domingo, 11 de junho de 2017

SANTÍSSIMA TRINDADE

“A GRAÇA DO SENHOR JESUS CRISTO, O AMOR DO PAI, E A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO ESTEJAM COM TODOS VOCÊS”. (2Cor 13,13).

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Diácono Milton Restivo.

Ao terminar o Tempo Pascal e retornar ao Tempo Comum, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade.
O parágrafo 234 do Catecismo da Igreja Católica diz que o mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo, é, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina.
O parágrafo 237 deste mesmo Catecismo ensina que: “A Trindade Santa é um mistério de fé no sentido estrito, um dos ‘mistérios escondidos em Deus que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto’. Sem dúvida, Deus deixou vestígios de seu ser trinitário em sua obra da Criação e em sua Revelação ao longo do Antigo Testamento (cf Gn 1,26). Mas a intimidade de seu Ser como Santíssima Trindade constitui um mistério inacessível à pura razão e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo”.
A primeira oração que é ensinada num lar cristão é a invocação à Santíssima Trindade acompanhada com o sinal da cruz que o cristão traça a partir da testa, terminando no peito. O cristão consciente jamais começa ou termina o seu dia sem antes ter feito o sinal da Cruz, invocando a Santíssima Trindade.
Todas as orações litúrgicas da igreja e as orações particulares do cristão iniciam-se sempre e terminam da mesma forma: com o sinal da Cruz e a invocação da Santíssima Trindade.
A Trindade Santíssima faz parte da vida da Igreja e do cristão e a vida da Igreja e do cristão acontecem nos moldes da vida da Santíssima Trindade.
A Trindade se manifesta desde a criação do mundo. 
     O Pai, a primeira Pessoa da Trindade, para a criação, usou a Palavra: “Que exista a luz”. (Gn 1,3). A Palavra do Pai, que foi usada para a criação do mundo, é Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Trindade, conforme disse João no seu Evangelho: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” (Jo 1,1-4).
Numa discussão com os judeus, Jesus afirma isso: “O Pai e eu somos um.” (Jo 10,30), e mais adiante: “Quem me viu, viu o Pai. [...]... Eu estou no Pai e o Pai está em mim.” (Jo 14,9b.11b)
O Espírito de Deus, o Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade se fazia presente na criação quando “... um vento de Deus pairava sobre as águas.” (Gn 1,2) e na animação do homem: “Então Yahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente.” (Gn 2,7). O vento de Deus que pairava sobre as águas e o sopro de Deus nas narinas do homem é o Espírito de Deus, Espírito Santo que anima tudo e que dá animação a todos os viventes. O Espírito Santo é a respiração de Deus e a vida do homem, porque o homem passou a ter vida a partir do sopro de Deus em suas narinas (Gn 2,7).
Isso, a grosso modo, nos faz entender que a Trindade é a origem da vida e que somente na Trindade o homem encontra a vida em plenitude.
No Novo Testamento a Trindade manifesta-se na anunciação do anjo a Maria e na Encarnação da Palavra, quando, não entendendo o que o anjo lhe dizia, Maria perguntou: “Como vai acontecer isso?” e o anjo respondeu: O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus” (Lc 1,34-35).
Nesta passagem está presente a Trindade Santíssima: O Espírito Santo, a terceira Pessoa, o Altíssimo, o Pai, a primeira Pessoa, e o Filho de Deus, Jesus Cristo, a segunda Pessoa.
Essa foi a primeira manifestação da Santíssima Trindade no aconchego, na simplicidade, na pobreza, no silêncio e no clima de oração que reinava na humilde e pobre casa de uma humilde, pobre, pura e virgem jovenzinha de Nazaré.
O que aconteceu em Maria na sua concepção e na Encarnação da Palavra foi obra do Espírito Santo, conforme disse o anjo em sonhos a José: “José, filho de Davi, não temas receber em tua casa Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido é obra do Espírito Santo.” (Mt 1,20).
O Filho, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se fez “Emanuel, Deus conosco” (cf Mt 1,23) no ventre sacrossanto de Maria por obra do Espírito Santo e sob o beneplácito de Deus Pai.
No batismo de Jesus os céus se tornam pequenos demais para conter a Santíssima Trindade e, bem por isso, a Unidade Una e Trina manifesta-se nas margens do rio Jordão: “Depois de ser batizado, Jesus logo saiu das águas. Então o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele. E do céu veio uma voz, dizendo: ‘Este é o meu Filho amado, que muito me agrada” (Mt 3,16-17; Jo 1,32-34; Is 42,1; Mt 12,18; Mt 17,5).
Quando do batismo de Jesus por João Batista (Lc 3,21), o Pai falou das nuvens: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo” (Mt 3,17), referindo-se a Jesus que acabara de ser batizado e o Espírito Santo se faz presente“... descendo como uma pomba...” (Mt 3,16), e paira sobre Jesus.
Manifestou-se, assim, de forma admirável, visível e audível, pela primeira vez aos homens, a Santíssima Trindade: Deus Filho sendo batizado, o Espírito Santo como uma pomba, e o Pai fazendo-se ouvir do mais alto dos céus: era o Pai, o Filho e o Espírito Santo manifestando-se e apresentando aos homens aquele que viera para a salvação de “... todos os homens de boa vontade.” (Lc 2,14).
Se, na anunciação de Maria pelo Anjo aconteceu, de maneira velada a primeira manifestação da Trindade no Novo Testamento (Lc 1,34-35), no batismo de Jesus no rio Jordão, aconteceu a primeira manifestação pública da Santíssima Trindade (Mt 3,16-17).
Baseando-se no batismo de Jesus, o parágrafo 1266 do Catecismo da Igreja Católica diz que “a Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificação, a qual torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais; concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo por seus dons; permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais. Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo”.
Os israelitas adoravam ao Deus Verdadeiro, acreditavam no Deus Verdadeiro, amavam o Deus Verdadeiro, serviam ao Deus Verdadeiro, obedeciam ao Deus Verdadeiro, mas o Deus Verdadeiro não havia se manifestado a eles na sua intimidade da maneira como se manifesta a nós, hoje, a partir de Jesus e, particularmente, do batismo de Jesus: Deus Uno em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Na transfiguração de Jesus na montanha (Mt 17,1-13; Mc 9,1-12; Lc 9,28-39) a Trindade, novamente, manifesta-se quando, Jesus em oração, o Espírito Santo manifesta-se na “nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra” e o Pai fala: “Este é meu Filho amado que muito me agrada. Escutem o que ele diz.” (Mt 17,5).
Na sua despedida, Jesus declara a identidade perfeita da Trindade: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que eu ordenei a vocês”. (Mt 28,19-20).
O Apóstolo Paulo, nas suas saudações às comunidades em suas cartas, o que é repetido hoje, no início das celebrações eucarísticas, repetimos, pedindo a graça, o amor e a comunhão da Trindade a todos aqueles que se fazem presente no “partir o pão”, e que não é por coincidência que está na segunda leitura de hoje: “Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês”. (2Cor 13,13; cf 1Cor 12,4-6; Ef 4,4-6).
O Catecismo da Igreja Católica endossa essa afirmativa no seu parágrafo 249: “A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde as origens na raiz da fé vida da Igreja, principalmente através do Batismo. Ela encontra a sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais formulações encontram-se já nos escritos apostólicos, como na seguinte saudação, retomada na liturgia eucarística: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós" (2Cor 13,13; cf. 1 Cor 12,4-6; Ef 4,4-6)”.
Quando falamos de Santíssima Trindade dizemos que “é um mistério”.
Mas, antes de ser um mistério é um segredo: o segredo do amor que tem como centro um Deus-Comunidade, um Deus-Família, um Deus-Amor que se ama infinitamente e esse amor transborda e é despejado sobre todos os homens.
Se não é possível desvendar esse mistério, pelo menos é possível descobrir um segredo, mesmo porque, o segredo do grande amor que Deus tem por nós se faz presente nos corações dos homens de boa vontade (cf Lc 2,14). A nossa alegria, a nossa salvação consiste em crer nesse amor, descobri-lo dentro de nós, retribuí-lo, revelá-lo e distribuí-lo a todos os irmãos.
Na nossa profissão de fé, no nosso Credo, repetimos, orando: “Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do céu e da terra... creio em Jesus Cristo, seu único filho, Nosso Senhor... Creio no Espírito Santo...”. Em suma, cremos na Santíssima Trindade.
A Trindade Santíssima está presente na história da salvação dos homens desde a criação do mundo, muito embora, no Antigo Testamento não exista nenhuma referência expressa sobre esse tão grande mistério da nossa fé.
A Santíssima Trindade está inteiramente voltada e interessada na salvação de todos os homens e foi por isso que Jesus, antes de voltar para a casa do Pai, no encerramento de seu ministério e do Evangelho de Mateus, determina aos Apóstolos e discípulos: “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Vão, pois, e ensinem a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinando-as a observar todas as coisas que lhes mandei. Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt 28,18-20).
Adoremos, para todo o sempre, a Santíssima Trindade, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. A revelação e a apresentação da Santíssima Trindade a todos os homens foi o coroamento supremo da terceira manifestação do Senhor Jesus, no seu batismo, a todos os homens antes de sua vida pública.
A fé no amor da Trindade deve levar-nos a assumir compromissos de amor com todos os irmãos. Não basta crer; é preciso, antes de qualquer coisa, testemunhar a nossa fé com atitudes, porque nos disse Jesus: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse entrará no reino dos céus.” (Mt 7,21).
Se dissermos que cremos e amamos a Deus Pai e vivemos tratando os irmãos com indiferença, explorando os trabalhadores, excluindo os pequeninos, torturando das mais diversas maneiras e castigando os inocentes, podemos até dizer até que temos fé, mas não passamos de hipócritas, fariseus, infiéis e traidores do amor do Pai. Para os que agem assim, Jesus tem duras palavras: “Ai de vocês, escribas e fariseus hipócritas! porque são semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a podridão.” (Mt 23,27).
Se dissermos que cremos no Deus Filho, Jesus Cristo, e vivemos odiando os inimigos e querendo-lhes mal, atraiçoando os irmãos, oprimindo os mais pobres e violentando os mais fracos; se somos incapazes de perdoar as ofensas e repartir o pão, de consolar os aflitos e proteger os perseguidos, de tratar com amor os doentes, com caridade os pobres, com misericórdia os presos, podemos dizer até que temos fé, mas, na verdade, não passamos de crucificadores, e são para os que assim agem essas palavras do Divino Mestre: “Apartem-se de mim, malditos, e vão para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e para os seus anjos, porque tive fome e vocês não me deram de comer; tive sede e não me deram de beber; era peregrino e não me recolheram; estava nu e não me vestiram; enfermo e na prisão e não me visitaram. [...] Na verdade digo a vocês; todas as vezes que vocês deixaram de fazer isso a um desses pequeninos, foi a mim que vocês não fizeram.” (Mt 25,41-43.45).
Se dissermos que cremos no Deus Espírito Santo, que é o princípio da unidade, da justiça, da sabedoria e do amor, e espalhamos discórdia, semeamos calúnias, aceitamos o divórcio e praticamos o aborto, abandonamos o lar e destruímos famílias, podemos até dizer que temos fé, mas não passamos de mentirosos, e é o Espírito Santo quem nos diz isso através dos escritos de João, o Apóstolo amado: “Quem diz que o conhece e não guarda os seus mandamentos, é um mentiroso, e a verdade não está nele” (1Jo 2,4), e ainda: “Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus, e, no entanto, odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1Jo 4,20-21).
Às vezes é bom contar uma história para entendermos aquilo que por palavras e estudos não atinamos, permitam-me, então, contar uma que, com certeza, todos a conhecem.
Conta-se que certa feita Agostinho, o bispo de Hipona (354-430), grande teólogo da Igreja, estava meditando na beira da praia sobre o Mistério da Santíssima Trindade, pois queria entender como Deus é Uno e Trino, considerado que ele estava escrevendo, exatamente, um livro sobre o Mistério da Santíssima Trindade. E Agostinho meditava como pode Deus ser três Pessoas e um só Deus... Eis que, de repente, Agostinho observa uma criança brincando nessa mesma praia.
A criança corria com uma conchinha na mão e tirava a água do imenso mar e trazia e colocava a água da concha num buraquinho que ela havia feito ali, na areia da praia.
Observando atentamente a criança fazer aquele trajeto várias vezes, Agostinho ficou curioso, e perguntou à criança o que estava fazendo, ao que a criança, de pronto respondeu: “quero colocar toda a água do mar neste buraquinho que eu fiz na areia.”
Admirado e, possivelmente rindo da inocência da criança, Agostinho disse-lhe: “menino, você não vê que jamais irá conseguir isso?”, ao que obteve como resposta: “sei que não conseguirei colocar toda a água do mar neste buraquinho, assim como, da mesma maneira, o senhor jamais conseguirá entender o Mistério da Santíssima Trindade”.
Dito isto, mais que de repente, a criança sumiu aos seus olhos, tendo Agostinho entendido que é mais fácil colocar toda a água do imenso mar num buraquinho feito na areia da praia, do que o homem entender o mistério da Trindade Santíssima.  
Então, repito o dito no Catecismo da Igreja Católica: “... a intimidade de seu Ser como Santíssima Trindade constitui um mistério inacessível à pura razão e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo”. (237 – CIC).

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