sábado, 31 de outubro de 2020

 

REZEMOS PELOS FALECIDOS.

 

A doutrina de nossa Santa Igreja Católica Apostólica Romana ensina-nos que mesmo depois da morte existe um lugar de purificação, um lugar onde os nossos entes queridos que partiram da vida deste vale de lágrimas sem aquela pureza necessária para participar do banquete do Rei dos reis, ainda ficam para purificarem-se e ter condições de se apresentar diante de Deus sem pecados e sem manchas e com a roupa nupcial, própria para o banquete, como deixou claro Jesus na parábola do casamento do filho do rei: “Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como você entrou aqui sem a veste nupcial?’” (Mt 20,11-12).

A doutrina de nossa Santa Igreja ensina-nos sobre esse lugar de purificação para que as almas dos falecidos se lavem e se purifiquem para tornarem-se dignas de entrarem no reino que o Senhor Nosso Deus para todos preparou, e nós, costumeiramente, chamamos a esse lugar de purificação de “Purgatório”.

Os fiéis vivos, nós, portanto, podemos e devemos, por nossas orações, por nossas obras de caridade e por nossos sacrifícios, aliviar as penas das almas dos nossos irmãos que já partiram desta vida e que se encontram nesse lugar a que chamamos de purgatório.           

No Antigo Testamento encontramos já uma referência sobre esse lugar de purificação que hoje chamamos de purgatório.

No Segundo Livro dos Macabeus, capítulo 12, versículo 46, encontramos: “É um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos para que eles sejam livres dos seus pecados”.

Nos Santos Evangelhos Jesus Cristo fala dos pecados que não serão perdoados nem aqui neste mundo e nem no outro mundo quando disse: “Todo pecado e blasfêmia será perdoado aos homens, porém, a blasfêmia contra o Espírito Santo nãos lhes será perdoada. Quem falar contra o Filho do Homem será perdoado; mas quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado nem neste século nem no futuro.” (Mt 12,31).

Daí, principalmente, nos vem a certeza de que para certos pecados há a possibilidade de perdão ainda na outra vida. E a esse lugar de purificação a Igreja dá-se o nome de “Purgatório”.

O nome em si não quer dizer muita coisa porque, o que importa realmente é que a Igreja ensina que esse lugar realmente existe.

Essa é uma razão mais do que lógica  que devemos rezar sem cessar pelos nossos falecidos. Os nossos entes queridos falecidos necessitam das nossas orações, do nosso sacrifício para se purificarem de todos os seus pecados e terem condições de entrarem limpos e de roupa nova na casa que o Pai preparou para todos.

É muito natural e justo que choremos, que derramemos lágrimas sentidas, que demos expansão à nossa dor quando um dos nossos entes queridos nos é arrebatado pela morte, mas, o verdadeiro amor exige de nós mais alguma coisa.

Devemos unir as nossas sentidas lágrimas ao sacrifício de Jesus Cristo no Calvário.

A nossa dor pela perda dos nossos pais, esposa, esposo, filhos, filhas, parentes, amigos não se deve limitar pelas manifestações exteriores.

Por mais ricas que sejam as coroas de flores depositadas nos túmulos dos nossos entes queridos que partiram para a casa do Pai, por maiores que sejam as velas acendidas, por mais belos e ricos que sejam os túmulos de mármore que é feito sobre os seus restos mortais, nada disso livra o corpo da decomposição.

E é por isso que precisamos rezar sem cessar pelos nossos falecidos; e é por isso que precisamos ouvir e viver a Palavra e receber com muita frequência os Santos Sacramentos, de uma maneira especial a Santa Eucaristia; e é por isso que precisamos participar com frequência do Santo Sacrifício da Missa; e é por isso que precisamos fazer obras de caridade, de penitência em favor do nosso ente querido falecido.

Um Pai Nosso ou uma Ave Maria rezada com amor e devoção vale mais do que a mais linda coroa de flores depositada num túmulo de um ente querido ou de uma vela acesa em sua intenção.

Uma Santa  Missa celebrada e participada com amor e devoção oferecida pelo descanso eterno de um ente querido que está na casa do Pai é muito mais útil do que o mais belo e rico túmulo de mármore, a mais linda coroa de flores ou a mais artística vela acesa.

Agora, neste momento, talvez seja o seu pai, aquele pai amoroso que deu a sua vida para lhe educar e lhe ver bem na vida; talvez seja a sua mãe, aquela mãe amorosa que não dormia enquanto você não chegava em casa e que não media esforços para que você estivesse sempre com a roupa limpa, com a comida na mesa; talvez seja o seu marido que dedicou a você o amor mais puro que ele tinha em seu coração, sempre tão dedicado e fiel cumpridor dos seus deveres; talvez seja a sua  esposa, a fiel companheira, o anjo do lar, que deu a você esses filhos maravilhosos que você tem; talvez seja o seu filho, a sua filha que eram o encanto do seu lar, o seu irmão, a sua irmã, o seu amigo, a sua amiga, talvez, neste momento estão necessitando de suas orações, do seu sacrifício, da sua caridade, do seu despreendimento às coisas materiais.

Rezemos sem cessar pelos nossos entes queridos que se foram e repitamos sempre como sempre a nossa Igreja faz: “Que as almas do fieis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.”

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 

PADRE DONIZETTI DE TAMBAÚ

 

Aconteceu, no dia 23 de novembro de 2019, a beatificação do Padre Donizetti Tavares de Lima, de Tambaú..

O milagre reconhecido pela Santa Sé foi alcançado pelo menino Bruno Henrique Arruda de Oliveira, que nasceu em 2006 com uma deformidade conhecida como “pé torto congênito bilateral”, uma anormalidade de difícil tratamento.   Após a oração de sua mãe pedindo a intercessão de padre Donizetti, a criança ficou curada.

 

BREVE BIOGRAFIA

 

Padre Donizetti Tavares de Lima nasceu na cidade de Cássia (MG), filho do advogado Tristão Tavares de Lima e da professora Francisca Cândida Tavares de Lima. Aos quatro anos, mudou-se para a cidade de Franca (SP).

Ingressou no seminário diocesano aos dize anos e, três anos mais tarde, cursou o colégio em Sorocaba (SP), mas depois voltou para o Seminário. Estudou Direito e depois Filosofia e Teologia para se preparar para o sacerdócio.

Recebeu a ordem sacerdotal em 12 de julho de 1908 e foi incardinado na Diocese de Pouso Alegre (MG), onde realizou seu trabalho pastoral na paróquia de São Caetano.

Mais tarde foi para a Diocese de Campinas (SP) e foi vigário da Paróquia Santa Mãe de Deus, em Jaguariúna (SP). Em 1909, foi nomeado pároco de Sant´Ana, em Vargem Grande do Sul, pertencente à Diocese de Ribeirão Preto (SP). Como pároco, destacou-se pelo intenso trabalho pastoral, ensinando o evangelho junto com uma forte dimensão social.

Assim, destacou-se pela defesa dos pobres e dos trabalhadores vítimas da exploração do trabalho. Por essa razão, recebeu uma injusta e falsa acusação de ser simpatizante do comunismo. Pelo contrário, sua missão estava profundamente enraizada no Evangelho e dizia que se inspirava em Nossa Senhora Aparecida para realizar seu trabalho pastoral.

Deste modo, construiu a igreja paroquial e duas capelas dedicadas a Nossa Senhora Aparecida e a São Benedito. Em 1926, foi nomeado pároco de Santo Antônio em Tambaú (SP).

Além disso, outra característica de seu trabalho evangelizador foi o compromisso de ensinar a religião verdadeira, afastada da idolatria e do sincretismo religioso que afetavam a sua comunidade que vivia uma religiosidade popular afastada do Evangelho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 

CONVERSANDO COM MARIA, A MÃE DE JESUS.

 

Virgem escolhida por Deus  para ser a mãe de Deus e nossa mãe. A Senhora  que “ouviu a palavra e a pos em prática”, ensina-nos a ouvir a palavra de Deus e a colocá-la em prática, para que o Senhor Nosso Deus, pelas nossas ações, atitudes e gestos, seja adorado e glorificado.

Virgem Mãe, Maria, a Senhora que soube dizer “sim” ao apelo de Deus para que a Senhora também fosse instrumento no plano de salvação do Senhor para todos os homens, ensina-nos a sempre dizer ``sim`` a todo e qualquer chamamento de Deus para transformar o mundo em que vivemos num mundo mais humano, mais justo e mais livre.

Hoje, todos nós que a amamos como verdadeira mãe de Deus e nossa, nos colocamos aos seus pés, e humildemente pedimos pelas nossas necessidades, pelas necessidades de nossas comunidades cristãs, pelos nossos pastores, pelos nossos governantes.

Todos nós que amamos a Senhora como nossa verdadeira mãe na ordem espiritual, mãe que nos foi dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo nos estertores de sua morte no alto do Calvário, nos colocamos aos seus pés e suplicamos pelos nossos doentes, por aqueles irmãos que,  de longa data, se encontram recolhidos em uma cama, em um leito, no hospital, em casa, num asilo.

A Senhora Mãe, que velou pelo seu esposo, José, doente, moribundo, a Senhora que lhe dedicou todo carinho e amor durante a enfermidade do pai adotivo do seu filho e filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, da mesma forma, permaneça na cabeceira de cada filho seu doente, dando-lhes o conforto da sua presença e o alívio de sua palavra.

A Senhora, mãe, que estive do lado do leito de seu esposo José até o seu último suspiro neste vale de lágrimas, até o seu último momento de vida, encomendando a sua alma ao Senhor Todo Poderoso, pedimos que conforte os nossos doentes, os nossos moribundos nos últimos momentos de suas vidas, encomendando-os ao Senhor da Vida com todo o carinho e cuidado para que nenhum se perca. Olhe  pelos nossos doentes, Senhora.

Vele pelos nossos moribundos, Mãe Imaculada, assim como a Senhora olhou por José doente e José moribundo. E depois de passada esta vida, apresente cada filho seu a Jesus Cristo, depois deste desterro, apresente cada filho vosso ao Bendito Fruto do Seu Ventre, o nosso amado e adorado Senhor Jesus Cristo.

Olhe, Senhora e nossa Mãe, por todos os chefes de família, pelos pais que lutam de sol a sol para a sobrevivência  e bem estar de sua família e para que seus filhos tenham vida mais digna e mais honesta.

Olhe, Senhora, por todos os pais, esses heróis anônimos que não medem esforços e sacrifícios para que nada falte na mesa de seus filhos, de sua família, que levantam de madrugada, têm de trabalhar a longas distâncias de suas residências, pegam ônibus e conduções desconfortáveis, alimentam-se mal, suportam exigências e muitas vezes injustiças de seus patrões e companheiros de trabalho, chegam em casa todas as tardes, quase noite cansados e muitas vezes abatidos pela luta do dia, mas que não desanimam, e, no dia seguinte, começam tudo de novo e voltam à luta novamente para que seus filhos, no futuro, possam sofrer menos do que eles sofrem agora para sustentá-los e educá-los.

Olhe, Senhora, por todas as mães. Por essas mulheres que na maternidade são iguais a Senhora, e que num gesto de amor e generosidade dão à  vida a todos os filhos de Deus que nascem, frutos do amor e da entrega total.

A Senhora, que é a Mãe das mães, acompanhe a todas as mães em todos os momentos de suas vidas  e dê a cada mãe desta terra a mesma valentia, a mesma coragem, o mesmo amor, o mesmo desprendimento e a mesma força que a Senhora teve para vencer todos os obstáculos para nos dar Jesus, que é o bendito fruto do vosso ventre Imaculado e Sacrossanto.

Hoje, Senhora, todos nós que a temos por mãe, e que a amamos como verdadeiros filhos seus, nos colocamos aos seus pés, confiantes de que a Senhora está atenta aos nossos pedidos, e acreditamos fielmente que “jamais, em tempo algum, tenha se ouvido dizer que qualquer um que tenha recorrido à sua proteção, e solicitado o seu socorro, tenha sido pela Senhora desamparado.E por isso, à sua proteção recorremos, Santa Mãe de Deus, não desampare as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livra-nos de todos os perígos, ò Virgem Gloriosa e Bendita.”  

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 

SÃO JUDAS TADEU E SÃO SIMÃO, APÓSTOLOS

 

São Judas Tadeu é um dos doze apóstolos de Jesus. Era filho de Cléofas (irmão de São José) e de Maria de Cléofas (irmã de Maria).

Assim, ele era primo de Jesus. Diziam que se parecia muito com o Mestre. São Judas era também irmão de Tiago, chamado “O Menor”, e de Simão. Ambos discípulos de Jesus.

O nome Judas significa “Deus seja louvado”.

Alguns estudiosos chegam a cogitar na possibilidade de Simão, ser o noivo do casamento em Caná da Galiléia, onde Jesus operou seu primeiro milagre, transformando água em vinho. Judas teria presenciado o milagre e esta pode ter sido a causa de ele ter se tornado discípulo de Jesus.

Lucas também chama Judas de "Zelote" - Lc 6,15.

Alguns estudiosos afirmam que "zelote" significa zeloso. Outros afirmam que ele poderia ser membro do movimento revolucionário dos zelotes, que lutavam contra a dominação romana em Israel. São Judas é o autor da menor carta do Novo Testamento: "A Carta de Judas".

A epístola de Judas foi escrita com muito amor e dedicação. Judas se preocupava com a pureza da crença na pessoa de Jesus Cristo e com a boa imagem dos cristãos perante a população. Talvez ele até quisesse escrever algo diferente, mas ao ouvir os falsos relatos de alguns cristãos, decidiu escrever esta carta chamando a atenção e alertando toda a Igreja nascente para terem cuidado com os falsos profetas.

A história, baseada nos escritos apócrifos da "Paixão de Simão e Judas", relata que depois de anunciar o Reino de Deus no Egito, Simão encontrou-se com Judas e eles foram evangelizar a Pérsia. Escritos do século VI descrevem o martírio de ambos. Simão e Judas foram martirizados na Pérsia, na cidade de Sufian.

Eles foram mortos por pregarem destemidamente a fé em Jesus Cristo.

Por causa da pregação deles, grande foi o número de persas que se converteram ao cristianismo. Isso incomodou os poderosos da Pérsia. Por isso, foram condenados à morte.

Vários estudiosos das escrituras acreditam que Judas foi decapitado por carrascos que usavam como ferramenta o machado afiado.

Esta era a pena capital mais usada pelos persas na época. Muitos se converteram ao verem o testemunho destemido de São Judas diante da morte.

O corpo de São Judas está sepultado na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

O Papa Paulo III escreveu uma bula concedendo indulgência plenária para todos aqueles que rezarem em seu túmulo no dia 28 de outubro, dia da sua festa.

Na arte cristã, São Judas Tadeu é representado como um homem segurando um machado, como referência à maneira pela qual ele foi martirizado.

Acredita-se que as relíquias de São Judas Tadeu possam estar nas cidades de Rheims e Touluse, na França. Há séculos, São Judas é venerado pelos cristãos como um dos santos mais populares da Igreja. Ele é invocado como o “Santo das Causas Perdidas”.

Muitas vezes São Judas Tadeu é confundido com Judas Iscariotes, aquele que traiu Jesus por 30 moedas. Por isso, o nome Judas caiu na desonra e passou a ter um significado de traidor, criminoso, assassino, desprezível ou diabólico.

Santa Brígida diz que Jesus quis reparar esse mal. Ao aparecer a Brígida da Suécia, que vivia um momento difícil em sua vida, Jesus disse para ela pedir a intercessão de São Judas Tadeu, pois Ele, Jesus, queria conceder graças às pessoas do mundo todo.

Por isso, ainda hoje, a devoção a São Judas Tadeu é forte em todo o mundo. São tantas as graças alcançadas pela intercessão do Santo que ele é conhecido como o advogado das causas perdidas ou difíceis de serem resolvidas.

 

Oração a São Judas Tadeu

São Judas Tadeu, glorioso apóstolo, fiel servo e amigo de Jesus, o nome do traidor é causa de serdes esquecido por muitos, mas a Santa Igreja honra-vos e invoca-vos universalmente como padroeiro de casos desesperados, sem remédio. Intercedei por mim que sou tão miserável pondo em prática, eu vo-lo rogo, o privilégio particular que vos é concedido a fim de trazer ajuda pronta e visível onde isso é quase impossível. Vinde valer-me nessa grande necessidade para que eu possa receber as consolações e socorros do Céu em todas as minhas aflições, necessidades e sofrimentos, particularmente (aqui dizer a graça que deseja obter...) e que possa bendizer a Deus convosco e todos os eleitos por toda a eternidade. Eu vos prometo, bem aventurado São Judas Tadeu, ter sempre presente esta grande graça e não cessar de honra-vos, como meu especial e poderoso Padroeiro e farei quanto possa para espalhar a devoção para convosco. Amém. São Judas Tadeu, rogai por nós e por todos os que vos honram e vos invocam.

São comemorados também neste dia: São Simão, Apóstolo, Santo Abraão de Éfeso (bispo), Santo Alberico de Stavelot (abade), Santo Alfredo, o Grande (rei de Wessex, Inglaterra), Santos Anastácia e Cirilo (mártires). São comemorados também neste dia: São Simão, Apóstolo, Santo Abraão de Éfeso (bispo), Santo Alberico de Stavelot (abade), Santo Alfredo, o Grande (rei de Wessex, Inglaterra), Santos Anastácia e Cirilo (mártires).

terça-feira, 27 de outubro de 2020

 

NOSSA SENHORA APARECIDA - A HUMILDADE DE MARIA

 

A história do Brasil parece um imenso andor de Nossa Senhora, andor esse carregado pelo povo simples, humilde e pobre através dos tempos.

Só que o povo não aparece, o povo pobre não faz propaganda de si próprio e nem carrega placas com o seu nome no peito ou estende faixas nas ruas contando as suas vantagens, como fazem os  demagogos e corruptos políticos.        

O povo pobre, simples e humilde faz questão é de ficar escondido atrás do nome de Maria.        O que deve aparecer realmente para o povo pobre e humilde é o nome e a imagem de Nossa Senhora, a nossa Maria,  que é aclamada e invocada por milhares e milhões de vozes que cantam e rezam sem parar a Ave Maria... Carregando o andor de Nossa Senhora, a nossa Maria, o povo carrega pelas ruas a sua esperança de um dia poder chegar lá onde Maria já chegou, isto é, gozar da liberdade total dos filhos de Deus.

A história de Maria é a imagem  da história do povo  humilde; a história do povo pobre e simples se confunde com a história de Maria. A história de Maria é uma história que ainda não terminou; a história de Maria continua até hoje  mas pequenas e grandes histórias do povo.

Maria, moça pobre, simples e humilde de uma cidadezinha do interior da Palestina é saudada até hoje por milhares e milhões de pessoas; o povo todo a invoca e a venera.

Maria mesmo preveniu isso quando disse à sua prima Isabel: “De hoje em diante  todas as nações vão me chamar de bem-aventurada.”  (Lc 1,48).      Todas as nações, todos os povos de todos os tempos e lugares, desde todo o sempre, chamam Maria de bem-aventurada e a veneram como a eleita de Deus, e ainda hoje, como sempre, o povo simples, o povo humilde, o povo pobre continua chamando Maria de bem-aventurada. Maria é do povo, do povo pobre, do povo simples, do povo humilde, mas, além de ser do povo, Maria é também de Deus, totalmente de Deus, e Deus estava, está e sempre estará em Maria, como Maria jamais deixou de estar em Deus.

Ser do povo é ser de Deus, e Maria é do povo, e o povo pobre e humilde é de Maria.

Estes dois pontos marcam a vida de Maria. e é por isso que o povo a venera com entusiasmo, invocando por todo o sempre o seu nome. Para poder ser do povo tem que ser de Deus; para poder ser de Deus, tem que ser do povo. É assim que Deus e o povo desejam: ser de Deus e do povo. São esses os dois grandes retratos  que as Sagradas Escrituras tiraram de Maria e que a Igreja conserva até hoje em seu álbum. Maria soube unir em sua vida o seu amor a Deus e ao povo.

O nosso povo pobre, simples e humilde ama Maria, e Maria se faz presente no sofrido povo brasileiro com o título de Nossa Senhora Aparecida; Nossa Senhora Aparecida  é a nossa Maria, a Maria brasileira, a Maria humilde, pobre e simples do povo pobre, simples e humilde.

A imagem de Nossa Senhora Aparecida é pequena, pequenina mesmo, coberta de um manto azul, manto bonito e ricamente enfeitado.

Presente do povo; isso mesmo, presente do povo, porque o povo gosta de enfeitar e enriquecer  a quem ele ama de verdade, muito embora ele continue pobre, simples e humilde. Mas, o manto azul , bonito e ricamente enfeitado, acabou escondendo grande parte da imagem brasileira de Maria, imagem que, originariamente é pobre, simples, humilde e... preta. Só olhando de perto é que a gente percebe que, no Brasil, Maria é preta.

O manto é bonito, isso é bom; o manto não pode ser jogado fora, mas a gente não pode se esquecer que a imagem de Nossa Senhora Aparecida é preta, pretinha, igual a tantas Marias e Cidas que a gente encontra pelas ruas. Aquilo que aconteceu com a sua imagem, aconteceu com a própria Maria: glorificada pelo povo e pela Igreja como Mãe de Deus, Maria recebeu um manto de glória; presente de fé do povo. Mas o manto de glória acabou escondendo grande parte da semelhança que Maria tem conosco. O manto ricamente enfeitado fez de Maria uma pessoa diferente e a gente quase esquece que Maria foi e ainda é uma moça pobre e simples do povo.

Só olhando de perto é que a gente percebe que na Bíblia Maria  é pobre, simples e humilde, muito semelhante à maioria do nosso povo.

A Bíblia fala muito pouco de Maria mas o pouco que fala é muito importante. É o suficiente para a gente poder conhecer a grandeza de sua simplicidade e a riqueza de sua pobreza.                     

(adaptado do livro “Maria, a Mãe de Jesus”, de Carlos Maesters.)

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

 COM MARIA, QUANDO ÉRAMOS CRIANÇAS

 

Quando éramos pequenos, quando éramos crianças, quantos de nós aprendemos as primeiras orações no colo de nossas mães ou avós. Íamos ao catecismo, e a catequista, com muito amor, carinho e paciência, repetia conosco as orações do Pai Nosso, da Ave Maria e pegava em nossas mãos de crianças para nos ajudar a aprender e a fazer o Sinal da Cruz. Quando éramos crianças rezávamos e tínhamos a certeza de que o Papai do Céu nos ouvia e nos atendia.

Depois fomos crescendo, crescendo e passamos a achar que éramos auto-suficientes, que não precisaríamos mais de rezar, que poderíamos muito bem viver sem orações e sem Deus, que, afinal de contas, rezar era para crianças e mulheres que tinham que cuidar dos maridos e dos filhos.

Fomos nos tornando pessoas adultas e maduras e começamos  a achar que poderíamos resolver os nossos próprios problemas e passamos a ficar descrentes no poder da oração.

Se fizermos uma retrospectiva na nossa vida, vamos notar que, a partir do momento em que deixamos de rezar, passamos a dar cabeçadas por esse mundo a fora.

Deixando de rezar, começamos a nos afastar de Deus e da sua Igreja e, fazendo isso e olhando para traz, notamos quantas coisas que fizemos e não deveríamos ter feito e que não faríamos se ainda tivéssemos mantido o contato com Deus, ou ainda, quantas coisas que fizemos e que poderíamos tê-las feito melhor.

Muitos de nós tivemos apenas uma iniciação na vida religiosa, na vida cristã, apenas uma iniciação na vida de oração, de conversa amigável e amorosa com Deus, nosso Pai.

Quando éramos crianças o nosso respeito, o nosso amor para com Deus, com sua Igreja, com os irmãos e com os mais velhos estavam sempre presentes em nossas vidas, em nossos atos e pensamentos. Crescemos, começamos a achar que rezar e ir à Igreja era perda de tempo, coisas de crianças e mulheres. Desaprendemos de rezar.

Quando éramos crianças aprendemos a rezar orações decoradas e também orações espontâneas, numa conversa amigável com Deus com as nossas próprias palavras e sentimentos como se estivéssemos conversando com o nosso próprio pai ou mãe, e fazíamos isso com confiança total na bondade e misericórdia de Deus. Quando a criança deixa de ser criança e passa a se julgar adulto, proclama a sua independência de tudo e de todos, inclusive de Deus e se esquece de quem Jesus amava de verdade era das crianças, perde o contato com a família do Pai Nosso.

Ser criança, no Evangelho, não é pertencer a uma determinada faixa etária; ser criança, para Jesus, é um estado de espírito e se não voltarmos a ser crianças e a nos tornarmos crianças, não alcançaremos o Reino do Céu: “Eu lhes garanto: se vocês não se converterem e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu”. (Mt 18,3).

Eram as crianças que Jesus queria perto de si para abraçá-las e abençoar: “Deixem as crianças e não lhes proíbam de vir a mim, porque o Reino do Céu pertence a elas”. (Mt 19,14). O Reino do Céu foi feito para as crianças, não importa a idade que elas tenham: de um a cem anos.

Nós envelhecemos quando queremos, quando deixamos de ser crianças, quando nos julgamos auto-suficientes e não necessitamos de mais ninguém, nem de Deus. Se quisermos, seremos sempre crianças e o Reino do Céu não fugirá de nós, será sempre nosso, das crianças.

Enquanto confiarmos em Deus e colocarmos em suas mãos a nossa vida, os nossos anseios, as nossas realizações, o nosso presente, o nosso futuro, acreditando que Deus só quer o nosso bem, ai somos ou voltamos a ser crianças.

Caso contrário, se passarmos a querer resolver os nossos problemas sozinhos e nos negarmos ao amor do Pai, deixamos de ser crianças e nos afastamos da possibilidade de termos o Reino do Céu.

domingo, 25 de outubro de 2020





FREI GALVÃO - SANTO ANTONIO DE SANT'ANNA GALVÃO - 1739-1822

 

O brasileiro Antônio de Sant'Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo.

Seu pai era Antônio Galvão de França, capitão-mor da província e terciário franciscano. Sua mãe era Isabel Leite de Barros, filha de fazendeiros de Pindamonhangaba.

O casal teve onze filhos. Eram cristãos caridosos, exemplares e transmitiram esse legado ao filho. Quando tinha treze anos, Antônio foi enviado para estudar com os jesuítas, ao lado do irmão José, que já estava no Seminário de Belém, na Bahia.

Desse modo, na sua alma estava plantada a semente da vocação religiosa. Aos vinte e um anos, Antônio decidiu ingressar na Ordem franciscana, no Rio de Janeiro. Sua educação no seminário tinha sido tão esmerada que, após um ano, recebeu as ordens sacerdotais, em 1762.

Uma deferência especial do papa, porque ele ainda não tinha completado a idade exigida. Em 1768, foi nomeado pregador e confessor do Convento das Recolhidas de Santa Teresa, ouvindo e aconselhando a todos.

Entre suas penitentes encontrou irmã Helena Maria do Sacramento, figura que exerceu papel muito importante em sua obra posterior. Irmã Helena era uma mulher de muita oração e de virtudes notáveis. Ela relatava suas visões ao frei Galvão.

Nelas, Jesus lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento para jovens religiosas, o que era uma tarefa difícil devido à proibição imposta pelo marquês de Pombal em sua perseguição à Ordem dos jesuítas.

Apesar disso, contrariando essa lei, frei Galvão, auxiliado pela irmã Helena, fundou, em fevereiro de 1774, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência.

No ano seguinte, morreu irmã Helena. E os problemas com a lei de Pombal não tardaram a aparecer. O convento foi fechado, mas frei Galvão manteve-se firme na decisão, mesmo desafiando a autoridade do marquês. Finalmente, devido à pressão popular, o convento foi reaberto e o frei ficou livre para continuar sua obra. Os seguintes quatorze anos foram dedicados à construção e ampliação do convento e também de sua igreja, inaugurada em 1802. Quase um século depois, essa obra tornar-se-ia um "patrimônio cultural da humanidade", por decisão da UNESCO.

Em 1811, a pedido do bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara, em Sorocaba. Lá, permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos da construção da Casa. Nesse meio tempo, ele recebeu diversas nomeações, até a de guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo. Com a saúde enfraquecida, recebeu autorização especial para residir no Recolhimento da Luz. Durante sua última enfermidade, frei Galvão foi morar num pequeno quarto, ajudado pelas religiosas que lhe prestavam algum alívio e conforto.

Ele faleceu com fama de santidade em 23 de dezembro de 1822.

Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construíra. Depois, o Recolhimento do frei Galvão tornou-se o conhecido Mosteiro da Luz, local de constantes peregrinações dos fiéis, que pedem e agradecem graças por sua intercessão. Frei Galvão foi beatificado pelo papa João Paulo II em 25 de outubro de 1998, e canonizado em 11 de maio de 2007 pelo papa Bento XVI, em São Paulo, Brasil.


 

“MESTRE, QUAL É O MAIOR MANDAMENTO DA LEI?” (Mt 22,36).

 XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – A; Cor – Verde; Leituras: Ex 22,20-26; Sl 17 (18); 1Ts 1,5-10; Mt 22,34-40.


Diácono Milton Restivo


No Evangelho desta liturgia as autoridades religiosas judaicas continuam azucrinando o sossego de Jesus.

Neste capítulo 22 de Mateus, em primeiro lugar, Jesus fez calar os fariseus quando eles perguntaram se era lícito pagar o imposto a César (cf Mt 11,15-22), fato que vimos no Evangelho do domingo passado.

Os saduceus, sabendo que Jesus calara os fariseus, voltam à carga, testando Jesus sobre a ressurreição, considerando que eles, os saduceus, não acreditavam na ressurreição dos mortos (cf Mt 22,23-33), tendo-os, também, calado Jesus.

Agora os fariseus voltam à carga: “Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito os saduceus se calarem. Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus: ‘Mestre, qual é o maior mandamento da Lei’?” (Mt 22,34-36).

Que idiotice. Que pergunta mais estúpida, considerando que eles, os fariseus, se julgavam os mestres da Lei e os orientadores do povo em tudo aquilo que dizia respeito à Lei de Moisés.

É ou não é para tentar Jesus?

Todos os judeus que se prezavam, tinham conhecimento pleno da Lei de Moisés e sabiam de cor e salteado todos os Salmos e todos os mandamentos da Lei mosaica e, com certeza sabiam, de uma maneira especial, qual seria o maior mandamento da Lei.

Aos dez mandamentos de Moisés os fariseus acrescentaram, por conta deles mesmos, mais 613 mandamentos que chegavam às raias do absurdo que obrigavam o povo conhecê-los e cumpri-los, e quem não os cumprissem eram considerados “malditos”: “Essa multidão que não conhece a Lei é feita de malditos” (Jo 7,49).

Os fariseus desprezavam os judeus que não cumpriam as suas leis e o chamavam de maldito, merecendo, por isso, uma reprimenda por parte de Jesus, que chamou a atenção do povo a respeito deles, dizendo: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer o observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo.” (Mt 23,2-4) e, voltando-se para os fariseus, Jesus lhes disse: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. [...] Guias cegos! Vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo. [...] Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas. Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheio de ossos de mortos e podridão. Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça.” (Mt 23,13.24.27-28).

Será que nós mesmos não nos identificamos com esse tipo de gente? Aonde essa corja quer chegar tentando Jesus dessa maneira?

A primeira leitura, tirada do livro do Êxodo, fala sobre as leis morais e religiosas que é transmitida ao povo israelita quando ainda estava na caminhada do deserto, rumo a Terra Prometida. Orienta sobre o respeito que se deve ter ao estrangeiro e a assistência que se deve dispensar para a viúva e ao órfão; orienta sobre tomar objetos como penhor do pobre e, se acaso for necessário emprestar dinheiro ao necessitado, que não o faça com usura, isto é, cobrando altos juros. Tudo isso gira em torno do amor e do respeito que deve ser dispensado ao próximo, seja ele estrangeiro, ou do próprio povo, ou viúva, ou órfão, ou pobre, ou necessitado (cf Ex 22,20-26).

O amor e o respeito ao próximo deve ser indiscriminado. E essa passagem do Êxodo refere-se ao segundo mandamento mais importante da Lei, conforme o próprio Jesus respondeu aos fariseus, que se faziam passar por inconvenientes e idiotas a respeito do amor e respeito que se deve dedicar ao próximo, ao que Jesus classificou como o segundo mandamento mais importante: “O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).

Esse mandamento do amor ao próximo está prescrito no livro do Levítico, 19,18, que os fariseus sabiam como ninguém: “Não espalhe boatos nem levante falso testemunho contra o seu próximo. Eu sou Yahweh. Em seu coração não rejeite o seu irmão. [...] Não seja vingativo, nem fique vigiando contra os filhos do seu povo. Ame o seu próximo como a si mesmo. Eu sou Yahweh. Observem meus estatutos” (Lv 19,16-17a.18-19).

Então os fariseus conheciam esse mandamento e queriam somente conturbar a presença de Jesus em Jerusalém.

Na Lei de Moisés, apesar de ser citado esse mandamento, não consta esse mandamento como sendo o segundo mais importante, mas Jesus assim o coloca porque só se pode amar a Deus através do próximo, do irmão, da irmã e, por várias vezes, Jesus insiste neste mandamento, que se resume em uma única palavra: “amor”.

A partir do ensinamento de Jesus fica claro um mandamento novo, que se resume exatamente no amor: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros.” (Jo 13,34).

Mas, o que Jesus quer dizer com um “mandamento novo”? Estaria Jesus abolindo os mandamentos da antiga aliança, os mandamentos ditados por Moisés? Não, porque ele mesmo dissera: “Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento”. (Mt 5,17).

Certo. Está claro que Jesus não altera, absolutamente, o decálogo, os dez mandamentos transmitidos por Moisés. Então, será que Jesus quer acrescentar mais um mandamento aos dez do Antigo Testamento? Absolutamente, não.

O novo mandamento do amor, deixado por Jesus, não altera o antigo e nem acrescenta um novo mandamento. Apenas reforça e insiste no cumprimento dos mandamentos da antiga aliança porque, quem ama de verdade o próximo, ama em primeiro lugar a Deus sobre todas as coisas, não pronunciando o santo nome de Deus em vão, respeita o domingo, que é o dia do Senhor, honra o pai e a mãe, jamais procura fazer o mal a quem quer que seja, não praticando violência contra o próximo, procurando dele não tirar proveito, não atenta contra a vida do próximo, não comete adultério, não rouba e nem furta, não fala mal do próximo, procurando não levantar falso testemunho, não deseja nada que seja do próximo, respeitando a sua propriedade, os seus direitos, a sua mulher, o seu marido.

Então, o novo mandamento do amor deixado por Jesus abrange todos os mandamentos da lei antiga, porque, quem ama o próximo, nos moldes dos ensinamentos de Jesus, nada fará que prejudique o próximo, amando, em primeira instância a Deus sobre todas as coisas.

Temos que considerar também que, os mandamentos de Moisés são expressos de maneira negativa: não matar... Não roubar... Não desejar... O novo mandamento de Jesus é positivo: “amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros.” (Jo 13,34).

Interessante. Jesus não somente dá um mandamento novo e positivo: “amem-se uns aos outros”, mas ele próprio nos dá o exemplo de como devemos nos amar: “assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”. E como Jesus nos amou? Quais foram as consequências? Temos consciência disso? Nos amamos como Jesus nos amou?  

Jesus não somente incentivou aos seus discípulos a amarem-se uns aos outros. Ele os amou primeiro e até o fim, até a sua morte: “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1). “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando.”. (Jo 15,12-14).  Mentalize a música do padre Zezinho: “Um dia uma criança me parou... amar como Jesus amou...”

Quando foi feita a Jesus a pergunta: "Qual é o maior mandamento da lei?", Jesus responde "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas" (Mt 22,37-40).

O decálogo de Moisés deve ser interpretado à luz desse duplo e único mandamento do amor – amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo -, que é a plenitude da lei.

Para aqueles que lhe fizeram essa pergunta, os fariseus, Jesus deixa claro que a justiça de Deus supera a lei dos escribas e fariseus como também a dos pagãos, conforme disse Jesus ao povo: “Porque eu lhes digo: Se a justiça de vocês não superar a justiça dos doutores da Lei e fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 5,20).

Jesus desenvolveu todas as exigências dos mandamentos e os explicita de modo claro, preciso e como nunca haviam antes sido interpretados: “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: ‘Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal’.” (Mt 5,21-22a).

Repito: Jesus não somente incentivou aos seus discípulos a amarem-se uns aos outros. Ele os amou primeiro e até o fim, até a sua morte: “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1), vivendo e confirmando aquilo que ele diria aos seus discípulos, o que seria uma verdadeira prova de amor: “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando.”. (Jo 15,12-14).  

João Evangelista, chamado também de “o apóstolo do amor”, na sua carta, ratifica esse testemunho de amor de Jesus: “Compreendemos o que é amor, porque Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, nós também devemos dar a vida pelos irmãos,” (1Jo 3,16).

Depois de dar o exemplo do verdadeiro amor, Jesus continua falando sobre o novo mandamento: “Assim como o Pai me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor. Se vocês obedecem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como eu obedeci aos mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor.” (Jo 15,9-10). “Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,35).

O Apóstolo do amor reafirma aos seus discípulos o novo mandamento de Jesus: “Filhinhos, não lhes comunico um mandamento novo, mas o mandamento antigo, esse mesmo que vocês receberam desde o princípio. O mandamento antigo é a palavra que vocês ouviram. E, no entanto, o mandamento que lhes comunico é novo – pois ele é verdadeiro em Jesus e em vocês – porque as trevas já estão se afastando, e a verdadeira luz já está brilhando. Quem afirma que está na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião de tropeço. Ao contrário, quem odeia o seu irmão está nas trevas: caminha nas trevas e não sabe aonde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.” (1Jo 2,7-11).

E João continua na insistência do mandamento do amor ao próximo que ele aprendera com Jesus: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus, e conhece a Deus, porque Deus é amor. [...] No amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo, ainda não está realizado no amor. Quanto a nós, amemo-nos porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus’ e, no entanto, odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1Jo 4,7-8.18-21).

Amar a Deus significa fazer-se próximo do próximo a quem se manifesta amor de Deus em forma de fraternidade.

O amor é a manifestação da fé e do respeito que temos ao próximo, porque o amor a Deus não se mede de outra maneira que não seja pelo amor dedicado ao próximo.

Deus não admite o amor a si sem que este amor se torne gestos concretos de caridade.

João é categórico quando fala a respeito disso: “Se alguém possui os bens deste mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fecha-lhe o coração, como pode o amor de Deus permanecer nele? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade.” (1Jo 4,17-18).

Para que os homens pudessem entender melhor o novo mandamento do amor, Jesus os prepara com a chamada “regra de ouro”: “Não julguem e vocês não serão julgados. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. [...] Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consiste a Lei e os Profetas.” (Mt 7,1-2.12).

Nisso consiste a Lei e os Profetas, sim, mas Jesus transfere essa regra de ouro aos seus discípulos porque, o verdadeiro amor que se deve dedicar ao próximo seria tratá-lo como gostaríamos de ser tratados, ou seja, nos colocarmos no lugar do próximo quando lhe dedicamos atenção e respeito.

Amar ao próximo como a nós mesmos: fazer pelos outros o que desejaríamos que os outros fizessem por nós e para nós. Essa é a expressão mais completa do amor, da caridade, porque resume e inclui todos os deveres do homem para com o próximo, de um ser humano para outro ser humano, feitos à imagem e semelhança do Criador: “E Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26).

Essa é a regra de ouro a respeito do que devemos fazer aos outros, que foi ensinada a Tobias por seu pai, que lhe disse: “Não faça para ninguém aquilo que você não gosta que façam para você” (Tb 4,15a), e que foi repetida por Jesus centenas de anos mais tarde: “Portanto, façam às pessoas o mesmo que vocês desejam que elas façam a vocês” (Mt 7,12).  

Aquilo que desejamos que os outros façam para nós, façamos para eles também. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor procedimento, mais respeito, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os teríamos para com eles?

Jesus, na oração sacerdotal, quando preparava os discípulos para a sua morte de cruz, pede ao Pai, que o amor do Pai por ele, seja o mesmo amor que o Pai destinará aos seus discípulos: “Pai justo, o mundo não te reconheceu, mas eu te reconheci. Estes também reconheceram que tu me enviaste. E eu tornei o teu nome conhecido para eles. E continuarei a torná-lo conhecido para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles.” (Jo 17,25-26).

Meu Deus, agora me apercebo que, aproveitando o ensejo da pergunta dos fariseus a Jesus sobre qual seria o maior mandamento, só falei do amor ao próximo. E o primeiro mandamento, como fica? 

O Antigo Testamento e a Lei de Moisés, em particular, são claros, objetivos, precisos e insistentes quanto ao amor que se deve ter com Deus, e afirmam: “Ame a Yahweh seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma com toda a sua força.” (Dt 6,5), e foi isso que Jesus repetiu aos fariseus no que diz respeito ao primeiro mandamento.

Quanto a isso, todas as autoridades religiosas judias, os fariseus, os saduceus, os escribas e os doutores da Lei conheciam.

O que eles não levavam a sério seria que “o segundo é semelhante a esse: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Isso eles não sabiam e, se soubessem, desprezavam.

Com respeito ao amor que devemos a Deus, ouçamos João: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo para dar-nos a vida por meio dele. E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. [...] Quanto a nós, amemo-nos, porque ele nos amou primeiro.” (1Jo 4,7-19).

Deus nos amou primeiro. Pelo menos por isso, amemos a Deus sobre todas as coisas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

 

O QUE FAZER COM UMA IMAGEM SACRA ABENÇOADA QUE QUEBROU?

 

Antes de pontuar o que se pode fazer com uma imagem sacra que se quebrou, é válido destacar a importância e o valor das imagens na Igreja.

Começo recordando que católico não adora imagem, mas tem por ela veneração.

São João Damasceno diz que “antigamente, Deus, que não tem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado por uma imagem. Mas, agora que se mostrou na carne e viveu com os homens, posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. (…) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor” (Catecismo da Igreja Católica, 1159).

Nessa perspectiva, o Catecismo da Igreja Católica ensina que, “na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos padres e da tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos, com toda certeza e acerto, que as veneráveis e santas imagens […] devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima Mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos” (Catecismo da Igreja Católica, 1161).

A Igreja sempre valorizou tais práticas que conduzem para o próprio Deus.

Como dispensar com zelo imagens sacras abençoadas quebradas?

Um primeiro ponto a ser observado em relação a uma imagem sacra que se quebrou é verificar a possibilidade de restaurá-la, se assim for oportuno. Após uma avaliação do estado da imagem e não havendo uma possibilidade ou interesse em sua restauração, o próximo passo seria utilizar a forma mais coerente de se desfazer do objeto levando em conta seu significado.

A sugestão é que não há “necessidade” de se levar as imagens quebradas para depositar nas igrejas, cemitérios, jogar em rios ou em outros lugares, mas elas podem ser trituradas e enterradas no jardim ou em um vaso de sua casa.

O sentido é evitar a possibilidade de as imagens que foram abençoadas serem escarnecidas, ao serem jogadas no lixo com indignidade ou deixadas em lugar indevido.

Com isso, deve-se desfazer das imagens danificadas de forma que o seu valor espiritual e significado religioso não sejam afetados, evitando qualquer sinal de desrespeito.

Dizia São João Damasceno que “a beleza e a cor das imagens estimulam minha oração.

É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus”. Assim, a função tanto das imagens abençoadas quanto dos ícones santos em boas condições é entrar “na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida nova dos fiéis” (Catecismo da Igreja Católica, 1162).

Portanto, uma imagem que está quebrada ou danificada não atinge todo o seu objetivo, por isso pode ser dispensada sem nenhum problema.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 

SÃO JOÃO PAULO II – UM SANTO QUE VIVEU ENTRE NÓS

 

Hoje é dia de São João Paulo II. Muitos de nós conhecemos bem este Santo, viveu conosco.

Ele teve um longo pontificado de 25 anos, um dos mais longos da História. Sua eleição foi uma enorme surpresa do Espírito Santo, pois saiu de um país que estava debaixo do regime comunista, a Polônia, atrás da vergonhosa “Cortina de Ferro”. Ninguém esperava. Isto na época da “guerra fria” entre os EUA e a Rússia, que ameaçava o mundo de uma destruição atômica e nuclear.

Ele começou seu pontificado pedindo ao mundo: “Não tenhais medo! Abri, melhor, escancarai as portas a Cristo!” (Homilia no início de seu pontificado, 1978).

O mundo comunista estremeceu com sua eleição porque sabia que João Paulo II viveu sob o triste regime comunista, e iria lutar para eliminá-lo. E de fato aconteceu: em 1989 caiu o Muro da Vergonha e o comunista desabou. Foi um trabalho do Papa, e uma ação misteriosa de Nossa Senhora de Fátima, a quem o Santo Padre tinha consagrado a Rússia em 1985, como Ela havia pedido.

No dia 13 de maio de 1980 o Papa foi baleado pelo turco Ali Agca, a mando da KGB (polícia secreta da Rússia), como concluiu em inquérito a polícia italiana. No ano seguinte levou o projétil que o atingiu para ser colocado na coroa de Nossa Senhora de Fátima. Ela o salvou. Milagrosamente o Papa foi salvo da morte. Ele disse que “uma mão puxou o gatilho, mas outra Mão dirigiu a bala”, para que não fosse fatal. Ele esteve no limiar da morte.

João Paulo II teve um pontificado notável; um Papa sábio, douto e santo, cuja canonização foi pedida pelo povo, na Praça de São Pedro, no dia do seu sepultamento: “Santo Súbito!”, santo já.

Além da queda do comunismo, ação decisiva de João Paulo II, ele guiou a Igreja com sabedoria e firmeza. Combateu desde o início a herética teologia de libertação de cunho marxista. Auxiliado por seu grande sucessor, Cardeal Ratzinger, Papa Bento XVI, na Congregação da Fé, ele pôde coibir com firmeza os erros de doutrina que ameaçavam a “sã doutrina” (1Tm 1,10; 4,62 Tm 4,3;) da fé.

Entre os documentos mais importantes que João Paulo II nos deixou, está o Catecismo da Igreja Católica, que ele chamou de “texto de referência da fé católica”, e que pediu que os fiéis e os pastores “usem assiduamente ao convocar as pessoas para viver a fé” (Constituição Fidei depositum). Além disso, o Papa renovou o Código de Direito Canônico, em 1983. E escreveu muitas encíclicas e inúmeros documentos importantes, defendendo a vida, a família, a paz no mundo, a razão e a fé, a Eucaristia, etc. Pronunciou Catequeses famosas nas audiências de quarta feira, sobretudo sobre a Igreja, o Espírito Santo, a Virgem Maria, e praticamente sobre todos os assuntos da doutrina católica.

Ele teve a gigantesca missão de introduzir a Igreja no terceiro milênio da Cristandade; e fez isso com maestria. Convocou três anos de preparação para celebrar o Jubileu do ano 2000. Sobretudo foi um defensor da vida e da família. Entre outras coisas disse na (Encíclica Evangelium vitae, 1995):

“A vida humana é sagrada e inviolável em cada momento da sua existência, inclusive na fase inicial que precede o nascimento”. “Só Deus é dono da vida.”

“O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus”.

“Uma grave derrocada moral: opções, outrora consideradas unanimemente criminosas e rejeitadas pelo senso moral comum, tornam-se pouco a pouco socialmente respeitáveis”.

“O século XX ficará considerado uma época de ataques maciços contra a vida, uma série infindável de guerras e um massacre permanente de vidas humanas inocentes. Os falsos profetas e os falsos mestres conheceram o maior sucesso possível”.

“A verdade é que estamos perante uma objetiva “conjura contra a vida” que vê também implicadas Instituições Internacionais, empenhadas a encorajar e programar verdadeiras e próprias campanhas para difundir a contracepção, a esterilização e o aborto” (EV, 18).

Em defesa da família, que ele chamou de “Santuário da Vida”, “Patrimônio da humanidade” e “Igreja doméstica”, escreveu a “Carta às Famílias”, em 1994, onde disse:

“A grandeza e a sabedoria de Deus manifestam-se em suas obras. Hoje em dia, porém, parece que os inimigos de Deus, mais do que atacar frontalmente o Autor da criação, preferem defrontá-Lo em suas obras… Entre as verdades obscurecidas no coração do homem, por causa da crescente secularização e do hedonismo reinantes, ficam especialmente afetadas todas aquelas relacionadas com a família. Em torno à família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem… Nos nossos dias, infelizmente, vários programas sustentados por meios muito poderosos parecem apostados na desagregação da família.” (CF, 5).

“A família é a primeira e fundamental escola de sociabilidade: enquanto comunidade de amor, ela encontra no dom de si a lei que a guia e a faz crescer” (Exortação Apostólica Familiaris consortio, 1981).

“A agradável recordação da vida de Jesus, José e Maria em Nazaré recorda-nos a beleza austera e simples e o carácter sagrado e inviolável da família cristã” (Homilia na Missa para as famílias em Rijeka, Croácia, 2003).

“Com a ajuda de Deus, fazei do Evangelho a regra fundamental da vossa família, e da vossa família uma página do Evangelho escrita para o nosso tempo!” (Discurso IV Encontro Mundial das Famílias).

“Não esqueçais que a oração em família é garantia de unidade num estilo de vida coerente com a vontade de Deus” (Discurso IV Encontro Mundial das Famílias).

Na sua última Encíclica, “Fé e razão”, João Paulo colocou com clareza e profundidade a necessidade da fé e da razão caminharem juntas e se auxiliando mutualmente. Ali ele afirmou que:

“A razão e a fé não podem ser separadas, sem fazer com que o homem perca a possibilidade de conhecer de modo adequado a si mesmo, o mundo e a Deus” (Fides et Ratio, 16).

“É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição” (FR, 46).

João Paulo II – bem como Bento XVI – foi um intransigente defensor da verdade, diante da mentira da “ditadura do relativismo”; ele disse que:

“Pode-se definir o homem como aquele que procura a verdade. A sede da verdade está tão radicada no coração do homem que, se tivesse de prescindir dela, a sua existência ficaria comprometida” (FR, 28).

“Uma vez que se privou o homem da verdade, é pura ilusão pretender torná-lo livre” (Fides et Ratio, 90).

“A razão e a fé não podem ser separadas, sem fazer com que o homem perca a possibilidade de conhecer de modo adequado a si mesmo, o mundo e a Deus” (FR, 16).

“Uma vez que se privou o homem da verdade, é pura ilusão pretender torná-lo livre” (FR, 90).

Tudo isso é apenas um pouco de toda a herança que esse gigante nos legou, e que nos anima a continuar a sua luta em favor da verdade, da vida, da família, de Deus e dos homens.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020






ANJO. O QUE SIGNIFICA?

 

Nas Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, Papa (Séc.VI), ele diz: "A palavra anjo indica o ofício, não a natureza".

É preciso saber que a palavra anjo indica o ofício, não a natureza. Pois estes santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre podem ser chamados anjos, porque somente são anjos quando por eles é feito algum anúncio.

Aqueles que anunciam fatos menores são ditos anjos; os que levam as maiores notícias, arcanjos. Foi por isto que à Virgem Maria não foi enviado um anjo qualquer, mas o arcanjo Gabriel; para esta missão, era justo que viesse o máximo anjo para anunciar a máxima notícia.

Por este motivo também a eles são dados nomes especiais para designar, pelo vocábulo, seu poder na ação. Naquela santa cidade, onde há plenitude da ciência pela visão do Deus onipotente, não precisam de nomes próprios para se distinguirem uns dos outros.

Mas quando vêm até nós para cumprir uma missão, trazem também entre nós um nome derivado desta missão. Assim Miguel significa: “Quem como Deus?”; Gabriel, “Força de Deus”; e Rafael, “Deus cura”.

Todas as vezes que se trata de grandes feitos, diz-se que Miguel é enviado, porque pelo próprio nome e ação dá-se a entender que ninguém pode por si mesmo fazer o que Deus quer destacar. Por isto, o antigo inimigo, que por soberba cobiçou ser igual a Deus, dizendo: “Subirei ao céu, acima dos astros do céu erguerei meu trono, serei semelhante ao Altíssimo” ( cf. Is 14,13-14), no fim do mundo, quando será abandonado às próprias forças para ser destruído no extremo suplício, pelejará com o arcanjo Miguel, como diz João: “Houve uma luta com Miguel arcanjo” (Ap 12,7).À Maria é enviado Gabriel, que significa “Força de Deus”.

Vinha anunciar aquele que se dignou aparecer humilde para combater as potestades do ar.Portanto devia ser anunciado pela força de Deus o Senhor dos exércitos que vinha poderoso no combate. Rafael, como dissemos, significa “Deus cura”, porque ao tocar nos olhos de Tobias como que num ato de cura, lavou as trevas de sua cegueira. Quem foi enviado a curar, com justiça se chamou “Deus cura”. (Hom. 34,8-9:PL76,1250-1251).


terça-feira, 20 de outubro de 2020

 

AVE MARIA, CHEIA DE GRAÇA...

 

Outubro, mês do rosário. Muitas famílias se aconchegam sob a proteção da Mãe do Senhor e todos os dias rezam o santo rosário, o santo terço. O rosário, o terço é, sobretudo, a contemplação, a interiorização da presença e participação ativa de Maria na história da salvação do homem. Esta participação viva de Maria, sua fidelidade, cheia de amor a Deus, sua caridade imensa para com todos os homens, é causa de profunda alegria para toda a Igreja. Por isso, os cristãos, reconhecendo e admirando o bem inigualável que Maria fez ao mundo, não podem deixar de dizer incessantemente: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.” (cf Lc 1, 28). Maria é cheia de graça, cheia do Espírito de Deus, da bondade de Deus, cheia da ternura de Deus.      Se já na criação, quando as coisas eram feitas, afirmava o Criador que tudo era bom: “Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era bom.”  (Gen 1, 31). Se o Senhor nosso Deus achou que tudo o que fizera era bom, o que se poderá então dizer da Santa Virgem Maria?

Maria é a mais formosa entre as mulheres. (cf Cant 1, 8; 5, 9; 6, 1).

Maria e aquela para quem Deus olhou. (cf Lc 1, 48).

Maria é bendita entre as mulheres. (cf Lc 1, 28-42).

Maria é a repleta do Espírito Santo e da força do Altíssimo. (cf Lc 1, 35).

Maria é a Mãe do Filho de Deus. (cf Lc 1, 35; Gal 4, 4).

Maria é o grande sinal de Deus. (cf Apoc 12, 1).

Quem será digno de louvar a Santa Mãe de Deus?

Tudo é obra do Senhor, tudo é obra do amor e somente o amor e pelo amor se compreende as criaturas de Deus. “Os olhos não viram, os ouvidos nunca ouviram, nem o coração humano jamais imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1Cor 2, 9).

(Irmão José Milson - Marista - Unda Brasil).

E, neste mês de outubro, de uma maneira especial, devemos dirigir o nosso Coração para a Virgem Aparecida, meditando e rezando com as palavras de João Paulo II, quando disse: “Este templo é morada do “Senhor dos Senhores, do Rei dos Reis” (cf Apoc 17, 14). Nele, tal como a rainha Ester, a Virgem Imaculada, que “conquistou o coração de Deus, e em quem grandes coisas faz o Onipotente (cf Ester 5,5 e Lc 1, 49), não cessará de acolher numerosos filhos e de interceder por eles: “Salve meu povo, eis o meu desejo.” (Est 7, 3). O verdadeiro filho de Maria é um cristão que reza. A devoção à Maria é fonte de vida cristã profunda. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Como ouvimos no Evangelho, Maria nos orienta para Jesus: “Fazei o que ele vos disser.” (Jo 2, 5). E, como outrora, em Canaã da Galiléia, Maria encaminha ao seu filho Jesus as dificuldades dos homens, obtendo de Jesus as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: Ela é sempre a Mãe de Deus e nossa. “Mãe de Deus e Nossa, protegei a Igreja, o Papa, os bispos, os sacerdotes e todo o povo fiel; acolhei sob o vosso manto protetor os religiosos, as religiosas, as famílias, as crianças, os jovens e seus educadores. Saúde dos enfermos e consoladora dos aflitos, sede conforto dos que sofrem no corpo e na alma; sede luz dos que procuram Cristo, Redentor do homem; a todos os homens mostrai que sois a mãe de nossa confiança. Rainha da paz e espelho da justiça, alcançai para o mundo a paz, fazei que o Brasil tenha a paz duradoura, que os homens convivam sempre como irmãos, como filhos de Deus! Nossa Senhora Aparecida, abençoai este vosso Santuário e todos os que neles trabalham; abençoai este povo que aqui ora e canta. Abençoai todos os vossos filhos, abençoai o Brasil”.

(Oração de João Paulo II quando de sua visita à Aparecida).

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 

OS PAIS DE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS - SÃO LUÍS E SANTA ZÉLIA

 

Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877) foram declarados santos em 18 de outubro de 2015. Não foram canonizados por serem os pais de Santa Teresinha, mas porque se empenharam totalmente em fazer a vontade de Deus em qualquer situação de suas vidas. Luís e Zélia, com suas vidas, nos ensinam que a santidade é caminho para a esposa, o marido, os filhos, os colegas de trabalho e para a sexualidade.

O santo não é um super-homem, mas um homem verdadeiro.

Se tanto amamos Teresinha de Lisieux, se tanto nos encanta sua santidade, devemos dizer que ela é fruto de seus pais, um casal que vivia o amor de Deus tanto na alegria como nas tristezas. As muitas cartas deixadas por Zélia dão testemunho deste colocar-se inteiramente nas mãos de Deus.

«Eu amo loucamente as crianças e nasci para ter filhos», dizia Zélia. Mas, contraditoriamente, esse lar não era para existir. Aos 20 anos Luís esteve na Suíça para aprender o ofício de relojoeiro. Dirigiu-se ao Eremitério de São Bernardo, dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, querendo ser monge. O Prior foi direto: «Não conhece latim, nada de postulantado no Mosteiro». Luís retorna a Alençon e se dedica à oficina de conserto de relógios.

Já Zélia Guérin desejava ser admitida entre as Irmãs de São Vicente de Paulo, em Alençon. A Superiora não vê nela sinal se vocação. Decide-se então a aprender artes domésticas de bordados e confecções, abrindo pequeno negócio em Alençon e indo de casa em casa à procura de fregueses.

Luís vive ardente espiritualidade alimentada no seio das Conferências de São Vicente de Paulo, onde pôde se inserir no trabalho social e cristão. Sua mãe, preocupada com sua condição de celibatário, lhe comenta a respeito da jovem Zélia Guérin, jovem de face diáfana e de sorriso doce e misterioso. Os dois se encontram e meses depois se casam, em 13 de julho de 1858. Zélia está com 27 anos e inicia com Luís um amor sólido e durável, apesar da doença e da morte. O vigário de Alençon estranhou que o casal não tivesse filhos e eles explicaram que viviam um matrimônio como Maria e José, como dois irmãos. O padre repreendeu-os, dizendo que deveriam viver como casal e terem filhos. Fiéis ao conselho, entre 1860 e 1873 nascem nove filhos, dos quais quatro morrem pouco depois do nascimento: Helena, José, João Batista e Melânia Teresa.

 

Um lar feliz e santo

Constituíam um casal típico da pequena burguesia francesa do século XIX. Levam uma vida ordinária, é verdade, mas Deus ocupa um lugar especial em sua vida pessoal e comunitária. Diariamente freqüentam a Missa das 5:30h: Deus antes de tudo. A filha Celina escreveu, mais tarde: “Quando papai comungava ele permanecia em silêncio na volta para casa”. “Continuo a conversar com Nosso Senhor”, dizia. No meio das tristezas pela perda dos filhos, “tudo aceitamos na serenidade e no abandono à vontade de Deus”. Oração em família duas vezes ao dia, ao toque do Ângelus ao meio-dia e às 18h. Natal, Quaresma, Páscoa, os meses marianos de maio e outubro, o 15 de agosto ocupam um lugar central em sua vida, tocando profundamente suas filhas. Essa espiritualidade conjugal e familiar não os isolou dos outros, pelo contrário, reforçou sua atenção a todos, domésticas, conhecidos, vizinhos.

Sobreviveram cinco filhas, que ingressaram no convento: Maria, Paulina, Leônia, Celina e Teresa. Talvez o casal não seria lembrado se não fosse a caçulinha, a grande Santa Teresinha, morta aos 24 anos no Carmelo de Lisieux.

Foram apenas 19 anos de vida em comum cujos frutos ultrapassaram a existência terrena. Uma palavra-chave expressa esse amor: a unidade, unidade que edificou sua vida espiritual, familiar e social. Num tempo em que nós fragmentamos a vida, vivemos divididos, eles cimentaram sua existência numa unidade invencível e contagiante.

A casa dos Martin era casa de caridade. Luís recolhe um epiléptico na rua e cuida de assisti-lo. Não hesita em convidar à mesa os mendigos encontrados na rua. Visita os anciãos. Ensina às filhas a honrar o pobre e a tratá-lo como um igual. Teresa será a mais sensibilizada por esse exemplo. Podemos afirmar que a doutrina da “pequena via” que fez de Teresinha Doutora da Igreja nasce da santidade e do exemplo da vida de Luís e Zélia. Em seus escritos Santa Teresinha mais vezes dirá: “O bom Deus deu-me um pai e uma mãe mais dignos do Céu que da terra”.

Não era uma família triste. O “pequeno convento” não era uma prisão austera, mas um lar feliz. Um lar cristão com o amor entre os esposos, deles pelas filhas, entre as irmãs, uma unidade sensível. Ambiente sadio, brincadeiras, jogos, festas, passeios em família. O amor era verdadeiro. Um amor, como definiu Teresinha “onde se dá tudo e se dá a si mesmo”.

 Luís e Zélia não desejavam que suas filhas fossem religiosas, mas santas. O desejo de santidade que ali se vivia impregnava toda a vida familiar. A santidade se manifesta nas etapas vividas pelo casal, etapas tão semelhantes às de um casal atual: casamento tardio, trabalho, dupla jornada de Zélia entre a casa e a loja, ambos assumem a educação das filhas. Foram consumidos por doenças contemporâneas: o câncer de Zélia e a doença neuropsiquiátrica de Luís. Atravessam a guerra de 1870 entre França e Alemanha, as crises econômicas, o drama da morte de Zélia em 1877: sozinho, Luís deve criar e educar suas cinco filhinhas Maria, Paulina, Leônia, Celina e Teresa.

 

A Paixão de Luís e Zélia

Luís e Zélia vivem a Paixão, cada um a seu modo. Em dezembro de 1864 Zélia descobre um câncer impossível de ser operado, que não lhe oferece nenhuma chance de cura. Zélia aceita a morte com coragem heróica, trabalhando até véspera, a cada manhã participando da Missa. Sua força era a existência das cinco filhas. Em agosto de 1877 seus seios são amputados. Preocupa-se sobretudo por Leônia, meio doentinha. Carrega a cruz por 12 anos, até a morte aos 46 anos, em 28 de agosto de 1877. Luís sente-se anulado, o pânico toma conta da família.

A Paixão de Luís é de outra ordem. A partir de novembro de 1877 passa a residir em Lisieux e sucessivamente entrega todas as filhas a Deus: Paulina (1882), Maria (1886), Leônia (1899) e, enfim, sua “pequena rainha” Teresa (1888) e depois Celina (1894).

Sua saúde decai cada vez mais e necessita de hospitalização em Caen. Hoje diríamos num Hospital Psiquiátrico, mas em 1889 se dizia “asilo de loucos”. O venerável pai está agora misturado a 500 doentes. O homem estimado e respeitado é apenas um ser decadente. “Ele bebeu a mais humilhante de todas as taças”, escreveu Teresinha. Os médicos diagnosticaram arteriosclerose cerebral, com insuficiência renal. O lar dos Martin está disperso: três filhas são carmelitas. Não curado, Luís é devolvido ao lar e assistido noite e dia pela filha Celina. É como uma criança, continuamente necessitado de assistência.

Em 1888 Luís tinha oferecido um altar à catedral de São Pedro, sua paróquia. Teresinha comenta: “Papai ofereceu a Deus um Altar. Ele foi a vítima escolhida para ali ser imolado com o Cordeiro sem mácula”. Deus o chamou à eternidade em 29 de julho de 1894.

Relendo sua vida familiar à luz do Amor Misericordioso, em 1896, Teresinha relembra a entrada no Carmelo nos braços de “seu Rei” e nunca imaginaria que poucos dias após a tomada do hábito seu querido pai “deveria beber a mais amarga, a mais humilhante de todas as taças”. “Os três anos de martírio de Papai me parecem os mais amáveis, os mais frutuosos de toda a nossa vida. Eu não os trocaria por nada, por nenhum êxtase ou revelação este tesouro que deve provocar uma santa inveja nos Anjos de Corte Celeste”.

Pouco antes da doença, Luís escreveu às três filhas carmelitas: “Devo dizer-vos, minhas queridas filhas, que sou obrigado a agradecer e fazer-vos agradecer ao bom Deus, porque eu sinto que nossa família, apesar de tão humilde, tem a honra de ser privilegiada por nosso adorável Criador”.

É verdade que Deus cumulou de bênçãos e graças o lar de Luís e Zélia. É mais verdade, porém, que ambos abriram suas vidas ao dom de Deus, dele fazendo participar intensamente suas filhas.

 

Relíquias dos novos santos

O casal foi beatificado em 19 de outubro de 2008 por Bento XVI.

Luís e Zélia Martin eram os pais de Santa Terezinha do Menino Jesus, Padroeira das Missões e uma das santas mais queridas no Brasil que, em 1997 foi proclamada Doutora da Igreja por São João Paulo II. Durante o Sínodo Ordinário dos Bispos sobre a Família, em andamento no Vaticano, os fiéis podem venerar as relíquias de Santa Teresa de Lisieux e de seus pais, na Basílica de Santa Maria Maior, no centro de Roma.

As urnas com suas relíquias se encontram na Capela de Nossa Senhora “Salus Populi Romani”, na Basílica de Santa Maria Maior. Os cônjuges Luís Martin e Zélia Guérin serão o primeiro casal não mártir na história da Igreja a ser elevado à honra dos altares na mesma cerimônia.