quarta-feira, 30 de junho de 2021

 

OS PRIMEIROS MÁRTIRES DA SANTA IGREJA ROMANA - SÉCULO I

 

Certo dia, um pavoroso incêndio reduziu Roma a cinzas. Em 19 de julho de 64, a poderosa capital virou escombros e o imperador Nero, considerado um déspota imoral e louco por alguns historiadores, viu-se acusado de ter sido o causador do sinistro. Para defender-se, acusou os cristãos, fazendo brotar um ódio contra os seguidores da fé que se espalharia pelos anos seguintes.

Nero aproveitou-se das calúnias que já cercavam a pequena e pouco conhecida comunidade hebraica que habitava Roma, formada por pacíficos cristãos. Na cabeça do povo já havia, também, contra eles, o fato de recusarem-se a participar do culto aos deuses pagãos.

Aproveitando-se do desconhecimento geral sobre a religião, Nero culpou os cristãos e ordenou o massacre de todos eles.

Há registros de um sadismo feroz e inaceitável, que fez com que o povo romano, até então liberal com relação às outras religiões, passasse a repudiar violentamente os cristãos.

Houve execuções de todo tipo e forma e algumas cenas sanguinárias estimulavam os mais terríveis sentimentos humanos, provocando implacável perseguição.

Alguns adultos foram embebidos em piche e transformados em tochas humanas usadas para iluminar os jardins da colina Oppio.

Em outro episódio revoltante, crianças e mulheres foram vestidas com peles de animais e jogadas no circo às feras, para serem destroçadas e devoradas por elas.

Desse modo, a crueldade se estendeu de 64 até 67, chegando a um exagero tão grande que acabou incutindo no povo um sentimento de piedade. Não havia justificativa, nem mesmo alegando razões de Estado, para tal procedimento. O ódio acabou se transformando em solidariedade.

Os apóstolos Pedro e Paulo foram duas das mais famosas vítimas do imperador tocador de lira, por isso a celebração dos mártires de Nero foi marcada para um dia após a data que lembra o martírio de ambos. Porém, como bem nos lembrou o papa Clemente, o dia de hoje é a festa de todos os mártires, que com o seu sangue sedimentaram a gloriosa Igreja Católica Apostólica Romana.

São lembrados também neste dia: Santa Lucina, São Basílides (mártir), São Teobaldo, Bem-aventurado Januário Maria Sarnelli, São Bertrando (bispo), São Caio (presbítero), Santa Clotsinde (abadessa), Santa Emiliana (mártir), Santa Erentrudes (abadessa).

terça-feira, 29 de junho de 2021

 

MARTÍRIO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

 

A solenidade de são Pedro e de são Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo anterior até mesmo à comemoração do Natal. Já no século IV havia a tradição de, neste dia, celebrar três missas: a primeira na basílica de São Pedro, no Vaticano; a segunda na basílica de São Paulo Fora dos Muros e a terceira nas catacumbas de São Sebastião, onde as relíquias dos apóstolos ficaram escondidas para fugir da profanação nos tempos difíceis.

E mais: depois da Virgem Santíssima e de são João Batista, Pedro e Paulo são os santos que têm mais datas comemorativas no ano litúrgico.

Além do tradicional 29 de junho, há: 25 de janeiro, quando celebramos a conversão de São Paulo; 22 de fevereiro, quando temos a festa da cátedra de São Pedro; e 18 de novembro, reservado à dedicação das basílicas de São Pedro e São Paulo.

Antigamente, julgava-se que o martírio dos dois apóstolos tinha ocorrido no mesmo dia e ano e que seria a data que hoje comemoramos.

Porém o martírio de ambos deve ter ocorrido em ocasiões diferentes, com são Pedro, crucificado de cabeça para baixo, na colina Vaticana e são Paulo, decapitado, nas chamadas Três Fontes. Mas não há certeza quanto ao dia, nem quanto ao ano desses martírios.

A morte de Pedro poderia ter ocorrido em 64, ano em que milhares de cristãos foram sacrificados após o incêndio de Roma, enquanto a de Paulo, no ano 67.

Mas com certeza o martírio deles aconteceu em Roma, durante a perseguição de Nero. Há outras raízes ainda envolvendo a data.

A festa seria a cristianização de um culto pagão a Remo e Rômulo, os mitológicos fundadores pagãos de Roma. São Pedro e são Paulo não fundaram a cidade, mas são considerados os "Pais de Roma". Embora não tenham sido os primeiros a pregar na capital do império, com seu sangue "fundaram" a Roma cristã.

Os dois são considerados os pilares que sustentam a Igreja tanto por sua fé e pregação como pelo ardor e zelo missionários, sendo glorificados com a coroa do martírio, no final, como testemunhas do Mestre.

São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro papa da Igreja. A ele Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra fundarei a minha Igreja". São Pedro é o pastor do rebanho santo, é na sua pessoa e nos seus sucessores que temos o sinal visível da unidade e da comunhão na fé e na caridade.

São Paulo, que foi arrebatado para o colégio apostólico de Jesus Cristo na estrada de Damasco, como o instrumento eleito para levar o seu nome diante dos povos, é o maior missionário de todos os tempos, o advogado dos pagãos, o "Apóstolo dos Gentios". São Pedro e são Paulo, juntos, fizeram ressoar a mensagem do Evangelho no mundo inteiro e o farão para todo o sempre, porque assim quer o Mestre.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

 

MARIA, MÃE E EDUCADORA

 

Maria é o exemplo das educadoras cristãs. E José, juntamente com Maria, é o casal de deve servir de exemplo a todas as fam´[ilias cristãs.

Se quisermos chegar até Deus Pai e reinar com Jesus Cristo, assumamos a nossa vida de verdadeiros cristãos  com todas as suas consequências, com todas as suas alegrias e espinhos.

A vida do cristão tem muitas vezes a transfiguração do Monte Tabor (Mt 17,1-13), mas sempre vai ter a subida do Monte Calvário com a inevitável crucificação (Jo 19,17-37). A vida do cristão tem as alegrias do nascimento de Jesus em Belém (Lc 2,1-20), mas tem também as apreensões e tristezas da matança dos inocentes e por Herodes e a fuga para o Egito (Mt 1,13-18).

A vida do cristão tem a entrada triunfal em Jerusalém, (Mt 21,1-11)  mas também tem o sofrimento da flagelação e da coroação de espinhos (Mt 27,28-31), mas, apesar de tudo isso, não podemos nos esquecer que, depois da morte de cruz vem a ressurreição e é através da ressurreição que o Senhor Jesus faz cumprir todas as profecias de se tornar e ser o Rei do Universo.

É através da nossa ressurreição de todos os dias e de cada dia, do nosso cair-e-levantar que nos tornamos herdeiros do Reino dos Céus onde Jesus Cristo reina por todo o sempre, “Àquele que nos ama, e que nos lavou de nossos pecados com seu sangue, e fez de nós uma Realeza e Sacerdotes para Deus, seu Pai, a ele pertencem a glória e o domínio pêlos séculos dos séculos, Amém. Eis que ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão, até mesmo os que o traspassaram, e todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim!  Amém! Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, “Aquele-que-é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem”, o Todo Poderoso  (Apo 1,5-8).

domingo, 27 de junho de 2021

 








NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um dos títulos conferidos a Maria, Mãe de Jesus, representada em um ícone  de estilo bizantino.

Ela é a Senhora da morte e a Rainha da Vida, o Auxílio de nos cristãos, nosso porto seguro quando invocamos seu auxílio com amor filial. Com um semblante melancólico, Nossa Senhora traz no braço esquerdo o Menino Jesus, ao qual o Arcanjo Gabriel apresenta quatro cravos e uma cruz.

A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi e continua sendo difundida pelos padres da Congregação do Santíssimo Redentor ou Padres Redentoristas.

No Brasil, a devoção alcançou uma grande popularidade. Foi no ano de 1870 que a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro começou a ser propagada e espalhou-se por todo o mundo.

A pintura do quadro é do século XIII, no estilo bizantino.

Na Igreja Ortodoxa é conhecida como Mãe de Deus da Paixão, ou ainda, a Virgem da Paixão. Um ícone célebre é venerado desde 1865  em Roma, na igreja de Santo Afonso dos redentoristas, na Via Merulana.

Desde o ano de 1499 é venerada na Igreja de São Mateus, que segundo contam, veio de Creta, Grécia, pelas mãos de um negociante.

O quadro foi levado num oratório dos padres Agostinianos em 1812, quando o velho Santuário foi totalmente demolido.

No ano de 1865 os Redentoristas obtiveram das mãos do Papa Pio IX, o quadro da imagem milagrosa. O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi colocado na Igreja de Santo Afonso, em Roma.

A tipologia da Mãe de Deus da Paixão está presente no repertório da pintura bizantina desde, no mínimo, o século XII, apesar de rara. No século XV, esta composição que prefigura a paixão de Jesus, é difundida em um grande número de ícones.

A tipologia é bizantina, e quase acadêmica a execução do rígido panejamento das vestes; mas é certamente novo o movimento oposto e assustado do menino, de cujo pé lhe cai a sandália, e ainda a comovente ternura do rosto da mãe.

O ícone é uma variante do tipo hodigítria cuja representação clássica é Maria em posição frontal: num braço ela segura o menino Jesus que abençoa e, com o outro, o aponta para quem, olha para o quadro, aludindo no gesto à frase “é ele o caminho”.

Na representação da Virgem da Paixão, os arcanjos Gabriel e Miguel , na parte superior, de um lado e do outro de Maria, apresentam os instrumentos da paixão.

Um dos arcanjos segura a cruz e o outro a lança e a cana com uma esponja na ponta ensopada de vinagre (Jo 19,29). Ao ver estes instrumentos, o menino se assusta e agarra-se à mãe, enquanto uma sandália lhe cai do pé.

Sobre as figuras no retrato, estão algumas letras gregas. As letras “IC XC” são a abreviatura do nome “Jesus Cristo” e “MP ØY” são a abreviatura de “Mãe de Deus”.

As letras que estão abaixo dos arcanjos correspondem à abreviatura de seus nomes.

O ícone da Mãe de Deus da Paixão é muito difundido no Oriente Bizantino. Exemplares desta representação encontram-se nos museus de Atenas, Moscou, Creta, Leningrado e no Instituto Helênico de Estudos Bizantinos e Pós-bizantinos de Veneza.

A devoção no Ocidente à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro deve-se à ação dos Missionários Redentoristas que difundiram esta prática religiosa em suas áreas de atuação.

Outros nomes são atribuídos a esse ícone, como Virgem da Paixão, Madona de Ouro, Mãe dos Missionários Redentoristas, Mãe dos Lares Católicos.

O mais difundido no ocidente é Mãe do Perpétuo Socorro.

São comemorados também neste dia: Diácono João Luiz Pozzobon, São Cirilo de Alexandria, São Ladislau e Santa Madalena Fontaine, São Ladislau, Santa Madalena Fontaine, Santo Adelino de Crespim (abade), São Arialdo de Milão (mártir), São Cescêncio (bispo, mártir do século I, citado na carte 2Tm 4,9).


sábado, 26 de junho de 2021

 

MÃE DO PERPÉTUO SOCORRO

 

Maria. Virgem Maria. Mãe do Perpétuo Socorro.       Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.  

É com este título que centenas e milhares de filhos e devotos seus a louvam em Rio Preto e por toda a parte onde quer que exista alguém desesperado ou necessitado de sua ajuda, de seu auxílio, de seu socorro. Foram os seus filhos que lhe deram esse título, e não foi por acaso.

A Senhora socorre os necessitados desde quando  começamos a conhecer na Anunciação do Anjo. Sabendo a Senhora que sua prima Isabel estava em dificuldades, a Senhora se põe a caminho para socorrê-la nas suas necessidades e não a deixa enquanto não ver que tudo estava certo e que ela estava bem. E, para socorrer a sua prima Isabel, a Senhora não pensou em si própria: pensou só no bem do outro.           Isabel estava grávida e precisava de ajuda.

Mas a Senhora, Mãe do Perpétuo Socorro, também estava grávida, e grávida do Filho de Deus que se fazia homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus. A Senhora não pensou em si própria, deixou de lado os seus próprios problemas para socorrer outra pessoa que necessitava de sua presença, de sua ajuda, de seu socorro. E, depois deste fato que nos atesta a sua preocupação com todos os necessitados, através do Evangelho vamos encontrar a Senhora, novamente, preocupada com o bem estar de outras pessoas, lá no casamento de Canaã, na Galiléia.

Estava sendo realizado um casamento. A Senhora e seu Divino Filho eram convidados e participavam da festa. De repente, com seu espírito e atenção maternal, a Senhora pressentiu que os noivos estavam em dificuldades, e com uma solicitude insuperável, a Senhora se apressou em socorrê-los, fazendo até que o seu Divino Filho  antecipasse o momento de seu primeiro milagre para realiza-lo ali, no casamento de Canaã, na Galiléia, transformando água em vinho.

A sua prima Isabel estava em dificuldades, e a Senhora, sem esperar que ela vos pedisse, a Senhora foi até lá e a socorreu em suas necessidades.

A Senhora pressentiu que os noivos de Canaã  estavam em dificuldades, e a Senhora não esperou que alguém viesse vos pedir ajuda e socorro,  e a Senhora se prontificou, de imediato, em socorrê-los. E a Senhora continuou através dos séculos a socorrer a todos os seus filhos necessitados que lhe pedissem socorro, que lhe pedissem ajuda, que lhe elevassem uma súplica para que algum problema em suas vidas fosse resolvido.

E tanta certeza tinha São Bernardo da sua atenção, Senhora, que ele nos deixou escrito uma das mais belas orações chamando a atenção de todos os seus filhos a fim que atentassem para a atenção que a Senhora  tem com todos os seus filhos; basta lhe pedir com amor e devoção que a Senhora prontamente atende a todos os pedidos justos de seus filhos.

E prova disso, Mãe do Perpétuo Socorro, temos aqui em São José do Rio Preto  e região, através do seu Santuário, onde se realiza a sua novena perpétua dirigida à Senhora sob o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Todos os dias o seu Santuário é visitado por centenas de pessoas e todas as quartas-feiras milhares de fiéis recorrem ao seu Santuário para pedir socorro a fim de resolver algum problema, alguma necessidade: é um chefe de família endividado; é alguém que não tem forças para vencer algum vício e vem aos seus pés pedir socorro; é uma moça pedindo para encontrar um bom moço para se casar; é um jovem, uma jovem, um pai ou mãe de família pedindo socorro para encontrar um bom emprego; é um doente pedindo socorro par que lhe seja devolvida a saúde; é uma mãe de família desesperada porque seu marido bebe, ou seu filho se encontra em más companhias ou no caminho das drogas; é o estudante pedindo socorro para ser bem sucedido nos  seus estudos e passar de ano; é o lavrador pedindo o socorro da chuva ou do sol para que tenha uma boa colheita, enfim, são milhares de pedidos que a Senhora recebe todos os dias e, principalmente nas quartas-feiras, dia de sua novena perpétua, e a Senhora não desampara nenhum filho seu.

Nenhum filho seu, que chega com amor e confiança aos seus pés, sai dali sem ter a esperança de que seu pedido será atendido. Virgem Maria, Mãe de Deus e Nossa Mãe, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, como disse São Bernardo: “Jamais se ouviu dizer que qualquer devoto que tivesse chegado aos seus pés, solicitado uma ajuda, feito um pedido ou implorasse um socorro, tivesse sido pela Senhora desamparado. Mãe querida, e por isso hoje nós suplicamos, e à sua proteção recorremos, Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos, ò Virgem Gloriosa e Bendita.”

quinta-feira, 24 de junho de 2021

 

SÃO JOÃO BATISTA

 

Esta data, 24 de junho, comemora o nascimento de João Batista.

No dia 29 de agosto é lembrada, liturgicamente, a sua morte por decaptação ordenada pelo rei Herodes. João nasceu numa pequena aldeia chamada Aim Karim, a cerca de seis quilômetros lineares de distância a oeste de Jerusalém.

Segundo interpretações do Evangelho de Lucas, João Barista era um nazireu de nascimento, insto é, consagrado a Yahweh que não podia tomar bebidas fermentadas e nem cortar o cabelo e nem tocar em mortos, conforme vemos no livro dos  Números, 6,1-21. Outros documentos defendem que pertencia à facção nazarita de Israel, integrando-a na puberdade, era considerado, por muitos, um homem consagrado.

De acordo com a cronologia neste artigo, João teria nascido no ano 7 aC; os historiadores religiosos tendem a aproximar esta data do ano 1º, apontando-a para 2 aC. Como era prática ritual entre os judeus, o seu pai Zacarias teria procedido à cerimônia da circunsição, ao oitavo dia de vida do menino.

A sua educação foi grandemente influenciada pelas ações religiosas e pela vida no templo, uma vez que o seu pai era um sacerdote e a sua mãe pertencia a uma sociedade chamada "as filhas de Araão", as quais cumpriam com determinados procedimentos importantes na sociedade religiosa da altura.

Aos 6 anos de idade, de acordo com a educação sistemática judaica, todos os meninos deveriam iniciar a sua aprendizagem "escolar".

Em Judá não existia uma escola, pelo que terá sido o seu pai e a sua mãe a ensiná-lo a ler e a escrever, e a instruí-lo nas atividades regulares. Aos 14 anos há uma mudança no ensino.

Os meninos, graduados nas escolas da sinagoga, iniciam um novo ciclo na sua educação. Como não existia uma escola em Judá, os seus pais terão decidido levar João a Engedi (atual Qunram) com o fito de este ser iniciado na educação nazarista.

Engedi era a sede ao sul da irmandade nazarita, situava-se perto do Mar Morto e era liderada por um homem, reconhecido, de nome "Ebner". João terá efetuado os votos de nazarita que incluíam abster-se de bebidas intoxicantes, o deixar o cabelo crescer, e o não tocar nos mortos. As ofertas que faziam parte do ritual foram entregues em frente ao templo de Jerusalém como caracterizava o ritual.

Segundo o relato bíblico (Mt 3,4), João também trajava veste simples (de pelos de camelo, um cinto de couro em torno de seus lombos) e alimentava-se de "gafanhotos e mel silvestre", não obstante, devido ao termo "gafanhoto" se referir também à alfarrobeira (Ceratonia siliqua), uma árvore de fruto adocicado comestível, nativa da região mediterrânica, onde provavelmente vivia o personagem bíblico, seja provável que usasse alfarrobas com mel, conhecida ainda como Pão-de-João ou Pão-de-São-João, figueira-de-pitágoras e figueira-do-egipto.

O pai de João, Zacarias, terá morrido no ano 12 dC. João teria  entre 18 e 19 anos de idade, e terá sido um esforço manter o seu voto de não tocar nos mortos. Com a morte do seu pai, Isabel ficaria dependente de João para o seu sustento.

Era normal ser o filho mais velho a sustentar a família com a morte do pai. João seria filho único. Para se poder manter próximo de Engedi e ajudar a sua mãe, eles terão se mudado, de Judá para Hebrom (o deserto da Judeia).

Ali João terá iniciado uma vida de pastor, juntando-se às dezenas de grupos ascetas que deambulavam por aquela região, e que se juntavam amigavelmente e conviviam com os nazaritas de Engedi.

Isabel terá morrido no ano 22 dC e foi sepultada em Hebrom. João ofereceu todos os seus bens de família à irmandade nazarita e aliviou-se de todas as responsabilidades sociais, iniciando a sua preparação para aquele que se tornou um “objetivo de vida” - pregar aos gentios e admoestar os judeus, anunciando a proximidade de um “Messias” que estabeleceria o “Reino do Céu”.

De acordo com um médico da Antioquia, que residia em Písia, de nome Lucas, João terá iniciado o seu trabalho de pregador no 15º ano do reinado de Tibério. Lucas foi um discípulo de Paulo, e morreu no ano 90.

A sua herança escrita, narrada no "Evangelho segundo Lucas" e "Atos dos Apóstolos" foram compiladas em acordo com os seus apontamentos dos conhecimentos de Paulo e de algumas testemunhas que ele considerou.

Este 15º ano do reinado de Tibério César terá marcado, então, o início da pregação pública de João e a sua angariação de discípulos por toda a Judeia em acordo com o Novo Testamento.





quarta-feira, 23 de junho de 2021

 

MUDANÇA DE VIDA E MENTALIDADE

 

Quando Jesus se deparava com pessoas que viviam vida pouco digna, que se intitulavam santos e exploravam o povo, que viviam mergulhados no pecado, na injustiça e que não tinham qualquer intenção ou interesse de mudarem o seu modo de vida e mentalidade, Jesus era duro, chamando-os de geração adúltera, raça de víboras, sepulcros caiados: “Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas, porque vocês bloqueam o Reino dos Céus diante dos homens! Pois vocês mesmos não entram, nem deixam entrar os que querem fazê-lo.” (Mt 23,13-14), e, na sequência, Jesus profere outras seis maldições contra os escribas e fariseus e, dentre estas está esta terrível, que suscita em cada um de nós motivo de reflexão: (Mt 23,27-28). “Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas! Vocês são semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Assim também vocês: por fora parecem justos aos homens, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e iniquidade.”

Aos que se apresentavam arrependidos, procurando mudar de vida e de mentalidade, Jesus os recebia com carinho e amor paternal; mas, pelo contrário, os que viviam uma vida pecaminosa e, apesar dos ensinamentos do Divino Mestre, se mantinham na sua trilha de pecado e iniquidade, para esses Jesus tinha palavras duras e mostrava qual seria o destino deles se continuassem na trilha do desrespeito aos mandamentos do Senhor.

Quando Jesus disse que os publicanos e prostitutas chegariam aos céus primeiro ou precederiam muita gente no reino dos céus, até hoje, muita gente que não vive o espírito de Jesus Cristo e nem assume a sua mensagem evangélica, se escandaliza, desconhecendo o sentido verdadeiro dessa afirmativa do Divino Mestre.

Os ladrões e prostitutas que tiveram uma vida de pecado mas que se arrependeram, esclarecidos que foram  pela luz e força do espírito do Evangelho, esses precederão no Reino dos Céus a muitos que se julgaram e se julgam santos.     

O Reino dos Céus é para todos os que tem o coração puro: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.” (Mt 5,8). Assim o salmista define os que herdarão o Reino dos Céus: “Quem pode subir a montanha de Iahweh? Quem pode ficar de pé no seu lugar santo? Quem tem mãos inocentes e coração puro, e não se entrega à falsidade, nem faz juramentos para enganar” (Sl 24 (23),3-4).

O Reino dos Céus foi feito para os mansos e humildes de coração, para os que tem mãos inocentes e coração puro, não se entrega à falsidade e nem faz juramentos para enganar; para os que oram, reconhecendo a grandeza e misericórdia de Deus Pai, para os que sabem que são pecadores mas fazem penitência e se arrependem verdadeiramente de seus pecados.

Mas os que estão no pecado e continuam  na sua vida irregular, pecaminosa, a esses Jesus  tem palavras duras e promessas pouco animadoras para a vida futura.

É por isso que Paulo escreve a Timóteo, chamando-lhe a atenção de como deve viver o cristão que está preocupado com a vida eterna e lutando para herdar o Reino de Deus: “Tu,, porém, ó homem de Deus, foge dessas coisas. Segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna,, para a qual foste chamado, como o reconheceste numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas.” (1Tm 6,11-12).

Assim João escreve na sua primeira carta: “Todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus, e todos o que ama ao que gerou ama também o que dele nasceu. Nisso reconhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Pois este é o amor de Deus; observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: A NOSSA FÉ” (1Jo 5,1-4).

terça-feira, 22 de junho de 2021

 

“TU O DIZES, EU SOU REI...”

 

Por algumas vezes o povo judeu, empolgado pelas maravilhas e milagres operados por Jesus e na sua ignorância quanto ao Reino  que Jesus veio proclamar, quis fazer dele um rei deste mundo: “Jesus, porém, sabendo que viriam buscá-lo para fazê-lo rei, refugiou-se de novo, sozinho, na montanha.” (Jo 6,15).

Jesus não viera a este mundo para satisfazer a ganância e o desejo de poder do povo judeu, não aceitou ser proclamado rei e fugiu, porque, o Reino por ele anunciado, não seria um reino de ostentação, de força, de poder, de glórias terrenas, de riqueza, de dominação, mas um reino de amor, de sacrifícios, de serviço, de doação total.

Os judeus não entenderam isso, e por ironia, acabaram matando em uma cruz aquele mesmo que eles queriam proclamar rei.Durante o julgamento de Jesus Pilatos, o governador de Jerusalém, pergunta-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” e Jesus responde: “Meu reino não é deste mundo...”, mas, Pilatos insiste ainda: “Então, tu és rei?” Respondeu Jesus: “Tu o dizes, eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz.” (Jo 18,36-37).

Jesus Cristo é Rei. É ele mesmo quem se proclama rei: “Tu o dizes, eu sou rei.” (Jo 18,37). Jesus se proclama rei no momento mais doloroso de sua vida. Quando Pilatos lhe pergunta se ele era realmente “Rei dos Judeus”, havia uma ironia nessa pergunta; Pilatos não estava preocupado com a verdade; talvez até quisesse se divertir às custas daquele homem das dores em sua presença, já profetizado por Isaias: “Tão desfigurado estava o seu aspecto e a sua forma não parecia de um homem...” (Is 52,14).          

Que ironia: um rei coroado com uma coroa de espinhos, tendo sobre os seus ombros um manto emprestado, como cetro, na mão, um pedaço ridículo de cana e como trono um tronco onde foi amarrado para ser açoitado...

Um rei  todo machucado, com a carne dilacerada, com os olhos inchados, com a aparência de um condenado, por isso “Nós o tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado.” (Is 53,4); “Foi maltratado mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao matadouro.” (Is 53,7).        

Um rei com o rosto coberto de escarros da soldadesca embriagada e nojenta, com os cabelos em desalinho, com as mãos amarradas, com a pele e a carne dilaceradas pela violência dos açoites, com os pés descalços. Sua aparência era real e total de um condenado, traído e abandonado até pelos seus Apóstolos, aqueles mesmos que lhe afirmaram numa profissão de fé:. “Senhor, a quem iremos? Tens palavra de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o santo de Deus”. (Jo 6,68). Traído pelo seu Apóstolo Judas Escariotes e negado pelo mesmo Pedro Apóstolo que lhe dissera: “Ainda que todos se escandalizassem por tua causa, eu jamais me escandalizarei.” (Mt 26,33); e Jesus, conhecedor da fragilidade da natureza humana, faz uma terrível revelação: “Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes.” (Mt 26,34).

E Pedro, na sua pseuda coragem e bravatisse, se levanta, bate no peito e afirma categoricamente: “Mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei.” (Mt 26,35). Pobre Pedro. Tristemente, Pedro é a imagem de muitos cristãos dos nossos dias.

E, durante o julgamento, Pedro lá estava, disfarçado, escondido em um canto para que não fosse reconhecido como um “seguidor do condenado”.

Reconhecido por  uma criada, antes que o galo cantasse, Pedro nega Jesus por três vezes (Mt 26,69.75): “Não conheço o homem” (Mt 26,74).

Mas o olhar de Jesus, apesar do sofrimento e da desilusão de se ver negado pelo Apóstolo que jurara de pés juntos que “mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei.” (Mt 26,35), aquele mesmo olhar permanecia tranquilo, como tranquilo foi o olhar de Jesus dirigido à Pedro após a sua tríplice negação: “Imediatamente, enquanto ele (Pedro) ainda falava, o galo cantou, e o Senhor voltou-se, fixou o olhar em Pedro.” (Lc 22,60); um olhar tão tranquilo e cheio de paz que alcançava profundamente o íntimo de cada pessoa e “Pedro se lembrou da palavra que Jesus dissera: “Antes que o galo cante, três vezes me negarás.” Saindo dali ele chorou amargamente.” (Mt 26,75).

Um rei que havia sido traído e negado por seus súditos.  Um rei que havia sido açoitado.  Um rei que havia servido de gozação por parte da soldadesca embriagada que escarnecia dele, dizendo: “Salve rei dos judeus.” (Mt 27,29).

Um rei com uma grande coroa de espinhos na cabeça que lhe rasgava o couro cabeludo e penetrava profundamente nos ossos, na testa, nas frontes, na nuca, causando os mais terríveis sofrimentos e dores.

Aquele homem, naquele estado, antes de se dizer rei, devia pedir clemência, tinha de implorar misericórdia; mas não: ele se mantém digno, de pé, com uma postura e dignidade que somente um rei poderia ter, uma dignidade que perturbava a todos os seus acusadores e impressionava os seus julgadores que não tinham tanta certeza se deveriam condená-lo ou não.

Uma dignidade que somente um rei poderia ter, mas não um rei deste mundo, e sim um  REI que tinha algo de sobrenatural, uma missão a cumprir e, aquelas cenas, aquele sofrimento, aquele julgamento estavam enquadrados nos planos de sua missão. Pilatos, na sua gozação, não perde a oportunidade e pergunta: “Então, tu és rei?” (Jo 18,37).   

Mas a resposta que Jesus lhe dá não é a mesma que ele esperava, e Jesus responde: “Tu o dizes, eu sou rei.”  (Jo 18,37), e afirma: “Para isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade.  Quem é da verdade escuta a minha voz.” (Jo 18,37).  Mas afirma categoricamente: “Meu reino não é deste mundo...” (Jo 18,36).

Pilatos deve ter se impressionado com essas respostas, mas ainda não convencido das grandes verdades ditas pelo Senhor Jesus quanto ao verdadeiro reino que ele veio trazer ao mundo para os homens e, possivelmente para atingir com sua “gozação” também os fariseus, escribas, sacerdotes e chefes do povo judeu, manda fazer uma tabuleta para colocar na cruz onde Jesus seria crucificado com a seguinte inscrição: “Este é Jesus, o rei dos Judeus.” (Mt 27,37), assinando, assim a sua condenação e assumindo a culpa de estar compartilhando, pelas suas atitudes dúbias, com a morte do Rei do Universo.

Pilatos e o povo judeu não  esperavam jamais que aquele que fora escarnecido, julgado, condenado e crucificado como elemento nocivo à sociedade, à religião e ao governo, três dias depois ressuscitaria dos mortos e estabeleceria o seu Reino que não é deste mundo, mas o Reino dos Céus, o Reino de Deus...

segunda-feira, 21 de junho de 2021

 

SÃO LUÍS GONZAGA - 1568-1591

 

Luís nasceu no dia 9 de março de 1568, na Itália. Foi o primeiro dos sete filhos de Ferrante Gonzaga, marquês de Castiglione delle Stiviere e sobrinho do duque de Mântua.

Seu pai, que servia ao rei da Espanha, sonhava ver seu herdeiro e sucessor ingressar nas fileiras daquele exército. Por isso, desde pequenino, Luís era visto vestido como soldado, marchando atrás do batalhão ao qual seu pai orgulhosamente servia.

Entretanto, Luís não desejava essa carreira, pois, ainda criança fizera voto de castidade.

Quando tinha dez anos, foi enviado a Florença na qualidade de pajem de honra do grão-duque de Toscana. Posteriormente, foi à Espanha, para ser pajem do infante dom Diego, período em que aproveitou para estudar filosofia na universidade de Alcalá de Henares.

Com doze anos, recebeu a primeira comunhão diretamente das mãos de Carlos Borromeu, hoje santo da Igreja. Desejava ingressar na vida religiosa, mas seu pai demorou cerca de dois anos para convencer-se de sua vocação.

Até que consentiu; mas antes de concordar definitivamente, ele enviou Luís às cortes de Ferrara, Parma e Turim, tentando fazer com que o filho se deixasse seduzir pelas honras da nobreza dessas cortes. Luís tinha quatorze anos quando venceu as resistências do pai, renunciou ao título a que tinha direito por descendência e à herança da família e entrou para o noviciado romano dos jesuítas, sob a direção de Roberto Belarmino, o qual, depois, também foi canonizado.

Lá escolheu para si as incumbências mais humildes e o atendimento aos doentes, principalmente durante as epidemias que atingiram Roma, em 1590, esquecendo totalmente suas origens aristocráticas.

Consta que, certa vez, Luís carregou nos ombros um moribundo que encontrou no caminho, levando-o ao hospital. Isso fez com que contraísse a peste que assolava a cidade. Luís Gonzaga morreu com apenas vinte e três anos, em 21 de junho de 1591.

Segundo a tradição, ainda na infância preconizara a data de sua morte, previsão que ninguém considerou por causa de sua pouca idade. Mas ele estava certo. O papa Bento XIII, em 1726, canonizou Luís Gonzaga e proclamou-o Padroeiro da Juventude. A igreja de Santo Inácio, em Roma, guarda as suas relíquias, que são veneradas no dia de sua morte.

Enquanto a capa que são Luís Gonzaga usava encontra-se na belíssima basílica dedicada a ele, em Castiglione delle Stiviere, sua cidade natal.

São comemorados também neste dia: Santa Florentina, São Silvério, Santo Alberto de Magdeburgo, São Goban de Laon (presbítero emártir), Santa Hélia de Ohren (abadessa), São João de Matera (abade), São Macário de Petra (bispo), São Novato de Roma (mártir), Santa Miquelina de Pesaro, Bem Aventurada Margarida Ebner

domingo, 20 de junho de 2021

 

‘PORQUE VOCÊS SÃO TÃO MEDROSOS? VOCÊS AINDA NÃO TÊM FÉ?’ (Mc 4,40).

 

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Jó 38,1.8-11; Sl 106; 2Cor 5,14-15; Mc 4,35-41.

 

Diácono Milton Restivo

 

A liturgia deste domingo traz-nos, em sua primeira leitura, passagem do livro de Jó, que é um livro escassamente utilizado na liturgia, mas de uma sabedoria profunda.

Buscando nas Sagradas Escrituras encontramos, no Antigo Testamento, sete livros que são classificados na categoria de literatura da sabedoria ou também chamados de livros poéticos.

Estes livros são: Provérbios, os Salmos, o Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico ou Sirácida e o livro de Jó. Desses sete livros, o livro de Jó destaca-se com nítido relevo, mostrando-se diferente dos demais.

O livro de Jó, como os demais dessa categoria, não comunica sua sabedoria em versos ou provérbios. É uma narrativa apurada que transmite uma profunda angústia e dor de Jó diante da prova a que é submetido.

Como muitos julgam e até dizem que quem é paciente tem a paciência de Jó, Jó, ao contrário, não foi paciente, mas contestador e incansável na busca da justiça.

Jó é um estrangeiro, isso quer dizer que não faz parte do povo judeu.

Possui um perfil lendário, quase patriarcal, dando a entender que a história se desenrolou na época dos patriarcas, considerando que, ao oferecer sacrifícios, Jó o faz como chefe de família e não seguindo a Lei de Moisés.

Jó oferece sacrifícios em favor de sua família, uma prática característica dos dias patriarcais ou dos costumes dos povos não israelitas, quando não havia sacerdócio estabelecido comparável com aquele sob a lei mosaica.

O início do livro apresenta um Jó rico, saudável, com filhos, feliz, paciente, piedoso e perseverante. Porém, chega um determinado dia, sem que Jó o esperasse, perde seus sete filhos e três filhas, todos os empregados e escravos, todo o rebanho de ovelhas, bovinos, muares e camelos (cf Jó 1,13-19).

O que faria uma pessoa que toda a sua vida foi voltada para o respeito, a veneração e a adoração ao seu Deus? Falaria mal de Deus? Usaria de impropérios, blasfemaria contra o seu Deus? Duvidaria da existência do Deus a quem dedicara toda a sua vida?

Mas a desgraça não terminou ai.

Restou-lhe ainda a esposa que, descrente de tudo e de todos e até do seu Deus, diz a Jó:

·         “E você ainda continua na sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra de uma vez.” (Jó 2,9).

Num segundo momento descreve Jó dialogando com seus três amigos, que lhe dizem que Deus o está castigando porque ele deve ter feito alguma coisa que tivesse desagradado a Deus, como, por exemplo, não ter pagado o dízimo, ou não ter ajudado a igreja (considerações minhas), ou não ter atendido as exortações dos dirigentes de sua fé que dizem que Deus só ajuda a quem é generoso financeiramente com a sua crença, como se Deus chantageasse o fiel a lhe oferecer bens e dinheiro para que ele retribuísse com riquezas e saúde.

O povo de Israel concebia a relação com Deus através do dogma da retribuição: Deus retribui o bem com o bem e o mal com o mal. 

O livro aborda o tema: por que sofrem os bons? O povo antigo de Israel via como castigo do pecado, o sofrimento. Com isso julgava-se que aqueles considerados bons não sofriam, que caracteriza a teologia da prosperidade: somente era próspero e rico quem era generoso com o templo de sua religião. Com o tempo foi se vendo que não era bem assim; não necessariamente acontecia está realidade sobre o sofrimento.

É a teologia da prosperidade, retribuição ou predestinação, que era própria da religião judaica que estava em vigência no tempo de Jesus e que muitos seguimentos religiosos que se denominam cristãos, põem em voga nos nossos dias conflitando entre o pensamento teológico oficial e o sentimento religioso do povo.

Segundo essa teologia da prosperidade ou retribuição, só é rico, tem saúde e vai para o céu quem paga fartamente o dízimo ou ajuda a sua igreja, não importando o seu modo de vida, como trata o próximo ou como agradece a Deus os benefícios e as graças recebidas do Pai.

O livro todo de Jó combate essa teologia.

O livro de Jó é considerado uma das mais belas histórias de prova e fé.

Naturalmente, o livro inteiro trata do problema da dor e do sofrimento.

Jó volta-se particularmente para o problema do sofrimento inocente. Ao mesmo tempo, parece que este problema é ocasião para uma lição sobre viver pela fé.

O livro é uma afirmação da glória e perfeição do Senhor, aquele que é digno de ser adorado e louvado. A fidelidade de Jó no meio de tanta tribulação e sofrimento prova ser a defesa do Senhor. 

O tema central do livro de Jó não é o problema do mal, nem o sofrimento do justo e inocente, e muito menos o da “paciência de Jó”. O autor desse drama apaixonante discute a questão mais profunda da religião: a natureza da relação entre o homem e Deus.

O Salmo 106, abordado nesta liturgia, é um dos mais longos Salmos. É uma recordação da história do povo israelita em forma de súplica coletiva, conforme explica a Bíblia Edição Pastoral no seu rodapé. São relembrados os sete pecados  capitais cometidos pelo povo desde a sua saída do Egito até a sua estadia na Terra Prometida.

Apesar de todas as infidelidades de seu povo, Deus não o abandona. Quando o povo clama para Yahweh, este está sempre pronto para libertá-lo:

·         “Salva-nos, Yahweh nosso Deus! Congrega-nos dentre  as nações, para que celebremos teu nome santo, felicitando-nos com teu louvor. Seja bendito Yahweh, Deus de Israel, desde agora e para sempre! E todo o povo diga: Amém! Aleluia!” (Sl 106,47-48).

Na segunda leitura, na segunda carta que Paulo endereça aos coríntios, o Apóstolo afirma que o amor sem limites de Jesus por nós, por ter-se entregado e morto pelos nossos pecados nos faz também mortos para a injustiça, o desamor e o pecado:

·         “O amor de Cristo é que nos impulsiona, quando consideramos que um só morreu por todos, e consequentemente todos morreram.” (2Cor5,14).

Os que aderiram à mensagem de Jesus já não vivem por si e para si só, mas vivem para Jesus:

·         “Ele morreu por todos, para que aqueles que vivem não vivamm mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. (2Cor 5,15).

A respeito disso Paulo é categórico quando escreve aos gálatas, afirmando:

·         “Fui morto na cruz com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” (Gl 2,20).

No Evangelho Marcos narra um episódio em que Jesus põe à prova a fé de seus apostolos e eles demonstram, pelo medo que o apavoram, que ainda não entenderam o amor e o carinho que Jesus por todos e por cada um em particular, quando Jesus lhes repreende no meio da procela:

·         “Porque vocês são tão medrosos? Vocês ainda não tem fé?” (Mc 5,40).

Como os apóstolos, também na nossa vida, às vezes, parece que estamos num mar de rosas; tudo é realização, tudo é maravilhoso, tudo dá certo, tudo vai bem como sempre desejaríamos que fosse, mas, no nosso cancioneiro de música popular existe uma música com o verso seguinte: “Tristeza não tem fim, felicidade sim...”, e, bem por isso, de repente, como num estalar de dedos, parece tudo ao contrário; sentimos-nos mergulhados numa depressão, numa tristeza, numa angustia que parece não ter fim. Dá-nos a impressão de estarmos caminhando sobre as águas e sentimos que, num relance, falta-nos a força, a coragem, a confiança, o apoio, e nos sentimos sozinhos, com a sensação de que vamos submergir a qualquer instante, sem chances de nos afirmarmos ou ter alguém que nos socorra.           

Quantas vezes nos faltam confiança e fé em tudo e em todos. Dá-nos a impressão que ninguém, mas ninguém mesmo nos compreende e que todos nos viraram as costas, deixando-nos entregues à nossa própria sorte. E, nessas condições, nos desesperamos, deixamos de acreditar em tudo e em todos e, nessa descrença, chegamos ao cúmulo de perguntar: “Onde está Deus?”.

Quantas vezes o barco de nossa vida se encontra na escuridão da noite no meio do lago, sendo jogado de um lado para o outro por fortes ondas dos contratempos, das ansiedades e de tudo o mais que vem conturbar a nossa paz, o sossego que gostaríamos de jamais ter perdido. 

E, nessas confusões da vida, julgamos sempre que estamos sozinhos, que o nosso barco vai soçobrar, que as ondas fatalmente o despedaçarão e as águas o engolirão; e, numa situação dessa nos assustamos sobremaneira até com a presença amiga e salvadora de Jesus Cristo que vem ao nosso socorro e, no desespero de sairmos dessa tempestade confundimos o Senhor Jesus com os fantasmas que nós mesmos criamos.     

Mas, buscando nas Sagradas Escrituras, encontramos respostas a todos os nossos anseios, encontramos apoio a todas as nossas dificuldades, encontramos respostas a todas as nossas indagações e vemos que, ainda que todos nos abandonem nos momentos mais difíceis de nossa vida, Jesus estende-nos sua mão e tira-nos das situações mais críticas, mais incômodas, mais embaraçosas, mais constrangedoras, mais tristes.

Nos momentos mais angustiantes e mais difíceis de nossa vida encontramos sempre o Senhor Jesus nos estendendo a mão.  

Foi assim que, nessa situação dramática, quando Pedro sentia que estava começando submergir durante uma tempestade no meio do lago, gritou:

·         “Senhor, salva-me.  Imediatamente Jesus estendeu a mão , o tomou...” (Mt 14,30-31).

E quando a sogra de Simão Pedro encontrava-se acamada com uma forte febre,

·         “Jesus aproximou-se, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a deixou a febre e ela pôs-se a servi-los.” (Mc 1,31).

E quantos mais lugares dos Santos Evangelhos vemos Jesus estender a mão para salvar, para curar, para amenizar sofrimentos, para consolar.

Marcos, em seu Evangelho, narra-nos o episódio da barca tomada pela tempestade, e nos mostra como Jesus jamais nos desampara em qualquer momento difícil de nossa vida:

·         “Começou a soprar um vento muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se enchendo de água. Jesus estava na parte de trás da barca, dormindo com a cabeça num travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: ‘Mestre, não te importa que morramos?’ Então Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar: ‘Cale-se! Acalme-se” O vento parou e tudo ficou calmo. Depois Jesus perguntou aos discípulos: ‘Porque vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?’ Os discípulos ficaram muito cheios de medo e diziam uns aos outros: ‘Quem é esse homem que até o vento e o mar obedecem?”(Mc 4,37-40).   

Naquele dia, após uma jornada cansativa de ensinamentos, caminhadas, discussões com os incrédulos e de corações duros, deixando a multidão na margem do lago, Jesus entra no barco e ordena aos seus discípulos:

·         “Passemos ao outro lado.” (Mc 4,35).          

Ao ver-se livre da multidão, Jesus não resistiu ao cansaço, acomodou-se num canto do barco, repousou sua cabeça em um travesseiro que lá encontrou talvez feito por um emaranhado de redes de pesca ou cordas, e entregou-se a um sono repousante e reconfortador:

·         Jesus estava na parte de trás da barca, dormindo com a cabeça num travesseiro.” (Mc 4 38).

E o que aconteceu a seguir deve ter sido uma coisa horrível, pois que, aqueles homens rudes, acostumados a todas as intempéries e perigos daquele lago, conhecedores que eram de todas as mudanças climáticas e transformações de tempos calmos para tempestades, pescadores calejados que eram, ficarem apavorados a ponto de, julgando que fossem sucumbir, desesperadamente despertarem Jesus que dormia calmamente no barco, dizendo:

·         “‘Mestre, não te importa que morramos?” (Mt 4,38),

Como se dissessem:

·         “Socorro, Senhor, porque senão todos vamos naufragar, todos iremos ao fundo, todos morreremos, inclusive o Senhor.”

Quantas vezes agimos como esses discípulos de Jesus, ainda que tendo a certeza de que ele está conosco, ainda que sentimos a sua presença ao nosso lado, quando vem a tempestade nos desesperamos porque olhamos para o fundo do barco e vemos Jesus no mais repousante dos sonos; no meio da mais terrível tempestade Jesus está dormindo.  Não seria o caso de dizermos, como o Apóstolo Paulo: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8,31). 

Mas, mesmo os escritores sagrados nos dando toda a certeza que mesmo nas piores fases da nossa vida o Senhor Nosso Deus jamais nos abandona, ainda assim, quando estamos com problemas, quando nos encontramos em dificuldades, colocamos em dúvida até a presença do Senhor e, fracos de fé como somos, imitamos os discípulos de Jesus nessa desconfiança, e gritamos:

·         “Mestre, mestre, estamos perecendo.” (Lc 8,24). 

E aí acordamos Jesus de seu sono repousante e

·         “Ele, porém, levantando-se, conjurou severamente o vento e o tumulto das ondas: apaziguaram-se e houve bonança.” (Lc 8,24).

Que falta de fé.  Que falta de confiança.

Mas, de qualquer maneira, mesmo dormindo, os discípulos sabiam que o Senhor Jesus os tiraria daquela enroscada. E assim deve acontecer conosco também e sempre nas nossas dificuldades, nos nossos problemas; devemos recorrer sempre ao Senhor Jesus ainda que ele esteja dormindo no fundo do barco de nossa vida que está prestes a soçobrar.

O Senhor Jesus despertando de seu sono não perde a oportunidade de, ainda que de maneira paternal e carinhosa, chamar a atenção de seus discípulos, como chamaria a nossa atenção em situação idêntica:

·         Porque vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (Mc 4,40). 

Jesus gostaria que jamais tivéssemos medo do que quer que seja quando estivéssemos com ele e quando ele estivesse conosco. A presença dele, dormindo ou acordado, é suficiente para afastar para bem longe de nós todo e qualquer mal; basta que acreditemos nisso. Confiemos nele e não nos apavoremos quando nos surge qualquer tipo de mal ou preocupação.

E o mais interessante: depois que Jesus acordou, ordenou às águas e ao vento que se acalmassem, e eles realmente o obedeceram e voltaram ao normal, o susto dos discípulos foi ainda maior porque:

·         Os discípulos ficaram muito cheios de medo e diziam uns aos outros: ‘Quem é esse homem que até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,40).

Se o Senhor Jesus tem poder sobre as águas, sobre o vento e domina as forças da natureza, não vai ter poder também sobre os males que nos afligem?  E a fé que deveríamos ter nele?  E a nossa fé?  É só ter fé em Jesus Cristo; é só acreditar nele e, com toda a certeza, ele, dando uma ordem, como deu às águas e ao vento, afastará de nós todos os males.

Assim é a nossa vida. Às vezes é calma como a brisa que sopra fresca pela manhã; é tranquila como as pequenas ondas refrescantes de um lago sereno que mansamente se desfazem na praia. 

Quando a nossa vida está assim tudo é normal, nem nos lembramos do Senhor Jesus, não o invocamos, não conversamos com ele e, por isso, Jesus dorme tranquilo no fundo do nosso barco, descansa no vai-e-vem de nossa vida, embalado pela nossa frieza e pelo nosso pouco caso às coisas do alto. Afinal das contas, se a nossa vida está tranquila como um mar sereno, porque haveríamos de precisar de Jesus? 

Mas, para nos lembrarmos dele, haveria necessidade de isso acontecer só quando temos problemas? É somente para isso que ele serve? Jesus é amigo somente quando enfrentamos horas difíceis? O verdadeiro amigo é também para as horas difíceis, mas seria muita ingratidão de nossa parte esquecê-lo nos momentos alegres, nos dias de festa, como costumeiramente fazemos.

Nem sempre a nossa vida é só festa.              

De vez em quando o vento dos grandes problemas sopra forte e o mar da nossa vida começa a ficar violento e as ondas da desconfiança, da incompreensão, da falta de amor, do desespero, ameaçam acabar com tudo. E Jesus continua dormindo no fundo do nosso barco.

Problemas de doença, problemas no trabalho, problemas familiares, problemas financeiros, e o vento começa a soprar forte e as águas da vida começam a erguer ondas violentas e ameaçadoras, e a tempestade surge, e, de repente, está violenta.  

E nós, pela nossa falta de fé ficamos desesperados, fazemos de tudo para acertar as coisas, mas a tempestade continua violenta e Jesus, para desespero nosso, dorme tranquilamente, como um santo, como uma criança, no fundo do nosso barco; parece ausente de nossa vida...      

Chega uma hora que não suportamos mais, parece que vamos submergir, que o nosso barco não vai suportar tanta violência que os problemas nos trazem e, a partir dai, mais por desespero do que por confiança notamos a presença de Jesus ali, bem perto de nós, ainda que dormindo, descansando no fundo do nosso barco.

Aí corremos até ele, mais com medo do que com fé, mais por desespero do que por esperança e lhe suplicamos, como fizeram os seus discípulos:

·         Senhor, ajude-me, eu não suporto mais...”.

E aí nos lembramos do que ele nos disse, cheio de ternura e disponibilidade:

·         “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu peso é leve.” (Mt 11,28-30).        

Quando nos conscientizamos disso, Jesus acorda, se levanta, encara o vento forte de nossas dificuldades, olha para as gigantescas ondas do mar dos problemas do nosso dia-a-dia e ordena:

·         “Cala-te, emudece.” (Mt 4,39),

E tudo volta à sua normalidade.

O problema nosso é que deixamos o Senhor Jesus dormir demais em nossas vidas.

Não podemos deixá-lo dormir. Devemos estar sempre conversando com ele, pedindo, agradecendo, orando, cobrando, para que ele se mantenha sempre acordado e assim, com certeza, o vento das contradições e o mar dos nossos problemas jamais ameaçarão afundar o nosso barco; mas, mesmo que isso possa acontecer, não tenhamos dúvidas, o Senhor Jesus estará acordado e, antes que lhe peçamos, tomará para si o leme do barco, empunhará os remos e

·         “Nos conduzirá para as águas tranquilas e restaurará as nossas forças; ele nos guiará por caminhos justos, por causa de seu nome.” (Sl 23 (22),2-3), e,

·         “ainda que caminhemos por um vale tenebroso, nenhum mal temeremos, pois ele estará junto a nós...” (Sl 23 (22),4).