quinta-feira, 31 de março de 2022

 

“PAI, PERDOA-LHES...” (Lc 23,34)

 

            Andando solitário, saudoso, melancólico, esnobado e descrente pelas estradas poeirentas da vida, deparei-me com um homem de porte majestoso, alto, de pele bronzeada, rosto suave, olhos meigos, cabelos negros e longos, roupas longas, pés descalços, gestos medidos, voz cativante, palavras de vida eterna. Aproximou-se alguém de mim que, como eu, o via passar, estendeu o seu braço direito e, com o dedo indicador em riste, apontou para aquele homem majestoso e me diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João, 1, 29).      

Passei, então, a seguí-lo, em seu caminhar silencioso e meditativo. Ao notar minha presença, ele se volta, e pergunta: “Que está procurando?”, e eu lhe respondo, com outra pergunta: “Mestre, onde moras?” e ele me responde prontamente: “Vem e vê.” (Jo 1,38-39).          

Comecei a caminhar ao seu lado, e ele se volta para mim encarando-me com seu olhar doce,  meigo e profundo e me diz: “Arrepende-se, porque está próximo o Reino dos Céus.” (Mt 4,17), e, como se estivesse vivendo em uma outra dimensão sem tirar os pés do chão, continuou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la.” (Mt 16,24-25), e, a seguir, dizendo: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. se não fosse assim, eu lhe teria dito, pois vou lhe preparar um lugar, virei novamente e lhe levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, você esteja também” (Jo 14,2-3), acrescentando: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” (Jo 14,6).

Dizendo isso  me convida a conhecer as suas moradas...    Levou-me até onde brincava uma inocente criança, abraçando-a olhando profundamente os seus olhinhos inocentes, calmos e cristalinos como uma lagoa que assimila e reflete o azul do céu e os raios dourados do sol,  e me diz: “... se você não se converter  e não se tornar  como as crianças, de modo algum  entrará no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus.” (Mt 18,2-4). “Aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim, e aquele que me recebe, recebe aquele que me enviou...” (Lc 9,46-48);  “Em verdade lhe digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. (Mc 10,15), porque, como essa criança, serão “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.” (Mt 5,8).  

Passamos, depois, por diversas outras moradas do Mestre: o faminto, o sedento, o despido, o peregrino, o doente, o encarcerado e, olhando e apontando  para cada um deles,  me disse o Mestre: “E quem der, nem que seja um copo d’água a um desses pequeninos... em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.”(Mt, 10,42), porque serão “Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus.” (Mt 5,8); socorra sempre os necessitados, disse-me ele, e aprenda esta regra de ouro: “Tudo aquilo, portanto, que você quer que os homens lhe faça, faça você a eles, pois esta é a Lei e os Profetas.” (Mt 7,12).

O Mestre, vendo-me calado e, penetrando em meu coração notou tantas amarguras, mágoas, ressentimentos e dores, colocou a mão em meu ombro e me conforta: “Ame os seus inimigos, faça o bem aos que lhe odeiam, bendiga os que lhe amaldiçoam, ore por aqueles que lhe difamam. A quem lhe ferir numa face, oferece a outra; a quem lhe arrebatar a capa, não recuse a túnica. Dá a quem lhe pedir e não reclame a quem tomar o que é seu. Como você quer que os outros lhe façam, faça também a eles. Se você ama os que lhe amam, que graça você vai alcançar? ...ame seus inimigos, faça o bem e empreste sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a sua recompensa, e você será filho do Altíssimo, pois ele é bom para com os ingratos e maus.” (Lc 6,27-35).

Ao me dizer isso, eu o encarei descrente dessa possibilidade, pois, como iria eu amar meus inimigos que tantos males me fizeram? E os que disseram serem meus amigos, se só tentaram me prejudicar? E as pessoas que disseram que me amavam, se só pensaram em si próprias? Como poderia eu amar quem me fez mal?

O Mestre, ao observar a minha descrença e na impossibilidade do perdão, acrescenta: “Seja misericordioso como o seu Pai é misericordioso. Não julgue para não ser julgado; não condene para não ser condenado; perdoa, e lhe será perdoado. Dê, e lhe será dado; será derramada no seu regaço uma boa medida, calcada, sacudida, trasbordante, pois com a medida com que você medir, você será medido também.” (Lc 6,36-38), e continuou: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mt 5,7); e disse ainda para que eu não esquecesse o seu mandamento novo, quando afirmou: “Dou a você um mandamento novo: que amem-se uns aos outros. Como eu amei voces, vocês devem se amar também uns aos outros.” (Jo13,34).

E eu lhe respondi: “Mestre, amo a Deus, mas é tão difícil perdoar a quem nos fez mal, é tão difícil esquecer as ofensas, é tão difícil esquecer as esnobações, é tão difícil esquecer ingratidões, despresos, traições...”, ele, prontamente, me respondeu: “não se esqueça do que eu disse, do alto da cruz, me referindo aos meus algozes: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem” (Lc 23,34); porque, se lhe prenderam, a mim prenderam também, se lhe caluniaram, a mim caluniaram também, se lhe desacreditaram, a mim desacreditaram também, se falaram mentiras a seu respeito, falaram também ao meu respeito, se lhe levaram a um tribunal, a mim levaram também, se lhe humilharam, lhe abandonaram, a mim fizeram isso também, porque você quer ser diferente de mim? Lembre-se do que eu disse: “Não existe discípulo superior ao seu mestre, nem servo superior ao seu senhor.”  (Mt 10,24); então, porque você quer ser diferente? Não se esqueça do que o meu Apóstolo João escreveu: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1Jo 4,20-21).

E o Mestre continuou: “Quando você estiver rezando, perdoe tudo o que tiver contra alguém, para que o seu Pai que está no céu também perdoe os seus pecados. Porque, se você não perdoar, o seu Pai que está no céu também não perdoará os seus pecados” (Mc 11,25-26). Ao ouvir isso do Mestre, mesmo com o peito ferido e o coração sangrando, mesmo sem ver perspectivas de dias melhores, eu lhe respondo, do fundo do coração: “SENHOR,...  EU... AMO... EU PERDOO...

quarta-feira, 30 de março de 2022

 

VIGIE PORQUE VOCÊ NÃO SABE EM QUE DIA VEM O SENHOR.

 

            O Divino Mestre adverte seus discípulos para vigiarem e não serem surpreendidos: “Como nos dias de Noé, será a vinda do Filho do Homem. Com efeito, como naqueles dias que precederam o dilúvio, estavam eles comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam nada, até que veio o dilúvio  e os levou a todos. Assim acontecerá na Vinda do Filho do Homem. E estarão dois homens no campo: um será tomado e o outro deixado. Estarão duas mulheres moendo no moinho: uma será tomada e a outra deixada.” (Mt 24,37-42). 

Apesar das ameaças bíblicas, dessas chamadas de atenção, os homens continuam arrogantes, malfeitores e nada vigilantes para a vinda do Filho do Homem, que pode acontecer a qualquer momento e pegar a todos desprevenidos, despreparados e preocupados com as coisas materiais e explorando uns aos outros.

Mas, para todos esses anúncios do final dos tempos e essas palavras de ameaças, o Senhor Nosso Deus adverte os seus eleitos e reserva para eles palavras de conforto, de fé, esperança, de segurança, e os conclama à penitência: “Agora, portanto - oráculo de Iahweh - retornai a mim de todo o vosso coração, com jejum, com lágrimas e com lamentação.” Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas, retornai a Iahweh, vosso Deus, porque ele é bondoso e misericordioso, lento na ira e cheio de amor, e se compadece da desgraça. Quem sabe? Talvez ele volte atrás, se arrependa e deixe atrás de si uma benção, oblação e libação para Iahweh, vosso Deus.” (Jl 2,12-14).

“Se fizeres isso, a tua luz romperá como aurora, a cura de tuas feridas se operará rapidamente, a tua justiça irá à tua frente e a glória de Iahweh  irá à tua retaguarda. Então clamarás e Iahweh responderá, clamarás por socorro e ele dirá: “Eis-me aqui!!!” (Is 59,8-9).

“Procurai o bem e não o mal para que possais viver, e, deste modo, Iahweh, Deus dos Exércitos estará convosco, como vós o dizeis! Odiai o mal e amai o bem, estabelecei o direito à porta; talvez Iahweh, Deus dos Exércitos, tenha compaixão...” (Am 5,14-15).

Para os que ouvem e praticam as exortações de penitência transmitida pelos profetas, o Senhor Nosso Deus conforta, dizendo: “Mas para vós que temeis o meu nome, brilhará o sol da justiça, que tem a cura em seus raios.” (Ml 3,20).

E o Senhor Jesus, preocupado com o seu rebanho, orienta: “Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que vigília viria o ladrão, vigiaria e não permitiria que sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós, ficai preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais.” (Mt 24,42-44).

Nos momentos que antecederam o seu sacrifício supremo, Jesus chama a atenção dos apóstolos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto mas a carne é fraca.” (Mt 26,41).

Finalizando, o Senhor Jesus nos deixa essas palavras de conforto: “Nenhum só cabelo de vossa cabeça se perderá. É pela perseverança que mantereis vossas vidas.” (Lc 21,18-19).

terça-feira, 29 de março de 2022

 

AGRADAMOS A JESUS AMANDO SUA MÃE, MARIA

 

São Luiz Maria Grignon  de Montfort como um grande devoto de Maria, no livro que ele escreveu sobre Maria chamado “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, queixa-se, amorosamente a Jesus pelos cristãos desconhecerem a íntima  ligação que existe entre Jesus e Maria. E, nesse livro, ele escreve o seguinte:

“Neste ponto, dirijo-me a vós, um instante,  ò meu amável Jesus, para queixar-me amorosamente à Vossa Majestade de que a maior parte dos cristãos e até os mais ilustrados não sabem da união necessária que existe entre vós e vossa Mãe Santíssima. Estais sempre com Maria, ó meu Senhor, e Maria está sempre convosco e não pode estar sem vós; de outro modo deixaria de ser o que é; Maria está de tal forma transformada em vós pela graça que não vive mais, não existe mais; sois vós, unicamente, meu Jesus, que nela viveis e reinais, mais perfeitamente que todos os Anjos ou bem-aventurados. Ah! Se os homens conhecessem a glória e o amor que nessa admirável criatura recebeis, bem diversos seriam os seus sentimentos a vosso respeito e a respeito de Maria. Maria vos está tão intimamente unida, que seria mais fácil separar a luz do sol e o calor do fogo; digo mais, seria mais fácil separar de vós todos os anjos e santos que a pura Maria; porquanto ela vos ama mais ardentemente, vos glorifica mais perfeitamente que todas as outras criaturas juntas.   Isso dito, meu amável Jesus, não é verdade que causa espanto e compaixão ver a ignorância e as trevas de todas as criaturas deste mundo em relação à vossa Mãe Santíssima? Quantos cristãos católicos que fazem promessa de ensinar aos outros a verdade, e que, entretanto, não vos conhece a vós e a  Vossa Mãe Santíssima senão de um modo especulativo, seco, estéril e indiferente. Esses cristãos pouco falam de vossa Santa Mãe e da devoção que lhe é devida, porque temem, dizem eles, abusar ou vos injuriar honrando demasiadamente à Vossa Mãe Santíssima. Se vêem ou ouvem algum devoto da Santíssima Virgem  falar frequentemente  da devoção a esse boa mãe, de um modo terno, forte e persuasivo, como de um meio seguro e sem ilusão, de um caminho curto e sem perigo de uma senda imaculada e sem imperfeição, e de um segredo maravilhoso para achar-vos e amar-vos perfeitamente, clamam contra ele e apresentam mil falsas razões para provar-lhe que não deve falar tanto assim da Santíssima Virgem, que existem grandes abusos nessa devoção, que se deve trabalhar para destrui-los e antes falar em vós que incitar os povos à devoção à Santíssima Virgem que eles já dizem amar suficientemente... Ò meu amável Jesus, possui essa gente, por acaso, o vosso espírito? Será que eles vos contentam agindo dessa maneira? Será que eles vos agradam não empregando todos os esforços para agradar a vossa mãe, com medo de desagradar-vos? A devoção à vossa Santíssima Mãe impedirá a vossa? Preservai-me, Senhor, preservai-me desses sentimentos e dessas práticas e concedei-me a graça  de partilhar os sentimentos de gratidão, de estima, de respeito e de amor que consagrais à vossa Mãe Santíssima, a fim de que tanto mais vos ame e glorifique quanto mais de perto vos imitar e seguir. Como se até agora nada mais tivesse dito em honra de vossa Mãe Santíssima, fazei-me a graça de louvá-la dignamente apesar de todos os seus inimigos que são também os vossos, e permiti que eu lhes diga com os santos:- NÃO PODE ESPERAR A MISERICÓRDIA DE DEUS QUEM OFENDE A SUA MÃE!”

Isso que acabamos de ler são escritos de São Luiz Maria Grignon de Montfort. Este santo é um dos maiores devotos de Maria e um dos maiores propagadores da devoção à Santíssima Virgem, e, pelos seus escritos, aprendemos muito com ele como devemos amar Maria, e como devemos amar Jesus através de Maria.



segunda-feira, 28 de março de 2022

 

MÃES, PRESENÇA DE MARIA NA FAMÍLIA

 

Maria é virgem e mãe. Única na história da humanidade a ter essa dignidade. Única escolhida por Deus para uma missão específica: a de ser virgem e, ao mesmo tempo, ser mãe do Filho de Deus. O Pai, que escolheu Maria para essa missão divina, continua a convidar todas as mulheres para essa missão: a vocação da maternidade. Para a vocação da maternidade o Pai não faz acepção de mulheres: são mães as mulheres ricas e as mulheres pobres; são mães as mulheres que moram nos palacetes e as mulheres que moram nas favelas. São mães as mulheres de todas as raças, cores, credos. Faz parte do divino ser mãe.

Um poeta já disse: “ser mãe é padecer no paraíso”.

Concordo em parte com esse poeta porque, ser mãe é sempre padecer, mas nem sempre no paraíso, porque um coração de mãe está sempre apreensivo pela educação, bem estar e segurança de seu filho, assim como esteve o coração de Maria desde a concepção de Jesus no seu ventre virginal, depois por toda a vida, até a sua morte na cruz.

Lembramos hoje das mães que estão esperando os seus bebês, numa expectativa alegre e emocionante de poder, por uma primeira vez, dar à luz a alguém e depois dar a vida por esse alguém que nascerá do seu ventre. Quando vejo uma mulher grávida eu me lembro de Maria esperando o seu Menino Jesus já, com o ventre bastante crescido e acariciando o seu ventre como que acariciando aquele que viria para a salvação do mundo. Cada criança que nasce é mais uma esperança que o Pai nos dá de que o mundo pode ser modificado para melhor. Enquanto mulheres estiverem dando  à luz seus filhos, é uma certeza de que Deus não se esqueceu dos homens.

Todas as mulheres são vocacionadas para a maternidade. Talvez fosse o momento de pedirmos a Maria pelas mães solteiras, essas mulheres que foram e são valentes e corajosas e, na maioria das vezes, abandonadas pelo homem que amou, pela família, e condenada pela sociedade, respeitaram a vida e conservaram no seu ventre o fruto de um amor frustrado e que em momento algum pediu para ser gerado. Apesar dos pesares respeitaram a vida e suportaram em seus ombros e em suas almas a dor do abandono e a tristeza da incompreensão da família, co companheiro e da sociedade. São solteiras, sim, mas são mães como todas as mães, em toda a extensão da palavra.

Vamos pedir a Maria pelas mães que se casaram pensando em uma vida de paz e felicidade no seu lar, mas que facilmente se desiludiram ao sofrerem a incompreensão do marido e ao sentir que em determinado momento foi jogada sobre os seus ombros a responsabilidade de, sozinhas, terem que cuidar e educar seus filhos. Peçamos à Maria pelas mães abandonadas pelos seus maridos, mulheres valentes e corajosas que, mesmo com o abandono do marido, assumem sozinhas o papel que deveria ser dos dois, marido e mulher, os cuidados e a educação dos filhos.

Peçamos a Maria por todas as mães que têm os seus lares bem estruturados e formados, bem constituídos e que vivem felizes com seus maridos e filhos. Como Maria, todas são mães e, como mães, todas merecem a nossa veneração, o nosso respeito e consideração, o nosso amor.

Peçamos à Maria que coloque no coração de cada um de nós o respeito por todas as mães que são a face feminina de Deus no nosso meio.

Peçamos à Maria pelas mães das mães, que são as avós, que já cumpriram com sua missão de mãe e agora vêem o fruto de seus trabalhos se realizarem no nascimento de seus netos.

Peçamos, de uma maneira especial, pelas mães falecidas, por aquelas que deram a sua vida por seus filhos, por aquelas que já cumpriram a sua missão nesta terra e agora, junto com Maria, no Reino dos Céus, recebem o merecido prêmio pela doação total de suas vidas pelos seus filhos.

Só o fato de uma mulher ser mãe dá a essa mulher o direito de um lugar privilegiado junto de Deus e em companhia de Maria. Peçamos à Maria que abençoe todas as mães e a todas dê a alegria íntima de que a salvação de todos os homens depende delas, assim como dependeu de Maria que foi a mãe de nosso Salvador e Senhor.

domingo, 27 de março de 2022

 

NÃO SABEMOS O DIA NEM A HORA

 

            Jesus nos exorta a praticarmos obras de caridade, a termos fé em suas palavras e a estarmos sempre vigilantes: “Felizes os servos  que o senhor, à sua chegada, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo, ele se cingirá e os colocará à mesa e, passando de um a outro, os servirá. E caso venha pela segunda ou pela terceira vigília, felizes serão se assim os encontrar! Compreendei isto: se o dono da casa soubesse em que hora viria o ladrão, não deixaria que sua casa  fosse arrombada. Vós também ficai preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora que não pensais.” (Lc 12,37-40).

Nesse dia acontecerá tudo o que o Senhor Jesus prenunciara aos seus apóstolos e discípulos sobre o fim dos tempos, o juízo final: “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono de sua glória. E serão reunidas em sua presença todas as nações e ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então dirá o rei aos que estiverem em sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, preso e viste ver-me. Então os justos lhes responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver?’ Ao que lhes responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.’ Em seguida dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer. Tive sede e não me destes de beber. Fui forasteiro e não me recolhestes. Estive nu e não me vestistes, doente e preso, e não me visitastes. Então, também eles responderão: ‘Senhor, quando é que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso e não te servimos?’ E ele responderá com estas palavras: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’ E irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna.” (Mt 25,31-46).  

“Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento.” (Jo 5,28-29).

Também, a respeito disso, o Senhor Nosso Deus, através de seus profetas, já havia chamado a atenção de seu povo: “Quanto a vós, minhas ovelhas, assim diz o Senhor Iahweh: ‘Eis que vou julgar entre ovelha e ovelha, entre carneiros e bodes.” (Ez 34,17);

 “E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno. Os que são esclarecidos resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que ensinam a muitos a justiça hão de ser como as estrelas, por toda a eternidade.” (Dn 12,2-3).

O profeta Jeremias repete as palavras de Iahweh, dizendo: “Ai! Porque este é o grande dia! Não há outro semelhante a ele! É tempo de angústia... (Jr 30,7).

O profeta Joel transmite o alarme de Iahweh: “Tocai a trombeta em Sião. Dai alarme em minha montanha santa! Tremam todos os habitantes da terra, porque está chegando o dia de Iahweh! Sim está próximo! Um dia de trevas e de escuridão, um dia de nuvem e de obscuridade! (Jl 2, 1-2).

Apesar de todas essas chamadas de atenção, os homens parecem não estarem preocupados com a consumação desses acontecimentos e continuam vivendo como se fossem viver eternamente neste mundo amparados pelos seus bens materiais, escorados em sua soberba, vivendo no seu orgulho, na sua descrença e na indiferença total para com as coisas de Deus e dos irmãos.

O profeta Malaquias adverte que “todos os arrogantes e todos aqueles que praticam a iniquidade serão como palha; o Dia que vem os queimará de modo que não lhes restará nem raiz, nem ramo.” (Ml 3,19).

sábado, 26 de março de 2022

 

MORTE, PASSAGEM PARA A VIDA...

 

Todos nós, sempre e de um modo especial, nos lembramos dos nossos mortos.

Todos temos dentro de nós uma lembrança, um vazio deixado por alguém a quem a gente amou e que partiu para a outra vida.    

Todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos  a dor do luto, lamentamos o lugar que ficou vazio na mesa, no sofá da sala, reclamamos a voz que se calou, sentimos a falta da presença que se tornou ausência.

Em muitos dos nossos lares, senão em quase todos, já passou a figura tenebrosa e indesejável da morte, e a morte já levou muitos dos nossos entes queridos.

Se não conhecêssemos a Cristo e a sua mensagem, talvez não houvesse esperanças em nossos corações e nossa vida seria uma fuga eterna da morte, uma fuga de uma realidade  que nenhum ser vivente sobre esta terra poderá se livrar; o que nos conforta, quando pensamos sobre a morte ou somos atingido por ela através de um ente querido são as palavras de Jesus Cristo, quando disse: “Em verdade, em verdade eu lhes digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.”  (Jo 8,51). Até Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima, Maria, conheceram a morte e passaram por ela; passaram pela morte, mas venceram a morte, nos dando a esperança e a certeza de uma vida plena depois da m

orte, a vida que não se acaba, a vida eterna, a vida que o Senhor Jesus nos veio trazer em abundância, e Jesus afirma isso no seu Evangelho quando conversava com as irmãs Marta e Maria: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre.” (Jo 11,15-26).    

A morte é para o cristão apenas a passagem que une o nosso tempo à eternidade; a morte é a porta que se abre para que nós possamos entrar na vida que Jesus Cristo preparou para todos nós, “e não nos devemos admirar porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que fizeram o bem, sairão para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição do juízo.”  (conf Jo, 5,28-29).          

Todos nós, quando morre alguém da nossa família, do nosso círculo de amizade, choramos, e às vezes choramos muito.     

É bom chorar, é necessário que se chore porque as lágrimas sinceras são as provas mais evidentes do amor que tínhamos por aquela pessoa que se foi; as lágrimas são a demonstração e a exteriorização dos nossos sentimentos mais sinceros e mais íntimos.

Todo cristão chora quando um ente querido parte para a vida eterna.

Mas o cristão não chora de desespero, o cristão chora, sim, mas de saudade. Nós sentimos saudade do ente querido que se foi, mas temos confiança  nos ensinamentos evangélicos de Jesus Cristo, acreditamos na sua mensagem e temos a certeza evangélica de que os nossos entes queridos que conviveram longo tempo conosco neste vale de lagrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e fizeram parte do seu rebanho, agora, depois de sua morte, estão na glória de Deus Pai, na casa do Pai onde, segundo uma das promessas de Jesus Cristo, existem muitas moradas, e Jesus nos diz no seu Evangelho: “Não se perturbe o seu coração; creia em Deus, creia também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse eu não teria dito isso para vocês, porque eu ou preparar um lugar para vocês. Quando eu tiver ido e tiver preparado um lugar para vocês, de novo voltarei e tomarei vocês comigo, para onde eu estiver estejam  também vocês.” (Jo 14,1-3).

            Paulo, Apóstolo, em sua carta aos Romanos, ele escreveu para nos confortar a respeito da morte: “Pelo batismo fomos sepultados com Cristo na morte a fim de que nós também, como o Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, levemos uma vida nova. Mas, se morremos com Cristo, cremos também que vivemos com ele, sabendo que o Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte não tem mais poder sobre ele.” (Rm 6,3-4.8-9).

Paulo, através dessa sua carta nos dá a certeza que a vida eterna já começou aqui e agora em nós pelo batismo e pela fé no Senhor Jesus.  João Evangelista, com sua mensagem de fé e amor, também nos conforta a todos e nos dá a certeza de que, um dia, após a nossa morte, nós veremos realmente a Deus tal qual ele é. 

Na sua primeira carta, João nos escreve: “Filhinhos, vejam como é grande o amor que o Pai tem por nós! Seu amor para conosco é tão grande que ele nos deu a graça de sermos chamados “Filhos de Deus”, e o somos de fato. O mundo não nos conhece, porque não conhece a Deus. Meus queridos amigos, já somos filhos de Deus aqui e agora, embora, externamente ainda não apareça o que vamos ser. Mas sabemos, com certeza, que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele porque o veremos como ele realmente é. Todo aquele que tem essa esperança nele se torna puro, como também ele é puro.” (1Jo 3,1-3).

O que nos conforta sobre os pensamentos que temos sobre os nossos mortos são as palavras de Jesus, quando diz: “Deus, não é Deus dos mortos, e sim dos vivos, porque para ele todos vivem.”  (Lc 20,38). Tudo isso revigora a nossa certeza de que os nossos mortos, os nossos entes queridos por quem a gente derramou copiosas lágrimas de dor e saudade, todos eles estão na casa do Pai.

sexta-feira, 25 de março de 2022

 

FESTA DA ANUNCIAÇÃO DE NOSSA SENHORA

 

Estava nos planos de Deus que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade salvasse o gênero humano e, para isso, tomasse a natureza humana. Tendo chegado o momento escolhido desde toda a eternidade para a realização desse grande mistério, o Arcanjo São Gabriel foi incumbido da missão de comunicá-lo à Santíssima Virgem Maria, santa jovem que residia em Nazaré e que era descendente do rei Davi. Maria estava prometida em casamento a José, homem justo que, como ela, também era descendente do rei Davi. Entre todas as criaturas a Santíssima Trindade havia escolhido Maria para ser a mãe do Messias prometido e, por esse motivo, não resta dúvidas, a Santíssima Trindade enriqueceu Maria de tantos privilégios e graças que, em santidade, a elevara acima de todas as criaturas. A Virgem Maria achava-se em oração em sua pobre e humilde casa de Nazaré quando o Anjo Gabriel entrou em seu aposento.

O Anjo saudou Maria com estas palavras: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.”            Maria, ao ver a presença do Anjo e ao ouvir essa saudação, com certeza, assustou-se.

O Anjo, porém, continuou na sua mensagem, dizendo: “Não tenhais medo, Maria! Achastes graças diante de Deus. Eis que concebereis e dareis à luz um filho a quem poreis o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo e Deus lhe dará o trono de seu pai Davi e ele reinará eternamente na casa de Davi e seu reino não terá fim.”         O que se passou na alma da Santíssima Virgem Maria ao ouvir essas palavras, mortal nenhum tem condições de exprimir.

A partir daí Maria não mais se perturbou, e perguntou ao Anjo: “Como se fará isso se não conheço homem?”. Maria não estava colocando dúvidas nas palavras de Deus que eram ditas pelo Anjo; apenas ela não estava entendendo como ela poderia ser mãe se era ainda virgem, “se ainda não conhecia homem”, e, por isso, Maria não estava entendendo como poderia conciliar a maternidade com a sua virgindade. O Anjo Gabriel  a esclareceu prontamente nesse ponto, mostrando-lhe que ela seria Mãe sem macular o seu estado de virgindade, dizendo: “O Espirito Santo virá sobre vós e a virtude do Altíssimo vos cobrirá com a sua sombra.”.

Ao ouvir essa declaração do Anjo a Santíssima Virgem, com toda a humildade, se sujeitou à vontade divina, e disse ao Anjo: Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra.”        Nesse preciso momento realizou-se a obra da Encarnação do Verbo de Deus que se fez carne; o grande mistério da Encarnação. O Verbo de Deus se fez carne, e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o verdadeiro Filho de Deus tomou a nossa natureza humana no seio virginal de Maria. Maria Santíssima veio a ser Mãe de Deus sem perder, por isso, a sua virgindade.

Maria, tão privilegiada por Deus, escolhida entre todas as mulheres, merece, de uma maneira muito especial, a nossa veneração. Os grandes santos devotos da Santíssima Virgem Maria dizem que nenhuma criatura, em tempo algum, alcançou tão alta dignidade como Maria Santíssima ao se tornar Mãe do Altíssimo. Como Mãe de Jesus Cristo Maria está acima de todos os anjos e de todos os santos do céu e da terra que nela reconhecem e a veneram como sendo sua Rainha.

Como bons cristãos católicos devemos ser sempre  filhos gratos e devotos da Santíssima Virgem Maria. A partir do momento em que Maria foi elevada à dignidade de Mãe de Deus, Maria ficou sendo também a Nossa Mãe porque, pela encarnação, Jesus Cristo se dignou ser nosso irmão.

À Maria, portanto, devemos nos dirigir como filhos à Mãe com muito amor, confiança e gratidão. Nunca se ouviu dizer que Maria tivesse abandonado aqueles que, confiantes, a invocaram em suas necessidades. (do livro “Na Luz Perpétua” - pgs 185, 186, 187.)

São comemorados, também, neste dia: Santos Barôncio e Desidério (monges de Lonrey), São Dimas (citado em Lc 23,39-42), Santa Dula, a Eslava (virgem e máritr), Santo Irineu de Sirmium (bispo e mártir).

quinta-feira, 24 de março de 2022

 

OSCAR ROMERO – ARCEBISPO DE EL SALVADOR - 1917-1980

 

Oscar Arnulfo Romero Y Gadamez nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em El Salvador. Sua família era numerosa e pobre. Quando criança, sua saúde inspirava cuidados.

Com apenas 13 anos entrou no seminário.

Foi para Roma completar o curso de teologia com 20 anos e se ordenou sacerdote, em 1943. Retornou a El Salvador, na função de pároco. Era um sacerdote generoso e atuante: visitava os doentes, lecionava religião nas escolas, foi capelão do presídio; os pobres carentes faziam fila na porta de sua casa paroquial, pedindo e recebendo ajuda.

Durante 26 anos, na função de vigário, padre Oscar Romero conheceu a miséria profunda que assolava seu pequeno país. A maioria dos países sul-americana vivia duras experiências de ditaduras militares, na década de 1970.

Também para El Salvador era um período de grandes conflitos. Em 1977, padre Oscar Romero foi nomeado Arcebispo de El Salvador, chegando à capital com fama de conservador.

No fundo era um homem do povo, simples, de profunda sensibilidade para com os sofrimentos da maioria, de firme perspicácia aliada à coragem de decisão. Em 1979, o presidente do país foi deposto pelo golpe militar.

A ditadura se instalou no país e, pouco a pouco, se acirrou a violência. Reinou o caos político, econômico e institucional no país.

De janeiro a março de 1980 foram assassinados 1015 salvadorenhos. Os responsáveis pertenciam às forças de segurança e às organizações conservadoras do regime militar instalado no país. Nessa ocasião, dois sacerdotes foram assassinados violentamente por defenderem os camponeses, que foram pedir abrigo em suas paróquias.

Dom Romero teve que se posicionar e, de pronto, se colocou no meio do conflito.

Não para aumentá-lo, mas para ajudar a resolvê-lo. Esta atitude revelou o quando sua espiritualidade foi realista e o seu coração, sereno e obediente ao Evangelho. No dia 24 de março de 1980, Dom Romero foi fuzilado, em meio aos doentes de câncer e enfermeiros, enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência, na capital de El Salvador.

Sua ação pastoral visava ao entendimento mútuo entre os salvadorenhos.

Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as injustiças praticadas pelos grupos "revolucionários". O Arcebispo Dom Oscar Arnulfo Romero foi fiel a Igreja, e pagou com a vida o preço de ser discípulo de Cristo.

O seu nome foi incluído na relação dos 1015 salvadorenhos que foram assassinados, em 1980.

quarta-feira, 23 de março de 2022

 

MARIA ESTÁ COM O POVO SIMPLES, HUMILDE E POBRE.

 

Maria está com o povo simples, humilde e pobre. O povo humilde e pobre está com Maria.    O povo pobre e humilde é como o apóstolo João, o único que não fugiu quando Jesus Cristo foi preso e crucificado, e que ficou com Maria aos pés da cruz, no Calvário, naquela triste e sombria sexta-feira. O povo pobre e humilde, como João, fica junto de Maria, não foge, não tem medo de sofrer. O povo pobre e humilde já sofre tanto.

Mas não fica aos pés da cruz sozinho: Maria está com ele. Ainda hoje o povo pobre e humilde fica junto de Maria aos pés de tantos irmãos que estão morrendo de fome ainda hoje, de inanição, de desprezo dos ricos e dos poderosos; o Cristo continua morrendo hoje nos pobres e desvalidos, como morreu na cruz do Calvário, sob o s olhos tristes e amargurados de sua Santíssima Mãe, Maria. Chegando ao Calvário, o povo pobre não fala; só fica olhando, como João ficou olhando, marcando presença. Jesus também não fala.        

Só fica rezando do alto da cruz. E ai, no silêncio daquela dor, os olhos de Jesus repetem  as mesmas palavras que foram ditas e ouvidas pela primeira vez no Calvário da Palestina, conforme nos narra em seu Evangelho João: “Quando Jesus viu a sua mãe e perto dela o discípulo (o povo) a quem amava tanto, disse à sua mãe: “eis ai o teu filho”; e em seguida disse a ele (o povo);  “e esse discípulo, esse povo, levou a mãe de Jesus para morar na sua casa daí em diante.” (Jo 19, 26-27).

Desde quando Jesus, do alto da cruz, pouco antes de morrer, pronunciou aquelas palavras, o povo humilde nunca mais se separou de Maria, o povo pobre levou Maria para sua casa, e o povo simples carrega Maria dentro do seu coração para onde quer que for.

Foi Jesus quem  mandou. Foi a última vontade de Jesus. Senhor Nosso Deus cumulou Maria de riquezas. Riquezas espirituais. Jesus deu à Maria todos os homens para serem seus filhos.

Maria tem a todos nós por filhos, e todos nós temos Maria por mãe; a mãe de Deus é também a nossa mãe, e, através de Maria somos filhos do mesmo Pai e irmãos de Jesus Cristo.

Mas, que quando Jesus nos deu Maria por mãe até os nossos dias, o tempo andou estragando a imagem que o povo simples e humilde tem de Maria. Ladrões vieram e roubaram a sua beleza, a sua pureza, as suas jóias espirituais.

Já não é tão fácil reconhecer  em Maria toda a beleza, toda humildade que Deus, o artista supremo, colocou em Maria, quando disse: “Eis ai a sua mãe”. (Jo, 19, 27). Se fosse possível restaurar e renovar a imagem  de Maria sem destrui-la, se deformá-la.

Restaurar a imagem de Maria de tal maneira que nela transparecesse melhor a imagem de Deus, a mensagem de Deus ao povo, e que aparecesse bem claramente aos olhos de todos o testemunho que Maria nos deu da sua fé em Deus e da sua dedicação à vida.

Renovar a imagem de Maria de tal maneira, para que essa imagem voltasse a ser um espelho limpo e não embaçado para que o povo pobre e simples pudesse contemplar a sua cara de gente, o seu rosto de criatura obra prima do Senhor, a sua cara de filha de Deus, pobre, humilde e simples, como o seu povo pobre, simples e humilde, e pudesse, através disso tudo descobrir a missão de Maria no mundo de hoje. Se fosse possível limpar esse espelho.      

Um dia esse sonho vai se tornar realidade.     

Mesmo que por ora não sejamos capazes de enxergar toda a beleza da qual o Senhor Nosso Deus cumulou Maria, a gente sabe e imagina que, dentro dessa beleza um segredo muito importante para a vida.

Por isso o povo pobre e humilde carrega consigo, por onde for, a devoção e o amor a Maria.

E esse dia, quando chegar, transformará a sexta-feira santa no domingo de Páscoa e a procissão do Senhor morto  numa procissão festiva de ressurreição e vida.

E, para que isso aconteça, Maria, vós que sois a Mãe de Deus, a Mãe da Igreja e a nossa Mãe, nós que somos o povo humilde e pobre que se coloca sob vossa proteção e que confia em vós, vos pedimos que nos mostrais o vosso verdadeiro rosto de “escrava do Senhor”, e deixe transparecer toda a beleza espiritual com que o Senhor vos cumulou. Atendei aos nossos apelos e apresentai-nos ao vosso filho, Jesus, para que ele nos receba como seus discípulos e para fazermos tudo aquilo que ele nos ordenar fazer para a maior glória de Deus.

terça-feira, 22 de março de 2022

 

MARIA NO PLANO DE SALVAÇÃO

 

“Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” ((Mt 23, 12). Esta é a palavra do Senhor, e a palavra de Deus jamais pode falhar. Havia Deus determinado fazer-se homem para remir o homem decaído, e assim manifestar ao mundo a sua bondade infinita. Devendo Deus, para isso, escolher uma mãe nesta terra, andava buscando entre todas as mulheres qual fosse a mais santa e humilde.        Entre todas as mulheres, Deus observou uma, a Virgenzinha de Nazaré: Maria, que, quanto mais era perfeita nas virtudes, tanto mais simples e humilde era no conceito de Deus.

Nas Sagradas Escrituras, no Livro dos Cânticos, Deus já havia dito: “Há um sem número de virgens a meu serviço - diz o Senhor -, mas uma só é a minha pomba, a minha eleita” (Cant 6, 7-8). Por isso, disse Deus: “Seja essa humilde virgenzinha de Nazaré  a escolhida para ser a minha mãe.” Maria, a mais humilde das criaturas de Deus e a que Deus mais exaltou.

Na encarnação do Verbo Maria não podia humilhar-se mais do que se humilhou, e Deus não podia  exaltá-la mais do que a exaltou. E Deus manda o seu Anjo a uma Virgem chamada Maria. “E o anjo entra e saúda Maria, dizendo: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo...” (Lc 1, 28).

Deus te saúda, Maria, ò Virgem cheia de graça, pois foste sempre rica da graça, acima de todos os santos. O Senhor é contigo porque és tão humilde. Bendita és tu entre as mulheres, porque todas as outras mulheres nasceram com a mancha do pecado e incorrem na maldição da culpa, mas tu, porque havias de ser a mãe do Bendito, és e serás sempre bendita e isenta de toda a mácula, de todo pecado.

A Santíssima Virgem Maria era bem instruída nas Sagradas Escrituras, e assim conhecia que já era chegado o tempo predito pelos profetas para a vinda do Messias...

Bem sabia Maria que uma virgem devia ser a mãe do Messias. Maria ouve o anjo dar-lhe aqueles louvores que pareciam servirem unicamente a uma Mãe de Deus.           Mas, na sua humildade, Maria jamais poderia imaginar que seria ela a escolhida para ser a Mãe de Deus.        Na sua grande humildade, aqueles elogios serviram apenas e tão somente para fazê-la entrar num grande temor; e o anjo tenta animar a Virgem assustada, dizendo: “Não tenhas medo, Maria, porque achaste graça diante de Deus!”.

Ò Maria, Aos teus olhos, é verdade, és tão pequena  e insignificante, mas Deus exalta os humildes, e Deus te fez digna de achar a graça perdida pelos homens., por isso te fez Imaculada, te preservou da mácula comum a todos os filhos de Adão; por isso, desde a tua conceição o Senhor te ornou de uma graça maior que a de todos os santos; por isso, finalmente, agora o Senhor te exalta a ser a sua Mãe e, pela boca do anjo, o Senhor te diz: “Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus.” (Lc 1, 31).

E dito isso pelo anjo, o Senhor fica esperando a resposta da Virgem. A história do mundo para por uns instantes, instantes que parecem eternidade; será que os homens vão receber a salvação por meio daquela virgenzinha, ou tudo vai continuar da maneira que era antes? Tudo vai depender da resposta da Virgem.

E é São Bernardo quem nos diz, em uma oração cheia de súplica ardente: “Senhora, o Anjo espera a tua resposta; e todos nós, que já estamos condenados à morte, com muito mais ansiedade a esperamos. Deus te oferece, Senhora, o preço da nossa salvação que será o Verbo Divino que se fará homem no teu ventre. Se a Senhora o aceitar por filho, seremos imediatamente livres da morte.

O mesmo Senhor nosso, pelo muito que está enamorado de tua beleza, muito deseja o teu consentimento, por cujo intermédio determinou salvar o mundo.   Responda, Senhora, depressa; não retardes mais ao mundo a salvação que agora só depende do teu consentimento.”

E eis que Maria responde ao Anjo, dizendo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc, 1, 38).         Esta foi a resposta mais bela, , mais humilde e mais prudente que nem toda a sabedoria dos homens e dos anjos juntamente teria podido inventar...

Ò resposta poderosa que alegraste o céu e trouxeste à terra um mar imenso de graças e de bens.            Resposta, que apenas saída do humilde coração de Maria, atraíste do seio do Pai Eterno o Filho Unigênito para fazê-lo homem no seio puríssimo de Maria.

Com efeito, mal foram pronunciadas as palavras: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”,  e já o Filho de Deus passou a ser também Filho de Maria.

            Com um “faça-se”, Deus criou a luz, o céu e a terra, mas, com esse “faça-se”  de Maria um Deus se tornou homem como nós.

(do livro “Glórias de Maria Santíssima” de Santo Afonso Maria de Ligouri - pg de 241 a 244). 

segunda-feira, 21 de março de 2022

 

MARIA ACREDITOU

 

O Evangelho de Mateus narra que, em determinado dia, Jesus estava pregando e sua mãe e irmãos procuravam falar com Ele.

Ao ser informado disso, Jesus respondeu: "Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?"; em seguida, apontou para todos os que ali estavam e disse: "Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe." (Mt 12,46-50).

Igualmente, no Evangelho de Marcos e de Lucas, o mesmo evento é narrado, mas, o que Jesus quis ensinar com essas palavras aparentemente duras? Não parece possível que Ele tenha realmente desprezado ou feito pouco caso de sua mãe. Basta recordar a passagem referente ao jovem rico, quando Ele diz que, para entrar no Reino do Céu, é preciso honrar pai e mãe: "Alguém aproximou-se de Jesus e disse: ‘Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?’ Ele respondeu: ‘Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos’. - ‘Quais’, perguntou ele. Jesus respondeu: Não cometerás homicídio, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra pai e mãe, ama teu próximo como a ti mesmo." (Mt 19,16-19).

Mais plausível seria pensar que Jesus desejasse mostrar, nessa passagem, que a salvação não estaria mais ligada ao sangue do povo judeu e ensinando, assim, que o novo povo de Deus deve ser baseado na fé e na obediência à vontade divina.

No Antigo Testamento, para uma pessoa ser inserida no ‘povo de Deus’, bastava o nascimento; não era preciso fazer nada, poder-se-ia dizer que a salvação era genética. Evidentemente que, por causa disso, os judeus desprezavam aqueles que não faziam parte da ‘raça eleita’, os goyn, os gentios. O que Jesus faz, portanto, é quebrar o paradigma dos laços sanguíneos. Alguns versículos antes do episódio com sua mãe,

Ele havia sinalizado esse novo modo de ser povo de Deus quando disse: "Então, alguns escribas e fariseus disseram a Jesus: ‘Mestre, queremos ver um sinal da tua parte.’ Ele respondeu-lhe: ‘Uma geração perversa e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. De fato, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no ventre da terra. No dia do Juízo, os habitantes de Nínive se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão, pois eles mostraram arrependimento com a pregação de Jonas. No dia do Juízo, a rainha do Sul se levantará juntamente com esta geração e a condenará; pois ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está quem é mais do que Salomão" (Mt 12,38-42).

Ora, a ‘geração perversa e adúltera’ a que Jesus referiu-se são os judeus, a raça eleita. Jonas não queria pregar em Nínive, como é sabido, porque lá eram todos gentios; no entanto, ele prega e os ninivitas se convertem.

Da mesma forma, a rainha de Sabá, uma mulher negra, etíope, não pertencia ao povo de Israel, mas ela ouve a mensagem de Salomão. Logo, o que Jesus está fazendo é escandalizar os judeus ao seu redor, dizendo que o que passa a valer é a conversão, é fazer a vontade de Deus, obedecendo os mandamentos e não mais apenas os laços de sanguíneos.

A "nova" família de Jesus é formada por aqueles que fazem a vontade de Deus que está no céu. O novo povo de Deus está baseado, portanto, na fé.

Nesse intermeio, Maria Santíssima passa a ser honrada não tanto por ter dado a carne ao Salvador, mas por tê-lo concebido na obediência: "Faça-se em mim segundo a Tua vontade" (Lc 1,38). É por isso que justamente esta passagem controversa dos Evangelhos é usada pela Igreja para as missas em honra à Maria, a Nossa Senhora.

No missal de Pio V, utilizado até o ano de 1969, nas missas votivas de Nossa Senhora, o Evangelho proclamado era sempre esse. Portanto, Jesus não desprezou sua mãe com essas palavras. A mãe de Jesus é aquela que faz a vontade do Pai. A graça maior de Maria Santíssima foi ter acreditado e feito a vontade de Deus em sua vida. 

domingo, 20 de março de 2022

 

AVE MARIA, CHEIA DE GRAÇA...

 

Uma das primeira orações, senão a primeira oração que a nossa mãe ou a nossa avó nos ensinou a rezar, com certeza, foi a oração da Ave Maria. Desde pequeninos repetimos essa saudação mariana sem sabermos qual realmente é o seu significado e de onde veio.

A primeira parte da oração da Ave Maria, quando rezamos “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre”,  tem a sua origem no Evangelho de Lucas, e, bem por isso, é uma oração evangélica, é uma oração bíblica.

Quando o Anjo Gabriel visitou Maria e levou para ela o convite do Senhor para ser a Mãe do Filho de Deus, ele entrou na casa de Maria e a saudou, dizendo: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.”, conforme vemos no Evangelho de Lucas, 1, 28.

Quando Maria visitou sua prima Isabel, porque Isabel estava grávida de João Batista e Maria grávida de Jesus Cristo, e que as duas mulheres se encontraram, Isabel ficou repleta do Espírito Santo e recebeu Maria, dizendo: “Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre.”, conforme vemos no Evangelho de Lucas, 1, 42.

Juntando as palavras do Anjo com as palavras de Isabel, temos, então: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre.”, formando, desta forma, a primeira parte da oração da Ave Maria.   Muito mais tarde os cristãos juntaram a essas palavras uma oração de súplica, e acrescentaram: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém”.

 Então, como vemos e repito, a primeira parte da oração da Ave Maria é totalmente evangélica, é na essência, bíblica, porque se encontram no Evangelho de Lucas, no capítulo primeiro e versículos 28 e 42. A segunda parte, a oração da Santa Maria, é um grito de socorro dado pelos primeiros cristãos, que suplicavam o auxílio de Maria no momento atual de suas vidas e principalmente na hora tão cruciante da morte, e é mantida até os nossos dias, que não rezamos a Ave Maria sem a sua segunda parte, a Santa Maria, que no final das contas se tornaram em apenas uma oração. Depois da oração do Pai Nosso, que nos foi ensinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, não há outra oração mais conhecida no mundo todo entre os cristãos que a oração da Ave Maria.    Desde o início da Igreja de Jesus Cristo, multidões e multidões de cristãos repetem a oração da Ave Maria com uma confiança inabalável e redobrada na intervenção de Maria para resolver todos os problemas, seja de saúde, financeiro, ou de confirmação na fé.

E não tem conta as vezes que rezamos a oração da Ave Maria. Cada terço rezado são cincoenta vezes que repetimos a oração da Ave Maria; cada rosário são cento e cincoenta vezes a mesma oração da Ave Maria que repetimos. Dificilmente encontramos no Brasil alguém que não tenha rezado uma Ave Maria, nem que seja pelo menos uma vez; dificilmente encontramos no Brasil alguém que não saiba rezar uma Ave Maria.          Quando queremos chamar alguém totalmente ignorante em assunto de religião costumamos dizer: “ele não sabe rezar nem uma Ave Maria”.; ou quando alguém quer dizer que não sabe nada mesmo de religião, a pessoa diz: “não sei nem a Ave Maria.” Para muita gente aprender a oração da Ave Maria é o começo da instrução religiosa.

O “Ave” que o Anjo Gabriel  dirigiu à Maria seria como o cumprimento de alguém que acaba de chegar dirigida à pessoa que está ali, presente. O “Ave”, ou “Salve” é como se nós disséssemos um bom dia, boa tarde ou boa noite a alguém, cumprimentando aquela pessoa.

O Anjo Gabriel, ao adentrar onde estava Maria a saudou, dizendo : “Ave Maria”, como se dissesse: “Boa tarde, Maria. O Anjo Gabriel cumprimentou Maria como se a conhecesse de longa data, como realmente a conhecia de longo tempo. Maria era pessoa  da amizade íntima de Deus; Maria era íntima de Deus e o Anjo a cumprimentou com essa amizade, com essa intimidade.

E nós, todas as vezes que recitamos a oração da Ave Maria, cumprimentamos Maria com uma saudação toda especial vinda do céu, da parte do Senhor Nosso Deus. Todas as vezes que rezamos: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,” nós dizemos: “eu te saúdo Maria, porque és a preferida do Senhor que te encheu de presentes e de santidade e por isso mereceste a, graça de ser a Mãe  do Nosso Salvador. Deus está por todo o sempre contigo...”

sábado, 19 de março de 2022

 

SÃO JOSÉ – ESPOSO DE MARIA

 

 “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se grávida pelo Espírito Santo.” (Mt 1,18). Maria era noiva de José.   Mas, quem era José? Mateus, em seu Evangelho, 1,16, nos diz que José era filho de Jacó, enquanto que Lucas em seus escritos, 3,23, diz que o pai de José se chamava Eli, mas ambos os Evangelistas são unânimes em afirmar que José era descendente do rei Davi (Lc 3,23-31; Mt 1,20). Segundo o Evangelista Mateus, José tinha como profissão ser carpinteiro, quando se referiu a Jesus Cristo:  “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55), e Marcos também se referencia a Jesus dessa maneira: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria...?”  (Mc 6,3).

Segundo a tradição, a noiva, na época, firmava compromisso com o noivo, dos doze aos quinze anos de idade, e o jovem varão, dos dezoito aos vinte anos de idade.

O casamento acontecia quando os jovens se comprometiam e ficavam noivos, isto é, casavam-se, mas não coabitavam, não iam morar juntos, como acontece nos nossos dias; o rapaz ia montar a sua casa e depois de ter tudo pronto, casa, móveis e tudo o mais que fosse necessário para uma vida a dois, é que o noivo ia na casa dos pais da noiva buscá-la para coabitarem.

Justifica-se, então, a afirmativa do Evangelista Mateus: “... Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se grávida do Espírito Santo.” (Mt 1,18). Está claro, principalmente pelas dúvidas que habitaram a cabeça de José quando notou Maria grávida, que eles não tiveram contatos íntimos.

Para entendermos melhor os problemas pelos quais passaram José e Maria por ocasião da visita do Anjo, se faz necessário que estudemos e meditemos muito sobre a Anunciação do Anjo em si e sobre a entrega total de Maria nas mãos de seu Deus e Senhor. Maria aceitou ser a mãe do Filho de Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,37).

Maria já estava comprometida em casamento com José, mas ainda não haviam coabitado, e pela afirmativa de Maria, ela e José “não usaram legitimamente de todos os direitos do matrimônio”. E o Anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1,35).

E para que nenhuma dúvida pairasse no ar, o Anjo continua: “Para Deus, com efeito, nada é impossível.” (Lc 1,37).

Maria, simplesmente, mesmo sem entender como isso poderia acontecer, confia plenamente na palavra do Senhor, entrega-se totalmente em suas mãos e responde ao Anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).

A partir daquele momento Maria “achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1,18) e começa a trazer dentro de si, no seu ventre, o Filho de Deus, nascido de mulher, sem a participação de homem algum: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1,14).

De repente, sem uma explicação razoável aos olhos do povo e ao coração do jovem noivo José, aquela jovenzinha meiga, pura e casta, aparece grávida. Poderíamos imaginar a repercussão desse fato numa cidade tão pequena: as comadres, as fofocas...

Uma moça jovem, solteira, de boa reputação, de família exemplar, bem quista, noiva de um excelente e querido jovem de todos na cidade, de repente... Aparece grávida... Ainda tem mais uma agravante. Logo depois da visita do Anjo, ao tomar conhecimento que sua parenta Isabel, mulher de idade avançada, estava no sexto mês de sua gravidez, “... Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá.” (Lc 1,39).

Ao saber das dificuldades que sua parenta Isabel, mulher já de idade avançada teria, principalmente no final de sua gravidez, Maria não pensou em si e muito menos no seu estado também de gravidez, e “se pôs a caminho para a região montanhosa” onde morava Isabel, e segundo as Escrituras, Maria ficou na casa de Isabel até o nascimento do filho de Isabel, isto é, pelo espaço de três meses, considerando que o Anjo lhe dissera que  “Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês...”  (Lc 1,36).

Após o nascimento do filho de Isabel, João Batista, Maria retornou para a sua pequena cidade. Maria havia saído de sua cidade sem nenhum enfoque de gravidez.

Ao retornar para a sua cidade, possivelmente quatro meses depois, considerando os três meses que ficara com Isabel e, possivelmente um mês que gastou na viagem, porque era longa, a gravidez de Maria já se fazia notar.

A transformação da gravidez, com certeza, era patente no seu corpo. José não sabia de nada e, com certeza, como todos os demais, surpreendeu-se com aquilo.

O povo da localidade sabia menos ainda. Maria deixou sua cidade e ficou ausente por aproximadamente quatro meses e, quando dali saiu, estava no seu estado aparentemente normal, e quando volta, acusa sinais de gravidez.

O que deve ter passado na cabeça de cada um de seus conhecidos e do povo em geral daquela curritela?  De quem seria o filho? De José?  Mas era público e notório que José não havia acompanhado Maria enquanto ela esteve por aquele tempo na casa de Isabel. Imaginem os mexericos das comadres, das fofoqueiras nos portões, nas esquinas, por sobre os muros e cercas; como devem ter falado de Maria... Maria permanecia do mais profundo dos silêncios. Se Deus a colocara naquela situação, Deus cuidaria dela. E José? O que teria passado pela cabeça de José?

Maria, a sua Maria, a jovenzinha de seus sonhos a quem ele depositara toda a sua confiança, todo o seu amor, todo o seu futuro, de repente, sem uma explicação razoável e sem que ela se explique, aparece grávida. Ele não tivera participação nisso. Não fora ele. Ele era inocente. Se tivesse sido ele, com certeza, pelo seu caráter e retidão e temor a Deus, assumiria o seu gesto e, sem sobra de dúvida, levaria Maria de imediato para a sua casa, pois eles já estavam comprometidos em matrimônio. Mas não fora ele!

Maria permanecia no mais profundo dos silêncios... José era um jovem justo e temente a Deus, e, bem por isso, gostava das coisas certas. Maria não disse nada a José.  José não perguntou nada a Maria. E a lei do povo judeu era severa, extremamente severa e determinava: “Se uma jovem virgem, prometida a um homem, e um homem a encontra na cidade e se deita com ela, trareis ambos à porta da cidade e os apedrejareis até que morram; a jovem por não ter gritado por socorro na cidade, e o homem por ter abusado da mulher do próximo...” (Dt 22,23-24). Se José denunciasse Maria por, supostamente, havê-lo traído, fatalmente a lei seria cumprida... José amava por demais Maria para chegar a esse extremo. 

Mas também não podia aceitar aquela situação. E Maria não se explicava, não dizia nada. Maria permanecia no seu silêncio. Maria, simplesmente, poderia sair gritando aos quatro ventos, dizendo que aquilo que estava acontecendo com ela era obra do Espírito Santo. Poderia dizer, sem mentir, que “... o Espírito Santo veio sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriu com sua sombra.” (Lc 1,35), e bem por isso, engravidara, e o filho que trazia dentro de si era o Messias esperado, era o Filho de Deus que se fazia homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus. 

Mas, se afirmasse isso, pelo menos três coisas poderiam acontecer: primeira:- o povo poderia dizer que ela estava louca por afirmar coisas tão absurdas para tentar justificar a sua gravidez; segunda:- o povo não acreditaria e ela própria passaria por ré confessa, e a lei de Moisés deveria ser cumprida, e Maria deveria ser apedrejada na porta da cidade para que o pecado fosse tirado do meio do povo, e, terceira:- o povo que já estava ansioso pela vinda do Messias poderia até acreditar em Maria, aceitar que, realmente, ela estaria dizendo a verdade e tratá-la como uma rainha. Maria não fez nada disso.   Maria manteve-se no seu silêncio. 

Foi o silêncio da virgem. Quantas vezes, no seu silêncio, Maria teria rezado: “Só em Deus, ó minha alma repouse, porque dele vem a minha esperança. Só ele é minha rocha e salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalada.” (Sl 62,6-7).

Maria não tentou explicar nada a ninguém. Nem mesmo ao seu noivo José. O que estava acontecendo nela e com ela era obra do Senhor, e, se o Senhor a colocara naquela situação, o Senhor resolveria todos os problemas que estavam surgindo e surgiram após.

Maria sofria com as fofocas do povo. Maria sofria com a incompreensão de José, com o sofrimento de José, mas se mantinha no mais profundo silêncio, sempre confiando no Senhor. O que estava acontecendo com Maria era a vontade do Senhor, e Maria repetia a cada instante: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).

Maria era a escrava do Senhor, não competia a ela se defender. O Senhor seria “a sua rocha, a sua salvação, a sua fortaleza” (Sl 62,3) o seu rochedo, o seu advogado e agiria na hora em que ele achasse que fosse mais certa. E José estava amargurado. Não entendia o que estava acontecendo e nem poderia entender.

Mas, porque Maria não rompia seu silêncio e explicava tudo para ele? Então, no auge das incertezas e sofrimentos, José tomou uma decisão: “José, seu esposo, sendo justo, e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo.” (Mt 1,19).

José tomou a decisão que julgou a mais acertada: abandonar Maria, ir embora, sumir da cidade, ir para um lugar distante mesmo levando em suas costas que o povo o julgasse dizendo-o culpado por ter “aprontado” com Maria e fugido para não assumir a sua responsabilidade, abandonando a sua noiva grávida. Foi o que lhe pareceu mais justo e certo.

Assim ele não denunciaria Maria e não a entregaria ao terrível cumprimento da lei.

Assim ele não difamaria sua noiva. Faria isso para não dizer a todos que Maria o havia traído, traído sua confiança, o seu amor e por isso mesmo ele não poderia mais assumir a responsabilidade de coabitar com ela, assumí-la em sua casa.

Mesmo sabendo da intenção de José, Maria, ainda assim, se manteve calada, no silêncio que só o Senhor ouve, só o Senhor entende. Maria não deixou de confiar no seu Senhor um minuto sequer, porque “só em Deus a sua alma repousava, e dele viria a sua salvação.” (Sl 62,2).

E o Senhor nosso Deus não abandonou Maria.  E o Senhor nosso Deus também não abandonou José que, na sua dor, deve ter rezado: “Yahweh, ouve a minha prece, que o meu grito chegue a ti! Na escondas tua face de mim, no dia da minha angústia. Inclina teu ouvido para mim, e no dia em que eu te invoco, responde-me depressa”. (Sl 102,2-3). E o Senhor respondeu e, certa noite, “Enquanto (José) decidia, eis que um Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o povo de seus pecados’. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo Profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, que significa, ‘Deus conosco’.” (Mt 1,20-23).

A partir dai José se tranquilizou; não foi discutir com Maria dizendo que ela deveria ter acreditado e ter tido confiança nele e ter-lhe dito tudo sobre o que estava acontecendo. Não fez nada disso, respeitando o silêncio da virgem e “... agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher.” (Mt 1,24), e tomou sob sua guarda a mãe e o Filho que, pela revelação do Anjo em seu sonho passou, a saber, que aquela criança que nasceria de Maria não era outra senão o Messias, o Salvador dos homens.

Maria, por sua vez, também não foi tirar satisfações com José por não ter acreditado nela apesar de tudo, e por José ter-se trancado dentro de si próprio.

Maria não tirou satisfações com José por ele ter pensado em abandoná-la desconhecendo que tudo aquilo que estava acontecendo com ela era obra do Espírito Santo; não brigou com José por ele ter duvidado de sua integridade moral. Maria deixou tudo nas mãos de Deus, nas mãos do seu Senhor. Se fora o Senhor que a colocara naquela situação, com certeza, o Senhor esclareceria tudo, como esclareceu, não ao povo, mas, somente a José, e era isso que realmente interessava. Maria permanecia sempre no seu silêncio, procurando cumprir aquilo mesmo que ela dissera ao Anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1, 38).

E isso não era o fim; era apenas o começo, o começo de muitas dores, muitas lágrimas, muito sofrimento, muitas incompreensões, muitas perseguições, muito falatório. A partir da aceitação de Maria sua vida se transformou num constante caminhar rumo ao Calvário. O Calvário de Maria começou quando ela disse o seu “SIM” ao Anjo do Senhor...

E, interessante, os Santos Evangelhos não citam nenhuma fala de José, nenhuma palavra que José tenha pronunciado é citada no Livro Sagrado. Isso não se fez necessário para atestar a integridade de José. Para se mostrar temente a Deus vale muito mais atitudes que palavras.

A figura de José aparece somente na infância de Jesus e desaparece durante a vida oculta. Nesse período José falecera.

Quando Jesus começa a sua vida pública só Maria o acompanha. José já havia cumprido a sua parte nos planos de Salvação do Senhor Nosso Deus e partido para a casa do Pai...

A sua morte deve ter sido a mais santa possível. Imaginemos na cabeceira de seu leito, José moribundo, tendo, de um lado, Jesus e do outro, Maria. Poderá existir morte mais santa que essa? Por que Deus Pai incluiu José no seu Plano de Salvação?  

Porque ele queria para o seu Filho uma família constituída. Já que o Senhor dispensou o concurso do homem para gerar o seu Filho, poderia ele mesmo, o Senhor, cuidar de Maria e de Jesus. Mas o Senhor quis, com isso, valorizar e divinizar a constituição familiar onde a união de pai, mãe e filhos, união abençoada por Deus, perfeita e cristã, é o caminho mais curto para se chegar à casa do Pai. José não foi uma figura descartável nos planos de Deus e muito menos um anônimo; foi ele quem cuidou de Maria e Jesus até que Jesus amadurecesse como homem e tivesse condições de cuidar de si e de sua mãe e depois, iniciar a sua missão. José foi o chefe da família de Nazaré, o pai da Sagrada Família. José é o exemplo mais perfeito para ser seguido por todos os pais cristãos. José é o exemplo mais perfeito para ser seguido por todos os chefes de família.