quinta-feira, 30 de setembro de 2021

 

SÃO JERÔNIMO - (347-420)

 

É incontestável o grande débito que a cultura e os cristãos, de todos os tempos, têm com este santo de inteligência brilhante e temperamento intratável. Jerônimo nasceu em uma família muito rica na Dalmácia, hoje Croácia, no ano 347.

Com a morte dos pais, herdou uma boa fortuna, que aplicou na realização de sua vocação para os estudos, pois tinha uma inteligência privilegiada.

Viajou para Roma, onde procurou os melhores mestres de retórica e desfrutou a juventude com uma certa liberdade. Jerônimo estudou por toda a vida, viajando da Europa ao Oriente com sua biblioteca dos clássicos antigos, nos quais era formado e graduado doutor.

Ele foi batizado pelo papa Libério, já com 25 anos de idade. Passando pela França, conheceu um monastério e decidiu retirar-se para vivenciar a experiência espiritual.

Uma de suas características era o gosto pelas entregas radicais. Ficou muitos anos no deserto da Síria, praticando rigorosos jejuns e penitências, que quase o levaram à morte.

Em 375, depois de uma doença, Jerônimo passou ao estudo da Bíblia com renovada paixão. Foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino, na Antioquia, em 379.

Mas Jerônimo não tinha vocação pastoral e decidiu que seria um monge dedicado à reflexão, ao estudo e divulgação do cristianismo. Voltou para Roma em 382, chamado pelo papa Dâmaso, para ser seu secretário particular. Jerônimo foi incumbido de traduzir a Bíblia, do grego e do hebraico, para o latim. Nesse trabalho, dedicou quase toda sua vida.

O conjunto final de sua tradução da Bíblia em latim chamou-se "Vulgata" e tornou-se oficial no Concílo de Trento. Romano de formação, Jerônimo era um enciclopédico. Sua obra literária revelou o filósofo, o retórico, o gramático, o dialético, capaz de escrever e pensar em latim, em grego, em hebraico, escritor de estilo rico, puro e eloqüente ao mesmo tempo.

Dono de personalidade e temperamento fortíssimo, sua passagem despertava polêmicas ou entusiasmos. Devido a certas intrigas do meio romano, retirou-se para Belém, onde viveu como um monge, continuando seus estudos e trabalhos bíblicos.

Para não ser esquecido, reaparecia, de vez em quando, com um novo livro. Suas violências verbais não perdoavam ninguém. Teve palavras duras para Ambrósio, Basílio e para com o próprio Agostinho. Mas sempre amenizava as intemperanças do seu caráter para que prevalecesse o direito espiritual. Jerônimo era fantástico, consciente de suas próprias culpas e de seus limites, tinha total clareza de seus merecimentos.

Ao escrever o livro "Homens ilustres", concluiu-o com um capítulo dedicado a ele mesmo. Morreu de velhice no ano 420, em 30 de setembro, em Belém.

Foi declarado padroeiro dos estudos bíblicos e é celebrado no dia de sua morte.

São comemorados também nesta data: São Simão de Crépu, São Gregório, o Iluminador (apópstolo da Armênia), Santo Antonino de Placência (mártir), Santo Honório de Cantuária (bispo), São Leopardo de Roma (mártir).

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

 

SÃO GABRIEL, ARCANJO - O ANJO DA ANUNCIAÇÃO

 

Segundo o evangelho de são João, são sete os espíritos que atendem ao trono de Deus, tratando diretamente com ele e executando suas missões no universo. Gabriel é o arcanjo da Anunciação, aquele que usa a trombeta para levar as notícias.

O seu nome significa "emissário do Senhor" e é o mais ligado aos acontecimentos da terra. A maior preocupação deste arcanjo é desfazer conflitos e proporcionar aos seres humanos a capacidade de adaptação a todas as circunstâncias.

É enviado à terra sempre com o objetivo de transmitir a luz divina e sensibilizar os adultos em relação às crianças e à própria humanidade. Este espírito puro do trono celeste é visto, citado e repetido tanto no Velho quanto no Novo Testamento.

Gabriel arcanjo foi o escolhido por Deus para acompanhar todo o advento da salvação, desde a revelação das profecias à anunciação da chegada do Messias, acompanhando-o durante toda a sua vida terrena, Paixão e Ressurreição.

Além disso, é o portador da oração mais popular e mais querida do cristianismo: a ave-maria. Vejamos algumas passagens do Evangelho de suas missões no evento que mudou a humanidade.

Foi Gabriel arcanjo quem explicou ao profeta Daniel sua freqüente visão do carneiro e do bode. Foi ele, também, quem anunciou, ao mesmo profeta, a trajetória destinada a sua nação; a chegada do Messias, até a negação do mesmo por parte de seu povo, e sua morte na Terra.

Gabriel também apareceu ao sacerdote Zacarias, anunciando que sua mulher lhe daria um filho profeta, chamado João Batista, o precursor do Cristo. E como Zacarias duvidou, por ser velho e a mulher estéril, castigou-o com a perda da voz até que tudo se cumprisse.

O seu apogeu ocorreu na Anunciação à Virgem Maria sobre a encarnação do Filho de Deus. Suas primeiras palavras tornaram-se uma oração, aquela que todos recorrem para pedir a proteção, a bênção ou a intervenção de Nossa Senhora: "Alegra-te, Maria, cheia de graça. O Senhor é contigo, bendita és tu entre as mulheres".

Contou-lhe, então, o que a esperava, a missão que lhe era confiada, preparou-a espiritualmente para entender a intervenção do Espírito Santo. Fazendo o mesmo com o justo José, seu esposo, que, graças à aparição de Gabriel, compreendeu o que se passava, entregando-se de corpo e alma àquela missão.

Os teólogos e a Igreja entendem que foi também missão deste arcanjo avisar aos pastores de Belém sobre a chegada do Messias; alertar os reis magos para que não voltassem a Jerusalém; dar a José a ordem de fugir para o Egito e, depois, retornar a Nazaré; consolar Jesus no horto das Oliveiras e anunciar às santas mulheres a Ressurreição do Cristo. Gabriel arcanjo e seus anjos são os mensageiros das boas notícias, ajudam-nos a dar bom rumo e direção à nossa vida, dão-nos compreensão e sabedoria.

É a ele que recorremos quando necessitamos desses dons. Por isso devemos, sempre, agradecer por sua colaboração com nossas sinceras orações, em especial nos dias 24 de março e 29 de setembro, quando é festejado por todo o Povo de Deus, a Igreja de Cristo.

São comemorados também, neste dia: Santos Eutico, Plauto e Heracléia (mártires da Trácia), São Fraterno de Auxérre (bispo e mártir), São Grimaldo de Pontecorço (presbítero).

terça-feira, 28 de setembro de 2021

 

ARCANJOS SÃO MIGUEL, SÃO GABRIEL E SÃO RAFAEL

 

O mês de setembro tornou-se o mais festivo para os cristãos, pois a Igreja unificou a celebração dos três arcanjos mais famosos da história do catolicismo e das religiões - Miguel, Gabriel e Rafael - para o dia 29 de setembro, data em que se comemorava apenas o primeiro.

Esses três arcanjos representam a alta hierarquia dos anjos-chefes, o seleto grupo dos sete espíritos puros que atendem ao trono de Deus e são seus "mensageiros dos decretos divinos" aqui na terra. Miguel, que significa "ninguém é como Deus", ou "semelhança de Deus", é considerado o príncipe guardião e guerreiro, defensor do trono celeste e do Povo de Deus.

Fiel escudeiro do Pai Eterno, chefe supremo do exército celeste e dos anjos fiéis a Deus, Miguel é o arcanjo da justiça e do arrependimento, padroeiro da Igreja Católica. Costuma ser de grande ajuda no combate contra as forças maléficas.

É citado três vezes na Sagrada Escritura, que narramos na sua página.

O seu culto é um dos mais antigos da Igreja. Gabriel significa "Deus é meu protetor" ou "homem de Deus".

É o arcanjo anunciador, por excelência, das revelações de Deus e é, talvez, aquele que esteve perto de Jesus na agonia entre as oliveiras. Padroeiro da diplomacia, dos trabalhadores dos correios e dos operadores dos telefones, comumente está associado a uma trombeta, indicando que é aquele que transmite a Voz de Deus, o portador das notícias.

Na sua página, descrevemos com detalhes as suas aparições citadas na Bíblia .

Além da missão mais importante e jamais dada a uma criatura, que o Senhor confiou a ele: o anúncio da encarnação do Filho de Deus. Motivo que o fez ser venerado, até mesmo no islamismo.

Rafael, cujo significado é "Deus te cura" ou "cura de Deus", teve a função de acompanhar o jovem Tobias, personagem central do livro Tobit, no Antigo Testamento, em sua viagem, como seu segurança e guia. Foi o único que habitou entre nós, passagem que pode ser lida na página dedicada a ele. Guardião da saúde e da cura física e espiritual, é considerado, também, o chefe da ordem das virtudes.

É o padroeiro dos cegos, médicos, sacerdotes e, também, dos viajantes, soldados e escoteiros. A Igreja Católica considera esses três arcanjos poderosos intercessores dos eleitos ao trono do Altíssimo. Durante as atribulações do cotidiano, eles costumam aconselhar-nos e auxiliar, além, é claro, de levar as nossas orações ao Senhor, trazendo as mensagens da Providência Divina. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 

SÃO VICENTE DE PAULO - (1581-1660)

 

Fundou as congregações: Confraria das Damas da Caridade - Os Servos dos Pobres - Os Padres da Missão - Os Padres Lazaristas - e as Filhas da Caridade.

Vicente de Paulo foi, realmente, uma figura extraordinária para a humanidade. Pertencia a uma família pobre, de cristãos dignos e fervorosos. Nasceu em Pouy, França, no dia 24 de abril de 1581. Na infância, foi um simples guardador de porcos, o que não o impediu de ter uma brilhante ascensão na alta Corte da sociedade de sua época.

Aos dezenove anos, foi ordenado padre e, antes de ser capelão da rainha Margarida de Valois, ficou preso durante dois anos nas mãos dos muçulmanos.

O mais curioso é que acabou sendo libertado pelo seu próprio "dono", que, ao longo desse período, Vicente conseguiu converter ao cristianismo. Todos o admiravam e respeitavam: do cardeal Richelieu à rainha Ana da Áustria, além do próprio rei Luís XIII, que fez questão absoluta de que Vicente de Paulo estivesse presente no seu leito de morte.

Mas quem mais era merecedor da piedade e atenção de Vicente de Paulo eram mesmo os pobres, os menos favorecidos, que sofriam as agruras da miséria.

Quando Mazarino, em represália às barricadas erguidas pela França, quis fazer o país entregar-se pela fome, Vicente de Paulo organizou, em São Lázaro, uma mesa popular para servir, diariamente, refeições a duas mil pessoas famintas.

Apesar de ter sempre pouco tempo para os livros, tinha-o muito quando era para tratar e dar alívio espiritual. Quando convenceu o regente francês de que o povo sofria por falta de solidariedade e de pessoas caridosas para estenderem-lhe as mãos, o rei, imediatamente, nomeou-o para ser o ministro da Caridade.

Com isso, organizou um trabalho de assistência aos pobres em escala nacional. Fundou e organizou quatro instituições voltadas para a caridade: a "Confraria das Damas da Caridade", os "Servos dos Pobres", a "Congregação dos Padres da Missão", conhecidos como padres lazaristas, em 1625, e, principalmente, as "Filhas da Caridade", em 1633.

Este homem prático, firme, dotado de senso de humor, esperto como um camponês, e sobretudo realista, que dizia aos sacerdotes de São Lazaro: "Amemos Deus, irmãos meus, mas o amemos às nossas custas, com a fadiga dos nossos braços, com o suor do nosso rosto", morreu em Paris no dia 27 de setembro de 1660.

Canonizado em 1737, são Vicente de Paulo é festejado no dia de sua morte, pelos seus filhos e sua filhas espalhados nos quatro cantos do mundo. E por toda a sociedade leiga cristã engajada em cuidar para que seu carisma permaneça, pela ação de suas fundações, que florescem, ainda, nos nossos dias, sempre a serviço dos mais necessitados, doentes e marginalizados.

São comemorados também nesta data: São Lourenço Ruiz e companheiros (mártires), Santa Eustóquia (filha de Santa Paula, virgem), Santa Estáctea de Roma (mártir), Santo Eustóquio de Tours (bispo), Santo Exupério de Tolosa (bispo), São Fausto de Riez (bispo), São Wenceslau.

domingo, 26 de setembro de 2021

 

“QUEM NÃO É CONTRA NÓS É A NOSSO FAVOR”. (Mc 9,40).

 

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Nm 11, 25-29; Sl 18; Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48.

 

Diácono Milton Restivo

 

A primeira leitura retrata o povo israelita, escolhido por Deus, depois de ser libertado da escravidão do Egito, caminhando pelo deserto. O caminho já tinha sido longo, mas faltava ainda muito para completá-lo até a terra que Yahweh lhe prometera.

O capítulo 11 do livro dos Números mostra-nos a ingratidão do povo contra Moisés e Yahweh, e isso irritou o Senhor fazendo com que ele mandasse fogo e destruísse parte do acampamento dos israelitas:

·         “O povo começou a queixar-se de suas desgraças. Ao ouvir a queixa, a ira dele se inflamou, e o fogo de Yahweh começou a consumir uma extremidade do acampamento.” (Nm 11,1).

O povo, apavorado, apela para Moisés e Moisés intercede a Yahweh pelo povo:

·         “O povo gritou a Moisés. Este intercedeu junto a Yahweh em favor deles, e o incêndio se apagou.” (Nm 11,2).

Não se emendando e nem se intimidando com isso e ainda desafiando o poder de Yahweh, e menosprezando os cuidados e o amor que Yahweh sempre demonstrou para eles, os israelitas, apesar de receberem gratuitamente o maná que vinha do céu, começaram a chorar e a lembrar dos alimentos que tinham no Egito, ainda que eles tivessem sido escravos. (Nm 11,4-6).

Moisés não suporta ver a ingratidão do povo e está à beira de um colapso; não suporta as reclamações do povo e, já esgotado, à beira da estafa, sente-se sozinho e prefere a morte:

·         “Eu sozinho não consigo carregar esse povo, pois supera as minhas forças! Se é assim que me pretendes tratar, prefiro a morte! Concede-me esse favor, e eu não terei que passar por essa desgraça.” (Nm 11,14-15).

É nesse contexto que Yahweh manda Moisés escolher, no meio do povo, setenta anciãos ou setenta representantes do povo para que Moisés pudesse partilhar a liderança com eles.

Assim Moisés não ficaria sozinho na direção desse povo exigente, mal agradecido e rebelde (Nm 11,10-17). Para isso Yahweh desceu sobre a tenda da reunião, ao redor da qual os setenta anciãos escolhidos estavam reunidos.

Ai Yahweh falou com Moisés e separou uma parte do espírito profético que Moisés possuía e a colocou nos setenta anciãos.

Então, todos os anciãos começaram a profetizar por um tempo. (Nm 11,25).

Dois anciãos, Medad e Eldad, não tinham ido à tenda e não estavam fazendo, portanto, parte da instituição dos setenta. Mas o espírito de Yahweh pousa também sobre eles e começaram igualmente a profetizar no meio do povo.

Quem pode monopolizar o espírito de Yahweh?

Jesus diria mais tarde:

·         “quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc 9,40).

Josué, no entanto, enciumado, pede a Moises para proibi-los de profetizar.

E aqui vem o grande ensinamento de Moisés:

·         “Você está com ciúmes por mim? Oxalá todo o povo de Yahweh fosse profeta e recebesse o espírito de Yahweh.” (Nm 11,29).

Muito tempo depois o desejo profético de Moisés foi anunciado pelo profeta Joel:

·         “Depois disso, derramarei o meu espírito sobre todos os viventes, e os filhos e filhas de vocês se tornarão profetas; entre vocês, os velhos terão sonhos e os jovens terão visões! Nesses dias, até sobre os escravos e escravas derramarei o meu espírito!” (Jl 3,1-2).

E, no Novo Testamento, isso vai se realizar plenamente no Pentecostes cristão. (cf At 2).

Na segunda leitura Tiago, vendo que o espírito de Deus não permanecia naqueles apegados às riquezas e aos bens terrenos, condena com veemência profética aos que se apegam aos bens materiais e oprimem o irmão menos afortunado.

A comunidade de Tiago vive no meio de uma sociedade que não se libertou totalmente da idolatria, e era dominada pela ânsia de riqueza e do poder.

Todos queriam ter mais riqueza e mais poder para o conforto, para o luxo e para o prazer, riquezas essas conseguidas graças às injustiças praticadas contra os pobres.

As palavras de Tiago se aproximam das palavras do profeta Amós que, no seu tempo, combateu veementemente essa situação no Antigo Testamento:

·         “Eles (os ricos) odeiam os que defendem o justo no tribunal, e tem horror de quem fala a verdade. Porque esmagam o fraco, cobrando dele o imposto de trigo. Eles poderão construir casas de pedras lavradas, mas nelas jamais irão morar; poderão plantar vinhas de ótima qualidade, mas do vinho não beberão. Pois eu sei que são numerosos os seus crimes e graves os seus pecados: exploram o justo, aceitam subornos e enganam os necessitados no tribunal! É por isso que nesse tempo o prudente se cala, pois é tempo de desgraça.” (Am 5,10-13).

O profeta Amós não para por ai, e continua:

·         “Ai dos (ricos) que vivem tranquilos em Sião e se sentem seguros no monte de Samaria. [...] Aplicando o poder da violência, vocês pensam que estão afastando o dia fatal. Deitam-se em cama de marfim, esparramam-se em cima de sofás, comendo cordeiros do rebanho e novilhos cevados em estábulos; cantarolam ao som da lira, inventando, como Davi, instrumentos musicais; bebem canecões  de vinho, usam os mais caros perfumes, sem se importar com a ruína de José! Para isso vocês irão acorrentados à frente dos exilados. Acabou-se a festa dos boas-vidas.” (Am 6, 1.3-7).

Tiago deixa claro que a cobiça e a inveja são sinais de que a comunidade está traindo a sua vocação. Em vez de romper com o mundo, está rompendo com Deus.

Em vez de ser a luz que aponta um caminho novo, a comunidade cristã do tempo de Tiago - não estaria acontecendo isso também a do tempo atual? – torna-se repetição dos velhos caminhos da injustiça.

Os ricos amontoam, egoisticamente, seus bens, ao invés de partilhar.

Os ricos ficam cada vez mais ricos à custa dos pobres que ficam cada vez mais pobres.

O salário lesado dos pobres é que clama contra os ricos.

Isso está sendo observado por Tiago em seu tempo na sua comunidade.

Se existe alguma semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência.

Os ricos imaginavam que a riqueza era uma benevolência de Deus; só seria rico quem Deus tinha preferência, enquanto que os pobres eram discriminados rejeitados no amor de Deus, malditos e desprezados por Deus.

Jesus vem e inverte essa situação:

·         “Deixem vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino do Céu.” (Mt 19,14; Mc 10,14). 

Os ricos, além de monopolizar as riquezas que Deus fez para que todos delas usufruíssem, para tentar ocultar suas injustiças, tentam também monopolizar o nome de Deus para que disso possam tirar vantagens em seus próprios benefícios.

O Evangelho mostra-nos que nem o nome de Deus e nem o nome de Jesus é monopólio de quem quer que seja, muito menos de instituições religiosas, por isso Jesus diz:

·         “quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc 9,40).

Assim como Josué ficou enciumado ao ver que dois anciãos, que não pertenciam aos setenta escolhidos estavam profetizando em nome de Yahweh, no Evangelho desta liturgia, também João fica enciumado ao ver que um homem, que não pertencia ao círculo daqueles que seguiam o Mestre, fazia maravilhas em nome de Jesus:

·         “João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome! Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue.” (Mc 9,38). 

É o ciúme daquele que pensa que Deus é propriedade apenas de um grupo seleto, e que Deus faz acepção de pessoas, e Jesus, de imediato, chama a atenção de João, dizendo:

·         “Não o proíbam, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc 9,39-40).

A respeito disso Pedro falaria mais tarde:

·         Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas.” (At 10,34).

O texto do Evangelho da liturgia de hoje coloca em destaque o contraste entre os dois grupos de seguidores e admiradores de Jesus: os que aderiram efetivamente a Jesus e o acompanhavam onde quer que ele fosse, os seus discípulos mais próximos, e os que ouviram falar dele, se simpatizaram com ele, aceitaram a sua mensagem, compartilharam de seus ensinamentos, mas não o seguiam de perto como os discípulos mais próximos.

Por isso, aqueles que seguiam Jesus passo a passo, se julgavam no direito de fazer calar os que não estavam tão próximos: Jesus é nosso e não o partilhamos com mais ninguém e, por isso, vemos ai a intervenção de João, um dos Doze e que falou em nome dos Doze, enciumado que estava, como Josué no Antigo Testamento, tomando as dores dos demais discípulos e apóstolos, dirigindo-se a Jesus e reclamando de que quem não o seguia também estava expulsando demônios, coisa que eles mesmos, apesar de estarem com Jesus, não conseguiam fazer, como havia acontecido anteriormente quando, um pai, traz seu filho até Jesus e lhe diz:

·         “Mestre, eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão, e ele começa a espumar, ranger os dentes e fica completamente rijo. Eu pedi aos teus discípulos para expulsarem o espírito, mas eles não conseguiram.” (Mc 9,17).

É, no mínimo, curiosa a pretensa autoridade dos discípulos retratada em João.

Um homem, que não seguia de perto Jesus expulsava demônios em nome de Jesus, e os discípulos, que não conseguiam expulsar demônios, o proíbem.

Os discípulos se achavam donos da verdade, donos do nome de Jesus. Por que será? Seria excesso de zelo, ou por que se julgavam donos da verdade, ou por que tinham elevado grau de ciúme?  Eles ainda não haviam entendido que só é discípulo de Jesus não quem está associado a um grupo que traz o seu nome, e sim quem faz o que Jesus ensinou, determinou e fazia:

·         Assim como o Pai me amou, e eu também amei vocês, continuem no meu amor. Se obedecerem a meus mandamentos, vocês continuarão no meu amor, assim como eu tenho obedecido aos mandamentos do meu Pai, e continuo no amor dele. [...] Vocês são meus amigos se fizerem o que eu lhes mando. [..] Isto eu lhes mando: que vocês amem uns aos outros.” (Jo 15,9-10.14.17).

Serão amigos de Jesus quem fizer o que ele manda, independente de pertencer ao grupo de quem quer que seja.

O nome de Jesus não pode e nem deve ser monopolizado. Quem faz o que Jesus fez é que está do seu lado.

 Gandhi, o grande pacifista e de religião hindu, apesar de admirar Jesus e conhecer o Evangelho, talvez não tenha se convertido ao cristianismo, quem sabe, por vergonha e repulsa das atitudes dos cristãos que são os responsáveis pela difusão da mensagem de Jesus e por esta mesma mensagem, que deveria ser difundida e não ter sido como deveria, não ter atingido a plenitude entre os homens, dizia:

·         Não conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos. Vocês nem começaram a viver segundo seus próprios ensinos.”.

Segundo Gandhi, os cristãos “nem começaram a viver segundo seus próprios ensinos”, ou seja, os ensinos de Jesus que deveriam ser os ensinos de todos os cristãos, e ainda por cima, querem monopolizar o nome de Jesus.

Cristãos, de vários seguimentos religiosos cristãos, lutam entre si para monopolizar o nome de Jesus com a preocupação de apenas se promoverem pessoalmente e se realizarem social, financeiramente e granjearem crédito na comunidade e na sociedade.

São para esses que buscam privilégios e enriquecimentos usando o nome de Jesus, o recado de Tiago:

·         E agora, vocês ricos: comecem a chorar por causa das desgraças, que estão para cair sobre vocês. [...] O ouro e a prata de vocês estão enferrujados; a ferrugem deles será testemunha contra vocês e como fogo lhes devorará a carne! Vocês amontoaram tesouros para o fim dos tempos. [...] Vocês tiveram na terra, uma vida de conforto e luxo, vocês estão ficando gordos para o dia da matança”. (Tg 5,1.3.5).

E esses, para quem Tiago se dirige, eram cristãos de sua época e, possivelmente, da sua própria comunidade.

Repito, qualquer semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência.

Um pouco antes de os discípulos se enciumarem dos que os que expulsavam demônios em nome de Jesus e que não pertenciam ao seu grupo, vimos que os próprios discípulos não conseguiam expulsar um demônio por falta de oração.

Logo a seguir, discutiam fervorosa e ambiciosamente quem seria o maior no grupo (Mc 9,33-37). Isso deixa claro que os discípulos não tinham aprendido ainda quase nada, ou nada, do Mestre, mas mesmo assim já se achavam donos de Jesus e disputavam postos e cargos de destaque no grupo que ainda não havia se formado.

A primeira atitude a ser corrigida é a de querer reservar o Espírito de Jesus como propriedade da comunidade ou de grupos específicos que se isolam da própria comunidade, e isso dentro da nossa própria Igreja, com a ridícula pretensão de que somente naquele grupo com aquela denominação é que o Espírito de Deus vai agir. Não é.

Existem seitas e religiões, que se dizem cristãs, e até grupos dentro da própria Igreja Católica que assim agem e pensam, e se julgam como se fossem o único receptáculo ou o contato privilegiado da manifestação do Espírito de Deus.  São os “João” da vida.

Jesus não é monopólio de ninguém.

O Espírito de Deus não é monopólio de ninguém, e Jesus já afirmara isso:

·         “O vento sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai. Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito”. (Jo 3,8).

João se queixa que um homem que não seguia Jesus e nem fazia parte do grupo que seguia Jesus estava expulsando demônios em nome de Jesus, coisa que eles não conseguiam fazer.

Atitude mesquinha de querer dominar o Espírito de Deus, sequestrar o poder divino.

Isso, infelizmente, é uma atitude bastante atual em certos setores mais antiquados das Igrejas ainda hoje, que acham que toda a riqueza do mistério de Deus possa caber dentro das margens estreitas de suas definições dogmáticas!

Hoje Jesus ensina-nos a verdadeira atitude dum discípulo:

·         “Não lhe proíbam, pois... quem não está contra nós, está a nosso favor”. (Mc 9,39.40).

Temos que aprender e acolher as manifestações verdadeiras do Espírito de Deus em todas as religiões e culturas, e estar alertas para que nós mesmos não o escondamos e nem o deturpemos!

E Jesus ensina o que deve ser feito para estar com ele: garante recompensa para quem der um copo de água aos discípulos, porque eles são de Cristo:

·         “Eu garanto a vocês: quem der para vocês um copo de água, porque vocês são de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. (Mc 9,41).

O primeiro ensinamento é a partilha e ajuda mesmo nas coisas mais insignificantes.

O que vale um copo de água?

O gesto de doar, partilhar, acolher é muito mais valioso que o conteúdo da doação.

O segundo ensinamento está na motivação do gesto: “porque vocês são de Cristo”, pelo fato de serem de Cristo.

O texto não fala “ser de Jesus”, mas “ser de Cristo”.

Cristo = Messias = Cordeiro: é uma referência à realização das promessas salvíficas de Deus anunciadas no Antigo Testamento.

O Cristo, se não for o Cordeiro, não é o Messias, e Messias é o Ungido que tinha a missão libertadora. Usando a expressão “de Cristo”, Marcos quer fazer alusão à missão de Jesus.

Na oportunidade em que aconteceram esses fatos, Jesus está a caminho de Jerusalém, onde dará a sua vida para a libertação dos homens, onde ele se fará

·         “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. (Jo 1,29).

Essa é a sua missão. Talvez, nessa oportunidade, estivesse atravessando o território da Samaria (cf Mc 9,30 – 10,1).

Os samaritanos e os judeus eram antipáticos entre si, não se suportavam; eram até inimigos.

Os samaritanos negavam até um copo de água para um judeu que, passando pela Samaria, estivesse a caminho de Jerusalém; judeus e samaritanos não se amavam, e o que é pior, se odiavam.

Neste contexto, dar um copo de água tem grande significado político, religioso e libertador: significa comprometer-se a cooperar com a missão libertadora de Jesus e seus discípulos.

É preciso cortar o mal pela raiz:

E se alguém escandalizar um desses pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado ao mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço”. (Mc 9,42).

“Pequeninos” são os que crêem e aderiram à mensagem de Jesus, não importando a que grupo pertençam. 

“Escandalizar” significa conduzir ao pecado, à perda da fé, ao descompromisso com o Messias libertador. Jesus avisa que é melhor morrer do que causar danos aos pequeninos que acreditam na sua mensagem.

O escândalo existe quando há na comunidade quem pretende ser maior, ser servido em lugar de servir, contradizendo o que Jesus dissera:

·         “Quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos! (Mt 20,26-28).

A ambição de ser maior põe em risco a adesão dos “pequenos” a Jesus.

·         “Se a sua mão é ocasião de escândalo para você, corte-a. É melhor você entrar para a vida sem uma das mãos, do que ter as duas mãos e ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga. [...] Se o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o. É melhor você entrar para a vida sem um dos pés, do que ter os dois pés e ser jogado no inferno. [...] Se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o. É melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só, do que ter os dois olhos no inferno, onde o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga.” (Mc 9,43-48).

Jesus cita três membros do corpo – mão, pé e olho – com três sentenças simbólicas igualmente construídas, mostrando o contraste entre o entrar na vida ou no Reino de Deus, e ser jogado na Geena (lugar onde se queimava o lixo fora da cidade e onde o fogo permanecia sempre aceso, símbolo da destruição e do castigo futuro).

É preciso fazer opções, por mais dolorosas que sejam, pois são opções entre o êxito e o fracasso da existência: toda atividade (simbolizada pela mão), toda conduta (simbolizada pelo pé) e toda aspiração (simbolizada pelo olho), que busca prestígio e superioridade, está viciada e é necessário suprimi-la, pois põe em perigo a fidelidade à mensagem e bloqueia o desenvolvimento pessoal. As imagens que Jesus usa são fortes: cortar a mão, cortar o pé, arrancar o olho.

É preciso cortar e arrancar tudo o que em si mesmo se oponha à mensagem e causa dano aos que querem ser fieis a Jesus, não importando a que grupo pertençam.

Mão que executa ações de amor e caridade para com o irmão; pé que conduz ao encontro do irmão ou do irmão que se distancia e olho que é a aspiração de tudo o que queremos de bom ou menos bom para a vida e no trato com o irmão.

Mão que executa as ações, pé que conduz e olho que cobiça, eram a sede dos impulsos pecaminosos e da concupiscência.

Com estas três sentenças, Jesus ensina-nos a salvar nossa vida através do domínio da cobiça e da ganância. Jesus ensina-nos a romper, definitiva e radicalmente, com tudo o que conduz ao pecado, ou seja, a cortar o mal pela raiz, não importando a que grupo pertença, porque

·         “quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc 9,40).

sábado, 25 de setembro de 2021

 

SÃO MIGUEL, ARCANJO

 

O nome Miguel tem o significado de uma pergunta: "Quem é um como Deus?".

Uma alusão bem clara do alto grau de convicção e fidelidade que este arcanjo tem no Altíssimo, ao qual atende diretamente no seu trono, comandando o seu exército de anjos.

Por isso podemos traduzir seu nome como "semelhança de Deus", já que semelhante não é um sinônimo de igual. Este espírito puro é também chamado e reconhecido como príncipe do céu e ministro de Deus. Seu nome é citado três vezes no Evangelho: no capítulo 12 do livro de Daniel, no capítulo 12 do livro do Apocalipse e na carta de são Judas. Segundo a Bíblia, é um dos sete espíritos que assistem ao trono do Altíssimo.

O profeta Daniel nomeia este arcanjo chamando-o de príncipe protetor dos judeus e depositário das profecias do Antigo Testamento.

Sendo assim, Miguel torna-se, também, protetor especial de todos nós, filhos de Deus, pois a Igreja e o seu povo são herdeiros definitivos das revelações e dos mistérios divinos. Por isso Miguel arcanjo assumiu a posição de padroeiro da Igreja Católica.

Miguel arcanjo, protetor dos justos, é assim lembrado na passagem bíblica do Apocalipse.

Pois nela se vê que houve uma batalha no céu e Miguel, com seu exército de anjos, teve de combater e vencer a primitiva serpente, chamada de satanás.

A partir daquele momento, satanás não tinha mais lugar no céu e foi expulso para a terra, juntamente com seus anjos maus, os demônios.

Assim começou a antiga batalha do bem contra o mal. Espírito vigoroso, atravessa céus e terras inundando os seres humanos com os sentimentos de justiça e arrependimento. Ele intercede pelo nosso livre-arbítrio, defende-nos, pisando nos dragões da indecisão e da dúvida.

E quando o invocamos, ele nos defende, com o grande poder que Deus lhe concedeu, para mantermos a serenidade, a fé e para perseverarmos na nossa missão dentro dos preceitos da Igreja de Cristo, até entrarmos na vida eterna.

Na carta de são Judas, lê-se: "O arcanjo Miguel, quando enfrentou o diabo, disse: 'Que o Senhor o condene'". Por isso Miguel arcanjo é representado nas artes vestindo armadura e atacando o dragão infernal. Segundo a tradição, foi este arcanjo quem libertou o apóstolo Pedro da prisão e o conduziu entre os guardas.

A Igreja Católica tem uma grande devoção pelo arcanjo Miguel, e o comemora no dia 29 de setembro.

São comemorados também, neste dia: Santos Eutico, Plauto e Heracléia (mártires da Trácia), São Fraterno de Auxérre (bispo e mártir), São Grimaldo de Pontecorço (presbítero).

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

 

NOSSA SENHORA DAS MERCÊS

 

Nobre senhora, és poderosa do filho sobre o coração; por ti quem ora, confiante dele consegue a salvação”. “... Na Prisão e te fomos visitar” (cf Mt 25,39).

Os Apóstolos ouviram a explanação de Jesus, sobre o Juízo Final, e por certo nunca mais esqueceram. A começar pelo mestre, em seguida os apóstolos, discípulos e tantos outros que experimentaram a privação da liberdade por causa do evangelho.

Todos os sofrimentos físicos e morais do cativeiro, deixavam sequelas graves naqueles que tinham, a desgraça de cair nas mãos dos inimigos. Sempre, e em todos os momentos da história da humanidade, encontramos a úlcera dolorosa dos cativeiros de cunho religioso, politíco, e até mesmo de ideais.

O homem pode encarcerar o corpo físico, porém nunca os pensamentos, os ideais, as convicções politícas e religiosas, estes permanecem livres de todo e qualquer tipo de algemas. As incontáveis guerras entre Mouros e Cristãos na Península Ibérica, a partir do ano de 711, foram, sem dúvida o placo dos cativeiros.

O fanatismo e a intransigênca religiosa proporcionaram sofrimentos aos cativos de ambas partes. Surgiram a partir do século XII o movimento das Cruzadas como um esforço coletivo, para defesa da Lei de Cristo. Foi neste período que surgiram as irmandades e confrarias estabelecidas, com a finalidade de arrecadar fundos para libertar os cativos.

Foi neste período que o jovem frânces Pedro Nolasco, estabelecendo-se em Barcelona uniu-se a alguns jovens de fé firme e corações generosos, cujos propósitos seriam; negociar a libertação dos cativos em poder dos Mouros.

Cada jovem, associado colocaria seus próprios bens a serviço da causa dos encarcerados e solicitariam dos fiéis e das Igrejas uma oferta anual; “A esmola dos cativos.” “A Inspiração de Maria” Pedro Nolasco recebeu do céu, através de Maria Santíssima, o que ele mesmo considerou, e depois dele, toda a sua ordem, como a verdadeira revelação do futuro de sua Fraternidade.

Era noite de 1º a 2 de agosto de 1218, estando em oração Pedro Nolasco viu claro que sua associação redentora necessitava do respaldo público e solene Rei Jaime I. Nesta mesma noite Pedro Nolasco ouviu da Ssma. Virgem: “Deus deseja que se estabeleça uma congregação religiosa para o resgate dos cativos.”

Pedro Nolasco foi no dia seguinte ao encontro de seu confessor Pe. Raimundo de Penaforte, que lhe contou ter tido a mesma revelação na noite anterior. Ambos ainda atonitos foram ao Rei Dom Jaime I de Aragão pedir apoio, e ouviram com assombro a mesma revelação de que o Rei tivera na noite anterior da Virgem Maria.

Foram ao Papa, e dele obtiveram a benção, certos de que esta era a vontade de Deus deram ínicio a obra. Dom Jaime I mandou construir o convento, enquanto Pe. Raimundo Penaforte elaborava os estatutos, Pedro Nolasco foi o primeiro comandante geral da mílica.

Era o dia 24 de Setembro quando Pedro Nolasco e os companheiros professaram votos solenes, assim estava fundada a Ordem Real e Militar de Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos, fizeram dos votos de pobreza, obediência e castidade, além de tornar-se esravos, se fosse necessário, para salvar os prisioneiros.

Hoje são outras as escravidões: consumismo, comodismo, individualismo, desemprego, vícios, fome, violência, insegurança, desagregação familiar etc.

São comemorados também nesta data: São Germaro, São Geraldo de Csanad e São Pacífico, Santo Anatólio de Milão (bispo), Santos Andóquio, Tirso e Félix (mártires de Saulieu), Santo Antonio de Lião (mártir), São Geraldo de Csanad (bispo e mártir).

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

SÃO PADRE PIO DE PIETRELCINA

 

Como o Padre Pio parava bombardeiros na Segunda Guerra Mundial em pleno voo!

 

O testemunho de um general que se converteu: na região de San Giovanni Rotondo, onde o santo vivia, jamais caiu uma bomba

Esta história extraordinária sobre o Padre Pio é contada pelo pe. Damaso di Sant’Elia, superior do convento de Pianisi, na Itália. O relato aparece formalmente na “Positio”, o documento oficial que expõe a defesa da canonização do famoso frade capuchinho agraciado com os estigmas da Paixão de Cristo.

* * *

“Vários pilotos da aviação britânica e norte-americana, de várias nacionalidades e religiões diversas, que, durante a Segunda Guerra Mundial, depois de 8 de setembro de 1943, estavam na área de Bari para cumprir missões em território italiano, foram testemunhas de um fato fora do normal. No cumprimento de suas obrigações, alguns aviadores passaram pela região de Gargano, perto de San Giovanni Rotondo, e viram um ‘monge’ no céu que lhes proibia lançar bombas no local.

Em Foggia e na Apúlia quase toda houve bombardeios em várias ocasiões, mas, incrivelmente, na área de San Giovanni Rotondo (onde vivia o Padre Pio) não caiu jamais uma bomba. Testemunha direta deste fato foi o general da força aérea italiana, Bernardo Rossini, que, na época, fazia parte do Comando de Unidade Aérea junto com as forças aliadas.

O general Rossini me referiu que, entre os militares, falava-se de um ‘monge’ que aparecia no céu e fazia os aviões se retirarem. Muitos riam, incrédulos, diante dessas histórias, mas, devido à ocorrência repetida dos episódios, e sempre com diferentes pilotos, o general decidiu intervir pessoalmente: assumiu o comando de uma esquadrilha de bombardeiros para destruir um depósito alemão de munições que ficava justamente em San Giovanni Rotondo.

Todos estávamos extremamente curiosos para saber o resultado da operação. Por isso, quando a esquadrilha retornou, fomos de imediato encontrar o general, que, atônito, contou que, logo ao chegar ao local, tanto ele quanto seus pilotos viram no céu a figura do ‘monge’ com as mãos elevadas; as bombas se desprendiam sozinhas e caíam num bosque; e os aviões deram a volta sem qualquer intervenção dos pilotos.

Todos se perguntavam quem era aquele ‘fantasma’ a quem os aviões obedeciam. Ao ouvir dizer que em San Giovanni Rotondo havia um frade com estigmas, considerado santo pela comunidade, o general pensou que talvez fosse ele o ‘monge’ visto no céu e resolveu comprovar pessoalmente assim que fosse possível. Quando a guerra acabou, foi esta a primeira coisa que fez. Acompanhado de alguns pilotos, foi até o convento dos capuchinhos e, ao cruzar o limiar da sacristia, viu-se diante de vários frades, entre os quais reconheceu imediatamente aquele que tinha parado os seus aviões.

O Padre Pio se aproximou e, colocando a mão sobre seu ombro, disse: ‘Então era você que queria matar a todos nós?’. O general se ajoelhou diante do Padre Pio, que, como de costume, tinha lhe falado no dialeto de Benevento. O general, no entanto, tinha certeza de que o ‘monge’ lhe falara em inglês. Os dois se tornaram amigos e o general, que era protestante, se converteu ao catolicismo”.

Fonte: Positio III / 1, pág. 689-690

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

 

NOSSA SENHORA DA PAZ

 

Segundo a tradição, no ano de 1682, alguns mercadores encontraram na vila do Mar do Sul salvadorenho uma caixa abandonada; tão bem fechada que não conseguiram abri-la com ferramentas.

Certos de que continha algum objeto valioso, levaram-na para a cidade de São Miguel, onde encontrariam recursos para abri-la. Puseram a caixa no lombo de um burro e iniciaram uma longa e perigosa viagem até chegarem à cidade no dia 21 de novembro.

Visando garantir a posse do provável tesouro, dirigiram-se primeiramente às autoridades do lugar para lhes comunicar o achado; ao passarem diante da igreja paroquial, hoje Catedral, o burro deitou-se por terra decidida a não mais se levantar.

Sem nenhum esforço conseguiram abrir a caixa que continha uma formosa imagem de Nossa Senhora com o Menino nos braços. A origem da imagem permanece misteriosa e envolta em lenda. Nunca se pôde descobrir qual seria o destino daquela caixa, nem como chegou ao território salvadorenho.

Conta-se que no momento em que retiravam a imagem ocorria uma violenta luta entre os habitantes da região.

Ao terem notícia do milagroso achado, todos depuseram as armas e imediatamente cessaram as hostilidades; também se relata que nas lutas fratricidas de 1883, o lado vitorioso, em vez de promover represálias, como se esperava, fez colocar a abençoada imagem no átrio da paróquia e, aos pés de Maria, jurou solenemente não guardar rancores e extirpar o ódio dos corações para que a paz gerasse fraternidade e reconciliação.

Por isso deram à imagem o título de Nossa Senhora da Paz, cuja festa é celebrada no dia 21 de novembro, para recordar sua chegada a São Miguel. A imagem é de tamanho regular. Talhada em madeira e vestida de roupas brancas, tem à frente um bordado com o escudo nacional da República de Salvador.

A imagem tem na mão uma palma de ouro, como lembrança da erupção do vulcão Chaparrastique, que ameaçou transformar a cidade num mar de lava ardente. Os atemorizados habitantes de São Miguel colocaram a imagem de Nossa Senhora da Paz na porta principal da Catedral e no mesmo instante a forte corrente de lava mudou de direção, afastando-se da cidade.

No ponto exato onde a lava mudou seu rumo há um povoado chamado "Milagro de la Paz".

Isto ocorreu no dia 21 de setembro de 1787. Neste dia todos testemunharam que a fumaça que saia do vulcão formava uma palma. Vendo nisto um sinal da proteção da Virgem, o povo resolveu colocar em sua mão uma palma de ouro, semelhante a que contemplaram no céu.

A coroação canônica da imagem ocorreu no dia 21 de novembro de 1921. O ourives que confeccionou a coroa da Virgem empregou 650 gramas de ouro e muitas pedras preciosas, entre as quais se destaca uma grande esmeralda cercada de brilhantes. 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

 

SÃO MATEUS - APÓSTOLO E EVANGELISTA

 

No tempo de Jesus Cristo, na época em que a Palestina era apenas uma província romana, os impostos cobrados eram onerosos e pesavam brutalmente sobre os ombros dos judeus.

A cobrança desses impostos era feita por rendeiros públicos, considerados homens cruéis, sanguessugas, verdadeiros esfoladores do povo.

Um dos piores rendeiros da época era Levi, filho de Alfeu, que, mais tarde, trocaria seu nome para Mateus, o "dom de Deus". Um dia, depois de pregar, Jesus caminhava pelas ruas da cidade de Cafarnaum e encontrou com o cruel Levi.

Olhou-o com firmeza nos olhos e disse: "Segue-me". Levi, imediatamente, levantou-se, abandonou seu rendoso negócio, mudou de vida, de nome e seguiu Jesus. Acredita-se, mesmo, que tal mudança não tenha realmente ocorrido dessa forma, mas sim pelo seu próprio e espontâneo entusiasmo no Messias.

Na verdade, o que se imagina é que Levi havia algum tempo cultivava a vontade de seguir as palavras do profeta e que aquela atitude tenha sido definitiva para colocá-lo para sempre no caminho da fé cristã.

Daquele dia em diante, com o nome já trocado para Mateus, tornou-se um dos maiores seguidores e apóstolos de Cristo, acompanhando-o em todas as suas caminhadas e pregações pela Palestina. Mateus foi o segundo apóstolo (considerando que o primeiro foi Marcos) a escrever um livro contando a vida e a morte de Jesus Cristo, ao qual ele deu o nome de Evangelho e que foi amplamente usado pelos primeiros cristãos da Palestina.

Quando o apóstolo são Bartolomeu viajou para as Índias, levou consigo uma cópia.

Depois da morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos espalharam-se pelo mundo e Mateus foi para a Arábia e a Pérsia para evangelizar aqueles povos. Porém foi vítima de uma grande perseguição por parte dos sacerdotes locais, que mandaram arrancar-lhe os olhos e o encarceraram para depois ser sacrificado aos deuses.

Mas Deus não o abandonou e mandou um anjo que curou seus olhos e o libertou.

Mateus seguiu, então, para a Etiópia, onde mais uma vez foi perseguido por feiticeiros que se opunham à evangelização. Porém o príncipe herdeiro morreu e Mateus foi chamado ao palácio. Por uma graça divina fez o filho da rainha Candece ressuscitar, causando grande espanto e admiração entre os presentes.

Com esse ato, Mateus conseguiu converter grande parte da população. Na época, a Igreja da Etiópia passou a ser uma das mais ativas e florescentes dos tempos apostólicos.

São Mateus morreu por ordem do rei Hitarco, sobrinho do rei Egipo, no altar da igreja em que celebrava o santo ofício da missa. Isso aconteceu porque não intercedeu em favor do pedido de casamento feito pelo monarca, e recusado pela jovem Efigênia, que havia decidido consagrar-se a Jesus. Inconformado com a atitude do santo homem,

Hitarco mandou que seus soldados o executassem. No ano 930, as relíquias mortais do apóstolo são Mateus foram transportadas para Salerno, na Itália, onde, até hoje, é festejado como padroeiro da cidade. A Igreja determinou o dia 21 de setembro para a celebração de são Mateus, apóstolo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 

SANTO ANDRÉ KIM TAEGON E COMPANHEIROS MÁRTIRES - OS 103 MÁRTIRES COREANOS - +1846

 

A Igreja coreana tem, talvez, uma característica única no mundo católico.

Foi fundada e estabelecida apenas por leigos. Surgiu no início de 1600, a partir dos contatos anuais das delegações coreanas que visitavam Pequim, na China, nação que sempre foi uma referência no Extremo Oriente para troca de cultura. Ali os coreanos tomaram conhecimento do cristianismo.

Especialmente por meio do livro do grande padre Mateus Ricci, "A verdadeira doutrina de Deus". Foi o leigo Lee Byeok que se inspirou nele para, então, fundar a primeira comunidade católica atuante na Coréia. As visitas à China continuaram e os cristãos coreanos foram, então, informados, pelo bispo de Pequim, de que suas atividades precisavam seguir a hierarquia e organização ditada pelo Vaticano, a Santa Sé de Roma. Teria de ser gerida por um sacerdote consagrado, o qual foi enviado oficialmente para lá em 1785.

Em pouco tempo, a comunidade cresceu, possuindo milhares de fiéis,

Porém começaram a sofrer perseguições por parte dos governantes e poderosos, inimigos da liberdade, justiça e fraternidade pregadas pelos missionários. Tentando acabar com o cristianismo, matavam seus seguidores. Não sabiam que o sangue dos mártires é semente de cristãos, como já dissera o imperador Tertuliano, no início dos tempos cristãos.

Assim, patrocinaram uma verdadeira carnificina entre 1785 e 1882, quando o governo decretou a liberdade religiosa. Foram dez mil mártires. Desses, a Igreja canonizou muitos que foram agrupados para uma só festa, liderados por André Kim Taegon, o primeiro sacerdote mártir coreano.

Vejamos o seu caminho no apostolado. André nasceu em 1821, numa família da nobreza coreana, profundamente cristã. Seu pai, por causa das perseguições, havia formado uma "Igreja particular" em sua casa, nos moldes daquelas dos cristãos dos primeiros tempos, para rezarem, pregarem o Evangelho e receberem os sacramentos.

Tudo funcionou até ser denunciado e morto, aos quarenta e quatro anos, por não renegar a fé em Cristo. André tinha quinze anos e sobreviveu com os familiares, graças à ajuda dos missionários franceses, que os enviaram para a China, onde o jovem se preparou para o sacerdócio e retornou diácono, em 1844.

Depois, numa viagem perigosa vivida, tanto na ida quanto na volta, num clima de perseguição, foi para Xangai, onde o bispo o ordenou sacerdote. Devido à sua condição de nobre e conhecedor dos costumes e pensamento local, obteve ótimos resultados no seu apostolado de evangelização. Até que, a pedido do bispo, um missionário francês, seguiu em comitiva num barco clandestino para um encontro com as autoridades eclesiásticas de Pequim, que aguardavam documentos coreanos a serem enviados ao Vaticano.

Foram descobertos e presos. Outros da comunidade foram localizados, inclusive os seus parentes. André era um nobre, por isso foi interrogado até pelo rei, no intuito de que renegasse a fé e denunciasse seus companheiros. Como não o fez, foi severamente torturado por um longo período e depois morto por decapitação, no dia 16 de setembro de 1846 em Seul, Coréia.

Na mesma ocasião, foram martirizados cento e três homens, mulheres, velhos e crianças, sacerdotes e leigos, ricos e pobres. De nada adiantou, pois a jovem Igreja coreana floresceu com os seus mártires.

Em 1984, o papa João Paulo II, cercado de uma grande multidão de cristãos coreanos, canonizou santo André Kim Taegon e seus companheiros, determinando o dia 20 de setembro para a celebração litúrgica.

São lembrados também, neste dia: Santa Cândida de Cartago (virgem e mártir) Santos Dionísio e Privado (mártires), São Francisco Maria, Santo Agapito I (papa), Santos Eustáquio Teopiste  e Agapito (mártires).