sábado, 31 de julho de 2021

 

SANTO INÁCIO DE LOYOLA - 1491-1566

 

Fundou a ordem da Companhia de Jesus "Padres Jesuítas" da qual o papa Francisco pertence.

Iñigo Lopez de Loyola, este era o seu nome de batismo, nasceu numa família cristã, nobre e muito rica, na cidade de Azpeitia, da província basca de Guipuzcoa, na Espanha, no ano de 1491.

O mais novo de treze filhos, foi educado, com todo cuidado, para tornar-se um perfeito fidalgo. Cresceu apreciando os luxos da corte, praticando esportes, principalmente os eqüestres, seus preferidos. Em 1506, a família Lopez de Loyola estava a serviço de João Velásquez de Cuellar, tesoureiro do reino de Castela, do qual era aparentada.

No ano seguinte, Iñigo tornou-se pagem e cortesão no castelo desse senhor. Lá, aprimorou sua cultura, fez-se um exímio cavaleiro e tomou gosto pelas aventuras militares. Era um homem que valorizava mais o orgulho do que a luxúria. Dez anos depois, em 1517, optou pela carreira militar.

Por isso foi prestar serviços a um outro parente, não menos importante, o duque de Najera e vice-rei de Navarra, o qual defendeu em várias batalhas, militares e diplomáticas.

Mas, em 20 de maio de 1521, uma bala de canhão mudou sua vida. Ferido por ela na tíbia da perna esquerda, durante a defesa da cidade de Pamplona, ficou um longo tempo em convalescença. Nesse meio tempo, meio por acaso, trocou a leitura dos romances de infantaria e guerra, por livros sobre a vida dos santos e a Paixão de Cristo. E assim foi tocado pela graça.

Incentivado por uma de suas irmãs, que cuidava dele, não voltou mais aos livros que antes adorava, passando a ler somente livros religiosos. Já curado, trocou a vida de militar por uma vida de dedicação a Deus. Foi, então, à capela do santuário de Nossa Senhora de Montserrat, pendurou sua espada no altar e deu as costas ao mundo da corte e das pompas. Durante um ano, de 1522 a 1523, viveu retirado numa caverna em Manresa, como eremita e mendigo, o tempo todo em penitência, na solidão e passando as mais duras necessidades.

Lá, durante esse período, preparou a base do seu livro mais importante: "Exercícios espirituais". E sua vida mudou tanto que do campo de batalhas passou a transitar no campo das idéias, indo estudar filosofia e teologia em Paris e Veneza. Em Paris, em 15 de agosto de 1534, juntaram-se a ele mais seis companheiros, e fundaram a Companhia de Jesus.

Entre eles estava Francisco Xavier, que se tornou um dos maiores missionários da Ordem e também santo da Igreja. Mas todos só se ordenaram sacerdotes em 1537, quando concluíram os estudos, ocasião em que Iñigo tomou o nome de Inácio.

 Três anos depois, o papa Paulo III aprovou a nova Ordem e Inácio de Loyola foi escolhido para o cargo de superior-geral. Ele preparou e enviou os missionários jesuítas ao mundo todo, para fixarem o cristianismo, especialmente aos nativos pagãos das terras do novo continente.

Entretanto, desde que esteve no cargo de geral da Ordem, Inácio nunca gozou de boa saúde. Muito debilitado, morreu no dia 31 de julho de 1556, em Roma, na Itália. A sua contribuição para a Igreja e para a humanidade foi a sua visão do catolicismo, que veio de sua incessante busca interior e que resultou em definições e obras cada vez mais atuais e presentes nos nossos dias.

Foi canonizado pelo papa Gregório XV em 1622. A sua festa é celebrada, na data de sua morte, nos quatro cantos do planeta onde os jesuítas atuam. Santo Inácio de Loyola foi declarado Padroeiro de Todos os Retiros Espirituais pelo papa Pio XI em 1922.

São lembrados também neste dia: São Fábio de Mauritânia (mártir), São Demócrito, São Calimério de Milão (bispo e mártir), Santos Demócrito, Segundo e Dionísio (mártires), São Firmo de Tagaste (bispo).

sexta-feira, 30 de julho de 2021

 

 “CALA-TE  E  SAIA  DELE.” (Mc 1,25).

 

            “Entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali  ele (Jesus) ensinava. estavam espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como alguém que tem autoridade e não como os escribas. Na ocasião estava na sinagoga deles um homem  possuído de um espírito impuro, que gritava dizendo: “Que queres e nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus.” Jesus, porém, o conjurou severamente: “Cala-te e sai dele.” Então o espírito impuro, sacudindo-o violentamente e soltando grande grito, deixou-o. Todos então se admiraram, perguntando uns aos outros: “Que é isso? Um novo ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles lhe obedecem!” Imediatamente a sua fama se espalhou   em todo o lugar, em toda a redondeza da Galiléia. E logo ao sair da sinagoga, foi à casa de Simão e de André com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e eles imediatamente o mencionaram a Jesus. Aproximando-se, ele a tomou pela mão e a fez levantar-se. A febre a deixou e ela se pôs a servi-los.” (Mc 1,21-31).

Jesus Cristo veio para libertar o homem de todos os males, tanto dos maus espíritos como das doenças; veio para libertar o homem de toda e qualquer escravidão do mundo e deixá-lo livre, para livre caminhar para o reino dos céus. Jesus estava ensinando em uma sinagoga, local onde os judeus oravam e meditavam a palavra de Deus; um homem tomado por um espírito imundo passou a importunar e desafiar a autoridade de Jesus, e, sem sobra de dúvida, sabia quem era Jesus e qual era a sua missão: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei que tu és: o Santo de Deus.” (Marcos, 1, 24). 

Antes que o demônio que estava naquele homem entrasse em detalhes sobre quem era realmente Jesus, de onde ele viera e qual seria a sua missão, Jesus lhe chama a atenção, e lhe determina que se retire: “Cala-te e sai dele.” (Mc 1,25).

Ao sair da sinagoga, Jesus se dirigiu, com Tiago e João, à casa de Simão e André.

E lá ele observa a sogra de Simão acamada, doente, com febre, e, “Aproximando-se, ele a tomou pela mão e a fez levantar-se. A febre a deixou e ela se pôs a servi-los.” (Mc 1,31). E, “Ao entardecer, quando o sol se pôs, trouxeram-lhe todos os que estavam enfermos e endemoniados. E a cidade inteira aglomerou-se à porta. E ele curou muitos doentes de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios. Não consentia, porém, que os demônios falassem, pois eles sabiam quem era ele.” (Mc 1,32-34).

Ai está, em síntese, a missão do Senhor Jesus: liberar o homem, deixar o homem livre dos espíritos malignos, das inclinações do pecado que pretendem manipular as mais puras intenções; libertar das doenças do corpo e da alma.

É o Senhor Jesus  quem liberta o homem, todos os dias, dos demônios dos vícios, do sexo, do tóxico, do desemprego, do desamor, da fome de Deus. Jesus Cristo liberta o homem todo, de corpo e alma; liberta-o do pecado e do mal físico porque o sofrimento, a doença e a fome também estão na lista dos pecados, isto é, das coisas que o Senhor Deus não quer para os seus filhos.       

Quem está com fome não é livre. Quem está doente não é livre. Quem não tem onde morar não é livre. Quem não tem instrução não é livre, como não é livre quem se deixa dominar pelo pecado. Em todos esses casos o homem está sendo possuído por algo que lhe tira a liberdade e a sua autonomia; que lhe mata a alegria de viver e a vontade de trabalhar e progredir; que lhe rouba o amor e a esperança...

São esses os espíritos imundos dos nossos tempos. A ignorância do homem o escraviza, não permite que ele seja livre. Ignorante que o homem é das coisas de Deus, ele desconhece que Jesus é o Caminho que o Senhor envia e pede que todos o sigam se quiserem deixar de ser escravos, dos vícios, do pecado, da opressão do próprio homem.

O homem se esquece ou ignora que Jesus é o irmão supremo e tem plenos poderes para o libertar; ignora essa força divina e infinita que o Senhor envia na pessoa de Jesus Cristo e se encolhe com medo das provações, com medo dos que não respeitam os direitos dos irmãos, com medo dos que exploram o povo de Deus, com medo dos que violentam os direitos dos que não tem voz e nem vez. Jesus Cristo é o Libertador. Jesus Cristo não é só o libertador da alma: é também o libertador do  corpo, porque todos os cristãos filhos de Deus são um composto de corpo e alma, matéria e espírito, e o Senhor Nosso Deus se preocupa com o homem como um todo, e não em partes.

O homem desconhece Jesus Cristo como Libertador, e quando lhe vem a provação, quando é oprimido pelos grandes, quando lhe vem o desemprego e a doença, quando é atacado pela fome, ao invés de se apegar ao seu Libertador que pode tudo, porque ele é o Senhor da vida, o Filho Unigênito de Deus e, por conseguinte, Deus, o homem recorre às baixarias da macumba, às ignorâncias das crendices populares, aos engodos do espiritismo para resolver os seus problemas.     Jesus Cristo é o nosso irmão, e somente ele recebeu das mãos do Pai plenos poderes para nos libertar de tudo o que nos oprime e nos afasta de Deus.          Jesus Cristo tem poderes de nos libertar da opressão e do pecado.

Jesus Cristo tem autoridade para mandar calar os poderes opressores dos demônios, das doenças e dos homens e somente ele pode libertar  o homem da opressão e do pecado para que sejamos plenamente livres.

E como o Senhor Jesus disse para o espírito imundo que estava naquele homem na sinagoga : “Cala-te e sai dele.” (Marcos, 1,25), todos nós, cristãos, devemos falar a tudo aquilo que escraviza e oprime o homem nos nossos dias: “Sai desse homem e deixe ele ter a liberdade dos filhos de Deus.” Todos temos o direito de sermos livres como Jesus Cristo nos quer livres; livres do demônio, da fome, da doença, do desemprego, do desamor que faz com que o homem se volte contra seu irmão e, por conseqüência, se afasta do Reino de Deus...

quinta-feira, 29 de julho de 2021

 

SANTA MARTA, IRMÃ DE LÁZARO E MARIA

 

Marta é irmã de Maria e de Lázaro de Betânia. Marta nasceu em uma pequena aldeia chamada Betânia cercado de vinhedos e de abundantes palmeiras quase recostadas no ponto mais alto do memorável Horto das Oliveiras.

Marta era uma menina de natureza humilde, bondosa, pura e simples. Sofreu muito com a morte de sua mãe e depois com o falecimento do pai; pois antes de morrer ele disse a seus filhos amai-vos como bons amigos e olhando para Maria disse: a modéstia, a pureza e a honradez quando se entrelaçam são coroa na testa de uma moça.

Marta ouvindo pela primeira vez Jesus, declarou-se sua discípula, crescendo assim nela a virtude da caridade aos doentes e aos pobres. Toda vez que Jesus ia a Jerusalém se hospedava na casa de Marta,

Maria e Lázaro porque eles ofereciam uma sincera amizade, acolhida e hospitalidade. Entre eles existia uma grande amizade, o que ocasionou uma forte perseguição por serem seguidores de Jesus e de sua doutrina. No evangelho aparece em apenas três episódios (Lc 10, 38-42; Jo 11, 1-44; Jo 12, 1-11). É uma mulher dinâmica, que acolhe desveladamente Jesus. Maria, também aparece apenas três vezes em cena, nos evangelhos, (Lc 10; Jo 11; Mt 26).

É a mulher atenta e contemplativa, que dá mais atenção ao Senhor do que às “coisas do Senhor”. De Lázaro sabemos apenas o que dele se diz no evangelho de João (11, 1-14; 12, 1-2). Os três são amigos e hospedeiros do Senhor.

As Escrituras contam que, em seus poucos momentos de descanso ou lazer, Jesus procurava a casa de amigos em Betânia, local muito agradável há apenas três quilômetros de Jerusalém. Lá moravam Marta, Lázaro e Maria, três irmãos provavelmente filhos de Simão, o leproso. Há poucas mas importantíssimas citações de Marta nas Sagradas Escrituras.

É narrado, por exemplo, o primeiro momento em que Jesus pisou em sua casa. Por isso existe a dúvida de que Simão fosse mesmo o pai deles, pois a casa é citada como se fosse de Marta, a mais velha dos irmãos. Mas ali chegando, Jesus conversava com eles e Maria estava aos pés do Senhor, ouvindo sua pregação. Marta, trabalhadora e responsável, reclamou da posição da irmã, que nada fazia, apenas ouvindo o Mestre.

Jesus aproveita, então, para ensinar que os valores espirituais são mais importantes do que os materiais, apoiando Maria em sua ocupação de ouvir e aprender.

Fala-se dela também quando da ressurreição de Lázaro. É ela quem mais fala com Jesus nesse acontecimento. Marta disse a Jesus: "Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido. Mas mesmo agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus dará".

Trata-se de mais uma passagem importante da Bíblia, pois do evento tira-se um momento em que Jesus chora: "O pranto de Maria provoca o choro de Jesus". E o milagre de reviver Lázaro, já morto e sepultado, solicitado com tamanha simplicidade por Marta, que exemplifica a plena fé na onipotência do Senhor.

Outra passagem é a ceia de Betânia, com a presença de Lázaro ressuscitado, uma prévia da última ceia, pois ali Marta serve a mesa e Maria lava os pés de Jesus, gesto que ele imitaria em seu último encontro coletivo com os doze apóstolos.

Sofreram os tormentos e as amarguras da paixão e morte de Jesus, seu mestre. Eles foram desterrados numa pequena embarcação, aonde chegaram a França começando ali sua evangelização. Muitos se converteram ao cristianismo.

Depois de algum tempo Marta funda um mosteiro, onde ela com algumas jovens vivem uma vida de contemplação e recolhimento. Aos 65 anos Marta morre atacada por uma grande febre.

Os primeiros a dedicarem uma festa litúrgica a santa Marta foram os frades franciscanos, em 1262, e o dia escolhido foi 29 de julho. Ela se difundiu e o povo cristão passou a celebrar santa Marta como a padroeira dos anfitriões, dos hospedeiros, dos cozinheiros, dos nutricionistas e dietistas.

São comemorados também este dia: Santo Olavo, Santa Beatriz de Roma, Santa Beatriz de Valfleury (virgem), São Bério (mártir de Constantinopla), São Calínico de Paflagônia (mártir), São Félix II (papa).

quarta-feira, 28 de julho de 2021

 

MARIA, ESTRELA DA MANHÃ

 

Na Ladainha que rezamos a Nossa Senhora, a Igreja lhe dá o belo título de Estrela da manhã. Maria é aquela estrela que brilha muito, muito, e permanece a noite toda brilhando, e pela manhã o seu brilho ainda é mais intenso, e só desaparece quando nasce o sol. João, o Evangelista, o filho que Maria gerou nas dores da cruz, no seu livro do Apocalipse, nos diz que Jesus é a Estrela brilhante da manhã, e, realmente, da maneira que Jesus é o sol, a estrela que brilha todas as manhãs e que ilumina o nosso dia, Maria é a estrela matutina, aquela estrela que aparece assim que o sol se põe no horizonte, e passa a noite toda refletindo para o mundo a luz do sol.

Jesus, como Deus, tem luz própria; Maria reflete a luz de Jesus e não nos deixa na escuridão da noite, servindo-se como estrela guia.    

Jesus é o nosso sol de fulgurante beleza; Maria é a nossa estrela que nos reflete a luz do solo. Deviam dizer de Jesus, como dizemos ainda em nossos dias: - “ele é o retrato da mãe”. Assim como Jesus, fisicamente, parecia com sua mãe, também Maria se parecia e se parece com Jesus no plano espiritual.

E como Maria quer que nós, seus filhos, nos pareçamos também com o seu filho Jesus. O profeta Daniel diz que luziremos “como estrelas com um perpétuo resplendor”, e isso seremos, com certeza, se nos esforçarmos para sermos discípulos do filho de Maria, porque, se assim formos seremos “introduzidos nos caminhos da justiça.” (Dan 12, 3).

Mas, os caminhos que nos propusermos seguir, seguindo as pegadas de Jesus, o filho de Maria, serão caminhos difíceis, como foram os caminhos de Jesus e Maria. Então, quando o dia escurece, a noite é escura, e o mar  se encrespa, São Bernardo nos orienta para olhar a Estrela e invocar Maria. São Bernardo nos diz que devemos chamar por Maria quando os ventos das tentações se levantam, quando as tribulações, as ondas do orgulho, da ambição e da inveja, da cólera, das seduções da carne ameaçam de naufrágio a barquinha de nossa existência. São Bernardo nos aconselha para invocarmos Maria na tristeza e no desespero. Sim, Maria é a Estrela do Mar; é a estrela pela qual se guiam os navegantes e que indica o nosso norte, que só pode ser Jesus.    Que brilho intenso e que fogo maravilhoso o Espírito Santo pôs em Maria por ser ela a Mãe do Filho de Deus.           

No entanto, o caminho de Maria nem sempre foi luz; houve escuridão, como também acontece conosco, mas, acima de tudo, o caminho de Maria foi um caminho de fé.

Houve o canto dos Anjos quando do nascimento de Jesus na gruta de Belém, mas isso passou como um relâmpago.

Houve a estrela dos magos que também passou como um meteoro. Mas, Maria nada perdeu, “e guardava tudo isso  e meditava-o em seu coração.” (Lc 2, 16).

No caminho de Maria houve momento de sombra, de sombra, sim, mas  nunca de dúvidas. Ficaram também no coração de Maria os lampejos de divindade que, de vez em quando, deviam transparecer nos olhos e nas palavras de Jesus. Jesus era a Estrela de Maria. Jesus foi a Estrela de Maria, e Maria é a nossa estrela, e devemos seguir os conselhos de São Bernardo que nos incentiva a termos os olhos voltados para esse estrela, e sempre invocarmos Maria nas nossas necessidades.

Maria é a estrela que ilumina, com a luz de Jesus Cristo, os  obscuros caminhos da nossa existência.

Quando o mundo estava mergulhado nas trevas, o Criador nos deu a luz para o mundo. Quando os magos procuravam encontrar o Menino Jesus que acabara de nascer, o Senhor coloca nos céus uma estrela  para os guiar até onde estava Jesus Menino no colo de sua mãe. Assim aconteceu com os magos, assim aconteceu com os pastores. 

Maria  é a estrela que nos conduz a todos até onde está Jesus. Como sois bela, Maria. Como vos amamos. Como agradecemos aos Senhor Nosso Deus por nos ter dado uma mãe tão pura, tão bela, tão santa.

E, neste momento de Maria, todos nós que estamos aqui, falando e ouvindo das maravilhas que o Senhor Nosso Deus fez em vós, queremos renovar o nosso amor por vós, que sois a nossa estrela guia, a estrela que nos leva até Jesus, a estrela, que mais do que nos levar até onde está Jesus, nos deu Jesus, a luz do mundo.

terça-feira, 27 de julho de 2021

 

 “BEM-AVENTURADOS OS QUE SOFREM PERSEGUIÇÃO...” (M, 5,10).

 

            A responsabilidade dos que aderem totalmente a Jesus Cristo é muito grande.

A responsabilidade do cristão autêntico pesa-lhe nos ombros porque, por onde quer que ele viva, esteja ou ande, existem sempre centenas de olhos a observar as suas ações e atitudes e a verificar se, o que ele faz, está em conformidade com aquilo que ele fala e prega.

Somente com a sua presença, o cristão autêntico incomoda os que não agem direito; somente a presença do cristão verdadeiro incomoda os que não andam de acordo com o modo de agir e pensar do Senhor Jesus, pois com age de maneira pecaminosa e dúbia não pode se sentir bem na presença de quem irradia luz e verdade, a exemplo do Mestre.

O cristão consciente reprova as transgressões que os ímpios fazem contra a lei, a normas de boa conduta e o respeito aos irmãos, e, a voz do cristão, é sempre uma condenação e acusação contra a imoralidade reinante na sociedade e em todos os lugares onde os maus se fazem presentes; e é por isso que o cristão autêntico está sendo sempre observados por aqueles que não observam as leis do Senhor, porque os maus não toleram os bons que, com o seu modo de vida de conformidade com os ensinamentos do Mestre, condenam o modo de vida e de procedimento dos maus.

A responsabilidade dos cristãos autênticos e fieis aos ensinamentos, aos mandamentos e às leis do Senhor, promulgadas através das Sagradas Escrituras e ratificadas pelo Divino Mestre, é muito grande, porque o mundo e os maus estão sempre observando os seus atos, e os maus fazem festas quando o cristão comete falhas, caem, porque assim os maus se sentem mais aliviados e dirão que os cristãos, seguidores do Mestre, não são coerentes com o que falam e pregam.

Isso não é coisa nova: centenas de anos antes do nascimento de Jesus Cristo, as Sagradas Escrituras já alertavam os fieis a se cuidarem, colocando estas palavras na boca dos maus: “Armemos, pois, laços ao justo, porque nos é molesto, é contrário às nossas obras, lança-nos em rosto as transgressões da lei, desonram-nos, publicando as faltas do nosso procedimento. Afirma que tem a ciência de Deus, e chama-se a si filho de Deus. Censura os nossos pensamentos. Só o vê-lo nos é insuportável; porque a sua vida não é semelhante  à dos outros, e o seu proceder é muito diferente. Considera-nos como pessoas  vãs, abstém-se do nosso modo de viver como duma coisa imunda, prefere o fim dos justos, gloria-se de que tem a Deus por pai. Vejamos, pois, se os seus discursos são verdadeiros, experimentemos o que lhe sucederá, e veremos que será o seu fim... ...Condenemo-lo à morte mais infame, e ver-se-á o resultado das suas palavras” (Sb 2,12-17 e 20).            O profeta Jeremias sentiu na carne o problema da perseguição dos ímpios aos fieis às leis do Senhor, quando escreveu: “Eu era como um manso cordeiro, que é levado a ser vítima. Não soube  que eles formaram desígnios contra mim, dizendo: “Ponhamos lenho no seu pão, exterminemo-lo da terra dos vivos, não haja mais memória do seu nome.” (Jr 11,19), e ainda mais: “Todos os homens que viviam em paz comigo e que estavam ao meu lado, diziam: “Vejamos se comete alguma falha, e prevaleçamos contra ele e vinguemo-nos dele.” (Jr 20,10).

O rei e profeta Davi, assim se pronunciou em um de seus salmos: “Porque ouvi as injúrias de muitos, no meio dos quais eu estava. Quando deliberavam conta mim, resolveram tirar-me a vida”. (Sl 31 (30),14). E a vida e o destino de Jesus, foi diferente? Os que se julgavam serem donos da verdade não se conformaram com o modo de vida e os ensinamentos do Divino Mestre e, “Então se reuniram  os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo no átrio do sumo pontífice, que se chamava Caifás, e tiveram conselho acerca dos meios de prenderem a Jesus por astúcia, e de o matarem.. Mas diziam eles: ‘Não no dia da festa, não suceda levantar-se algum tumulto entre o povo’”.  (Mt 26,3-5).

Preocupado com a perseguição que sofreriam os seus seguidores como ele mesmo foi o tempo todo perseguido, Jesus prevenia: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurado sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós.” (Mt 5, 10,11), e, Pedro Apóstolo, assimilando com perfeição esse ensinamento do Mestre, escreve aos fieis: “Bem-aventurados sois, se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. Mas ninguém dentre vós queira sofrer como assassino ou ladrão, ou malfeitor ou como delator, mas se sofre como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus por esse nome. (1a. carta de Pedro, 4,14-16), e complementa: “Assim, aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus, confiam as suas almas ao fiel Criador, dedicando-se à pratica do bem. (1a. carta de Pedro, 4, 19).       

A vida do Senhor Jesus, no que diz respeito a sua mansidão, a sua coerência de vida, aos insultos, perseguições e sofrimentos por que passou, o modo de morte que morreu, e a maneira como venceu os maus através de sua ressurreição, dá incentivo ao cristão de compreender e aceitar as incompreensões e perseguições que sofre pelos maus; a vida do cristão autêntico, que segue de perto as pegadas do Divino Mestre, é de muita responsabilidade, porque o objetivo dos maus não é se tornarem bons para deixarem de ser maus, mas é fazer com que os bons se tornem, como eles, maus, para que ninguém mais possa condenar as suas atitudes e transgressões, as suas omissões, imoralidades e injustiças.

A responsabilidade do cristão autêntico é muito grande...


segunda-feira, 26 de julho de 2021

 

DIA DOS AVÓS - SANT'ANA E SÃO JOAQUIM - AVÓS DE JESUS CRISTO

 

Ana e seu marido Joaquim já estavam com idade avançada e ainda não tinham filhos.

O que, para os judeus de sua época, era quase um desgosto e uma vergonha também.

Os motivos são óbvios, pois os judeus esperavam a chegada do messias, como previam as sagradas profecias.

Assim, toda esposa judia esperava que dela nascesse o Salvador e, para tanto, ela tinha de dispor das condições para servir de veículo aos desígnios de Deus, se assim ele o desejasse.

Por isso a esterilidade causava sofrimento e vergonha e é nessa situação constrangedora que vamos encontrar o casal. Mas Ana e Joaquim não desistiram. Rezaram por muito e muito tempo até que, quando já estavam quase perdendo a esperança, Ana engravidou.

Não se sabe muito sobre a vida deles, pois passaram a ser citados a partir do século II, mas pelos escritos apócrifos, que não são citados na Bíblia, porque se entende que não foram inspirados por Deus. E eles apenas revelam o nome dos pais da Virgem Maria, que seria a Mãe do Messias.

No Evangelho, Jesus disse: "Dos frutos conhecereis a planta". Assim, não foram precisos outros elementos para descrever-lhes a santidade, senão pelo exemplo de santidade da filha Maria.

Afinal, Deus não escolheria filhos sem princípios ou dignidade para fazer deles o instrumento de sua ação.

Maria, ao nascer no dia 8 de setembro de um ano desconhecido, não só tirou dos ombros dos pais o peso de uma vida estéril, mas ainda recompensou-os pela fé, ao ser escolhida para, no futuro, ser a Mãe do Filho de Deus.

A princípio, apenas santa Ana era comemorada e, mesmo assim, em dias diferentes no Ocidente e no Oriente. Em 25 de julho pelos gregos e no dia seguinte pelos latinos.

A partir de 1584, também são Joaquim passou a ser cultuado, no dia 20 de março.

Só em 1913 a Igreja determinou que os avós de Jesus Cristo deviam ser celebrados juntos, no dia 26 de julho.

São comemorados também, neste dia: Bem-aventurado Tito Brandesma, São Pastor, Santa Bartolomea Capitanio (virgem, fundadora), São Benigno de Malcesine (eremita), São Caro de Malcesine (eremita).

domingo, 25 de julho de 2021

 

MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

“E TODOS FICARAM SATISFEITOS”. (Jo 6,12).

 

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 144 (145); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15.

 

Diácono Milton Restivo

 

Na liturgia deste domingo  começamos a ler e meditar o capítulo 6 do Evangelho segundo João, que se estenderá na liturgia dos próximos dois domingos, onde o evangelista aborda um fato de grande importância e significação na vida pública de Jesus: o milagre da multiplicação dos pães.

Esse milagre que Jesus fez é o único que todos os quatro evangelistas são unânimes em narrar. Marcos e Mateus transmitem até duas versões do mesmo fato (Mt 14,13-21; 15,32-39; Mc 6,30-44; 8,1-10).

A diferença entre João e os demais evangelhos, os sinóticos, porém, está em que João não apenas narra o episódio em si, mas reflete longamente sobre o seu significado, exatamente a sua transparência. É por isso que, se João dedica quinze versículos à narração do fato, estende-se por mais cinquenta versículos discutindo, refletindo e aprofundando o “sinal”.

O capítulo 6 de João, na sua totalidade, traz dois sinais ou milagres: a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15) e a caminhada de Jesus sobre as águas (Jo 6,16-21). Em seguida, traz o longo diálogo sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-71) que versa sobre a Eucaristia.

João não narra a instituição da Eucaristia na última ceia de Jesus com os seus discípulos, como o fazem Mateus (26,26-29), Marcos (14,22-24) e Lucas (22,19-20) que, por ter sido discípulo de Paulo, segue a instituição paulina contida em 1Cor 11,23-26.

João situa o fato perto da festa de Páscoa (Jo 6,4).

O enfoque central é o confronto entre a antiga Páscoa do Êxodo e a nova Páscoa do Cordeiro de Deus, que se realiza em Jesus. O diálogo sobre o pão da vida vai esclarecer a nova Páscoa que se concretiza em Jesus.

Em sua narrativa João faz questão de deixar clara a popularidade que Jesus já gozava no meio do povo que o seguiam onde quer que fosse, não importando as necessidades que o povo passaria por isso, conforme narra Marcos:

·         “Eles não tinham tempo de comer, ou descanso” (Mc 6,31).

O capítulo 6 de João começa com os dizeres: “Depois disso”. Depois disso, o quê?

No capítulo 5 de João existem fatos que nada dizem respeito às narrativas do capítulo 6, mas não podemos negar que, pelas forças das circunstâncias, eles as originaram.

Pegando as narrativas dos quatro evangelhos dos acontecimentos que antecederam este fato, podemos saber o que foram essas coisas que ocorreram logo antes da multiplicação dos pães.

Vemos então, três acontecimentos importantes, que antecederam esse evento.

Primeiro, Jesus, pela primeira vez, mandou seus discípulos pregarem o Evangelho às pessoas, e eles ficaram entusiasmados com a sua tarefa (Lc 9,1-17; Mt 10,1-16; Mc 6,7-13).

Segundo, João Batista fora executado à espada por Herodes (Mc 6,17-29; Lc 3,19-20; Mt 14,3-12).

E, terceiro, Herodes ouviu falar de Jesus, e do que ele estava fazendo e dizendo, e ficou impressionado ao ponto de pensar que Jesus seria João Batista ressuscitado (Mc 6,14-15; Mt 14,1-2; Lc 9,7-9).  Jesus inteirou-se das reações de Herodes, de que Herodes havia matado João Batista e, por precaução, saiu do lugar onde estava:

·         “Depois destas coisas, atravessou Jesus o mar da Galiléia” (Jo 6,1; Mc 6,32; Lc 9,10). 

Ou seja, Jesus estava na região de Cafarnaum, que era de domínio de Herodes e, fugindo da ira sanguinária de Herodes, deslocou-se de barco para Betsaida.

Com isso Jesus afasta-se da tendência agressiva e criminosa e sanguinária de Herodes, porque se sentiu como “cordeiro entre lobos” (cf Lc 10,3), transmitindo por atitudes o que já havia ensinado por palavras:

·         “sejam prudentes como as serpentes e mansos como as pombas” (Mt 10,16).

Jesus, para fugir da perseguição, violência e opressão de Herodes, atravessa o mar da Galiléia. Isso nos traz à memória a travessia do mar Vermelho feita por Moisés e o povo israelita para fugir da violência e opressão do faraó e da escravidão do Egito.

O povo israelita, na fuga do Egito, era uma grande multidão e, Jesus

·         “Levantando os olhos viu uma grande multidão que a ele acorria...” (Jo 6,5).

Lucas nos diz que a multidão percebeu que o barco havia atracado em Betsaida, e chegou lá antes de Jesus, para isso, percorreu uma distância de oito quilômetros para ir onde estava Jesus.

Quando Jesus subiu naquele barco e atravessou para o lado de Betsaida, com certeza, buscava um tempo de privacidade e descanso.

Mas aquele povo não tinha limites. Aqueles cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, vão correndo pela margem do lago para se encontrar com Jesus.

Jesus já havia feito milagres, já havia ensinado a eles, mas eles estavam ali ao seu encalço. 

A Palavra de Deus nos diz que Jesus olha para a multidão e a vê como “ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).  Jesus enxerga aquele povo como um rebanho de ovelhas carente e necessitado.

Ao chegar a Betsaida e ao ver a multidão, Jesus poderia ter ido mais além, ou voltado para onde estava anteriormente. Mas, pela sua bondade e misericórdia, resolveu parar ali e abordar aquele grupo. Isso porque viu, na multidão que está à sua volta, um grupo de ovelhas sem pastor.

No Antigo Testamento, na travessia do deserto rumo à Terra Prometida, o povo israelita estava faminto e reclamava para Moisés:

·         “Quem nos dará carne para comer?” (Nm 11,4).

E Moisés faz uma súplica emocionante para Iahweh:

“Onde acharei carne para dar a todo esse povo, visto que me importuna com as suas lágrimas, dizendo: ‘Dá-nos carne para comer?’.” (Nm 11,13). 

·         “E Jesus levantando os olhos viu uma grande multidão”. (Jo 6,5).

Posteriormente ficamos sabendo que se tratava de cinco mil homens, claro, do sexo masculino. Os outros evangelistas dizem que eram cinco mil homens, e mais mulheres e crianças:

·         “Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.” (Mt 14,21).

Somando essa numerosa multidão teríamos pelo menos dez mil pessoas entre homens, mulheres e crianças. Todos querendo ver e tocar Jesus.

Quando Jesus se viu diante daquelas pessoas, percebeu que era uma ótima situação para passar o ensino, a Palavra e os conceitos de Deus a elas.

Esse é também um privilégio do cristão, como fala Paulo em Romanos 10,14-17:

·         “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão se não houver quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?”

Como também está escrito em Isaias:

·         “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que apregoa a vitória, que diz a Sião: ‘Já reina o teu Deus”. (Is 52,7).

No entanto, nem todos os judeus aceitaram as boas novas que foram anunciadas, primeiramente, a eles, pois Isaías diz:

·         “Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?”. (Is 53,1; Jo 12,38).

Ao ver aquela situação, Jesus viu que a multidão não tinha alimento e estava faminta, e dirige-se a Felipe, dizendo:

·         “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” (Jo 6,5).

Jesus, claro, sabia que atitude deveria tomar naquelas circunstâncias, mas não perde a oportunidade de testar os seus discípulos numa emergência como essa.

Filipe pensou exclusivamente com sua mente e critérios humanos:

·         “Vão ser necessários duzentos denários, para alimentar dez mil pessoas”.

Felipe não pensou nada mais, além disso. Aliás, qualquer um faria facilmente essa conta.

A única variante na mente de Filipe é a variante que reina no mundo: somente se resolve os problemas à custa do dinheiro.

O texto não diz nada sobre André possuir fé ou não. André simplesmente constata que havia um rapaz com dois peixes e cinco pães de cevada, o pão mais simples da época, naquela região. Cinco pães de cevada e dois peixes eram o sustento diário do pobre.

O menino colabora em sanar a fome da multidão entregando o seu sustento!

Era o pão do povo. Aquela região era até conhecida por ser produtora de trigo, mas os pobres comiam pão de cevada. Era um pão pequeno, assado em uma grelha, ou em pedras quentes.

O rapaz também tinha dois peixinhos. Tratava-se de um peixe pequeno, salgado, que era misturado com o pão, e lhe dava algum tipo de sabor. Porém, André mesmo reconhece que não tem recursos necessários, em apenas cinco pães e dois peixinhos.

André, ao ver a quantidade de pessoas e ter diante de si o menino com somente cinco pães e dois peixes, pensa, também como pensam os que acreditam somente nos bens materiais, e diz:

·         “Mas o que é isso para tanta gente?” (Jo 6,9).

Jesus deve ter amargamente sorrido da descrença de seus discípulos e de seus apegos às coisas materiais e;

·         "Jesus tomou os pães e, depois de ter dado graças, distribuiu-os aos presentes, assim como os peixes, tanto quanto queriam!" (Jo 6,11).

Com esta frase João evoca o gesto da Última Ceia conforme vemos na Primeira Carta aos Corintios, 11,23-24:

·         “Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é meu corpo que é dado para vocês; façam isso em memória de mim”. (1Cor 11,23-24).

A Eucaristia, quando celebrada como deve ser, levará as pessoas à partilha como levou o menino a entregar seu sustento para ser partilhado.

O interessante é que, enquanto em Mateus 14,17 Jesus determina que os próprios apóstolos distribuam o pão:

·         “Dai-lhes vós mesmos de comer”, em João é o próprio Jesus que começa a repartir aqueles pães e peixes: “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam” (Jo 6,11).

Mas à medida que as pessoas pegam, o pão se multiplica.

Não falta alimento, e João confirma:

·         “Eles comeram o quanto queriam”, (Jo 6,11).

E acrescenta:

·         “eles estavam fartos”. (Jo 6,12).

Comeram o que quiseram e ainda sobraram doze cestos de pães.

O número doze, no Antigo Testamento, evoca a totalidade do povo israelita com suas doze tribos e, no Novo Testamento o número dos doze Apóstolos, colunas mestras da Igreja que começa a se delinear. João não informa se sobrou algo dos peixes.

O que interessa a ele é evocar o pão como símbolo da Eucarística.

O evangelho de João não tem a descrição da Ceia Eucarística, mas descreve a multiplicação dos pães como símbolo do que deve acontecer nas comunidades através da celebração da Ceia Eucarística. E sobraram doze cestos de pães.

Se, por um lado, Jesus veio para que tenhamos vida em abundância:

·         “Eu vim para que vocês tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Por outro lado ele quer deixar claro que seria bom notar que também é um Deus econômico.

Nos versículos 12 e 13 disse Jesus:

·         “Recolham os pedaços que sobraram para que nada se perca”.

Que nada seja desperdiçado. Então os apóstolos os ajuntaram e encheram doze cestos com os pedaços de cinco pães de cevada deixados por aqueles que tinham comido.

Naquela cultura havia o pensamento de que o desperdício de alimento era uma afronta a quem o dava, ou seja, a Deus. Também consideravam uma afronta ao pobre.

Jesus, da mesma forma, manda que recolham o que sobrou, ensinando com isso: “Eu tenho multiplicado, sou capaz de dar em abundância, mas não tratem com pouco caso a bênção, a expressão de poder que eu tenho. Guardem o excedente”;

·         “Recolham os pedaços que sobraram, para que nada se perca”. (Jo 6,12).

Jesus, movido pela sua bondade, supre-os, naquela situação de crise, a ponto de sobrar.  Mas,

·         “vendo o sinal que Jesus tinha realizado aqueles homens exclamavam: ‘Este é verdadeiramente o profeta, aquele que deve vir ao mundo”. (Jo 6,14). 

E queriam fazê-lo rei.

A mensagem do profeta estava em Deuteronômio:

·         “Yahweh teu Deus suscitará um profeta como eu no meio de ti, dentre os teus irmãos, e vós o ouvireis.” [...] “Vou suscitar para eles um profeta como tu, do meio dos seus irmãos. Colocarei as minhas palavras em sua boca e ele lhes comunicará tudo o que eu lhes ordenar.” (Dt 18,15-19).

Eles esperavam esse profeta que seria semelhante a Moisés.

Uma das características do profeta Moisés se mostra quando o povo estava sob seus cuidados no deserto, Deus manda pão dos céus, o maná:

·         “Eis que vou fazer chover para vocês pão do céu” [...] Isso é o pão que Yahweh lhes deu para comer”. (Ex 16,4.15).

O maná era recolhido diariamente para suprir a alimentação deles. Agora Jesus está multiplicando pão e dando a eles numa época bem perto da Páscoa, festa que se relacionava também com Moisés, e os homens lembram: “Como Moisés nos trouxe pão, Ele também nos trouxe”, ou seja, “Ele é como Moisés”.

Mas vejam o que faz Jesus:

·         “Jesus, sabendo que pretendiam vir a proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte”. (Jo 6,15).

Jesus viu que aqueles homens tinham percebido, pelo menos por interesse, que ele era o profeta, e que eles poderiam fazer dele o rei, porque, com certeza não passariam mais fome, pois ele tinha o poder de multiplicar alimento e saciar a fome do povo.

Também, talvez, eles estivessem imaginando que poderiam se libertar do domínio de Roma, embora não sofressem tanto debaixo desse domínio quanto Jerusalém, mas também tinham seu nível de sujeição.

Vendo, portanto, que Jesus tinha poder, podia curar as doenças (não precisariam mais de médicos) e dar comida (não precisariam mais trabalhar), e queriam fazer de Jesus algo que ele mesmo não desejava, naquele momento. Jesus recusou e fugiu dali quando o povo quis fazer dele aquilo para o qual ele não viera, ou seja, ser um rei de um reino deste mundo.

No Evangelho do próximo domingo, que será a continuação do que meditamos hoje, Jesus dirá:

·         “Eu sou o pão da vida”. (Jo 6,24-35).

 E, no domingo subsequente ele afirmará:

·         “Eu sou o pão que desceu do céu”. (Jo 6,41).

sábado, 24 de julho de 2021

 

SANTA CRISTINA - SÉCULO III


          A arqueologia não serve apenas para descobrir os dinossauros enterrados pelo mundo.

Ela também pode confirmar a existência dos santos mártires que marcaram sua trajetória na história pela fé em Deus. Foi o que aconteceu com santa Cristina, que teve sua tradição comprovada somente no século XIX, com as descobertas científicas desses pesquisadores.

Segundo os mosaicos descobertos na igreja de Santo Apolinário, em Ravena, construída no século VI, Cristina era realmente uma das virgens cristãs mártires das antigas perseguições. E portanto, já naquele século, venerada como santa, como se pôde observar pela descoberta de sua sepultura, que também possibilitou o aparecimento de um cemitério subterrâneo, que estava oculto ao lado.

A arte também compareceu para corroborar seu testemunho através dos tempos.

O martírio da jovem virgem Cristina foi representado pelas mãos de famosos pintores, como João Della Robbias, Lucas Signorelli, Paulo Veronese e Lucas Cranach, entre outros. Além dos textos escritos em latim e grego que relatam seu suplício e morte, que só discordam quanto à cidade de sua origem.

Os registros gregos mostram como sua terra natal Tiro, enquanto os latinos citam Bolsena, na Toscana, Itália. Esses relatos do antigo povo cristão contam que o pai de Cristina, Urbano, era pagão e um oficial do Império Romano, que, ao saber da conversão da filha, queria obrigá-la a renunciar ao cristianismo. Por isso decidiu trancar a filha numa torre na companhia de doze servas pagãs.

Para mostrar que não abdicava da fé em Cristo, Cristina despedaçou as estátuas dos deuses pagãos existentes na torre e jogou, janela abaixo, as jóias que as adornavam, para que os pobres pudessem pegá-las. Quando tomou conhecimento do feito, Urbano mandou chicoteá-la e prendê-la num cárcere.

Nem assim conseguiu a rendição da filha, por isso a entregou aos juízes. Cristina foi torturada terrivelmente e depois jogada numa cela, onde três anjos celestes limparam e curaram suas feridas.

Como solução final, o governante pagão mandou que lhe amarrassem uma pedra ao pescoço e a jogassem num lago. Novamente, anjos intervieram: sustentaram a pedra, que ficou boiando na superfície da água, e levaram a jovem até a margem do lago. As torturas continuaram, mesmo depois de seu pai ser castigado por Deus e morrer de forma terrível.

Cristina ainda foi novamente flagelada, depois amarrada a uma grade de ferro quente e colocada numa fornalha superaquecida, mordida por cobras venenosas e teve os seios cortados, antes de, finalmente, ser morta com duas lanças transpassando seu corpo virgem.

Assim o seu martírio foi divulgado pelo povo cristão desde 23 de julho de 287, data de sua morte.

A festa de Santa Cristina foi confirmada e mantida pela Igreja neste dia.

São comemorados também neste dia: Santa Cristina de Bolsena (virgem e mártir), Santa Cristina de Tiro (virgem e mártir), Santa Cristiana de Termonte (virgem), São Sarbélio Makhluf, Santo Ursino, Santa Niceta, Santa Luiza de Sabóia, Santo Aliprando de Ciel d’Oro (abade).

sexta-feira, 23 de julho de 2021

 

SANTA BRÍGIDA (BRIGITE) - 1303-1373

 

Fundou a Ordem do Santo Salvador.

Brígida, ou Brigite, nasceu princesa, em 1303, no castelo de Finstad, na Suécia. Descendia de uma casa real muito pia, que forneceu à Igreja muitos santos e que se dedicava a construir mosteiros, igrejas e hospitais com a própria fortuna.

Além de manter muitas obras de caridade para a população pobre, Brígida, desde a infância, tinha o dom das revelações divinas, todas anotadas por ela no seu idioma sueco. Depois, as descrições foram traduzidas para o latim e somaram oito grandes volumes, que ainda hoje são fonte de consulta para historiadores, teólogos e fiéis cristãos.

Aos dezoito anos, ela se casou com o nobre chamado Ulf Gudmarsson, um homem cristão e muito piedoso. O casal teve oito filhos, dentre os quais a filha venerada como santa Catarina da Suécia. Era com rigor que eles cuidavam da educação religiosa e acadêmica dos filhos, sempre no caminho para a santificação em Cristo. Durante um longo período, Brígida foi dama de companhia da rainha Bianca, de Namur, por isso freqüentava sempre as cortes luxuosas.

Mas não se corrompeu neste ambiente de riquezas frívolas, ao contrário, manteve-se fiel aos ensinamentos cristãos, perseverando seu espírito na dignidade e na caridade da fé.

Após a morte de um dos seus filhos, o casal resolveu fazer uma peregrinação ao santuário de Santiago de Compostela, na Espanha. No retorno, Ulf caiu gravemente enfermo, e nessa ocasião Brígida, em sonho, teve uma revelação de são Dionísio, que lhe disse que o marido não morreria.

De fato ele ficou curado, mas logo em seguida ingressou no mosteiro de Alvastra, onde vivia um dos seus filhos, e lá morreu, em 1344.

Viúva, Brígida decidiu retirar-se definitivamente para a vida monástica, para realizar um velho projeto, a fundação de um mosteiro duplo, de homens e mulheres, que deu origem à Ordem do Santo Salvador, sob as Regras de são Agostinho, passando, então, a viver nele. Quando obteve aprovação canônica, a fundadora transferiu-se para Roma. Ali viveu por vinte e quatro anos, trabalhando pela reforma dos costumes e a volta do papa de Avignon. Com o apoio do rei da Suécia, construiu e instaurou setenta e oito mosteiros por toda a Europa.

Ela morreu em 23 de julho de 1373, durante uma romaria à Terra Santa. Desde então, a Ordem fundada por ela passou a ser dirigida por sua filha, Catarina da Suécia, alcançando notoriedade pelos anos futuros.

Canonizada em 1391, apenas dezoito anos após sua morte, santa Brígida já tinha um culto muito vigoroso em todo o mundo cristão da Europa, sendo celebrada no dia de sua morte. O local onde residia em Roma foi transformado em um belíssima igreja dedicada a ela, na praça Farnese.

São comemorados também, neste dia: Santo Apolinário de Ravena (bispo e mártir), Santa Rômula, Santa Erondina, Santa Ana de Constantinopla (virgem, eremita), Santos Apolônio e Eugênio (mártires), São João Cassiano (abade).

quinta-feira, 22 de julho de 2021

 

SANTA MARIA MADALENA – DISCÍPULA DE JESUS

 

O que os Evangelhos falam sobre Maria Madalena:

Os Evangelhos apresentam Maria Madalena como:

ü  - Discípula de Jesus (Lc. 8,1-3)

ü  - A mulher de quem Jesus expulsou sete demônios (Mc. 16,9; Lc. 8,2);

ü  - Uma das mulheres que ajudaram Jesus e seus discípulos enquanto estes pregavam o evangelho (Lc 8,1-3)

ü  - Uma das muitas outras mulheres que seguiram Jesus desde a Galiléia quando ele foi para Jerusalém no final do seu ministério e foi testemunha da sua crucifixão (Mc. 15,40-41; Mt. 27,55-56; Lc. 23,49; Jo 19,25)

ü  - Ela e outras mulheres seguiram de longe os acontecimentos quando Jesus foi levado para ser crucificado, (Mt 27,55-56; Mc 15,40-41; Jo 13,25)

ü  - Quando Jesus foi sepultado, foi uma das mulheres que observou o lugar onde o corpo foi posto (Mc 15,45-47; Mt 27,61)

ü  - Ela e outras mulheres foram ao túmulo no primeiro dia da semana para embalsamar o corpo de Jesus (Mc 16,1-2; Mt 28,1)

ü  - Levou perfumes para ungir o corpo do Senhor no sepulcro (Mt. 28,1; Mc. 16,1-2; Lc. 24,1; Jo 20,1); - Foi uma das primeiras a receber a notícia da ressurreição quando um anjo falou às mulheres perto do túmulo aberto, portanto, testemunha da sua ressurreição (Mc. 16,1 - 8; Mt 28,1 - 10; Lc. 24,1 - 10; Jo. 20,1; 20,11 - 8)

ü  - Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver Jesus depois da ressurreição (Mt 28:8-10; Mc 16,9; Jo 20:13-18)

ü  - Anunciou a boa notícia da ressurreição aos discípulos (Lc 24,9-10) - Foi enviada aos Onze com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17 - 18). Maria Madalena é citada dezoito vezes nos Evangelhos, além de ser a mulher mais citada pelo próprio nome. 

Além disso, ela aparece sempre realizando funções muito importantes para as origens do Cristianismo. Chama a atenção o fato de Maria Madalena ser citada, entre as mulheres em primeiro lugar em todos estes textos.  A única exceção é Jo 19,25, onde a mãe de Jesus aparece em primeiro lugar.

A citação de Maria Madalena em primeiro lugar parece indicar sua liderança no grupo das discípulas de Jesus.

 

O que os Evangelhos não falam sobre Maria Madalena:

Não diz que Maria Madalena era a pecadora citada em Lucas 7,36-50.

ü  - Não diz que era a mesma Maria, irmã de Marta e Lázaro. - Não sugere nenhum tipo de relacionamento especial ou íntimo entre Jesus e Maria. Sempre fala de Maria junto com outras mulheres.

ü  - Depois da ascensão de Jesus, a Bíblia nunca mais menciona o nome de Maria Madalena.

 

Quem é Maria Madalena:

Maria Madalena pode-se dizer, era de origem judaica, mas não foi definida como outras mulheres dos Evangelhos Canônicos, ou seja, pela família, mas por sua cidade de origem.

O fato que intriga, e que talvez tenha gerado ao longo desses dois milênios de cristianismo tantas hipóteses e construções fantasiosas sobre Maria Madalena, é que ela não aparece como filha, esposa ou irmã de nenhum homem.

Essa independência feminina em uma sociedade dominada por homens tem intrigado muitos pesquisadores. Todas as Marias que aparecem nos Evangelhos são reconhecidas por suas famílias: Maria mãe de Jesus; Maria de Cléofas; Maria irmã de Marta e de Lázaro.

 

E Maria de Magdala?

Madalena não é sobrenome, provinha de el-Mejdel, que era uma cidade a noroeste do lago da Galiléia, seis quilômetros ao norte de Tiberíades, lugar onde Madalena pode ter nascido ou residia.

É no Evangelho de Lucas que Maria Madalena aparece como a mulher que seguia Jesus e de quem são expulsos sete espíritos malignos (Lc 8,2).

Há um aspecto interessante nessa passagem, pois não é um demônio, nem uma legião de demônios que são expulsos, porém sete: “Sete é o número da salvação e do que é divino”. São também sete os pecados capitais: gula, luxúria, ira, orgulho, vaidade, preguiça e inveja.

Se fizermos uma associação dos sete demônios expulsos por Jesus de Maria Madalena e dos sete pecados capitais, pode-se dizer que o que houve foi uma total libertação dessa mulher; aconteceu sua salvação integral, uma Metanoia [1], não apenas uma conversão.

Pecado e possessão demoníaca eram coisas diferentes. Naquela época, a possessão demoníaca era entendida essencialmente como uma enfermidade, não acentuava os aspectos morais, não era considerada como um pecado.

Em uma interpretação mais literal, pode-se dizer que aconteceu, naquele momento da expulsão dos sete demônios, não um simples arrependimento dos pecados, mas a imersão em uma vida autêntica e redimida; Maria Madalena emergiu de uma vida de escravidão para uma libertação.

Mas por que se associa Maria Madalena sempre a uma pecadora arrependida e não a uma mulher que foi reconciliada? Pois a Maria Madalena histórica, aquela que está nos quatro Evangelhos Canônicos, é testemunha do sacrifício, morte e Ressurreição de Jesus; mulher que seguiu como discípula e serviu a Jesus de Nazaré.

Há exegetas que fazem essa associação, Maria Madalena/pecadora arrependida, porque há um relato anterior ao episódio da expulsão dos demônios (Lc 8,2), em que uma pecadora anônima unge os pés de Jesus na casa de Simão, o fariseu, e é perdoada por Jesus (Lc 7,37-50).

A proximidade desses fatos favoreceu a associação das duas mulheres, ou seja, Maria Madalena e a pecadora anônima, que não tem nada haver entre si.

Como há, no Evangelho de João, a unção de Betânia, e nele é Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que unge Jesus (Jo 12,1-8), as três mulheres se tornaram apenas uma: Maria Madalena.

Em suma, é essa Madalena que muitos historiadores denominam mulher híbrida, a saber: Maria, irmã de Marta e de Lázaro (Jo 12,1-8); - a pecadora anônima que ungiu Jesus na casa de Simão, o fariseu (Lc 7,37-50) e a mulher adútera apresentada a Jesus pelos anciãos e por ele perdoada (Jo 8,1-11) e Maria Madalena, de quem Jesus expulsou sete demônios (Lc 8,2).

A confusão da identidade das três mulheres remonta ao Século III, e foi no final do Século VI que o Papa Gregório Magno (540-604) pôs fim à questão ao declarar que Maria Madalena, Maria de Betânia (Jo 12,1-8) e a pecadora anônima eram a mesma pessoa.

Apesar de muitos séculos terem se passado e a visão de Madalena ter mudado para a Igreja, essa declaração de Gregório Magno ainda suscita discussões.

De acordo com os relatos dos Evangelhos, nada há contra a moral de Maria Madalena, pois estar possuído por sete demônios não era considerado pecado.

Ao se fazer uma leitura atenta dos fatos, não se chega à conclusão de que Maria Madalena tenha sido uma mulher adúltera.

O que acontece é que, ao ser identificada com a pecadora anônima de Lucas e com Maria de Betânia, incorpora a mulher de cabelos longos e soltos que serviram para secar os pés de Jesus. Essa imagem evoca a feminilidade e também a sexualidade, que induz a uma associação com o pecado.

Hoje a Igreja reconhece em Maria Madalena a mulher de quem Jesus expulsou sete demônios; a que seguiu e serviu Jesus nas pregações; a que acompanhou a Paixão e a morte de Jesus e como a primeira testemunha da Ressurreição.

O que os evangelhos nos trazem sobre Maria Madalena é que seguia Jesus. Estava presente na crucificação e foi testemunha, de acordo com o evangelho de João, da ressurreição, sendo a primeira com a missão de proclamar a boa noticia.

Maria Madalena foi à portadora do anúncio que Cristo havia ressuscitado.

Normalmente, repito, as mulheres nos evangelhos são lembradas como mãe, mulher e filha de alguém, um costume da sociedade patriarcal. Porém, Maria Madalena aparece sem pertencer a nenhum homem. Pelos evangelhos não é possível descrever sua vida familiar.

Não podendo descrevê-la como uma mulher jovem ou solteira, viúva ou repudiada, ou se ela preferiu ficar solteira como algumas mulheres influenciadas pelo helenismo, optando pela liberdade.

Maria Madalena devia possuir alguma riqueza. Após ser curada por Jesus, tornou-se sua discípula fiel e inseparável, e o acompanhava em seu ministério, com outros discípulos/as.

Pela forma como é nomeada, parece que possuía uma situação familiar diferente em seu tempo. Provavelmente fosse uma mulher solteira e independente.

Ainda que sejam escassas as informações sobre Maria Madalena, seu nome aparece mais vezes que outras mulheres no Novo Testamento e geralmente em primeiro lugar.

 

Maria Madalena é a pecadora?

Teriam interpretado mal a expressão “Maria Madalena, da qual haviam saído sete demônios”? (Lc 8,2) Esta expressão, que aparece somente em Lucas e no apêndice de Marcos (Lc 8,2; Mc 16,9), criou uma série de preconceitos contra Maria Madalena.

Mas para o Evangelho de Lucas, a possessão não significa pecado e, sim, doença. O número 7, sempre simbólico, parece indicar a gravidade da situação.

Dentro do contexto de Lucas, podemos interpretar que Maria Madalena padecia de uma grave doença nervosa ou psicossomática.

No encontro com Jesus, ela recupera a harmonia interior e entra em um processo de crescimento e amadurecimento pessoal até atingir a plenitude do seu ser na experiência pascal.

Aquela mulher anônima do episódio narrado por Lc 7,36-50 passou a ser identificada com as mulheres anônimas que ungiram Jesus para a sepultura (Mc 14,3-9 e Mt 26,6-13). Uma leitura atenta destes textos vai mostrar que os ritos que realizam são diferentes.

No texto de Lucas, o próprio narrador trata de esclarecer que se trata de um rito de acolhida e coloca esta explicação no diálogo de Jesus com Simão.

Nos Evangelhos de Marcos e de Mateus, o rito está situado no contexto da Páscoa. Marcos faz questão de informar que faltavam apenas dois dias para a Páscoa e os Ázimos (Mc 14,1).

Mostra que o contexto era conflitivo, pois a execução de Jesus já estava decidida: “os chefes dos sacerdotes e os fariseus apenas procuravam um ardil para matá-lo” (Mc 14,1b). É justamente neste contexto que está a unção de Jesus, feita por uma mulher anônima (Mc 14,3-9).

O texto de Marcos está muito próximo do texto de João 12,1-8. Tanto Marcos como João contam que o perfume derramado pela mulher no corpo de Jesus era nardo puro (Mc 14,3 e Jo 12,3).

Marcos informa ainda que este episódio da unção para a sepultura passou-se em Betânia (Mc 14,3). Tudo isso parece ligar os textos de Marcos, Mateus e João (Mc 14,3-9; Mt 26,6-13 e Jo 12,1-8) e ajuda a compreender a importância desde ritual. Sua protagonista parece ser Maria de Betânia, a irmã de Marta e de Lázaro. O gesto de unção de Jesus para a sepultura é ao mesmo tempo profético e solidário com seu projeto e sua entrega sem limites.

 

Maria Madalena no sepulcro de Jesus.

Depois que Pedro e João conferiram o sepulcro e constataram a ausência do corpo de Jesus (Jo 20,4-10; Lc 24,12), Maria Madalena permaneceu no jardim, procurando Jesus, depois que Pedro e o outro discípulo foram embora. Ela chorava angustiada e confundiu Jesus com o jardineiro.

No entanto, Maria Madalena o reconhece imediatamente quando Jesus a chama pelo nome.

Em toda a Bíblia, chamar pelo nome faz parte dos relatos de missão. Às vezes, acontece mudar o nome, para indicar a missão que a pessoa vai realizar.

Mas, em Jo 20,16, Jesus a chama pelo nome com que sempre a havia chamado - talvez do mesmo jeito e com o mesmo tom de voz. 

E provavelmente Maria responde também da maneira como sempre o tratou: Rabuni.

Sem pretender ser fundamentalista, quero mostrar como neste relato simbólico se revela a importância da missão de Maria Madalena nas primeiras comunidades cristãs: Maria é chamada pelo nome;

ü  - Reconhece imediatamente a voz de Jesus;

ü  - Chama-o de Mestre em aramaico;

ü  - Depois, é enviada por Jesus com uma mensagem para os outros discípulos.

Da maneira como este episódio é descrito, parece um evento de fundação, no qual Maria Madalena foi investida de autoridade.

 

Sobre Maria Madalena.

Maria Madalena foi a mulher de quem Jesus expulsou sete demônios (Mc. 16,9; Lc. 8,2);

ü  - que acompanhava e servia Jesus na Galiléia (Lc. 8,2);

ü  - que acompanhou Jesus até a Judéia pouco antes da Paixão (Mt. 27,55; Mc. 15,41);

ü  - que ficou diante da Cruz (Mt. 27,55; Mc. 15,41; Jo. 13,25);

ü  - que levou perfumes para ungir o corpo do Senhor no sepulcro (Mt. 28,1; Mc. 16,1-2; Lc. 24,1; Jo 20,1);

ü  - que viu pessoalmente o Senhor ressuscitado (Mc 16,9); e que foi enviada aos apóstolos pelo Senhor (Jo. 20,17).

 

Sobre Maria, irmã de Marta e Lázaro.

Maria, irmã de Marta e Lázaro, também chamada de Maria de Betânia, era a mulher que ouvia as palavras do Senhor enquanto sua irmã, Marta, trabalhava arduamente (Lc. 10,38-42);

ü  - que esteve presente durante a ressurreição de seu irmão Lázaro (Jo. 11,1-2); e que ungiu os pés do Senhor alguns dias antes da Páscoa (Jo. 12,3-8).

 

Sobre a mulher pecadora anônima em Lucas 7,36-50.

Além, destas duas Marias, lemos em Lc 7,36-50 que "uma mulher de má fama" ungiu o Senhor. Repare-se que o evangelista não citou seu nome.

Quem seria, portanto? Seria Maria de Betânia, tendo em vista a informação de Jo. 12,3-8?

Não! Porque a unção de Jo 12,3-8 se deu na casa de Lázaro/Marta/Maria, em Betânia, empregando-se nardo; enquanto que a de Lc 7,36-50 se deu na casa de Simão, o fariseu, sendo que a pecadora empregou as próprias lágrimas que lhe caíram do rosto e alabastro. Logo, se tratando de dois episódios distintos e independentes, distintas e independentes são as personagens.

Seria, então, Maria Madalena, já que esta foi citada logo depois (Lc. 8,2) do episódio, nominalmente, como uma das mulheres que acompanhavam Jesus e era endemoniada (pecadora)?

Ora, o fato de ter sido endemoniada, não significa que era pecadora (até porque todos são pecadores, mas nem todos são endemoniados!), muito menos a específica pecadora de Lc 7, que o evangelista fez questão de manter o anonimato e não afirmou que era também endemoniada! Logo, muito provavelmente não se tratava de Maria Madalena. 

E quem era? Não sabemos, pois nem os Evangelhos, nem a tradição lhe conservaram o nome! Basta, pois, chamá-la de "a pecadora anônima".

 

Sobre a mulher adúltera em João 8,3-12.

E quanto à mulher adúltera de João 8,3-12? Também não lhe sabemos o nome; apenas que "era pecadora". Ora, o fato de a mulher adúltera ser pecadora, não tem o condão de transformá-la, arbitrariamente, na Maria Madalena. Trata-se, assim, de uma quarta pessoa.

Como quer que seja, e voltando o foco para Maria Madalena, a grande lição que a Bíblia e a tradição oferecem sobre ela (mesmo quando um ou outro teólogo adota o entendimento minoritário) é que ela foi uma grande convertida ao Evangelho, a ponto de poder ser considerada pelos católicos como grande exemplo de serviço e "padroeira dos convertidos".

 

Maria Madalena ignorada fora dos Evangelhos.

A pesquisa sobre Maria Madalena nos Evangelhos canônicos leva à frustração, pelo escasso número de dados que revelam a identidade dessa mulher. Ela também não é citada nos Atos dos Apóstolos, nas Epístolas, nem no Apocalipse de João, mesmo tendo sido citada, enquanto personagem híbrido, dezoito vezes nos Evangelhos.

Maria Madalena vai desaparecer nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas.

Nem Paulo, naturalmente, nem Pedro nada falam sobre ela.

Mesmo João não acreditou na importância de falar sobre ela nas suas cartas, nem no Apocalipse.  Para todos aqueles que seguem, ela inexiste.

Da Maria Madalena que se conhece através dos Evangelhos canônicos, porém, não há registros de suas falas ou de algum diálogo, salvo em João, quando fala a Simão e a outro discípulo que “retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos aonde o colocaram” e quando anuncia “Vi o Senhor” após o breve diálogo com Jesus ressuscitado no jardim do sepulcro vazio (Jo 20, 2.18), mas é desacreditada pelos apóstolos (Mc 16,11).

São comemorados também nesta data: São José da Palestina, São Cirilo de Antioquia (bispo), São Menelau de Ménat (abade), São Pancário de Besançon (mártir), Santos Felipe Evans e João Lloyd (presbíteros e mártires).



[1] 1 Metanoeó, um verbo bastante neutro em grego profano: “mudar posteriormente, mudar de idéia, ter remorso”. Na Bíblia, exprime a conversão religiosa e moral. Seu campo léxico no N.T. associa-o à fé ( Mc 1,15), ao batismo (At 2,38) e ao perdão dos pecados (Lc 7,13). A conversão (metanoia) está ainda ligada ao retorno (At 3,19, com epistrephó) (cf. Wénin, 2004, p. 457). 2 As referências bíblicas deste texto são da Bíblia de Jerusalém.