nem difícil. Ser santo é obrigação de todo cristão”.
Teresinha do Menino Jesus inaugurou um novo caminho, uma nova via para a santidade, um atalho para a santidade, que ela chama de “uma pequena via bem direita, bem curta, uma pequena via inteiramente nova”.
Apesar de Teresinha se dizer pequena: “Eu sou pequena demais para subir a rude escada da perfeição”, ela supera a sua pequenez para alcançar a santidade: “Posso, apesar de minha pequenez, aspirar à santidade” e acabou sendo um dos maiores exemplos de santidade que temos na nossa Igreja e, para isso ela nos dá a receita: “Sempre desejei ser santa, mas - pobre de mim! - sempre constatei, ao me comparar com os santos, que entre eles e eu existe a mesma diferença que há entre uma montanha cujo cume se perde nos céus e o grão de areia obscuro pisado pelos transeuntes. Longe de desanimar, disse a mim mesma: ‘O bom Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis. Logo, apesar de minha pequenez, posso aspirar a santidade. Tornar-me grande, é impossível; devo, pois, me suportar tal como sou, com todas as minhas imperfeições, mas quero procurar um meio de ir ao Céu por uma pequena via bem direita, bem curta, uma pequena via inteiramente nova’”.
Teresinha do Menino Jesus, que morreu ainda jovem, com apenas vinte e quatro anos de idade, tornou-se um símbolo popular nos tempos modernos, porque defendia que a santidade pode ser alcançada por toda e qualquer pessoa, mesmo que “seja obscura, humilde, sem talento e comum, por meio de pequenos atos e pelo desempenho das obrigações diárias num aperfeiçoado espírito de amor a Deus”.
Teresinha revela o caminho da santidade: “Guardar a palavra de Jesus, eis a única condição de nossa felicidade”.
Santo Antonio de Pádua dizia que: “Quem não pode fazer grandes coisas, faça ao menos o que estiver na medida de suas forças; certamente não ficará sem recompensa”.
Jesus alerta a quem descuida de buscar a santidade: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que pode o homem dar em troca de sua vida? Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta” (Mt 16,26-27). Jesus não poderia ter sido mais explícito.
Paulo diz que é santo quem se aproxima da medida da estatura completa de Cristo: “A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude do Cristo” (Ef 4,13).
O escritor da carta aos hebreus aconselha: “Procurem estar em paz com todos. Progridam na santidade, porque sem ela ninguém verá o Senhor. Vigiem para que ninguém abandone a graça de Deus. Que nenhuma raiz venenosa cresça no meio de vocês, provocando perturbação e contaminando a comunidade” (Hb 12,14-15).
Pedro diz que é possível ser santo em toda e qualquer a maneira honesta de viver: “Assim como é santo o Deus que os chamou, também vocês tornem-se santos em todo o comportamento, porque a Escritura diz: ‘sejam santos porque eu sou santo.”. (1Pd 1,15-16).
Muita gente confunde santidade com beatice no sentido pejorativo.
Existem muitos beatos e beatas que praticam a beatice na nossa Igreja e estão longe de serem santos, mas existem poucos santos na expressão exata da palavra.
Não é dentro da Igreja como templo que faz o cristão ser santo, mas é aquilo que ele coloca em prática fora da Igreja daquilo que ele foi fortalecido pela Palavra e pela Eucaristia que o faz ser santo. É no meio dos irmãos que se coloca em prática a santidade, considerando o que Jesus disse: “Em verdade eu lhes digo: todas as vezes que vocês fizeram a um desses pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que vocês fizeram” (Mt 25,40). Dentro da Igreja fortalecemos a nossa fé e robustecemos a nossa espiritualidade. Fora da Igreja exercitamos a santidade.
Ser santo é ser honesto com Deus, consigo mesmo e com os irmãos.
Paulo, Apóstolo, ensina e transcreve para os efésios o “b-a-ba” para a santidade: “Vocês devem deixar de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade. Por isso, abandonem a mentira: cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Vocês estão com raiva? Não pequem; o sol não se ponha sobre o ressentimento de vocês. Não dêem ocasião ao diabo. Quem roubava, não roube mais; ao contrário, ocupe-se trabalhando com as próprias mãos em algo útil, e tenha assim o que repartir com os pobres. Que nenhuma palavra inconveniente saia da boca de vocês; ao contrário, se for necessário, digam boa palavra que seja capaz de edificar e fazer o bem aos que a ouvem. Não entristeçam o Espírito Santo, com que Deus marcou vocês para o dia da libertação. Afastem de vocês qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e todo tipo de maldade. Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou a vocês em Cristo”. (Ef 4,22-32).
Para os colossenses Paulo também indica o caminho da santidade: “Façam morrer aquilo que em vocês pertence à terra: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir que é uma idolatria. [...] Agora, porém, abandonem  tudo isso: ira, raiva, maldade, maledicência e palavras obscenas que saem da boca de vocês. Não mintam uns para os outros. [...] Como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência. Suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente, sempre que tiverem queixa contra alguém. Cada um perdoe o outro, do mesmo modo que o Senhor perdoou vocês. E acima de tudo,vistam-se com o amor, que é o laço da perfeição” (Cl 3,5.8-9.12-14).
Não é tão difícil ser santo ou, pelo menos, ser honesto como possa parecer; é só ter boa vontade e amor no coração. Para viver a santidade em Jesus Cristo não há a necessidade de se isolar do mundo ou se afastar dos irmãos; muito pelo contrário, a santidade se manifesta na vida e no relacionamento do quotidiano, conforme disse Paulo aos corintios: “Dirigimo-nos àqueles que foram santificados em Jesus Cristo e chamados a ser santos, juntamente com todos os que invocam em todo lugar o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Cor 1,2).
Porém, não é suficiente deixar de viver a vida passada, a vida do homem velho; é necessário assumir com responsabilidade a vida nova e se revestir do homem novo: “Vocês devem deixar de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade. (Ef 4,22).
Na segunda leitura desta liturgia Paulo escreve aos corintios, exortando-os à santidade: “Vocês não sabem que são templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vocês? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo, e esse templo são vocês” (1Cor 3,16-17).
Na continuação do sermão da montanha que abordamos no Evangelho da liturgia deste domingo, Jesus se preocupa com a santificação do povo de Deus.
Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, mas o homem se afastou da semelhança de Deus porque deixou de ser santo como Deus é santo. Enquanto Adão e Eva eram puros, eles permaneciam na presença de Deus; depois que desobedeceram ao Senhor tiveram vergonha de olhar nos olhos de Deus e se esconderam quando da aproximação do Senhor (cf Gn 3,6-11).
O homem só pode estar na presença de Deus se for puro.
A santificação do homem é obra da Trindade.
O homem é santificado pelo Pai: “Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que dêem mais fruto ainda” (Jo 15,1-2).
O homem é santificado pelo Filho: “É por causa dessa vontade que nós fomos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,10).
O homem é santificado pelo Espírito Santo: “Sou ministro de Jesus Cristo entre os pagãos e a minha função sagrada é anunciar o Evangelho de Deus, a fim de que os pagãos se tornem oferta aceita e santificada pelo Espírito Santo” (Rm 15,16); “Alguns de vocês eram assim. Mas vocês se lavaram, foram santificados e reabilitados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito Santo” (1Cor 6,11).
Mateus, nessa passagem do Evangelho, mostra que os israelitas haviam se afastado daquilo que Yahweh havia programado para eles: a santidade. Por isso Jesus repete com frequência: “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos... eu, porém, lhes digo...”. (Mt 5,21.27.31.33.38.43).
Aos antigos fora ensinada a lei do “olho por olho e dente por dente” e Jesus ensina a lei do amor, da caridade, da fraternidade, do desprendimento, da doação (cf Mt 5,38-42).
Aos antigos ensinava-se amar o próximo e odiar o inimigo e vem Jesus ensinar que devem amar seus inimigos e aqueles que os perseguem, porque são todos filhos do mesmo Pai do céu, “que faz nascer o sol sobre os maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (cf Mt 5,42-46). E Jesus termina esse trecho exortando a todos à santidade: “sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está nos céus”. (Mt 5,48).
Da mesma maneira que Paulo exorta para a santidade, dá o destino aos que não vivem a vida esperada por Deus, a vida do amor, da honestidade, da santidade: “Vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se iludam! Nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os caluniadores irão herdar o Reino de Deus. Alguns de vocês eram assim. Mas vocês se lavaram, foram santificados e reabilitados pelo nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1Cor 6,9-11).
E, a respeito do destino daqueles que se negam à santidade, o livro do Apocalipse é taxativo e não deixa espaço para dúvidas: “Quanto aos covardes, infiéis, corruptos, assassinos, imorais, feiticeiros, idólatras, e todos os mentirosos, o lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte” (Apo 21,8).
Deus quer um povo santo e providenciou, através de Jesus Cristo, o meio de purificar os pecadores para servirem-no.
Os cristãos são o povo santo de Deus: “Do mesmo modo, vocês também, como pedras vivas, vão entrando na construção do templo espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo” (1Pd 2,5).
Aqueles que se dizem ser seguidores de Jesus Cristo deverão conduzir-se como um povo santificado e purificado da impureza do mundo.

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