domingo, 21 de março de 2021

 

“SE ALGUÉM QUER SERVIR A MIM, QUE ME SIGA. E ONDE EU ESTIVER, AÍ TAMBÉM ESTARÁ O MEU SERVO”. (Jo 12,26).

 

V DOMINGO DA QUARESMA

Ano – B; Cor – Roxo; Leituras: Jr 31,31-34; Sl 50; Hb 5,7-9; Jo 12,20-33.

 

Diácono Milton Restivo

 

O profeta Jeremias é o escritor sagrado da primeira leitura deste domingo.

Jeremias e Oséias foram os dois profetas mais radicais do Antigo Testamento, pois foram os que mais perto chegaram de uma compreensão profunda das causas da opressão que o povo de Israel vivia naquele tempo e a maneira como o povo se afastava de Yahweh, muitas vezes induzido pelas autoridades civis, militares e religiosas.

Como Oséias e Miquéias, Jeremias pertencia ao mundo camponês e ele se aproveita muito disso para transmitir a sua mensagem com conotações das coisas do campo.

O significado do nome Jeremias é incerto; podemos citar as seguintes: “Yahweh exalta”, “Yahweh é sublime” ou “Yahweh abre (faz nascer)”.

O nome Jeremias era bastante comum nos tempos bíblicos. São conhecidos nove personagens, mais ou menos importantes, com este nome. 

Na leitura desta liturgia, através de Jeremias, Yahweh sugere uma nova aliança com seu povo infiel. E Yahweh diz que não será uma aliança como foi feita com os ancestrais desse povo quando Yahweh

·         “... os tomou pela mão para retirá-los da terra do Egito, e que eles violaram, mas eu fiz valer a força sobre eles.” (Jr 31,32). Yahweh promete uma nova aliança: “Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel, depois desses dias, diz o Senhor: imprimirei a minha lei em suas entranhas e hei de escrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo.” (Jr 31,33).

E Yahweh deixa transparecer toda a sua misericórdia, esquecendo toda infidelidade e pecados do povo:

·         “Todos me reconhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado.” (Jr 31,34).

O Salmo 50, lido nesta liturgia, possivelmente seja o Salmo mais lido e rezado nas orações da Igreja, como o é em todas as sextas-feiras na oração da manhã (Laudes) da Liturgia Diária das Horas, que é a oração por excelência da Igreja.

Para entender esse Salmo há a necessidade de conhecer a sua procedência. É a oração de Davi pedindo perdão e fazendo penitência por um grave pecado cometido contra um seu general, o seu povo e Yahweh: o adultério com Betsabéia, mulher de seu general Urias. Conforme vemos no segundo livro de Samuel, capítulo 11, Davi engraçou-se com Betsabéia, por ser uma mulher muito bela, mandou que a trouxessem ao seu palácio, ainda que sabendo que era mulher de um seu general, o heteu Urias, dormiu com ela. Betsabéia engravidou-se de Davi considerando que seu marido estava em missão de guerra por seu povo e seu rei e, para encobrir o acontecimento, Davi mandou que buscassem o marido de Betsabéia, que estava em campo de batalha, para que passasse uns dias em sua casa e dormisse com sua esposa a fim justificar a gravidez e acobertar sua atitude.

Mas existia um código de honra entre os soldados em batalha, que deveriam abster-se de sexo antes de um embate com o inimigo e, Urias, embora estivesse em sua casa, recusou-se dormir com sua mulher e “dormiu na porta do palácio com os guardas do seu senhor” (cf 2Sm 11,9).

A recusa de Urias levou Davi a ordenar a morte do seu general em batalha (leia 2Sm 11,2-17). Após a morte de Urias o profeta Natã foi portador da palavra de Yahweh para Davi que lhe avisou sobre a ira de Yahweh por sua atitude covarde e criminosa. (leia 2Sm 12,1-25).

E Davi, através deste Salmo, faz sua penitência e súplica de perdão a Yahweh.

Assim como na primeira leitura do livro de Jeremias, Yahweh demonstra sua misericórdia:

·         “Todos me reconhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado.” (Jr 31,34).

 Através do arrependimento de Davi, Yahweh perdoa, sim, mas o homem deve manifestar seu arrependimento e voltar-se para Yahweh:

·         “imprimirei a minha lei em suas entranhas e hei de escrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo.” (Jr 31,33).

No Evangelho Jesus, como sempre fez, não esconde nada de ninguém e para ninguém.

Jesus jamais disse alguma coisa se referindo ao plano de Deus referente aos homens e dizendo como se deve viver uma vida verdadeiramente voltada para Deus e para o próximo, onde escondesse alguma coisa para não chocar seus ouvintes.            

Sempre que falava de como se deve viver para pertencer ao Reino de Deus, Jesus era claro, preciso e objetivo e jamais usou de meias palavras ou termos dúbios. Jesus jamais obrigou alguém a seguí-lo, prova disso está nessa sua afirmativa:

·         “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me.” (Lc 9,23).

Jesus não obriga; ele respeita o livre arbítrio de cada um e diz:

·         “Se alguém quer vir após mim...”; e ainda em João: Se alguém quer servir a mim, que me siga”. (Jo 12,26). 

Jesus deixa a decisão para cada um. É necessário “querer” ir após ele, e isso é uma atitude de livre e espontânea vontade. Mas, mesmo deixando para cada um a escolha de seguí-lo ou não, Jesus não se omite quanto às consequências que recairá sobre as atitudes dos que a tomam, sejam boas ou más:

·         Pois aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.” (Lc, 9, 24).               

O velho Simeão, quando da apresentação de Jesus ainda bebê nos braços sua mãe no Templo de Jerusalém, profetizou:

·         “Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição.” (Lc 2,34);

Para a queda daqueles que virariam as costas para os seus ensinamentos e para o soerguimento dos que aderissem às suas mensagens e as vivessem intensamente, e, como um sinal de contradição, pois que, Jesus mesmo afirmou:

·         “Não pensem que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra.” (Mt 10,34). E, por essa maneira dura de falar, é que os escribas e fariseus diziam: “Está possuído por Beelzebu.” (Mc 3,22).         

Por jamais omitir qualquer coisa e sempre dizer a verdade, considerando que a verdade, para quem não a assume e a nega incomoda e dói, Jesus já previa qual seria o seu fim:

·         “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto...” (Mc 8,31).

E acrescenta em João:

·         “Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna”. (Jo 12,24-25).           

Todos aqueles que se propuserem a seguir Jesus terão o mesmo destino que ele, e isso Jesus jamais escondeu de ninguém e orientou seus seguidores, quando disse:

·         “Eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Sejam, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidado com os homens. Eles entregarão vocês a seus tribunais e lhes açoitarão em suas sinagogas. Por minha causa vocês serão conduzidos diante dos governadores e dos reis. Assim vocês servirão de testemunho para eles e para os pagãos. [...] O irmão entregará o seu irmão à morte, e o pai entregará o seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão. Vocês serão odiados por todos por causa do meu nome.” (Mt 10,16-22).

Jesus é realmente motivo de contradição, conforme profetizou o velho Simeão; é incrível acreditar que, alguém que seja perseguido, injuriado, maltratado e açoitado seja bem-aventurado.

Mas é exatamente isso que Jesus afirma:

·         “Bem-aventurados serão vocês, quando lhes insultarem, quando, por minha causa, lhes perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vocês. Alegrem-se e exultem, porque será grande a sua recompensa nos céus.” (Mt 5,11-12).

E complementa:

·         “E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará a vida eterna.” (Mt 19,29).

E, bem por isso, Jesus determina as condições para quem quiser seguí-lo:

·         “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, irá salvá-la. Com efeito, o que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua vida? Pois o que daria o homem em troca de sua vida? De fato, aquele que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com os santos e anjos”. (Mc 8,34-38).                 

Renunciar-se a si mesmo significa não se preocupar tanto com os próprios problemas, que talvez não sejam tão grandes e graves como se imagina; é ir ao encontro do irmão que se encontra no seu leito de dor e o tira do convívio da sociedade e, às vezes, até do convívio de seus familiares.

Renunciar a si mesmo é parar de reclamar do alto custo das roupas que se usaria para ir ao baile do clube para ouvir o irmão que reclama do alto preço do arroz, da carne, do pão, que, pelo seu baixo salário, o deixa sem condições de abastecer a sua mesa com o mínimo necessário para a manutenção e o sustento decente de sua família.            

Renunciar a si mesmo significa esquecer-se um pouco de si próprio para se lembrar do irmão necessitado e carente de... Deus...

Renunciar a si mesmo significa abandonar-se à Providência Divina:

·         “Por isso lhes digo: não se preocupem com a sua vida quanto ao que haverão de comer, nem com o seu corpo quanto ao que haverão de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa? Olhem as aves do céu: não semeiam nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai Celeste as alimenta. Ora, não vocês não valem mais do que elas? Quem dentre vocês, com as suas preocupações, pode acrescentar um só minuto à duração da sua vida? E com a roupa, porque andam preocupados? Aprendam dos lírios do campo, como crescem, e não trabalham e  nem fiam. E no entanto eu lhes asseguro que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará ele mesmo mais por vocês, homens fracos na fé? Por isso, não andem preocupados, dizendo: ‘Que iremos comer?’  Ou, ‘Que iremos beber?’ Ou, ‘que iremos vestir?’ De fato, são os gentios que estão à busca de tudo isso: o vosso Pai Celeste sabe que vocês têm necessidade de todas essas coisas. Busquem, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Não se preocupem, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal.” (Mt 6,25-34).

Para cada dia bastam as suas próprias preocupações, e cada dia tem as preocupações próprias, por isso Jesus orienta para preocuparmos com o hoje, com o agora, com o minuto presente, pois que, o próximo minuto já poderá não nos pertencer.

Se quisermos seguir Jesus, é necessário que tomemos a nossa cruz de cada dia.

Geralmente achamos a nossa cruz pesada, e sempre reclamamos disso. E, bem a propósito, vale aqui registrar uma pequena estória. Certo cidadão vivia reclamando dos seus problemas, da sua cruz. Achava que a sua cruz era pesada demais e que as dos outros não se comparavam com a sua por considerá-las leves. Determinado dia foi reclamar com Jesus sobre o peso de sua cruz, e Jesus, em sua infinita misericórdia e paciência, o leva até um campo onde estavam depositadas milhares de cruzes, e diz ao reclamante que escolhesse uma para si. Ele se pôs a procurar uma bem leve, passando por entre gigantescas cruzes de todos os tamanhos e pesos, até encontrar uma bem pequenina que se encontrava num canto. Feliz da vida a pega e diz para Jesus:

·         “Senhor eu troco a minha cruz por essa.”

Jesus, então, lhe diz:

·         “Não há como trocar, meu filho, essa cruz é a sua mesmo, da qual você tanto reclama. Veja como os seus irmãos têm cruzes muito mais pesadas que a sua, e nenhum deles vem aqui reclamar de seus pesos porque as aceitam com resignação e amor, e esses terão a sua recompensa no céu”.

Isso é apenas uma pequena ilustração, mas que serve para aqueles que só sabem reclamar dos seus problemas, ignorando os problemas dos irmãos, que resignadamente, aceitam as suas cruzes.

Aceitar o dia como ele é. Problemas, preocupações, desilusões, sempre as teremos.  Faz parte do nosso dia-a-dia. A nossa cruz de cada dia é a nossa própria vida vivida minuto a minuto, com todas as suas alegrias e tristezas, realizações e frustrações, saúde e doença, felicidade e desilusões, e tudo o mais o que a vida nos oferece a cada momento.

A nossa cruz de cada dia apresenta-se de muitas maneiras, de vários modos, tamanhos e lugares diversos; mas, qualquer que seja o seu tamanho e o seu peso, devemos tomá-la com amor, sem reclamar, assim como fez o próprio Jesus, e, como Jesus, devemos carregá-la rumo ao nosso Calvário, porque, se não passarmos pelo Calvário, jamais chegaremos à glória da ressurreição.

Pedro, Apóstolo, sem dúvida, estava inspirado pelo Espírito do Pai quando escreveu:

·         “É louvável que alguém suporte aflições, sofrendo injustamente por amor de Deus. Mas que glória há de suportar com paciência, se vocês são bofeteados por terem errado? Ao contrário, se, fazendo o bem, vocês são pacientes no sofrimento, isso sim constitui uma ação louvável diante de Deus. Com efeito, para isto é que vocês foram chamados, pois que também Cristo sofreu por vocês, deixando-lhes um exemplo, a fim de que vocês sigam os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado; mentira nenhuma foi achada em sua boca.          Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça. Sobre o madeiro, levou os nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os nossos pecados, vivêssemos para a justiça. Por suas feridas vocês foram curados, pois estavam desgarrados como ovelhas, mas agora vocês retornaram ao Pastor e Supervisor de suas almas.” (1Pd 2,19-25).

sábado, 20 de março de 2021

 

AVE MARIA, CHEIA DE GRAÇA...

 

Uma das primeira orações, senão a primeira oração que a nossa mãe ou a nossa avó nos ensinou a rezar, com certeza, foi a oração da Ave Maria. Desde pequeninos repetimos essa saudação mariana sem sabermos qual realmente é o seu significado e de onde veio.

A primeira parte da oração da Ave Maria, quando rezamos “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre”,  tem a sua origem no Evangelho de Lucas, e, bem por isso, é uma oração evangélica, é uma oração bíblica.

Quando o Anjo Gabriel visitou Maria e levou para ela o convite do Senhor para ser a Mãe do Filho de Deus, ele entrou na casa de Maria e a saudou, dizendo: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.”, conforme vemos no Evangelho de Lucas, 1, 28.

Quando Maria visitou sua prima Isabel, porque Isabel estava grávida de João Batista e Maria grávida de Jesus Cristo, e que as duas mulheres se encontraram, Isabel ficou repleta do Espírito Santo e recebeu Maria, dizendo: “Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre.”, conforme vemos no Evangelho de Lucas, 1, 42.

Juntando as palavras do Anjo com as palavras de Isabel, temos, então: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre.”, formando, desta forma, a primeira parte da oração da Ave Maria.        Muito mais tarde os cristãos juntaram a essas palavras uma oração de súplica, e acrescentaram: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém”.

 Então, como vemos e repito, a primeira parte da oração da Ave Maria é totalmente evangélica, é na essência, bíblica, porque se encontram no Evangelho de Lucas, no capítulo primeiro e versículos 28 e 42. A segunda parte, a oração da Santa Maria, é um grito de socorro dado pelos primeiros cristãos, que suplicavam o auxílio de Maria no momento atual de suas vidas e principalmente na hora tão cruciante da morte, e é mantida até os nossos dias, que não rezamos a Ave Maria sem a sua segunda parte, a Santa Maria, que no final das contas se tornaram em apenas uma oração. Depois da oração do Pai Nosso, que nos foi ensinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, não há outra oração mais conhecida no mundo todo entre os cristãos que a oração da Ave Maria.          Desde o início da Igreja de Jesus Cristo, multidões e multidões de cristãos repetem a oração da Ave Maria com uma confiança inabalável e redobrada na intervenção de Maria para resolver todos os problemas, seja de saúde, financeiro, ou de confirmação na fé.

E não tem conta as vezes que rezamos a oração da Ave Maria. Cada terço rezado são cincoenta vezes que repetimos a oração da Ave Maria; cada rosário são cento e cincoenta vezes a mesma oração da Ave Maria que repetimos. Dificilmente encontramos no Brasil alguém que não tenha rezado uma Ave Maria, nem que seja pelo menos uma vez; dificilmente encontramos no Brasil alguém que não saiba rezar uma Ave Maria.            Quando queremos chamar alguém totalmente ignorante em assunto de religião costumamos dizer: “ele não sabe rezar nem uma Ave Maria”.; ou quando alguém quer dizer que não sabe nada mesmo de religião, a pessoa diz: “não sei nem a Ave Maria.” Para muita gente aprender a oração da Ave Maria é o começo da instrução religiosa.

O “Ave” que o Anjo Gabriel  dirigiu à Maria seria como o cumprimento de alguém que acaba de chegar dirigida à pessoa que está ali, presente. O “Ave”, ou “Salve” é como se nós disséssemos um bom dia, boa tarde ou boa noite a alguém, cumprimentando aquela pessoa.

O Anjo Gabriel, ao adentrar onde estava Maria a saudou, dizendo : “Ave Maria”, como se dissesse: “Boa tarde, Maria. O Anjo Gabriel cumprimentou Maria como se a conhecesse de longa data, como realmente a conhecia de longo tempo. Maria era pessoa  da amizade íntima de Deus; Maria era íntima de Deus e o Anjo a cumprimentou com essa amizade, com essa intimidade.

E nós, todas as vezes que recitamos a oração da Ave Maria, cumprimentamos Maria com uma saudação toda especial vinda do céu, da parte do Senhor Nosso Deus. Todas as vezes que rezamos: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,” nós dizemos: “eu te saúdo Maria, porque és a preferida do Senhor que te encheu de presentes e de santidade e por isso mereceste a, graça de ser a Mãe  do Nosso Salvador. Deus está por todo o sempre contigo...”

sexta-feira, 19 de março de 2021

 

SÃO JOSÉ – ESPOSO DE MARIA

 

 “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se grávida pelo Espírito Santo.” (Mt 1,18). Maria era noiva de José.   Mas, quem era José? Mateus, em seu Evangelho, 1,16, nos diz que José era filho de Jacó, enquanto que Lucas em seus escritos, 3,23, diz que o pai de José se chamava Eli, mas ambos os Evangelistas são unânimes em afirmar que José era descendente do rei Davi (Lc 3,23-31; Mt 1,20). Segundo o Evangelista Mateus, José tinha como profissão ser carpinteiro, quando se referiu a Jesus Cristo:  “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55), e Marcos também se referencia a Jesus dessa maneira: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria...?”  (Mc 6,3).

Segundo a tradição, a noiva, na época, firmava compromisso com o noivo, dos doze aos quinze anos de idade, e o jovem varão, dos dezoito aos vinte anos de idade.

O casamento acontecia quando os jovens se comprometiam e ficavam noivos, isto é, casavam-se, mas não coabitavam, não iam morar juntos, como acontece nos nossos dias; o rapaz ia montar a sua casa e depois de ter tudo pronto, casa, móveis e tudo o mais que fosse necessário para uma vida a dois, é que o noivo ia na casa dos pais da noiva buscá-la para coabitarem.

Justifica-se, então, a afirmativa do Evangelista Mateus: “... Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se grávida do Espírito Santo.” (Mt 1,18). Está claro, principalmente pelas dúvidas que habitaram a cabeça de José quando notou Maria grávida, que eles não tiveram contatos íntimos.

Para entendermos melhor os problemas pelos quais passaram José e Maria por ocasião da visita do Anjo, se faz necessário que estudemos e meditemos muito sobre a Anunciação do Anjo em si e sobre a entrega total de Maria nas mãos de seu Deus e Senhor. Maria aceitou ser a mãe do Filho de Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,37).

Maria já estava comprometida em casamento com José, mas ainda não haviam coabitado, e pela afirmativa de Maria, ela e José “não usaram legitimamente de todos os direitos do matrimônio”. E o Anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1,35).

E para que nenhuma dúvida pairasse no ar, o Anjo continua: “Para Deus, com efeito, nada é impossível.” (Lc 1,37).

Maria, simplesmente, mesmo sem entender como isso poderia acontecer, confia plenamente na palavra do Senhor, entrega-se totalmente em suas mãos e responde ao Anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).

A partir daquele momento Maria “achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1,18) e começa a trazer dentro de si, no seu ventre, o Filho de Deus, nascido de mulher, sem a participação de homem algum: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1,14).

De repente, sem uma explicação razoável aos olhos do povo e ao coração do jovem noivo José, aquela jovenzinha meiga, pura e casta, aparece grávida. Poderíamos imaginar a repercussão desse fato numa cidade tão pequena: as comadres, as fofocas...

Uma moça jovem, solteira, de boa reputação, de família exemplar, bem quista, noiva de um excelente e querido jovem de todos na cidade, de repente... Aparece grávida... Ainda tem mais uma agravante. Logo depois da visita do Anjo, ao tomar conhecimento que sua parenta Isabel, mulher de idade avançada, estava no sexto mês de sua gravidez, “... Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá.” (Lc 1,39).

Ao saber das dificuldades que sua parenta Isabel, mulher já de idade avançada teria, principalmente no final de sua gravidez, Maria não pensou em si e muito menos no seu estado também de gravidez, e “se pôs a caminho para a região montanhosa” onde morava Isabel, e segundo as Escrituras, Maria ficou na casa de Isabel até o nascimento do filho de Isabel, isto é, pelo espaço de três meses, considerando que o Anjo lhe dissera que  “Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês...”  (Lc 1,36).

Após o nascimento do filho de Isabel, João Batista, Maria retornou para a sua pequena cidade. Maria havia saído de sua cidade sem nenhum enfoque de gravidez.

Ao retornar para a sua cidade, possivelmente quatro meses depois, considerando os três meses que ficara com Isabel e, possivelmente um mês que gastou na viagem, porque era longa, a gravidez de Maria já se fazia notar.

A transformação da gravidez, com certeza, era patente no seu corpo. José não sabia de nada e, com certeza, como todos os demais, surpreendeu-se com aquilo.

O povo da localidade sabia menos ainda. Maria deixou sua cidade e ficou ausente por aproximadamente quatro meses e, quando dali saiu, estava no seu estado aparentemente normal, e quando volta, acusa sinais de gravidez.

O que deve ter passado na cabeça de cada um de seus conhecidos e do povo em geral daquela curritela?  De quem seria o filho? De José?  Mas era público e notório que José não havia acompanhado Maria enquanto ela esteve por aquele tempo na casa de Isabel. Imaginem os mexericos das comadres, das fofoqueiras nos portões, nas esquinas, por sobre os muros e cercas; como devem ter falado de Maria... Maria permanecia do mais profundo dos silêncios. Se Deus a colocara naquela situação, Deus cuidaria dela. E José? O que teria passado pela cabeça de José?

Maria, a sua Maria, a jovenzinha de seus sonhos a quem ele depositara toda a sua confiança, todo o seu amor, todo o seu futuro, de repente, sem uma explicação razoável e sem que ela se explique, aparece grávida. Ele não tivera participação nisso. Não fora ele. Ele era inocente. Se tivesse sido ele, com certeza, pelo seu caráter e retidão e temor a Deus, assumiria o seu gesto e, sem sobra de dúvida, levaria Maria de imediato para a sua casa, pois eles já estavam comprometidos em matrimônio. Mas não fora ele!

Maria permanecia no mais profundo dos silêncios... José era um jovem justo e temente a Deus, e, bem por isso, gostava das coisas certas. Maria não disse nada a José.  José não perguntou nada a Maria. E a lei do povo judeu era severa, extremamente severa e determinava: “Se uma jovem virgem, prometida a um homem, e um homem a encontra na cidade e se deita com ela, trareis ambos à porta da cidade e os apedrejareis até que morram; a jovem por não ter gritado por socorro na cidade, e o homem por ter abusado da mulher do próximo...” (Dt 22,23-24). Se José denunciasse Maria por, supostamente, havê-lo traído, fatalmente a lei seria cumprida... José amava por demais Maria para chegar a esse extremo. 

Mas também não podia aceitar aquela situação. E Maria não se explicava, não dizia nada. Maria permanecia no seu silêncio. Maria, simplesmente, poderia sair gritando aos quatro ventos, dizendo que aquilo que estava acontecendo com ela era obra do Espírito Santo. Poderia dizer, sem mentir, que “... o Espírito Santo veio sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriu com sua sombra.” (Lc 1,35), e bem por isso, engravidara, e o filho que trazia dentro de si era o Messias esperado, era o Filho de Deus que se fazia homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus. 

Mas, se afirmasse isso, pelo menos três coisas poderiam acontecer: primeira:- o povo poderia dizer que ela estava louca por afirmar coisas tão absurdas para tentar justificar a sua gravidez; segunda:- o povo não acreditaria e ela própria passaria por ré confessa, e a lei de Moisés deveria ser cumprida, e Maria deveria ser apedrejada na porta da cidade para que o pecado fosse tirado do meio do povo, e, terceira:- o povo que já estava ansioso pela vinda do Messias poderia até acreditar em Maria, aceitar que, realmente, ela estaria dizendo a verdade e tratá-la como uma rainha. Maria não fez nada disso.   Maria manteve-se no seu silêncio. 

Foi o silêncio da virgem. Quantas vezes, no seu silêncio, Maria teria rezado: “Só em Deus, ó minha alma repouse, porque dele vem a minha esperança. Só ele é minha rocha e salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalada.” (Sl 62,6-7).

Maria não tentou explicar nada a ninguém. Nem mesmo ao seu noivo José. O que estava acontecendo nela e com ela era obra do Senhor, e, se o Senhor a colocara naquela situação, o Senhor resolveria todos os problemas que estavam surgindo e surgiram após.

Maria sofria com as fofocas do povo. Maria sofria com a incompreensão de José, com o sofrimento de José, mas se mantinha no mais profundo silêncio, sempre confiando no Senhor. O que estava acontecendo com Maria era a vontade do Senhor, e Maria repetia a cada instante: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).

Maria era a escrava do Senhor, não competia a ela se defender. O Senhor seria “a sua rocha, a sua salvação, a sua fortaleza” (Sl 62,3) o seu rochedo, o seu advogado e agiria na hora em que ele achasse que fosse mais certa. E José estava amargurado. Não entendia o que estava acontecendo e nem poderia entender.

Mas, porque Maria não rompia seu silêncio e explicava tudo para ele? Então, no auge das incertezas e sofrimentos, José tomou uma decisão: “José, seu esposo, sendo justo, e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo.” (Mt 1,19).

José tomou a decisão que julgou a mais acertada: abandonar Maria, ir embora, sumir da cidade, ir para um lugar distante mesmo levando em suas costas que o povo o julgasse dizendo-o culpado por ter “aprontado” com Maria e fugido para não assumir a sua responsabilidade, abandonando a sua noiva grávida. Foi o que lhe pareceu mais justo e certo.

Assim ele não denunciaria Maria e não a entregaria ao terrível cumprimento da lei.

Assim ele não difamaria sua noiva. Faria isso para não dizer a todos que Maria o havia traído, traído sua confiança, o seu amor e por isso mesmo ele não poderia mais assumir a responsabilidade de coabitar com ela, assumí-la em sua casa.

Mesmo sabendo da intenção de José, Maria, ainda assim, se manteve calada, no silêncio que só o Senhor ouve, só o Senhor entende. Maria não deixou de confiar no seu Senhor um minuto sequer, porque “só em Deus a sua alma repousava, e dele viria a sua salvação.” (Sl 62,2).

E o Senhor nosso Deus não abandonou Maria.  E o Senhor nosso Deus também não abandonou José que, na sua dor, deve ter rezado: “Yahweh, ouve a minha prece, que o meu grito chegue a ti! Na escondas tua face de mim, no dia da minha angústia. Inclina teu ouvido para mim, e no dia em que eu te invoco, responde-me depressa”. (Sl 102,2-3). E o Senhor respondeu e, certa noite, “Enquanto (José) decidia, eis que um Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o povo de seus pecados’. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo Profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, que significa, ‘Deus conosco’.” (Mt 1,20-23).

A partir dai José se tranquilizou; não foi discutir com Maria dizendo que ela deveria ter acreditado e ter tido confiança nele e ter-lhe dito tudo sobre o que estava acontecendo. Não fez nada disso, respeitando o silêncio da virgem e “... agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher.” (Mt 1,24), e tomou sob sua guarda a mãe e o Filho que, pela revelação do Anjo em seu sonho passou, a saber, que aquela criança que nasceria de Maria não era outra senão o Messias, o Salvador dos homens.

Maria, por sua vez, também não foi tirar satisfações com José por não ter acreditado nela apesar de tudo, e por José ter-se trancado dentro de si próprio.

Maria não tirou satisfações com José por ele ter pensado em abandoná-la desconhecendo que tudo aquilo que estava acontecendo com ela era obra do Espírito Santo; não brigou com José por ele ter duvidado de sua integridade moral. Maria deixou tudo nas mãos de Deus, nas mãos do seu Senhor. Se fora o Senhor que a colocara naquela situação, com certeza, o Senhor esclareceria tudo, como esclareceu, não ao povo, mas, somente a José, e era isso que realmente interessava. Maria permanecia sempre no seu silêncio, procurando cumprir aquilo mesmo que ela dissera ao Anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1, 38).

E isso não era o fim; era apenas o começo, o começo de muitas dores, muitas lágrimas, muito sofrimento, muitas incompreensões, muitas perseguições, muito falatório. A partir da aceitação de Maria sua vida se transformou num constante caminhar rumo ao Calvário. O Calvário de Maria começou quando ela disse o seu “SIM” ao Anjo do Senhor...

E, interessante, os Santos Evangelhos não citam nenhuma fala de José, nenhuma palavra que José tenha pronunciado é citada no Livro Sagrado. Isso não se fez necessário para atestar a integridade de José. Para se mostrar temente a Deus vale muito mais atitudes que palavras.

A figura de José aparece somente na infância de Jesus e desaparece durante a vida oculta. Nesse período José falecera.

Quando Jesus começa a sua vida pública só Maria o acompanha. José já havia cumprido a sua parte nos planos de Salvação do Senhor Nosso Deus e partido para a casa do Pai...

A sua morte deve ter sido a mais santa possível. Imaginemos na cabeceira de seu leito, José moribundo, tendo, de um lado, Jesus e do outro, Maria. Poderá existir morte mais santa que essa? Por que Deus Pai incluiu José no seu Plano de Salvação?  

Porque ele queria para o seu Filho uma família constituída. Já que o Senhor dispensou o concurso do homem para gerar o seu Filho, poderia ele mesmo, o Senhor, cuidar de Maria e de Jesus. Mas o Senhor quis, com isso, valorizar e divinizar a constituição familiar onde a união de pai, mãe e filhos, união abençoada por Deus, perfeita e cristã, é o caminho mais curto para se chegar à casa do Pai. José não foi uma figura descartável nos planos de Deus e muito menos um anônimo; foi ele quem cuidou de Maria e Jesus até que Jesus amadurecesse como homem e tivesse condições de cuidar de si e de sua mãe e depois, iniciar a sua missão. José foi o chefe da família de Nazaré, o pai da Sagrada Família. José é o exemplo mais perfeito para ser seguido por todos os pais cristãos. José é o exemplo mais perfeito para ser seguido por todos os chefes de família.

quinta-feira, 18 de março de 2021

 

OS NOMES QUE O POVO DEU À MARIA, A MÃE DE JESUS

 

O amor inventa nomes. E nos nomes que o amor inventa está dito aquilo que mais se gosta na pessoa amada: sobressai a sua virtude, a sua beleza no nome que o amor dá à pessoa amada.

Quanto mais amada for a pessoa mais nomes a pessoa que a ama lhe dá. Se fôssemos falar todos  os nomes que o amor do povo deu à Maria ficaríamos aqui muito tempo e ainda não diríamos todos.         Tem nomes para todos os momentos da vida: desde o nascimento até a morte.

Chamamos Maria de Nossa Senhora do Bom Parto ou Nossa Senhora da Boa Hora para proteger a mãe quando chega a hora de se dar à luz.

Chamamos Maria de Nossa Senhora da Boa Viagem para pedir a sua proteção quando nos dispomos a viajar.

Chamamos Maria de Nossa Senhora do bom Conselho ou Nossa Senhora do Bom Sucesso quando estamos em dúvidas e pedimos o auxílio de Maria.

Chamamos Maria de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro quando estamos em dificuldades.

Chamamos Maria de Nossa Senhora do Amparo e de Nossa Senhora da Ajuda quando precisamos de um apoio.

Chamamos Maria de Nossa Senhora dos Remédios e de Nossa Senhora da Saúde quando estamos doentes e necessitamos recuperar a saúde, ou alguém de nossa família está enfermo.

Chamamos Maria de Nossa Senhora da Guia ou de Nossa Senhora dos Navegantes quando estamos perdidos nas nossas decisões e não sabemos qual o caminho a tomar em nossa vida.

Chamamos Maria de Nossa Senhora da Consolação ou de Nossa Senhora das Dores quando neste mundo nos conforta e nada nos consola.

Chamamos Maria de Nossa Senhora das Angústias quando meditamos as suas angústias durante a sua vida e nos sentimos angustiados em nossa existência.

Chamamos Maria de Nossa Senhora Conquistadora quando alcançamos sucesso nas nossas empreitadas de nossa vida.

Chamamos Maria de Nossa Senhora das Graças quando pedimos e alcançamos graças sem fim de Nosso Deus e Senhor por mediação, por intermédio de Maria.

Chamamos Maria de Nossa Senhora da Boa Morte ou de Nossa Senhora do Bom Fim quando alguém de Nossa família está muito doente ou a gente se prepara para ter uma morte santa.

E quantos mais nomes poderíamos dar à Maria para nos socorrer em todos os momentos da nossa vida. Maria, a Nossa Senhora acompanha o seu povo no desterro, na solidão, neste vale de lágrimas, nas dores e na morte.

Maria, a Nossa Senhora vai com o seu povo em todo canto e no povo alimenta a esperança com a sua ajuda, com os seus conselhos, com a sua consolação.

Maria, a Nossa Senhora, ajuda e ampara, guia e socorre, dá remédios e liberta, conduz à vitória e introduz na glória.  Maria comunica a todos nós a sua alegria.

Maria tem nomes ligados aos lugares onde viveu, onde se manifesta e onde é venerada: Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora de Belém, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Aparecida, Nossa Senhora do Loreto, Nossa Senhora da Salete, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora do Líbano; todos esses nomes e muito mais são nomes dados pelo amor do povo à Maria.

Muitos lugares, dezenas de municípios, centenas de povoados em todo o território do Brasil tem nomes ligados ao nome de Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe.

A imagem de Maria, a Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, ou a imagem de Nossa Senhora da Conceição que pisa na cabeça da serpente, está pendurada e é venerada em quase todas as casas do nosso povo simples, pobre e humilde, porque é esse o povo que realmente confia em Deus     Maria é a imagem e o retrato fiel de todas as mães brasileiras que geram os seus filhos, acreditam na vida e, como Maria, derrotam a serpente do mal que quer empanar o brilho do reino de Deus que se espalha sobre nós.

(do livro - A Mãe de Jesus - de Carlos Maesters). 

quarta-feira, 17 de março de 2021

 

O SOFRIMENTO DE CRISTO É COMPLETADO NO DOENTE

 

            Na carta que o Apóstolo Paulo escreveu aos Colossenses, ele disse: “Meus irmãos, agora eu me alegro de sofrer por vocês e vou completando na minha própria carne o que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo a favor  do seu corpo, que é a Igreja.” (Col 1, 24).

Quando eu leio essa passagem, essa frase, fico pensando nos nossos irmãos doentes.

Essa frase de São Paulo cabe certinho na boca dos doentes, dos nossos irmãos que estão passando por algum problema de saúde, que estão hospitalizados, acamados em tratamento médico.   Todos os doentes sofrem, de uma maneira ou de outra. E seria tão bom que todos os doentes dissessem como disse Paulo: “eu me alegro de sofrer... porque vou completando na minha carne o que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo a favor da sua Igreja.”

Os doentes são os companheiros de Jesus Cristo a caminho do Calvário. Os doentes são os participantes  da agonia da cruz. Os sofrimentos dos doentes é a complementação do que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo para a total salvação de todo o gênero humano.

Os doentes são o corpo flagelado de Jesus Cristo; os doentes são a cabeça coroada de espinhos de Jesus Cristo; os doentes são o coração sacrossanto de Jesus Cristo traspassado pela lança.        Os doentes sofrem, e esse sofrimento complementa o sofrimento de Jesus Cristo para a salvação de todos os homens.

Não existe sofrimento inútil. Não existe dor que não seja revertida para a salvação de quem sofre, para a salvação da família de quem sofre, para a salvação de todos os homens.

Todos nós lutamos para ter saúde, aliás, é um direito que todos nós temos, o de sermos sadios,  o de sermos perfeitos. Mas, apesar dos nossos esforços para sermos sadios e termos saúde, a nossa natureza humana é frágil, é fraca, e a doença, vez ou outra, nos assedia, nos ataca e, muitas vezes, em muitos irmãos, é uma companheira constante, e às vezes até a companheira de toda uma vida.

Então precisamos fazer da nossa doença, do nosso sofrimento, a tábua de salvação para todos nós, para quem sofre e para quem não sofre também. Paulo Apóstolo se alegra na dor e diz que a sua dor complementa o que falta no sofrimento de Jesus Cristo.

Assim, da mesma maneira, os doentes devem se alegrar porque eles são os amigos queridos de Jesus Cristo, eu diria até, os amigos íntimos de Jesus, porque, somente quem sofre pode valorizar o sofrimento de Jesus Cristo que, sem merecer, e de livre e expontânea vontade, se entregou por todos nós para sofrer a sua paixão, crucificação e morte para a salvação de todos os homens.

E todos nós, os que agora temos saúde, não devemos nos esquecer jamais  dos nossos irmãos doentes. Não podemos deixar que eles fiquem sozinhos nessa sua caminhada de dor.

Hoje temos saúde, amanhã os doentes poderemos ser nós mesmos. A nossa saúde é como um fio de linha que pode se romper a qualquer momento. Estejamos sempre preparados para a doença. E a melhor preparação para sermos pacientes e aceitar com resignação qualquer problema de saúde, é visitar com frequência os nossos irmãos doentes.

Você, meu irmão, não imagina como o nosso irmão doente necessita de nossa visita, de nossa ajuda, da nossa presença, da nossa palavra amiga. Lembremo-nos do que o Senhor Jesus disse no seu Evangelho, quando se referia ao Juízo Final: “Estive doente e você me visitou...” nosso irmão doente é o próprio Jesus Cristo que continua sofrendo para completar o sofrimento do Calvário para a salvação de todos os homens.

Ainda hoje, caro irmão, procure rezar por um doente e, quando possível, leve a ele uma palavra de conforto, dê a ele a satisfação de sua presença amiga nem que seja pela palavra,, e verá como você ficará recompensado por ter feito uma obra de  misericórdia...

terça-feira, 16 de março de 2021

 

MORTE, PASSAGEM PARA A VIDA...

 

Todos nós, sempre e de um modo especial, nos lembramos dos nossos mortos.

Todos temos dentro de nós uma lembrança, um vazio deixado por alguém a quem a gente amou e que partiu para a outra vida.       

Todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos  a dor do luto, lamentamos o lugar que ficou vazio na mesa, no sofá da sala, reclamamos a voz que se calou, sentimos a falta da presença que se tornou ausência. Em muitos dos nossos lares, senão em quase todos, já passou a figura tenebrosa e indesejável da morte, e a morte já levou muitos dos nossos entes queridos.

Se não conhecêssemos a Cristo e a sua mensagem, talvez não houvesse esperanças em nossos corações e nossa vida seria uma fuga eterna da morte, uma fuga de uma realidade  que nenhum ser vivente sobre esta terra poderá se livrar; o que nos conforta, quando pensamos sobre a morte ou somos atingido por ela através de um ente querido são as palavras de Jesus Cristo, quando disse: “Em verdade, em verdade eu lhes digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.”  (Jo 8,51).

Até Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima, Maria, conheceram a morte e passaram por ela; passaram pela morte, mas venceram a morte, nos dando a esperança e a certeza de uma vida plena depois da morte, a vida que não se acaba, a vida eterna, a vida que o Senhor Jesus nos veio trazer em abundância, e Jesus afirma isso no seu Evangelho quando conversava com as irmãs Marta e Maria: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre.” (Jo 11,15-26). 

A morte é para o cristão apenas a passagem que une o nosso tempo à eternidade; a morte é a porta que se abre para que nós possamos entrar na vida que Jesus Cristo preparou para todos nós, “e não nos devemos admirar porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que fizeram o bem, sairão para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição do juízo.”  (conf Jo, 5,28-29). 

Todos nós, quando morre alguém da nossa família, do nosso círculo de amizade, choramos, e às vezes choramos muito.         É bom chorar, é necessário que se chore porque as lágrimas sinceras são as provas mais evidentes do amor que tínhamos por aquela pessoa que se foi; as lágrimas são a demonstração e a exteriorização dos nossos sentimentos mais sinceros e mais íntimos. Todo cristão chora quando um ente querido parte para a vida eterna.            

Mas o cristão não chora de desespero, o cristão chora, sim, mas de saudade.

Nós sentimos saudade do ente querido que se foi, mas temos confiança  nos ensinamentos evangélicos de Jesus Cristo, acreditamos na sua mensagem e temos a certeza evangélica de que os nossos entes queridos que conviveram longo tempo conosco neste vale de lagrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e fizeram parte do seu rebanho, agora, depois de sua morte, estão na glória de Deus Pai, na casa do Pai onde, segundo uma das promessas de Jesus Cristo, existem muitas moradas, e Jesus nos diz no seu Evangelho: “Não se perturbe o seu coração; creia em Deus, creia também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse eu não teria dito isso para vocês, porque eu ou preparar um lugar para vocês. Quando eu tiver ido e tiver preparado um lugar para vocês, de novo voltarei e tomarei vocês comigo, para onde eu estiver estejam  também vocês.” (Jo 14,1-3).     

Paulo, Apóstolo, em sua carta aos Romanos, ele escreveu para nos confortar a respeito da morte: “Pelo batismo fomos sepultados com Cristo na morte a fim de que nós também, como o Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, levemos uma vida nova. Mas, se morremos com Cristo, cremos também que vivemos com ele, sabendo que o Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte não tem mais poder sobre ele.” (Rm 6,3-4.8-9).

Paulo, através dessa sua carta nos dá a certeza que a vida eterna já começou aqui e agora em nós pelo batismo e pela fé no Senhor Jesus.      João Evangelista, com sua mensagem de fé e amor, também nos conforta a todos e nos dá a certeza de que, um dia, após a nossa morte, nós veremos realmente a Deus tal qual ele é.    

Na sua primeira carta, João nos escreve: “Filhinhos, vejam como é grande o amor que o Pai tem por nós! Seu amor para conosco é tão grande que ele nos deu a graça de sermos chamados “Filhos de Deus”, e o somos de fato. O mundo não nos conhece, porque não conhece a Deus. Meus queridos amigos, já somos filhos de Deus aqui e agora, embora, externamente ainda não apareça o que vamos ser. Mas sabemos, com certeza, que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele porque o veremos como ele realmente é. Todo aquele que tem essa esperança nele se torna puro, como também ele é puro.” (1Jo 3,1-3). O que nos conforta sobre os pensamentos que temos sobre os nossos mortos são as palavras de Jesus, quando diz: “Deus, não é Deus dos mortos, e sim dos vivos, porque para ele todos vivem.”  (Lc 20,38).

Tudo isso revigora a nossa certeza de que os nossos mortos, os nossos entes queridos por quem a gente derramou copiosas lágrimas de dor e saudade, todos eles estão na casa do Pai.

segunda-feira, 15 de março de 2021

 

ESPOSAS  E  MÃES,  PRESENÇAS DE MARIA  NO LAR...

 

O exemplo mais digno e vivo que temos de Maria em nossos dias e no nosso meio, são as donas de casa, as nossas esposas, as nossas mães, que hoje cumprem com os seus deveres matrimoniais, com suas obrigações de casa, com a educação de seus filhos e com os cuidados com o marido.

Você, minha irmã, que é esposa, que é mãe, você que mora na cidade ou no sítio, no centro ou na zona rural, que levanta cedo para preparar o café da família, cuidar do almoço dos que vão trabalhar na roça, no comércio, nas suas profissões liberais ou de empregados, ou em qualquer outra atividade.

Você minha irmã, que é esposa e mãe, que já de madrugada, de manhã bem cedo, está atarefada com suas obrigações domésticas de esposa, mãe e dona de casa,, você é o exemplo mais digno e vivo que temos no nosso meio de Maria, a mãe de Jesus.

Você, mãe e esposa, com Maria, é a continuação de Deus no seio da família, é a vontade de Deus que se faz presente no lar, é a aceitação da vida com todos os seus problemas, dificuldades, dores, tristezas e alegrias. Maria se entregava totalmente nas mãos de Deus até nos mais simples serviços domésticos.

Você, minha irmã, que é mãe e esposa,  temos certeza, já levanta de manhã com orações nos lábios e Deus no coração, como fazia Maria na sua pobrezinha casa de Nazaré. Maria, a Nossa Senhora, continua no nosso meio, no nosso lar na figura de nossas mães e nossas esposas, mulheres abnegadas que lutam no dia a dia para que a felicidade do lar seja completa, e não seja falha.

Você, minha irmã, que é mãe e esposa, é sempre a última pessoa no lar a se deitar à noite em sua casa, e é a primeira a se levantar todos os dias, e se houver algum problema de doença com os filhos ou com o marido, levanta a qualquer hora da noite para observar o estado de saúde de cada um. Você, esposa e mãe, não se deita à noite enquanto não se conscientizar que todos os seus familiares já estão acomodados e que tudo está bem.

Você, esposa e mãe, é a primeira a se levantar, e já levanta da cama trabalhando, catando coisas esparramadas por todo canto da casa, acendendo o fogo para o café e para ferver o leite das crianças e para esquentar a comida para a marmita dos que vão trabalhar o dia todo e, com paciência e amor, começa a chamar seu marido e seus filhos que devem ir para o trabalho ou para a escola.

A mãe e esposa é a sentinela vigilante dentro do lar. Se, durante a noite tiver alguém doente em sua casa, a mãe se levanta quantas vezes forem necessárias para lhe dar o remédio ou para ver se o doente está com febre, está coberto, está bem.

E, no dia seguinte, quando tem que se levantar, levanta com a mesma disposição, muito embora cansada, mas sem demonstrar no rosto qualquer traço desse cansaço que aqui na terra não tem recompensa alguma e que nem o marido e nem os filhos, na maior parte das vezes notam e reconhecem.

Você, minha irmã, que é esposa e mãe, você é como Maria, a Nossa Senhora, você é a imagem de Maria que temos dentro de casa, no nosso lar.

As esposas e mães são a figura de Maria no nosso lar, numa entrega total à vontade de Deus. É por isso que precisamos amar Maria.

É por isso que precisamos amar as nossas esposas e mãe dos nossos filhos. É por isso que precisamos amar as nossas mães.  

É por isso que precisamos ter sempre Maria em nossos corações. É por isso que não podemos esquecer jamais o sacrifício de nossas esposas e nossas mães. O exemplo mais vivo e mais digno que temos de Maria, a Nossa Senhora, em nossos lares, no nosso meio, são as nossas mães, são as nossas esposas, são as mães de nossos filhos.

Todo e qualquer serviço doméstico que elas fazem, não aparece, todo amor que elas dedicam, não é retribuído, todo sacrifício que elas fazem para que amam, não tem a sua recompensa neste mundo, mas, para o Senhor Nosso Deus, nada disso é passado desapercebido, e um dia, temos certeza, as nossas mães, as nossas esposas, as Mães dos nossos filhos, gozarão a plena felicidade com Maria, a Nossa Senhora, que também como as nossas mães, nossas esposas e mães dos nossos filhos, neste mundo só amou e sofreu, mas que hoje, junto de Deus Pai está sentada num trono celeste reservada para todas as mães e esposas que, como ela, neste mundo, souberam amar e sofrer em silencio, fazendo em tudo a vontade do Pai...

domingo, 14 de março de 2021

 

"POIS DEUS NÃO ENVIOU SEU FILHO AO MUNDO PARA JULGAR O MUNDO, MAS PARA QUE O MUNDO SEJA SALVO POR ELE.” (Jo 3,17).

 

IV DOMINGO DA QUARESMA

Ano – B; Cor – roxo; Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136; Ef 2,4-10; Jo 3,14-21.

 

                                                                                                                             

Diácono Milton Restivo

 

O livro das Crônicas, do qual é tirada a primeira leitura, até a metade do século passado era conhecido e chamado de Paralipômenos.

Tenho em mãos a sexta edição da Bíblia Sagrada traduzida da Vulgata e anotada pelo padre Matos Soares das Edições Paulinas de 1953 onde os dois livros das Crônicas são chamados de “Livro Primeiro dos Paralipômenos” e “Livro Segundo dos Paralipômenos”.

Este nome foi conservado por São Jerônimo, quando da tradução da Vulgata do grego para o latim entre os fins do século IV e início do século V da era atual, que respeitou o nome dado pelos tradutores da Bíblia chamada dos “Setenta”, que fora traduzida do hebraico para o grego entre o terceiro e o primeiro século antes de Cristo, na cidade de Alexandria.

A palavra “Paralipômenos” é grega e significa “das coisas omitidas ou esquecidas”, ou seja, esses dois livros são uma complementação dos livros dos Reis e citam coisas que naqueles livros não constam relativos aos dois reinos, do Sul, Judá, e do Norte, Israel.

Portanto, os livros de Paralipômenos, atuais Crônicas, do hebraico “Palavras (Questões) dos Dias”, eram as coisas omitidas dos livros dos Reis.

Ainda, a título de curiosidade, até a metade do século passado, as Bíblias citavam quatro livros dos Reis, considerando que, os dois livros de Samuel eram nominados “Primeiro e Segundo Livro dos Reis” e os atuais livros dos Reis se transformavam em “Terceiro e Quarto Livro dos Reis”. Nas edições atuais das Bíblias houve a separação dos livros de Samuel e dos livros dos Reis, ficando “Primeiro e Segundo livro de Samuel” e “Primeiro e Segundo livro dos Reis”.

Os dois livros dos Reis e os dois livros das Crônicas narram as histórias de fidelidades e infidelidades dos reis que foram colocados à frente do povo para que esse mesmo povo não se afastasse das determinações de Yahweh.

Assim como o povo, os reis também não foram fiéis a Yahweh.

O povo falhou e foi dividido, de um reino que era Judá, em dois reinos: o do norte, Israel, e o do sul, Judá.

O reino de Israel caiu em apostasia, pois abandonou a Yahweh e estabeleceu outros centros de adoração, além do único centro que estava em Jerusalém.

O reino de Israel foi invadido, capturado e levado para o exílio pelos assírios, e mais tarde o reino do Judá teve o mesmo destino: foi invadido, capturado e levado para o exílio pelos babilônios.

E é exatamente disso que o livro das Crônicas trata nesta passagem: a infidelidade dos chefes dos sacerdotes e dos sacerdotes de Judá:

·         “imitando as práticas abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha santificado em Jerusalém.” (2Cr 36,14).

Apesar de Yahweh que:

·         “dirigia-lhes frequentemente a palavra por meio de seus mensageiros, admoestando-os com solicitude todos os dias, porque tinha compaixão de seu povo e da sua casa. Mas eles zombavam dos enviados do Senhor, desprezavam as suas palavras, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo, e não houve mais remédio.” (2Cr 36,15-16).

Foi então que:

·         “Nabucodonosor levou cativos, para a Babilônia, todos os que escaparam à espada, e eles tornaram-se escravos do rei e de seus filhos.” (2Cr 36,20a).

Mas Yahweh não desprezou o seu povo que lhe fora infiel.

O rei persa, Ciro, que mais tarde derrotaria os exércitos babilônicos, movido pelo espírito de Yahweh, publicou um decreto em todo o seu reino, libertando da escravidão, depois de mais de setenta anos de cativeiro, o povo judeu (cf 2Cr 36,22-23).

O Salmo 136, que é lido e meditado nesta liturgia, é exatamente um lamento dolorido do povo judeu cativo na Babilônia, relembrando com lágrimas os tempos felizes em que viviam na terra que Yahweh lhe tinha dado e que ele, este mesmo povo, pelas suas infidelidades, havia perdido e se tornado escravo de nações estrangeiras. 

Nas terras da Babilônia, onde o povo permaneceu cativo por longo tempo, não havia o Templo do Deus verdadeiro que Nabucodonosor havia mandado destruir em Jerusalém onde esse mesmo povo pudesse fazer suas orações e oferecer sacrifícios a Yahweh, e assim o povo se lamentava:

·         “Junto aos canais da Babilônia nos sentamos e choramos, com saudade de Sião. Nos salgueiros de suas margens penduramos nossas harpas. [...] Como cantar para Yahweh numa terra estrangeira? Se eu me esquecer de você, Jerusalém, que seque a minha mão direita. Que a minha língua se cole ao paladar, se eu não me lembrar de você, e se eu não elevar Jerusalém ao topo da minha alegria.” (Sl 136,1-2.4-6).

E o povo amaldiçoava Babilônia por ter-lhe feito tanto mal:

·         “Ó devastadora capital de Babilônia, feliz quem lhe devolver o mal que você fez para nós! Feliz quem agarrar e esmagar seus nenês contra o rochedo.” (Sl 136,8-9).

Mas esse povo não se esquecia que o mal que Babilônia lhe fizera foi porque ele se afastou do caminho de Yahweh e buscava reconciliação com o seu Deus.

Na segunda leitura Paulo chama a atenção dos cristãos de Éfeso dizendo que:

·         “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo.” (Ef 2,5a).

Paulo lembra que, se Deus nos perdoa, não é por causa dos nossos méritos, porque não temos méritos nenhum diante de Deus, mas é por sua misericórdia:

·         “É por graça que vocês são salvos! [...] Assim, pela bondade que nos demonstrou em Jesus Cristo, Deus quis mostrar, através dos séculos futuros, a incomparável riqueza da sua graça. Com efeito, é pela graça que vocês são salvos, mediante a fé. E isso não vem de vocês; é dom de Deus! Não vem das obras, para que ninguém se orgulhe.” (Ef 2,5b.7-9).

No Evangelho Jesus conversa com um homem importante entre os judeus: Nicodemos.

Numa certa noite, estando Jesus em Jerusalém para comemorar a Páscoa dos judeus, um fariseu;

·         “... chamado Nicodemos, um homem importante entre os judeus...", (Jo 3,1).

Nicodemos era homem muito rico foi ter com Jesus. Nicodemos era um dos poucos judeus que estava com sede da verdade e, para conhecê-la mais e melhor, não hesitou em ter, ainda que às escondidas e por medo de seus próprios compatriotas, ido a um encontro com Jesus, ainda que esse encontro tivesse sido à noite, possivelmente para que os demais fariseus, seus correligionários, desse encontro não tivessem conhecimento e o recriminassem.

Durante esse encontro a conversa foi animada e envolvente.

Nicodemos era um fariseu, isto é, profundo conhecedor e cumpridor da Lei de Moisés, e acreditava nos ensinamentos de Jesus, mas por ser alguém de destaque não quis conversar com Jesus nem de dia e nem em público e procurou Jesus à noite para que o povo não o criticasse e o julgasse por essa sua atitude:

·         “Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos. Era um judeu importante. Ele foi encontrar-se com Jesus de noite...” (Jo 3,1-2).

A conversa de Jesus com Nicodemos foi proveitosa.

Depois de Nicodemos enaltecer Jesus e dizer que ninguém poderia fazer o que Jesus fazia;

·         “se Deus não está com ele” (cf Jo 3,2).

Jesus não perdeu a oportunidade e, considerando que pressentia que o momento da cruz estava chegando, diz a Nicodemos que:

·         “se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus.” (Jo 3,3).

Nicodemos não entendeu bem do que Jesus estava falando: do nascimento de uma nova criatura, um novo homem que entenderia e viveria os ensinamentos do Filho que:

·         “Deus enviou ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,17) e faz a Jesus uma pergunta patética: “Como é que o homem pode nascer de novo se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mão e nascer?” (Jo 3,4).

Jesus explica a Nicodemos qual seria esse nascimento: o nascimento pelo Batismo:

·         “Eu garanto a você: ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nasce da água e do Espírito. Quem nasce da carne é carne, quem nasce do Espírito é espírito. Não se espante se eu digo que é preciso vocês nascerem do alto.” (Jo 3,5-7).

A seguir Jesus fez referência à serpente de bronze erguida por Moisés no deserto para que, os que o ouviam, entendessem a sua missão.

Disse Jesus a Nicodemos:

·         "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3,14-16).

Os israelitas, sob o comando de Moisés, caminhavam pelo deserto à busca da terra prometida e, conforme narra o livro do Êxodo:

·         “Yahweh ia diante deles, de dia numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar a fim de que caminhassem de dia e de noite. Nunca se retirou de diante do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo, durante a noite."  (Ex 13,21-22).

Essa atitude do Senhor mostra claramente o cuidado e carinho que Iahweh tinha com o povo que ele escolheu entre todos os povos para ser somente seu. Mas esse povo nem sempre e, quase sempre, não correspondeu a esse cuidado, a esse carinho do Senhor. Quantas e quantas vezes esse povo afastou-se de Iahweh, cometendo desvarios e pecados que ofendiam ao Senhor. 

Em determinada ocasião em que o povo virou as costas para Iahweh, afastando-se de seus preceitos e mandamentos, como castigo, conforme narra o livro sagrado, Iahweh povoou o deserto de serpentes venenosas para puni-lo, e todos aqueles que eram picados pelas serpentes, fatalmente morriam.

Ao ver o desespero do povo, Moisés intercede ao Senhor e Iahweh determina a Moisés, dizendo:

·         “’Faça uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar, viverá’. Moisés, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia.” (Nm 21,8-9).

É a essa passagem que Jesus se refere e fala a Nicodemos.

Para que, no deserto, no Antigo Testamento, o povo fosse salvo das picadas venenosas das serpentes, no Novo Testamento, para libertar o povo do pecado e de todos os males, não seria a serpente a ser levantada, mas o próprio Filho de Deus:

·         “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna.” (Jo 3, 14-15).

Jesus se identifica como a serpente de bronze levantada no deserto por Moisés.

A serpente de bronze levantada no deserto é o prenúncio, o símbolo de Jesus levantado na cruz entre o céu e a terra, no monte Calvário.

Assim como Moisés, após a calamidade das serpentes venenosas, exortou o povo para que não mais se afastassem dos caminhos de Iahweh, Jesus continua na sua evangelização:

·         "Pois Deus não enviou seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no nome do Filho Único de Deus. Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más. Pois quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus." (Jo 3,17-21).

Jesus, nessa sua afirmativa, deixa clara a misericórdia de Deus: não é Deus quem condena quem quer que seja: é a própria pessoa, pelas suas atitudes e opções que se condena. Quem crê em Jesus e adere à sua mensagem, e a vive com responsabilidade, não é julgado. Agora, quem não crê e vira as costas para o sacrifício do Filho único do Pai, já está julgado pela opção que fez.

Assim como todos do povo de Israel que estavam no deserto preferiram adorar a deuses estranhos que não a Yahweh eram picados pelas serpentes venenosas, símbolo do pecado, se não olhassem para a serpente de bronze levantada no meio do deserto em uma haste morriam e os que recorressem a ela e a encarassem, viviam, assim também, os homens, de todos os tempos e lugares, picados e contaminados com o veneno do pecado, da injustiça e alheios à fraternidade que recorrem e contemplam Jesus levantado na cruz e acreditam que seu sacrifício foi para a redenção de todo o gênero humano, e que Jesus morreu por ele, "não perecem, mas tenham a vida eterna.”

As serpentes do mal continuam por ai, a picar todos aqueles que não levam a sério os ensinamentos de Jesus. Os menos avisados e omissos das coisas do Senhor que são picados e contaminados com o veneno da serpente do pecado e que não recorrem ao Senhor Jesus levantado na cruz, fatalmente morrerão, e a salvação não será para esses por suas próprias iniciativas:

·         "Pois Deus não enviou seu Filho para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no nome do Filho Único de Deus." (Jo 3,17-18).

Não é Deus que se afasta do homem; é o homem quem se afasta do seu amor, como diz Paulo:

·         “Deus é fiel e não permitirá que sejam tentados acima das forças que vocês têm. Mas, junto com a tentação, ele dará a vocês os meios de sair dela e a força de suportá-la” (1Cor 10,13).

Somente o amor salvará os homens que ainda não entenderam a misericórdia e o imenso amor que o Senhor tem por seus filhos a ponto de cometer a divina loucura de enviar a este mundo o seu Filho Único para ensinar a todos o caminho da volta para a casa do Pai e deixar o mandamento da salvação, o mandamento do amor:

·         “Dou a vocês um mandamento novo: que se amem uns aos outros. Nisso reconhecerão que vocês são meus discípulos se tiverem amor uns pelos outros." (Jo 13,34-35).

·         “Dei a vocês o exemplo para que, como eu fiz a vocês, também vocês o façam. Em verdade, em verdade eu digo a vocês: o servo não é maior que seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou. Se compreenderem isso e praticarem, vocês serão felizes” (Jo 13,15-17).

Jesus nos amou até a morte, e morte de cruz. Os homens ainda não entenderam isso.

Jesus amou e deu exemplo de como se deve amar, mas, infelizmente, os homens não compreenderam e continuam uns escravizando aos outros, uns oprimindo aos outros, uns pisando nos outros, e muitos fazendo do dinheiro, de seus bens materiais, de suas riquezas os seus deuses, atraindo para si a ira do Senhor, infestando este mundo das serpentes venenosas da ambição, do egoísmo, do desamor, que picam tantos e tantos, adormecendo-os para o amor de Deus e amor aos irmãos.

O Filho de Deus se fez homem para que nenhum homem fosse tratado como escravo.

Jesus aceitou ser extremamente humilhado para que nenhum homem sofresse qualquer tipo de humilhação. Jesus aceitou a pobreza para que nenhum homem viesse a passar fome.

Jesus aceitou o sofrimento para que nenhum homem viesse sofrer a opressão que é imposta pelo próprio homem.  Jesus aceitou ser crucificado para que nenhum homem viesse a ser torturado.

Jesus aceitou a morte para que todos os homens pudessem viver para sempre:

·         "Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância." (Jo 10,10).

Deus Pai mandou seu Filho para a morte a fim de acabar com o sofrimento, com o domínio do homem sobre o homem, com a escravidão dos fracos imposta pelos ricos e poderosos; para acabar com a injustiça dos violentos, a opressão do pecado e o domínio da morte.

Deus Pai

·         "Não enviou seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele." (Jo 3,17).

O que o amor infinito não pode aceitar, e não aceita, são as situações e estruturas injustas que o homem impõe ao próprio homem, os ricos e poderosos oprimindo os mais fracos apenas para satisfazer a sua volúpia, a sua ganância, a sua busca desenfreada de prazer, de riqueza e de poder.

Somente pelo amor é que o mundo será salvo. 

O homem ainda não entendeu que, sem justiça não existe paz.

Na medida em que o amor tomar conta do mundo e dos corações dos homens, as serpentes venenosas do mal serão eliminadas, morrerão as injustiças, cessarão os gemidos dos pobres e oprimidos, cessará o domínio da morte.

Mas, infelizmente:

·         "este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque as suas obras eram más. Pois, quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam demonstradas como culpáveis." (Jo 3,19-20).

E Jesus termina sua conversa com Nicodemos com palavras confortadoras, satisfazendo plenamente a procura da verdade de quem queria realmente conhecer a verdade do Senhor, colocar em prática seus mandamentos e caminhar na luz:

·         "Mas, quem pratica a verdade, vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus." (Jo 3, 21).