domingo, 31 de outubro de 2021

 

“QUAL É O PRIMEIRO DE TODOS OS MANDAMENTOS?” (Mc 12,28)

 

XXXI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – A; Cor – Verde; Leituras: Dt 6,2-6; Sl 17,2-4.47.51; Hb 7,23-28; Mc 12,28b-34.

 

Diácono Milton Restivo

 

No Evangelho da liturgia deste domingo as autoridades religiosas judaicas continuam azucrinando o sossego, a vida e o ministério de Jesus.

Neste capítulo 12 de Marcos, em primeiro lugar, Jesus fez calar os fariseus quando eles perguntaram se era lícito pagar o imposto a César (cf Mc 12,13-17).

Os saduceus, sabendo que Jesus calara os fariseus, voltam à carga, testando Jesus sobre a ressurreição, considerando que eles, os saduceus, não acreditavam na ressurreição dos mortos (cf Mc 12,18-27), tendo-os, também, calado Jesus.

Na sequência dessa passagem, desses fatos, segundo narra o evangelho segundo Mateus, agora os fariseus voltam à carga:

·         “Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito os saduceus se calarem. Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus: ‘Mestre, qual é o maior mandamento da Lei’?” (Mt 22,34-36).

Que idiotice. Que pergunta mais estúpida, considerando que eles, os fariseus, se julgavam os mestres da Lei e os orientadores do povo em tudo aquilo que dizia respeito à Lei de Moisés.

É ou não é para tentar Jesus?

Todos os judeus que se prezavam, tinham conhecimento pleno da Lei de Moisés e sabiam de cor e salteado todos os Salmos e todos os mandamentos da Lei mosaica e, com certeza sabiam, de uma maneira especial, qual seria o maior mandamento da Lei.

Aos dez mandamentos de Moisés os fariseus acrescentaram, por conta deles mesmos, mais 613 mandamentos que chegavam às raias do absurdo que obrigavam o povo conhecê-los e cumpri-los, e quem não os cumprissem eram considerados “malditos” como disseram, certa vez, segundo o evangelho de João:

·         “Essa multidão que não conhece a Lei é feita de malditos” (Jo 7,49).

Os fariseus desprezavam os judeus que não cumpriam as suas leis e o chamavam de maldito, merecendo, por isso, uma reprimenda por parte de Jesus, que chamou a atenção do povo a respeito deles, dizendo:

·         “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer o observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo.” (Mt 23,2-4).

E, voltando-se para os fariseus, Jesus lhes disse:

·         “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. [...] Guias cegos! Vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo. [...] Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas. Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheio de ossos de mortos e podridão. Assim também vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça.” (Mt 23,13.24.27-28).

Será que nós mesmos não nos identificamos com esse tipo de gente? Aonde essa corja quer chegar tentando Jesus dessa maneira?

O livro do Êxodo, fala sobre as leis morais e religiosas que é transmitida ao povo israelita quando ainda estava na caminhada do deserto, rumo a Terra Prometida. Orienta sobre o respeito que se deve ter ao estrangeiro e a assistência que se deve dispensar para a viúva e ao órfão; orienta sobre tomar objetos como penhor do pobre e, se acaso for necessário emprestar dinheiro ao necessitado, que não o faça com usura, isto é, cobrando altos juros. Tudo isso gira em torno do amor e do respeito que deve ser dispensado ao próximo, seja ele estrangeiro, ou do próprio povo, ou viúva, ou órfão, ou pobre, ou necessitado (cf Ex 22,20-26).

O amor e o respeito ao próximo deve ser indiscriminado. E essa passagem do Êxodo refere-se ao segundo mandamento mais importante da Lei, conforme o próprio Jesus respondeu aos fariseus, que se faziam passar por inconvenientes e idiotas a respeito do amor e respeito que se deve dedicar ao próximo, ao que Jesus classificou como o segundo mandamento mais importante:

·         “O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).

Esse mandamento do amor ao próximo está prescrito no livro do Levítico, 19,18, que os fariseus sabiam como ninguém:

·         “Não espalhe boatos nem levante falso testemunho contra o seu próximo. Eu sou Yahweh. Em seu coração não rejeite o seu irmão. [...] Não seja vingativo, nem fique vigiando contra os filhos do seu povo. Ame o seu próximo como a si mesmo. Eu sou Yahweh. Observem meus estatutos” (Lv 19,16-17a.18-19).

Então os fariseus e os doutores da lei conheciam esse mandamento e queriam somente conturbar a presença de Jesus em Jerusalém.

Na Lei de Moisés, apesar de ser citado esse mandamento, não consta esse mandamento como sendo o segundo mais importante, mas Jesus assim o coloca porque só se pode amar a Deus através do próximo, do irmão, da irmã e, por várias vezes, Jesus insiste neste mandamento, que se resume em uma única palavra: “amor”.

A partir do ensinamento de Jesus fica claro um mandamento novo, que se resume exatamente no amor:

·         “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros.” (Jo 13,34).

Mas, o que Jesus quer dizer com um “mandamento novo”? Estaria Jesus abolindo os mandamentos da antiga aliança, os mandamentos ditados por Moisés? Não, porque ele mesmo dissera:

·         “Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento”. (Mt 5,17).

Certo. Está claro que Jesus não altera, absolutamente, o decálogo, os dez mandamentos transmitidos por Moisés. Então, será que Jesus quer acrescentar mais um mandamento aos dez do Antigo Testamento? Absolutamente, não.

O novo mandamento do amor, deixado por Jesus, não altera o antigo e nem acrescenta um novo mandamento. Apenas reforça e insiste no cumprimento dos mandamentos da antiga aliança porque, quem ama de verdade o próximo, ama em primeiro lugar a Deus sobre todas as coisas, não pronunciando o santo nome de Deus em vão, respeita o domingo, que é o dia do Senhor, honra o pai e a mãe, jamais procura fazer o mal a quem quer que seja, não praticando violência contra o próximo, procurando dele não tirar proveito, não atenta contra a vida do próximo, não comete adultério, não rouba e nem furta, não fala mal do próximo, procurando não levantar falso testemunho, não deseja nada que seja do próximo, respeitando a sua propriedade, os seus direitos, a sua mulher, o seu marido.

Então, o novo mandamento do amor deixado por Jesus abrange todos os mandamentos da lei antiga, porque, quem ama o próximo, nos moldes dos ensinamentos de Jesus, nada fará que prejudique o próximo, amando, em primeira instância a Deus sobre todas as coisas.

Temos que considerar também que, os mandamentos de Moisés são expressos de maneira negativa: não matar... Não roubar... Não desejar... O novo mandamento de Jesus é positivo:

·         “amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros.” (Jo 13,34).

Interessante. Jesus não somente dá um mandamento novo e positivo:

·         “amem-se uns aos outros”, mas ele próprio nos dá o exemplo de como devemos nos amar: “assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”.

E como Jesus nos amou? Quais foram as consequências? Temos consciência disso?  Nós nos amamos como Jesus nos amou? 

Jesus não somente incentivou aos seus discípulos a amarem-se uns aos outros. Ele os amou primeiro e até o fim, até a sua morte:

·         “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1).

·         “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando.”. (Jo 15,12-14). 

Mentalize a música do padre Zezinho:

·         Um dia uma criança me parou... amar como Jesus amou...”

Quando foi feita a Jesus a pergunta: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos”, Jesus responde:

·         “O primeiro é: ‘Ouça, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua mente, com toda a sua força.’ O segundo é: ‘ame o seu próximo como a si mesmo.’ Não existe outro mandamento maior do que esse”. (Mc 12,29-32).

O decálogo de Moisés deve ser interpretado à luz desse duplo e único mandamento do amor – amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo -, que é a plenitude da lei.

Para aqueles que lhe fizeram essa pergunta, os fariseus, Jesus deixa claro que a justiça de Deus supera a lei dos escribas e fariseus como também a dos pagãos, conforme disse Jesus ao povo:

·         “Porque eu lhes digo: Se a justiça de vocês não superar a justiça dos doutores da Lei e fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 5,20).

Jesus desenvolveu todas as exigências dos mandamentos e os explicita de modo claro, preciso e como nunca haviam antes sido interpretados:

·         “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: ‘Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal’.” (Mt 5,21-22a).

Repito: Jesus não somente incentivou aos seus discípulos a amarem-se uns aos outros. Ele os amou primeiro e até o fim, até a sua morte:

·         “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1),

Vivendo e confirmando aquilo que Jesus diria aos seus discípulos, o que seria uma verdadeira prova de amor:

·         “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando.”. (Jo 15,12-14). 

João Evangelista, chamado também de “o apóstolo do amor”, na sua carta, ratifica esse testemunho de amor de Jesus:

·         “Compreendemos o que é amor, porque Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, nós também devemos dar a vida pelos irmãos,” (1Jo 3,16).

Depois de dar o exemplo do verdadeiro amor, Jesus continua falando sobre o novo mandamento:

·         “Assim como o Pai me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor. Se vocês obedecem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como eu obedeci aos mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor.” (Jo 15,9-10).

·         “Se vocês tiverem amor uns pelos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,35).

O Apóstolo do amor reafirma aos seus discípulos o novo mandamento de Jesus:

·         “Filhinhos, não lhes comunico um mandamento novo, mas o mandamento antigo, esse mesmo que vocês receberam desde o princípio. O mandamento antigo é a palavra que vocês ouviram. E, no entanto, o mandamento que lhes comunico é novo – pois ele é verdadeiro em Jesus e em vocês – porque as trevas já estão se afastando, e a verdadeira luz já está brilhando. Quem afirma que está na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião de tropeço. Ao contrário, quem odeia o seu irmão está nas trevas: caminha nas trevas e não sabe aonde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.” (1Jo 2,7-11).

E João continua na insistência do mandamento do amor ao próximo que ele aprendera com Jesus:

·         “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus, e conhece a Deus, porque Deus é amor. [...] No amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo, ainda não está realizado no amor. Quanto a nós, amemo-nos porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus’ e, no entanto, odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1Jo 4,7-8.18-21).

Amar a Deus significa fazer-se próximo do próximo a quem se manifesta amor de Deus em forma de fraternidade.

O amor é a manifestação da fé e do respeito que temos ao próximo, porque o amor a Deus não se mede de outra maneira que não seja pelo amor dedicado ao próximo.

Deus não admite o amor a si sem que este amor se torne gestos concretos de caridade.

João é categórico quando fala a respeito disso:

·         “Se alguém possui os bens deste mundo e, vendo seu irmão em necessidade, fecha-lhe o coração, como pode o amor de Deus permanecer nele? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade.” (1Jo 4,17-18).

Para que os homens pudessem entender melhor o novo mandamento do amor, Jesus os prepara com a chamada “regra de ouro”:

·         “Não julguem e vocês não serão julgados. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. [...] Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consiste a Lei e os Profetas.” (Mt 7,1-2.12).

Nisso consiste a Lei e os Profetas, sim, mas Jesus transfere essa regra de ouro aos seus discípulos porque, o verdadeiro amor que se deve dedicar ao próximo seria tratá-lo como gostaríamos de ser tratados, ou seja, nos colocarmos no lugar do próximo quando lhe dedicamos atenção e respeito.

Amar ao próximo como a nós mesmos: fazer pelos outros o que desejaríamos que os outros fizessem por nós e para nós. Essa é a expressão mais completa do amor, da caridade, porque resume e inclui todos os deveres do homem para com o próximo, de um ser humano para outro ser humano, feitos à imagem e semelhança do Criador:

·         “E Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26).

Essa é a regra de ouro a respeito do que devemos fazer aos outros, que foi ensinada a Tobias por seu pai, que lhe disse:

·         “Não faça para ninguém aquilo que você não gosta que façam para você” (Tb 4,15a).

 E isso foi repetida por Jesus centenas de anos mais tarde:

·         “Portanto, façam às pessoas o mesmo que vocês desejam que elas façam a vocês” (Mt 7,12). 

Aquilo que desejamos que os outros façam para nós, façamos para eles também.

Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor procedimento, mais respeito, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os teríamos para com eles?

Jesus, na oração sacerdotal, quando preparava os discípulos para a sua morte de cruz, pede ao Pai, que o amor do Pai por ele, seja o mesmo amor que o Pai destinará aos seus discípulos:

·         “Pai justo, o mundo não te reconheceu, mas eu te reconheci. Estes também reconheceram que tu me enviaste. E eu tornei o teu nome conhecido para eles. E continuarei a torná-lo conhecido para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles.” (Jo 17,25-26).

Meu Deus, agora me apercebo que, aproveitando o ensejo da pergunta do doutor da lei a Jesus sobre qual seria o maior mandamento, só falei do amor ao próximo.

E o primeiro mandamento, como fica? 

O Antigo Testamento e a Lei de Moisés, em particular, são claros, objetivos, precisos e insistentes quanto ao amor que se deve ter com Deus, e afirmam:

·         “Ame a Yahweh seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma com toda a sua força.” (Dt 6,5),

E foi isso que Jesus repetiu ao doutor da lei no que diz respeito ao primeiro mandamento.

Quanto a isso, todas as autoridades religiosas judias, os fariseus, os saduceus, os escribas e os doutores da Lei conheciam.

O que eles não levavam a sério seria que:

·         “o segundo é semelhante a esse: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).

Isso eles não sabiam e, se soubessem, desprezavam.

Com respeito ao amor que devemos a Deus, ouçamos João:

·         “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo para dar-nos a vida por meio dele. E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. [...] Quanto a nós, amemo-nos, porque ele nos amou primeiro.” (1Jo 4,7-19).

Deus nos amou primeiro. Pelo menos por isso, amemos a Deus sobre todas as coisas.

 

sábado, 30 de outubro de 2021

 

PADRE DONIZETTI DE TAMBAÚ

 

Aconteceu, no dia 23 de novembro de 2019, a beatificação do Padre Donizetti Tavares de Lima, de Tambaú..

O milagre reconhecido pela Santa Sé foi alcançado pelo menino Bruno Henrique Arruda de Oliveira, que nasceu em 2006 com uma deformidade conhecida como “pé torto congênito bilateral”, uma anormalidade de difícil tratamento.   Após a oração de sua mãe pedindo a intercessão de padre Donizetti, a criança ficou curada.

 

BREVE BIOGRAFIA

 

Padre Donizetti Tavares de Lima nasceu na cidade de Cássia (MG), filho do advogado Tristão Tavares de Lima e da professora Francisca Cândida Tavares de Lima. Aos quatro anos, mudou-se para a cidade de Franca (SP).

Ingressou no seminário diocesano aos dize anos e, três anos mais tarde, cursou o colégio em Sorocaba (SP), mas depois voltou para o Seminário. Estudou Direito e depois Filosofia e Teologia para se preparar para o sacerdócio.

Recebeu a ordem sacerdotal em 12 de julho de 1908 e foi incardinado na Diocese de Pouso Alegre (MG), onde realizou seu trabalho pastoral na paróquia de São Caetano.

Mais tarde foi para a Diocese de Campinas (SP) e foi vigário da Paróquia Santa Mãe de Deus, em Jaguariúna (SP). Em 1909, foi nomeado pároco de Sant´Ana, em Vargem Grande do Sul, pertencente à Diocese de Ribeirão Preto (SP). Como pároco, destacou-se pelo intenso trabalho pastoral, ensinando o evangelho junto com uma forte dimensão social.

Assim, destacou-se pela defesa dos pobres e dos trabalhadores vítimas da exploração do trabalho. Por essa razão, recebeu uma injusta e falsa acusação de ser simpatizante do comunismo. Pelo contrário, sua missão estava profundamente enraizada no Evangelho e dizia que se inspirava em Nossa Senhora Aparecida para realizar seu trabalho pastoral.

Deste modo, construiu a igreja paroquial e duas capelas dedicadas a Nossa Senhora Aparecida e a São Benedito. Em 1926, foi nomeado pároco de Santo Antônio em Tambaú (SP).

Além disso, outra característica de seu trabalho evangelizador foi o compromisso de ensinar a religião verdadeira, afastada da idolatria e do sincretismo religioso que afetavam a sua comunidade que vivia uma religiosidade popular afastada do Evangelho.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

 

CONVERSANDO COM MARIA, A MÃE DE JESUS.

 

Virgem escolhida por Deus  para ser a mãe de Deus e nossa mãe. A Senhora  que “ouviu a palavra e a pos em prática”, ensina-nos a ouvir a palavra de Deus e a colocá-la em prática, para que o Senhor Nosso Deus, pelas nossas ações, atitudes e gestos, seja adorado e glorificado.

Virgem Mãe, Maria, a Senhora que soube dizer “sim” ao apelo de Deus para que a Senhora também fosse instrumento no plano de salvação do Senhor para todos os homens, ensina-nos a sempre dizer ``sim`` a todo e qualquer chamamento de Deus para transformar o mundo em que vivemos num mundo mais humano, mais justo e mais livre.

Hoje, todos nós que a amamos como verdadeira mãe de Deus e nossa, nos colocamos aos seus pés, e humildemente pedimos pelas nossas necessidades, pelas necessidades de nossas comunidades cristãs, pelos nossos pastores, pelos nossos governantes.

Todos nós que amamos a Senhora como nossa verdadeira mãe na ordem espiritual, mãe que nos foi dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo nos estertores de sua morte no alto do Calvário, nos colocamos aos seus pés e suplicamos pelos nossos doentes, por aqueles irmãos que,  de longa data, se encontram recolhidos em uma cama, em um leito, no hospital, em casa, num asilo.

A Senhora Mãe, que velou pelo seu esposo, José, doente, moribundo, a Senhora que lhe dedicou todo carinho e amor durante a enfermidade do pai adotivo do seu filho e filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, da mesma forma, permaneça na cabeceira de cada filho seu doente, dando-lhes o conforto da sua presença e o alívio de sua palavra.

A Senhora, mãe, que estive do lado do leito de seu esposo José até o seu último suspiro neste vale de lágrimas, até o seu último momento de vida, encomendando a sua alma ao Senhor Todo Poderoso, pedimos que conforte os nossos doentes, os nossos moribundos nos últimos momentos de suas vidas, encomendando-os ao Senhor da Vida com todo o carinho e cuidado para que nenhum se perca. Olhe  pelos nossos doentes, Senhora.

Vele pelos nossos moribundos, Mãe Imaculada, assim como a Senhora olhou por José doente e José moribundo. E depois de passada esta vida, apresente cada filho seu a Jesus Cristo, depois deste desterro, apresente cada filho vosso ao Bendito Fruto do Seu Ventre, o nosso amado e adorado Senhor Jesus Cristo.

Olhe, Senhora e nossa Mãe, por todos os chefes de família, pelos pais que lutam de sol a sol para a sobrevivência  e bem estar de sua família e para que seus filhos tenham vida mais digna e mais honesta.

Olhe, Senhora, por todos os pais, esses heróis anônimos que não medem esforços e sacrifícios para que nada falte na mesa de seus filhos, de sua família, que levantam de madrugada, têm de trabalhar a longas distâncias de suas residências, pegam ônibus e conduções desconfortáveis, alimentam-se mal, suportam exigências e muitas vezes injustiças de seus patrões e companheiros de trabalho, chegam em casa todas as tardes, quase noite cansados e muitas vezes abatidos pela luta do dia, mas que não desanimam, e, no dia seguinte, começam tudo de novo e voltam à luta novamente para que seus filhos, no futuro, possam sofrer menos do que eles sofrem agora para sustentá-los e educá-los.

Olhe, Senhora, por todas as mães. Por essas mulheres que na maternidade são iguais a Senhora, e que num gesto de amor e generosidade dão à  vida a todos os filhos de Deus que nascem, frutos do amor e da entrega total.

A Senhora, que é a Mãe das mães, acompanhe a todas as mães em todos os momentos de suas vidas  e dê a cada mãe desta terra a mesma valentia, a mesma coragem, o mesmo amor, o mesmo desprendimento e a mesma força que a Senhora teve para vencer todos os obstáculos para nos dar Jesus, que é o bendito fruto do vosso ventre Imaculado e Sacrossanto.

Hoje, Senhora, todos nós que a temos por mãe, e que a amamos como verdadeiros filhos seus, nos colocamos aos seus pés, confiantes de que a Senhora está atenta aos nossos pedidos, e acreditamos fielmente que “jamais, em tempo algum, tenha se ouvido dizer que qualquer um que tenha recorrido à sua proteção, e solicitado o seu socorro, tenha sido pela Senhora desamparado.E por isso, à sua proteção recorremos, Santa Mãe de Deus, não desampare as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livra-nos de todos os perígos, ò Virgem Gloriosa e Bendita.”  

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

 

NOSSA SENHORA APARECIDA - A HUMILDADE DE MARIA

 

A história do Brasil parece um imenso andor de Nossa Senhora, andor esse carregado pelo povo simples, humilde e pobre através dos tempos.

Só que o povo não aparece, o povo pobre não faz propaganda de si próprio e nem carrega placas com o seu nome no peito ou estende faixas nas ruas contando as suas vantagens, como fazem os  demagogos e corruptos políticos.           

O povo pobre, simples e humilde faz questão é de ficar escondido atrás do nome de Maria.   O que deve aparecer realmente para o povo pobre e humilde é o nome e a imagem de Nossa Senhora, a nossa Maria,  que é aclamada e invocada por milhares e milhões de vozes que cantam e rezam sem parar a Ave Maria... Carregando o andor de Nossa Senhora, a nossa Maria, o povo carrega pelas ruas a sua esperança de um dia poder chegar lá onde Maria já chegou, isto é, gozar da liberdade total dos filhos de Deus.

A história de Maria é a imagem  da história do povo  humilde; a história do povo pobre e simples se confunde com a história de Maria. A história de Maria é uma história que ainda não terminou; a história de Maria continua até hoje  mas pequenas e grandes histórias do povo.

Maria, moça pobre, simples e humilde de uma cidadezinha do interior da Palestina é saudada até hoje por milhares e milhões de pessoas; o povo todo a invoca e a venera.

Maria mesmo preveniu isso quando disse à sua prima Isabel: “De hoje em diante  todas as nações vão me chamar de bem-aventurada.”  (Lc 1,48).        Todas as nações, todos os povos de todos os tempos e lugares, desde todo o sempre, chamam Maria de bem-aventurada e a veneram como a eleita de Deus, e ainda hoje, como sempre, o povo simples, o povo humilde, o povo pobre continua chamando Maria de bem-aventurada. Maria é do povo, do povo pobre, do povo simples, do povo humilde, mas, além de ser do povo, Maria é também de Deus, totalmente de Deus, e Deus estava, está e sempre estará em Maria, como Maria jamais deixou de estar em Deus.

Ser do povo é ser de Deus, e Maria é do povo, e o povo pobre e humilde é de Maria.

Estes dois pontos marcam a vida de Maria. e é por isso que o povo a venera com entusiasmo, invocando por todo o sempre o seu nome. Para poder ser do povo tem que ser de Deus; para poder ser de Deus, tem que ser do povo. É assim que Deus e o povo desejam: ser de Deus e do povo. São esses os dois grandes retratos  que as Sagradas Escrituras tiraram de Maria e que a Igreja conserva até hoje em seu álbum. Maria soube unir em sua vida o seu amor a Deus e ao povo.

O nosso povo pobre, simples e humilde ama Maria, e Maria se faz presente no sofrido povo brasileiro com o título de Nossa Senhora Aparecida; Nossa Senhora Aparecida  é a nossa Maria, a Maria brasileira, a Maria humilde, pobre e simples do povo pobre, simples e humilde.

A imagem de Nossa Senhora Aparecida é pequena, pequenina mesmo, coberta de um manto azul, manto bonito e ricamente enfeitado.

Presente do povo; isso mesmo, presente do povo, porque o povo gosta de enfeitar e enriquecer  a quem ele ama de verdade, muito embora ele continue pobre, simples e humilde. Mas, o manto azul , bonito e ricamente enfeitado, acabou escondendo grande parte da imagem brasileira de Maria, imagem que, originariamente é pobre, simples, humilde e... preta. Só olhando de perto é que a gente percebe que, no Brasil, Maria é preta.

O manto é bonito, isso é bom; o manto não pode ser jogado fora, mas a gente não pode se esquecer que a imagem de Nossa Senhora Aparecida é preta, pretinha, igual a tantas Marias e Cidas que a gente encontra pelas ruas. Aquilo que aconteceu com a sua imagem, aconteceu com a própria Maria: glorificada pelo povo e pela Igreja como Mãe de Deus, Maria recebeu um manto de glória; presente de fé do povo. Mas o manto de glória acabou escondendo grande parte da semelhança que Maria tem conosco. O manto ricamente enfeitado fez de Maria uma pessoa diferente e a gente quase esquece que Maria foi e ainda é uma moça pobre e simples do povo.

Só olhando de perto é que a gente percebe que na Bíblia Maria  é pobre, simples e humilde, muito semelhante à maioria do nosso povo.

A Bíblia fala muito pouco de Maria mas o pouco que fala é muito importante. É o suficiente para a gente poder conhecer a grandeza de sua simplicidade e a riqueza de sua pobreza.               

(adaptado do livro “Maria, a Mãe de Jesus”, de Carlos Maesters.)

terça-feira, 26 de outubro de 2021

 

COM MARIA, QUANDO ÉRAMOS CRIANÇAS

 

Quando éramos pequenos, quando éramos crianças, quantos de nós aprendemos as primeiras orações no colo de nossas mães ou avós. Íamos ao catecismo, e a catequista, com muito amor, carinho e paciência, repetia conosco as orações do Pai Nosso, da Ave Maria e pegava em nossas mãos de crianças para nos ajudar a aprender e a fazer o Sinal da Cruz. Quando éramos crianças rezávamos e tínhamos a certeza de que o Papai do Céu nos ouvia e nos atendia.

Depois fomos crescendo, crescendo e passamos a achar que éramos auto-suficientes, que não precisaríamos mais de rezar, que poderíamos muito bem viver sem orações e sem Deus, que, afinal de contas, rezar era para crianças e mulheres que tinham que cuidar dos maridos e dos filhos.

Fomos nos tornando pessoas adultas e maduras e começamos  a achar que poderíamos resolver os nossos próprios problemas e passamos a ficar descrentes no poder da oração.

Se fizermos uma retrospectiva na nossa vida, vamos notar que, a partir do momento em que deixamos de rezar, passamos a dar cabeçadas por esse mundo a fora.

Deixando de rezar, começamos a nos afastar de Deus e da sua Igreja e, fazendo isso e olhando para traz, notamos quantas coisas que fizemos e não deveríamos ter feito e que não faríamos se ainda tivéssemos mantido o contato com Deus, ou ainda, quantas coisas que fizemos e que poderíamos tê-las feito melhor.

Muitos de nós tivemos apenas uma iniciação na vida religiosa, na vida cristã, apenas uma iniciação na vida de oração, de conversa amigável e amorosa com Deus, nosso Pai.

Quando éramos crianças o nosso respeito, o nosso amor para com Deus, com sua Igreja, com os irmãos e com os mais velhos estavam sempre presentes em nossas vidas, em nossos atos e pensamentos. Crescemos, começamos a achar que rezar e ir à Igreja era perda de tempo, coisas de crianças e mulheres. Desaprendemos de rezar.

Quando éramos crianças aprendemos a rezar orações decoradas e também orações espontâneas, numa conversa amigável com Deus com as nossas próprias palavras e sentimentos como se estivéssemos conversando com o nosso próprio pai ou mãe, e fazíamos isso com confiança total na bondade e misericórdia de Deus. Quando a criança deixa de ser criança e passa a se julgar adulto, proclama a sua independência de tudo e de todos, inclusive de Deus e se esquece de quem Jesus amava de verdade era das crianças, perde o contato com a família do Pai Nosso.

Ser criança, no Evangelho, não é pertencer a uma determinada faixa etária; ser criança, para Jesus, é um estado de espírito e se não voltarmos a ser crianças e a nos tornarmos crianças, não alcançaremos o Reino do Céu: “Eu lhes garanto: se vocês não se converterem e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu”. (Mt 18,3).

Eram as crianças que Jesus queria perto de si para abraçá-las e abençoar: “Deixem as crianças e não lhes proíbam de vir a mim, porque o Reino do Céu pertence a elas”. (Mt 19,14). O Reino do Céu foi feito para as crianças, não importa a idade que elas tenham: de um a cem anos.

Nós envelhecemos quando queremos, quando deixamos de ser crianças, quando nos julgamos auto-suficientes e não necessitamos de mais ninguém, nem de Deus. Se quisermos, seremos sempre crianças e o Reino do Céu não fugirá de nós, será sempre nosso, das crianças.

Enquanto confiarmos em Deus e colocarmos em suas mãos a nossa vida, os nossos anseios, as nossas realizações, o nosso presente, o nosso futuro, acreditando que Deus só quer o nosso bem, ai somos ou voltamos a ser crianças.

Caso contrário, se passarmos a querer resolver os nossos problemas sozinhos e nos negarmos ao amor do Pai, deixamos de ser crianças e nos afastamos da possibilidade de termos o Reino do Céu. 

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

 

SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET - 1807-1870

 

Fundou as Congregações: Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria "Padres Claretianos" e Irmãs de Ensino Maria Imaculada "Irmãs Claretianas".

O quinto dos onze filhos de Antônio Claret e Josefa Clara nasceu em 23 de dezembro de 1807, no povoado de Sallent, diocese de Vic, Barcelona, Espanha. Foi batizado no dia de Natal e recebeu o nome de Antônio Claret y Clara.

Na família, aprendeu o caminho do seguimento de Cristo, a devoção a Maria e o profundo amor à Eucaristia. Cedo aprendeu a profissão do pai e depois a de tipógrafo. Na adolescência, ouviu o chamado para servir a Deus. Assim, acrescentou o nome de "Maria" ao seu, para dar testemunho de que a ela dedicaria sua vida de religioso.

E foi uma vida extraordinária dedicada ao próximo. Antônio Maria Claret trabalhou com o pai numa fábrica de tecidos e, aos vinte e um anos, depois de ter recusado empregos bem vantajosos, ingressou no Seminário de Vic, pois queria ser monge cartuxo. Mas lá percebeu sua vocação de padre missionário.

Em 1835, recebeu a ordenação sacerdotal e foi nomeado pároco de sua cidade natal. Quatro anos depois, foi para Roma e dirigiu-se à Propaganda Fides, onde se apresentou para ser missionário apostólico. Foram anos de trabalho árduo e totalmente dedicado ao ministério pastoral na Espanha, que muitos frutos trouxeram para a Igreja.

Em 1948, foi enviado para a difícil região das Ilhas Canárias. No entanto ansiava por uma obra mais ampla e assim, em 1849, na companhia de outros cinco jovens sacerdotes, fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, ou Padres Claretianos.

Entretanto, nessa ocasião, a Igreja vivia um momento de grande dificuldade na distante diocese de Cuba, que estava vaga havia quatorze anos.

No mesmo ano, o fundador foi nomeado arcebispo de lá. E mais uma vez pôde constatar que Maria jamais o abandonava. Era uma vítima constante de todo tipo de pressão das lojas maçônicas, que faziam oposição violenta contra o clero, além dos muitos atentados que sofreu contra a sua vida. Incendiaram uma casa que se hospedava, colocaram veneno em sua comida e bebida, assaltaram-no à mão armada e o feriram várias vezes.

Mas monsenhor Claret sempre escapou ileso e continuou seu trabalho, sem nunca recuar. Restaurou o antigo seminário cubano, deu apoio aos negros e índios, escravos Em 1855, junto com madre Antônia Paris, fundou outra congregação religiosa, a das Irmãs de Ensino Maria Imaculada, ou Irmãs Claretianas. Fez visitas pastorais a todas as dioceses, levando nova força e ânimo, para o chamado ao trabalho cada vez mais difícil e cada vez mais necessário.

Quando voltou a Madri em 1857, deixou a Igreja de Cuba mais unida, mais forte e resistente. Voltou à Espanha porque a rainha Isabel II o chamou para ser seu confessor.

Mesmo contrariado, aceitou. Nesse período, sua obra escrita cresceu muito, enriquecida com seus inúmeros sermões. Em 1868, solidário com a soberana, seguiu-a no exílio na França, onde permaneceu ao lado da família real. Contudo não parou seu trabalho de apostolado e de escritor por excelência. Encontrou, ainda, tempo e forças para fundar uma academia para os artistas, que colocou sob a proteção de são Miguel.

Morreu com sessenta e três anos, no dia 24 de outubro de 1870, no Mosteiro de Fontfroide, França, deixando-nos uma importante e numerosa obra escrita.

Beatificado pelo papa Pio XI, que o chamou de "precursor da Ação Católica do mundo moderno", foi canonizado em 1950 por Pio XII.

Santo Antônio Maria Claret é festejando no dia de sua morte.

São comemorados também, nest dia: Bem-aventurado Luiz Guanella, Santo Evergílio, São Marglório, Santo Evergísio de Colônia (bispo e mártir), Santos Félix, Sétimo, Fortunato e Arécio (mártires de Thibiuca), São Martinho de Monte Mássico (monge).

domingo, 24 de outubro de 2021

 

MARIA, A CHEIA DE GRAÇA

 

Todos os dias milhares e milhões de pessoas, a todo momento, fazem suas preces invocando o Santo Nome de Maria, suplicando um favor, agradecendo um pedido recebido pelas mãos maternais de Maria e adorando ao Senhor Nosso Deus por meio de Maria, a Mãe de Jesus, a cheia de graça. Desde as criancinhas, que balbuciam suas primeiras palavras até os anciãos, no crepúsculo da vida recitam todos os dias, com muita fé e devoção, com muito amor e veneração, a oração da Ave Maria.           

Em todos os tempos e lugares, a todo momento, alguém, neste vale de lágrimas, recita uma Ave Maria.  Em quase todas as orações que a nossa santa Igreja recita, orações litúrgicas ou não, lembramos o nome da Santíssima Virgem Maria, a Mãe de Deus e Mãe de todos os homens, e, pelas suas mãos imaculadas, pedimos a Jesus Cristo as graças e favores que necessitamos.        

Desta forma vemos realizada a profecia feita pela própria Maria sobre si mesma e inspirada pelo Espírito Santo quando, no Magnificat, fez a sua oração de agradecimento  por ter recebido de Deus tantas graças, quando disse: “Engrandece a minha alma o Senhor, e rejubila meu espírito em Deus meu Salvador, porque ele olhou a humildade de sua serva. Eis que desde agora  todas as gerações me chamarão bem-aventurada.” (Lc 1, 46-48).       

E todos nós, que amamos verdadeiramente Maria, que reconhecemos nela a verdadeira mãe de Deus, porque Jesus Cristo é Deus e Maria é mãe verdadeira de Jesus Cristo, e, bem por isso, ela é mãe de Deus, e, por conseguinte, a nossa mãe, porque o Senhor Jesus nos deu Maria como mãe nas dores do Calvário, por isso, em todos os lugares e em qualquer circunstância e a qualquer momento temos o dever, a obrigação e a alegria de louvar  a Mãe de Deus através da oração recitada pelo Anjo Gabriel quando da anunciação de Maria e, por Isabel, quando da visitação de Maria à sua prima já idosa que se encontrava grávida de João Batista.

Quem primeiro recitou  a oração da Ave Maria foi o próprio Senhor Nosso Deus. O Anjo Gabriel foi o mensageiro  do Senhor, e o mensageiro, quando dá a sua mensagem, repete na íntegra a notícia ditada pela boca de quem o enviou. Então, por meio do mensageiro, o Anjo Gabriel, foi o próprio Senhor Nosso Deus quem saudou Maria, dizendo: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco” (Lc, 1, 28).           

Depois, Isabel inspirada que foi pelo Divino Espírito Santo, servindo de instrumento nas mãos de Deus, diria: “Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre”. (Lc 1, 42).            Estava composta ai a primeira parte da oração da Ave Maria.          A oração feita por Deus foi recitada pela primeira vez parte pelo Anjo Gabriel e parte por Isabel. E os cristãos, desde o início da nossa Santa Igreja, recitam com muito amor e veneração essa primeira parte da Ave Maria.

E por muito tempo todos os devotos de Maria recitavam apenas essa primeira parte, que é a parte bíblica, até que um dia sentiram a necessidade de fazerem um pedido mais pessoal, uma súplica mais íntima, e o próprio povo, sentindo a necessidade de se colocar mais sob a proteção maternal de Maria, completaram a oração da Ave Maria com a oração da Santa Maria. Finalmente os primeiros cristãos buscando em Maria proteção durante toda a vida como na hora da morte, e inspirados também pelo Espírito Santo, através de um grito de socorro completam a oração da Ave Maria com o “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém”. Estava ai completada a oração da Ave Maria para ser rezada por todos os séculos dos séculos...

A oração da Ave Maria é uma oração ditada pelo próprio Senhor Nosso Deus e, através dessa oração, cumpre-se a afirmativa de Maria, quando disse: “E hoje em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada.”

sábado, 23 de outubro de 2021

 

“SENHOR, EU QUERO VER DE NOVO”. (Mc 10,51).

 

TRIGÉSIMO DOMINGO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; – Leituras: Jr 31,7-9; Sl 125; Hb 5,1-6; Mc 10,46-52.

 

Diácono Milton Restivo

 

A primeira leitura desta liturgia nos traz o profeta Jeremias, um dos profetas chamados maiores, também conhecido como profeta das lágrimas em virtude de seus muitos lamentos sobre as condições miseráveis em que vivia Judá em sua época.

Jeremias foi chamado a exercer o ministério profético ainda bem novo. Jeremias um homem que teve poucos amigos. Deus o chamou para ser uma testemunha à nação e, devido ao seu chamado, sofreu muitas perseguições, vindo a falecer no Egito, como exilado.

O chamamento de Jeremias ao profetismo foi uma chamada especifica e única nas Sagradas Escrituras. Deus se revelou a Jeremias e lhe deu a missão de destruir, arrancar o que estava prejudicando o relacionamento do povo de Israel com Yahweh e plantar, no lugar, a justiça divina (Jr 1,10). Jeremias assusta-se com esse chamamento e retruca dizendo que não sabe falar:

·         “Ah, Senhor Yahweh, eu não sei falar por que sou jovem.” (Jr 1,6). E Deus mesmo lhe diz: “Não tenha medo: senão eu é que farei você ter medo deles”. (Jr 1,17). “Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações”. (Jr 1,5).

A missão de Jeremias foi marcada por medo e crise da sedução. Jeremias foi um profeta medroso. Se o seu nascimento foi marcado pela alegria por parte de seu pai por lhe ter nascido um filho, Jeremias amaldiçoou o dia de seu nascimento e o mensageiro que levou ao seu pai a noticia de sua natividade e ainda, quando já crescido, amaldiçoou o dia do seu nascimento:

·         “Maldito o dia em que nasci. Que jamais seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz! Maldito o homem que levou a notícia ao meu pai, dizendo: ‘Nasceu um filho homem para você! ’, enchendo-o de alegria. Que essa pessoa sofra igual às cidades que Yahweh destruiu sem compaixão; ouça gritos pela manhã e rumores de guerra ao meio dia. Porque não me fez morrer no ventre materno? Minha mãe teria sido a minha sepultura, e seu ventre estaria grávido para sempre! Por que sai do ventre materno? Só para ver tormentos e dores, e terminar meus dias na vergonha?” (Jr 20,14-18).

Jeremias demonstra claramente que não queria ter nascido e a sua mãe levou a culpa:

·         “Minha mãe teria sido minha sepultura” (Jr 20,17).

·         “Ai de mim, minha mãe, porque me puseste no mundo!”. (Jr 15,10).

O medo e a incerteza fazem parte da vocação de muitos profetas. Muitos profetas apelam para o não saber falar e o não saber se comunicar, fatores essenciais na missão e na vida profética.

Há algo interessante na tradição bíblica: quase sempre o vocacionado coloca obstáculo e resiste ao chamamento de Deus:

ü Moisés diz que é gago e tem dificuldade em se comunicar e Deus coloca Aarão ao seu lado (Ex. 4,10ss);

ü Isaias diz ser um pecador e ter os lábios impuros, e um anjo toca os seus lábios com uma brasa para purificá-lo (Is 6,1-11);

ü Jeremias diz que é apenas uma criança, e Yahweh responde: "não diga que você é uma criança, você irá para aqueles que eu mandar falar e falará em meu nome” (Jr 1,4-8);

ü Jonas, com medo, foge ao chamamento divino, mas Deus o faz entender sua vocação fazendo com que ele passe por uma situação inimaginável: ser engolido por um peixe e depois o salva para que cumprisse sua missão a qual fora vocacionado. (Jn 1,3ss; 2,1ss);

ü Deus escolheu Davi sabendo que ele cometeria adultério (Sm 11);

ü Maria diz: "eu não conheço homem" e o anjo responde: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,34.37).

ü Deus escolheu Pedro sabendo que ele o negaria (Jo 18,15ss);

ü Deus escolheu Judas sabendo que ele cometeria traição (Jo 13,21ss);

ü Então, entenda: suas fraquezas não escandalizam Deus. Ele sabe do barro que você foi feito. Ele escolheu você sabendo quem você é, que você é falho e sabendo das suas limitações.

Deus não aceita recusa, Deus recusa este argumento.

Por fim, Jeremias se rende seduzido por Deus:

·         “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7).

Estas palavras proferidas por Jeremias demonstram como ele compreendeu o mistério da vocação em sua vida. Deus mudou a vida de Jeremias e o habilitou a ser profeta:

·         “Então Yahweh estendeu a mão, tocou em minha boca e me disse: ‘Veja: estou colocando minhas palavras em sua boca. Hoje eu estabeleço você sobre as nações e reinos, para arrancar e arrasar, para demolir e destruir, para construir e plantar”. (Jr 1,9-10).

A leitura de Jeremias, desta liturgia, faz parte do Livro da Consolação de Jeremias, a partir do capítulo 30, onde começa a restauração de Israel prometida por Yahweh:

·         “Neste dia – oráculo de Yahweh dos exércitos -, eu quebrarei a canga que está no pescoço de vocês e arrebentarei as correntes que os prendem, e vocês não serão mais escravos de estrangeiros. Servirão a Yahweh, o seu Deus, e também a Davi, o rei que farei surgir para eles. [...] Vocês serão o meu povo e eu serei o Deus de vocês”. (Jr 30,8-9.22). 

E, nessa euforia de libertação, o profeta enumera os que serão salvos da escravidão estrangeira:

·         “No meio deles estarão o cego e o aleijado, a mulher grávida junto com aquela que deu à luz, todos juntos: é uma grande assembléia de retorno”. (Jr 31,8).

Isso indo de encontro ao que já profetizara Isaias e fora repetido por Jesus na sinagoga de Nazaré:

·         “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. (Is 61,1-2; Lc 4,18-19).

O Evangelho desta liturgia coloca-nos no fim da caminhada de Jesus, desde a Cesaréia de Felipe até a sua morte e ressurreição em Jerusalém.

Marcos encerra o bloco da caminhada com o último milagre que ele relata de Jesus: a cura do cego Bartimeu. Jesus tinha passado para o outro lado do Jordão:

·         “Jesus partiu dai e foi para o território da Judéia, do outro lado do rio Jordão”. (Mc 10,1).

Agora chegou a Jericó.

Parece que Jesus está com pressa: ele e os seus discípulos chegaram a Jericó e logo saíram.

Jericó é uma das mais antigas cidades do mundo. Quando os israelitas, depois da saída do Egito e a caminho da Terra Prometida, invadiram Canaã, Jericó, que se situava na principal estrada que ligava o este ao oeste, foi o último obstáculo para a invasão da Palestina Ocidental.

Uma vez que foi a primeira cidade a ser conquistada na Terra Prometida, Josué declarou que os seus tesouros seriam dedicados a Deus como oferta (Js 6,17-19). Jericó foi a cidade natal de Zaqueu, de cuja hospitalidade Jesus desfrutou e teve uma longa conversa, conforme registrado em Lucas 19,1-10. Agora Jericó muda o seu sentido: para os israelitas foi o último obstáculo a ser vencido para entrar na Terra Prometida; para Jesus é a entrada na terra de opressão onde ele vai sofrer a morte. Foi na saída de Jericó que Jesus curou um cego, conforme Mateus 20,29-34, Marcos 10,46-52 e Lucas 18,35-43. Mateus fala de dois cegos, enquanto Lucas e Marcos citam apenas um, e apenas Marcos o identifica como Bartimeu. Como vimos, no Antigo Testamento, Jericó era a última cidade antes de o povo israelita tomar posse da Terra Prometida. No Novo Testamento Jericó é a última cidade antes de Jesus chegar a Jerusalém para ali consumar o plano de salvação do Pai e se transformar no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, conforme dissera João Batista ao apontar Jesus para os seus discípulos (cf Jo 1,29).

Parece que Jesus tem pressa para caminhar até Jerusalém. Ao sair da cidade de Jericó, está o cego Bartimeu sentado à beira do caminho. Está sentado imóvel, junto ao caminho, o lugar onde cai a mensagem (a semente, cf Mt 13,4) e não dá fruto, porque Satanás a arrebata:

·         “Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a ouvem chega Satanás e tira a Palavra que foi semeada neles.” (Mc 4,15).

Jesus está a caminho com os seus discípulos; o cego está sentado à beira do caminho. O cego é chamado de Bartimeu. Um homem que nem nome próprio tem. Não sabemos o nome do cego. Marcos não o diz. Sabemos apenas o nome de seu pai: “Timeu”. “Bar” ou “ben” na língua do povo no tempo de Jesus era “filho” e Bartimeu quer dizer: “filho de Timeu”, como vemos um caso idêntico em Mateus 16,17 e João 1,42:

·         “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas (bar Jonas)”.

Nesta passagem Jesus declina o nome de Simão e cita o nome de seu pai.

Marcos, no entanto, não cita o nome do cego, apenas diz que ele é filho de Timeu. Então era um ninguém, um marginalizado cujo nome próprio era desconhecido. Um ninguém jamais visto e considerado como portador de idéias e sentimentos próprios, de sua própria visão, de convicções e sonhos, um marginalizado social, política e religiosamente. Um nada, enfim.  Alguém que dependia em tudo dos outros e rejeitado pela sua família, pela sua sociedade, pela sua religião. É o que podemos supor das poucas informações que temos da história desse homem. Bar-Timeu, um sem-nome, um nada, pés sem rumo, mãos vazias, olhos que não vêem, um mendigo da misericórdia alheia. Aparentemente um eterno condenado a passar pela vida apenas como um objeto da compaixão dos homens. Logo que Bartimeu ouve que é Jesus que passa, grita fortemente:

·         "Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!" (Mc 10,47).

Era cego e diante da impossibilidade de enxergar e ir por sua livre iniciativa até o Nazareno, começou a gritar, demonstrando humildade e fé na certeza de que Jesus poderia fazer alguma coisa por ele: “tem piedade de mim!"

Gritou tanto a ponto de incomodar a multidão que rodeava Jesus. Mandaram que se calasse.

É o grito do oprimido que a sociedade dominante sempre quer abafar. 

O cego não levou em consideração a reprimenda dos que o mandavam calar-se. É a força da oração. Apenas uma oração com fé pode ser ouvida por Deus:

·         "Tudo o que vocês pedirem na oração, acreditem que já o receberam, e assim será”. (Mc 11,24).

Aquecida pela humildade e pela fé, a oração torna-se frutífera e fecunda. Jesus disse que se deve rezar sempre e não desanimar, e para isso:

·         “Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca desistir”. (Lc 18,1ss).

O cego Bartimeu, mesmo sem conhecer, seguiu à risca esse ensinamento de Jesus, e alcançou o que buscava:

·         “Peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta”. (Mt 7,7-8). 

E Jesus ouviu os clamores do cego Bartimeu.

E Deus ouve o clamor dos oprimidos, marginalizados, injustiçados, desprezados pela sociedade, pela religião, pelas autoridades. Jesus é a síntese da vocação profética do Antigo Testamento, e ele mostra que veio

·         para evangelizar os pobres; proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor”. (Is 61,1-2; Lc 4,18-19).

Bartimeu deixa aqui um grande exemplo: pedir com fé e humildade que Jesus atende. É necessário acreditar e aproximar-se com simplicidade e confiança.

Bartimeu ensina também a fórmula infalível de oração, dizendo:

·         “Senhor, tende piedade de mim!”

Uma oração simples, mas carregada de fé. Jesus se sensibiliza com os apelos do cego, parou e determinou que lhe o trouxessem. E assim o fizeram aqueles que, a principio, quiseram não permitir que ele chegasse até Jesus. Mas, que ironia: os mesmos que o mandaram o cego calar a boca, agora têm que convidá-lo para falar com Jesus. Antes de ir ao encontro de Jesus Bartimeu largou o manto, a única coisa que possuía, para se chegar a Jesus, como o fizeram os primeiros discípulos André e Pedro chamados por Jesus que:

·         “imediatamente deixaram as redes e seguiram a Jesus”, e João e Tiago que “deixaram o seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo a Jesus.” (cf Mc 1,16-20).

Com o gesto de deixar o manto o evangelista indica que o cego, agora discípulo, cumpre as condições de seguimento a Jesus: renuncia à ambição de poder:

·         “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo” (cf Mt 16,24; Mc 8,34; Lc 9,23).

E aceita a recriminação da sociedade: “tome a sua cruz e me siga”, disposto, no caso extremo, a dar a vida:

·         pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perde a vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la.” (Mc 8,34-35).

Bartimeu aprende que não é possível seguir a Jesus sem deixar algo, sem arriscar a segurança humana para experimentar a mão de Deus:

·         “O cego largou o manto, deu um pulo e foi até Jesus.” (Mc 10,50).

Jesus deve tê-lo contemplado com amor e carinho, mas antes de qualquer atitude, quer provar a fé do cego; quer saber se realmente o cego acredita que Jesus pode curá-lo e mais, que ele mesmo queira ser curado:

·         “Então Jesus lhe perguntou: ‘O que você quer que eu faça por você? ’ O cego respondeu: ‘Mestre, eu quero ver de novo’. (Mc 10,51).

O cego já não chama mais Jesus de “Filho de Davi”, mas de “Senhor”, título que se dava ao próprio Deus, reconhecendo assim em Jesus o Homem Deus, o Messias, o Filho de Deus (cf Mc 1,1). Esta narrativa mostra-nos que o homem não era um cego de nascimento, pois ele queria ver de novo: até certa época de sua vida ele tinha tido visão. Quantos foram educados na religião, professaram a religião por um tempo, contemplaram as maravilhas de Deus em suas vidas e, a partir de um determinado tempo perderam o contato com Deus, perderam a visão que os identificavam com a imagem e semelhança de Deus e, de repente, se viram cegos na fé e da fé; passaram a não enxergar mais nada e Deus passou a ser uma voz que se ouve e passa ao longe, mas que não podem ver o seu vulto, a sua face, a sua misericórdia. E quando se voltam para Deus, ouvem a mesma pergunta que Jesus fez ao cego e, para serem curados, há a necessidade de responderem como o cego fez:

·         “Mestre, eu quero ver de novo”. (Mc 10,51).

Jesus respeita a liberdade do cego e pergunta "o que quer que faça por você?”. Jesus não obriga ninguém a se libertar porque há os que prefiram ficar sentados à beira do caminho, na sua comodidade e não opte pela libertação. Mas Bartimeu quer ver de novo. 

·         “Jesus disse: ‘Pode ir, a sua fé curou você’.”

Curado, Bartimeu recebe licença para ir, para seguir a sua vida. Mas ele faz outra opção:

·         “No mesmo instante o cego começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho.” (Mc 10,52).

Bartimeu já não ficou imóvel “junto ao caminho”, mas se pos em movimento “pelo caminho” nas pegadas de Jesus. Ir ao encontro de Jesus, como fez Bartimeu, implica despojar de tudo quanto prende, dando passos concretos e saber realmente o que se quer dele:

·         ‘Mestre, eu quero ver de novo’. (Mc 10,51).

A fé, a humildade, a sinceridade e a transparência dão significado aos pedidos. Reconhecer a cegueira é reconhecer o pecado. Por isso, deve-se também dizer a verdade:

·         “Mestre, que eu veja!”

E é isso que precisa acontecer: ver, enxergar a miséria e reconhecer que Jesus pode curar. Só a sua misericórdia pode tirar todos da mesmice da vida. Mas, se se está no meio daqueles que estão seguindo a Jesus e se se conservar perto dele, que se possa também dizer a todos que estão presos e sentados à beira do caminho para poderem enxergar as maravilhas do Senhor:

“Coragem, levante-se, porque Jesus está chamando você.” (Mc 10,49).