domingo, 5 de fevereiro de 2017

“VOCÊS SÃO O SAL DA TERRA... VOCÊS SÃO A LUZ DO MUNDO”. (Mt 5,13.14).

V DOMINGO DO TEMPO COMUM

“VOCÊS SÃO O SAL DA TERRA... VOCÊS SÃO A LUZ DO MUNDO”. (Mt 5,13.14).

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Diácono Milton Restivo

A liturgia de hoje versa sobre dois elementos básicos que, sem eles, o homem não teria condições de uma vida confiável, confortável e saudável: o sal e a luz.
O profeta Isaias, na primeira leitura, apela para a misericórdia, à sensibilidade e à generosidade de coração: “repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente” (Is 58,7), o que nos recorda aquilo Jesus diria mais tarde quando se referia ao fim dos tempos: “eu estava com fome e vocês me deram de comer; eu estava com sede e me deram de beber; eu era estrangeiro e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa e me vestiram; eu estava doente e cuidaram de mim; eu estava na prisão e vocês foram me visitar”. (Mt 25,35-36). 
Como é interessante a semelhança entre essas duas passagens. Isaias diz que, “se você fizer isso, a sua luz brilhará como aurora, suas feridas vão sarar rapidamente, a justiça que você pratica irá à sua frente e a glória de Yahweh virá acompanhando você. Então você clamará, e Yahweh responderá; você chamará por socorro, e Yahweh responderá: ‘Eis-me aqui’”. (Is 58,8-9a). E Isaias já dissera: “... se você der o seu pão ao faminto e matar a fome do oprimido. Então a sua luz brilhará nas trevas e a escuridão será para você como a claridade do meio dia.” (Is 58,1).
O profeta Isaias relaciona a vinda do Messias com a luz que iluminará o mundo: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso” (Is 9,1).
Na primeira leitura Isaias diz que quem usar da caridade para com o próximo necessitado e oprimido, “a sua luz brilhará como aurora... a sua luz brilhará nas trevas”, e Jesus diz que, quem fizer isso, irá de encontro dele próprio, Jesus, que á a luz por excelência: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida” (Jo 8,12). 
     Um dia Jesus dirá aos misericordiosos: “Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo” (Mt 25,34).
Isaias é explícito quando afirma que a verdadeira luz que deve iluminar o mundo é Yahweh, cuja luz se manifestou esplendorosamente no Messias, no Filho de Deus: “O sol não será mais a luz do seu dia, e de noite não será a lua a iluminá-la; o próprio Yahweh será para você uma luz permanente, e o seu Deus será o seu esplendor. O sol dela jamais vai se por, e a sua lua não terá mais minguante, pois o próprio Yahweh será para você uma luz permanente”. (Is 60,19-20).
Os israelitas que caminhavam no deserto à busca da liberdade desfrutaram dessa luz para protegê-los, iluminá-los e direcioná-los à Terra Prometida: “Yahweh ia na frente deles: de dia, numa coluna de nuvens, para guiá-los; de noite, numa coluna de fogo para iluminá-los”.(Ex 13,21).
O salmista encontra repouso em Yahweh, que é a luz: “Pois em ti se encontra a fonte da vida e com a tua luz nós vemos a luz”. (Sm 36,10).
O Apóstolo João, na sua primeira carta, afirma que Deus é luz, quando relata uma mensagem ouvida por ele do próprio Jesus: “Esta é a que agora lhes anunciamos: Deus é luz e nele não há trevas. Se dizemos que estamos em comunhão com Deus e, no entanto, andamos em trevas, somos mentirosos e não pomos em prática a Verdade. Mas, se caminhamos na luz, como Deus está na luz, estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1,5-7).
O Evangelho desta liturgia leva-nos de volta ao Sermão da Montanha, que é um código de conduta que continua a ser a base da moralidade cristã.
O Sermão da Montanha é extraordinário pelo fato de que engloba todo o Evangelho e resume tudo o que é de mais importante para o cristão, o que ele deve saber e fazer.
A leitura desta liturgia é a sequência imediata do que deveria ter sido lido no domingo passado quando deveriam ter lidas e meditadas as bem-aventuranças.
Depois de dizer quem são bem-aventurados, Jesus diz o que são os bem-aventurados, usando de metáforas: “Vocês são o sal da terra. [...] Vocês são a luz do mundo”. (Mt 5,13.14).
Jesus, através das metáforas de sal e de luz, deixa claro a enorme força do testemunho e a importante função dos discípulos, especialmente dos pregadores que é, sobretudo, preservar e proteger a humanidade contra as influências malignas da corrupção e da maldade - a função do sal - e ajudar a humanidade a conhecer, através da sua fé e seu bom exemplo iluminadores, o caminho da salvação - a função da luz -.
O sal em si não tem qualquer valor. Sozinho não é alimento, não tem outra serventia que não seja a de ressaltar o sabor dos alimentos. O sal é indispensável à vida e, no entanto, em excesso é danoso. Sem o sal, não seria possível estocar uma série de alimentos em um mundo sem geladeiras.
A palavra salário, aliás, surgiu a partir da porção de sal que era dada como pagamento aos soldados na Roma antiga. Daí vem a palavra “salário”: porção de sal paga por trabalho prestado.
Ao descobrir que o sal, além de ajudar na cicatrização das feridas ocasionadas no combate, servia para conservar e dar sabor à comida, os romanos passaram a considerá-lo um alimento divino, uma dádiva de Salus, a deusa da saúde.
O sal é para temperar e conservar alimentos. O sal é para dar sabor aos alimentos.
Um alimento sem sal é um alimento insosso, sem sabor e desagradável ao paladar e péssimo para degustar. O sal é usado para que os alimentos tenham mais durabilidade e para evitar que os alimentos entrem rapidamente em processo de decomposição. Por conservar os alimentos e lhes dar sabor, cor e valor, o sal tornou-se um símbolo de preciosidade e perpetuidade, desempenhando um papel importante nos ensinamentos de Jesus. Por isso Jesus diz que seus discípulos são o sal da terra, isto é, dar valor e sabor à vida, à existência, ao mundo.
Se o mundo anda tão insosso, tão sem sabor e tão desagradável é porque o cristão deixou de ser sal, deixou de ter sabor e de dar sabor à vida e ao mundo, e o sal com essa qualidade “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e pisado pelos homens” (Mt 5,13b); “O sal é bom. Mas se até o sal perde o sabor, com que salgaremos? Não serve mais para nada: nem para a terra, nem para o esterco. Por isso é jogado fora” (Lc 14,34-35).
Se o sal perde o sabor, perde também a função. Por isto Mahatma Ghandi afirmou que “acredita no Cristo, mas não no cristianismo” porque ele, mais do que ninguém, sentiu na pele e na vida a falta de sal do cristianismo do seu tempo. Mudou alguma coisa hoje?
Dizendo aos seus discípulos que eles são “o sal da terra”, Jesus atribui a eles o símbolo da sabedoria e da pureza moral: “Tenham o sal em vocês, e estejam em paz uns com os outros” (Mc 9,50b).
Paulo assimilou tão bem o ensinamento de Jesus de ser sal da terra que o transformou em obrigação de viver e transmitir o Evangelho, dedicando-se inteiramente à evangelização, temperando o mundo com o Evangelho de Jesus: “Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho. [...] Qual é então o meu salário? É que, pregando o Evangelho, eu o prego gratuitamente, sem usar dos direitos que a pregação do Evangelho me confere” (1Cor 9,16.18); “Mas de modo algum considero a minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e o serviço que recebi do Senhor Jesus, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus” (At 20,24).
Jesus disse também: “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5,14).
Quem poderia definir o que seja “luz”? Se buscarmos nos dicionários encontraremos as mais diversas definições e sentidos e, com certeza, todas estariam certas.
Em primeira instância, luz é a claridade que o sol espalha sobre a terra.
A primeira atitude do Criador na criação do mundo foi que existisse luz: “No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas. Deus disse: ‘Que exista a luz’” (Gn 1,1-2).
Só existiam trevas, e Deus fez a luz. Sem esse elemento o homem viveria em perpétua escuridão. A falta de luz causa dificuldades e desastres; por isso escuridão é sinônimo de calamidade: “Eu esperava a felicidade, mas veio a desgraça; eu esperava a luz, mas veio a escuridão” (Jó 30,26).
No Antigo Testamento a luz tornou-se um elemento de salvação messiânica: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso” (Is 9,1); “Se você fizer isso, a sua luz brilhará como a aurora, suas feridas vão sarar rapidamente, a justiça que você pratica irá à sua frente e a glória de Yahweh virá acompanhando você” (Is 58,8). As coisas ruins, a violência e a maioria dos pecados ocorrem na escuridão. É na escuridão que agem os ladrões, é na escuridão que se cometem os maiores pecados!
A escuridão esconde o crime para os olhos dos homens: “Outros são rebeldes à luz, não conhecem os caminhos de Deus nem frequentam suas estradas. De madrugada, o assassino se levanta para matar o pobre e o indigente. Durante a noite, o ladrão ronda, cobrindo o rosto com uma máscara. O olho do adúltero aguarda o anoitecer, pensando: ‘Ninguém me verá’. Na escuridão eles arrombam as casas, enquanto de dia se escondem aqueles que não querem nada com a luz” (Jó 24,13-16).
A oposição entre luz e trevas tem, no Novo como no Antigo Testamento, um fundamento moral, e a luz põe fim ao reino das trevas: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que acredita em mim não fique nas trevas” (Jo 12,46); “Vocês, porém, são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas daquele que chamou vocês das trevas para a luz maravilhosa” (1Pd 2,9).
É na luz que desponta a sabedoria e o conhecimento: “Amei a sabedoria mais do que a saúde e a beleza, e resolvi tê-la como luz, porque o brilho dela nunca se apaga” (Sb 7,10).
Aquele que, por palavras ou obras, cooperar para difundir essa luz, como por exemplo, o Servo de Yahweh, é chamado também uma luz: “Eu, Yahweh, chamei você para a justiça, tomei-o pela mão, e lhe dei forma, e o coloquei como aliança de um povo e luz para as nações. Para você abrir os olhos aos cegos, para tirar os presos da cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro. Eu sou Yahweh: esse é o meu nome” (Is 42,6-8a).
No Novo Testamento Mateus repete a profecia de Isaias quando, metaforicamente, anuncia a presença do Messias no meio do povo: “O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz: e uma luz brilhou para os que viviam na região escura da morte” (Mt 4,16; Is 8,12).
Na sua carta, João diz qual é o caminho do cristão: “Esta é a que agora lhes anunciamos: Deus é luz e nele não há trevas. Se dizemos que estamos em comunhão com Deus e, no entanto, andamos em trevas, somos mentirosos e não pomos em prática a Verdade. Mas, se caminhamos na luz, como Deus está na luz, estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1,5-7).
A existência da luz no mundo tem a força de um julgamento: “O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal tem ódio da luz, e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam desmascaradas. Mas, quem age conforme a verdade se aproxima da luz, para que suas ações sejam vistas, porque são feitas como Deus quer” (Jo 3,19-21); “Porém, tudo o que é denunciado, torna-se manifesto pela luz, pois tudo o que se torna manifesto é luz. É por isso que se diz: ‘Desperte você que está dormindo. Levante-se dentre os mortos, e Cristo o iluminará” (Ef 5,13-14).
O Apóstolo João vai ao extremo, como todo e qualquer cristão deveria ir, ao afirmar: “Caríssimos, não lhes comunico um mandamento novo, mas o mandamento antigo, esse mesmo que vocês receberam desde o princípio. O mandamento antigo é a palavra que vocês ouviram. E, no entanto, o mandamento que lhes comunico é novo – pois ele é verdadeiro em Jesus e em vocês – porque as trevas já estão se afastando, e a verdadeira luz já está brilhando. Quem afirma que está na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião de tropeço” (1Jo 2,7-10).
No seu discurso Jesus afirma que o sal que perde o sabor torna-se imprestável e é jogado no lixo e que a luz escondida é inútil: “Se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. [...] Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa” (Jo 5,13b.15).
No batismo o batizando degusta o sal e é colocada em sua mão uma vela acesa e isso para lembrá-lo, para o resto da vida que, pelo batismo, ele se tornou sal e luz do mundo.
O cristão deve dar sabor aos relacionamentos, à sua vida e de todos os que o rodeiam e principalmente deve ser o elemento que protege a família, os amigos e a sociedade da corrupção e do pecado. Através do seu exemplo e de sua vivência cristã, o cristão deve ser o elemento que transforma e destaca o sabor da vida e que conserva em perfeito estado, sem pecado e sem corrupção as vidas de quem o rodeia, daqueles com quem convive em casa, no trabalho, no clube, na igreja e em todos os ambientes da sociedade.
O cristão deve ser fiel à sua missão e não pode perder jamais sua função de sal da terra, pois assim como Jesus disse no evangelho: se o sal perder seu sabor, se ficar insosso não servirá para mais nada além de ser jogado à terra e ser pisado pelos homens.
A força do cristão vem dos ensinamentos de Jesus: quando não se segue a palavra perde-se o sabor e a finalidade da vida, tornando-se inútil para a missão para a qual foi destinado e acabará sendo jogado ao chão do mundo e pisado pelos inimigos da fé!
Por que o mundo está tão insosso, tão sem sabor, tão desmotivado para as coisas do céu? É porque os cristãos deixaram de ser sal.
Por que o mundo anda tão violento, a discriminação impera, a justiça passa ao longe, a moral e a ética perderam o sentido, o respeito mútuo deixou de existir? Por que o mundo anda nas trevas? É porque os cristãos deixaram de ser luz.
Seria oportuno transcrever aqui parte da homilia de João Paulo II por ocasião de sua visita apostólica ao México e aos Estados Unidos: “Infelizmente, hoje demasiadas pessoas vivem distante da luz - num mundo de ilusões, de sombras fugazes e de promessas não mantidas. Se olhardes para Jesus, se viverdes a Verdade que é Jesus, tereis em vós a luz que revela as verdades e os valores sobre os quais podeis construir a vossa própria felicidade, enquanto edificareis um mundo de justiça, de paz e de solidariedade. Recordai o que Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo; quem me seguir não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida” (cf. Jo 8, 12). Uma vez que Jesus é a Luz, também nós nos tornamos luz quando O proclamamos. Este é o cerne da missão cristã à qual cada um de vós foi chamado através do Batismo e da Confirmação. Sois chamados a fazer com que a luz de Cristo brilhe esplendidamente no mundo”.

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