CORPUS CHRISTI - FESTA DO CORPO E SANGUE
DE CRISTO
Leituras: Ex 24,3-8; Sl 115; Hb 9,11-15;
Mc 14, 12-16.22-26.
Diácono
Milton Restivo
Neste ano de 2021 a Igreja celebra, além da festa de
Corpus Christi no dia 03 de junho, celebra, também, as festas do Sagrado
Coração de Jesus no dia 11 e do Doce Coração de Maria no dia 12 de junho, dois
grandes momentos de afirmativa do grande amor que o Pai tem por nós.
A festa de Corpus Christi é comemorada na quinta-feira
seguinte à festa da Santíssima Trindade, que foi celebrada no último domingo.
Para testemunhar e confirmar a morte de Jesus na cruz,
·
“um soldado, lhe atravessou o lado com uma lança, e
imediatamente saiu sangue e água.” (Jo
19,34).
O artigo 112 do Catecismo da Igreja Católica diz:
·
“Prestar muita atenção "ao conteúdo e à unidade
da Escritura inteira". Pois, por mais diferentes que sejam os livros que a
compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto de Deus, do qual
Cristo Jesus é o centro e o coração,
aberto depois de sua Páscoa. O coração
de Cristo designa a Sagrada Escritura, que dá a conhecer o coração de Cristo. O coração estava
fechado antes da Paixão, pois a Escritura era obscura. Mas a Escritura foi
aberta após a Paixão, pois os que a partir daí têm a compreensão dela
consideram e discernem de que maneira as profecias devem ser interpretadas.”
Quando da apresentação de Jesus menino no Templo, o
velho Simeão dirigiu-se à Maria, dizendo:
·
“Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação
de muitos
E Lucas, para demonstrar a profundidade de amor do
coração de Maria, atesta:
·
“E sua mãe conservava no coração todas essas coisas.” (Lc 2,51).
São citações bíblicas que narram e profetizam momentos
dolorosos que têm o coração como ponto central e de referência: no primeiro, o
Coração de Jesus ferido pela lança como que fazendo uma abertura para nos
acolher a todos no amor que ele nos dedica; no segundo, o alerta que o profeta
e velho Simeão faz à Maria por tudo o que ela deveria passar pelo seu filho
Jesus e pelos demais filhos que somos nós, que o levamos ao patíbulo da cruz.
Liturgicamente a festa de Corpus Christi acontece na
quinta-feira posterior à festa da Santíssima Trindade. Porque quinta
feira? Como alusão à Quinta-feira Santa,
quando se deu a instituição da Eucaristia durante a última ceia de Jesus com
seus apóstolos.
Os Evangelistas Mateus 16,26-28, Marcos 14,22-24 e
Lucas 22,19-20 narram a instituição da Eucaristia em poucas palavras:
·
“Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo
pronunciado a benção, o partiu, distribuiu aos seus discípulos, e disse: ‘Tomam
e comem, isto é meu corpo’. Em seguida tomou um cálice, agradeceu, e deu a
eles, dizendo: ‘Bebam dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança
que é derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados.” (Mt 16,26-28).
No Evangelho de João não encontramos a passagem da
instituição da Eucaristia, mas é no seu capítulo 6, versículos de 30 a 59 que
Jesus fala do
·
“verdadeiro pão que veio do céu. Porque o pão de Deus
é o que desce do céu e dá vida ao mundo”. (Jô 6,32-33)
Nessa conversa de Jesus com a multidão, no evangelho
de João, ele deixa claro a instituição da Eucaristia, e diz:
·
“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá
fome, e quem acredita em mim, nunca mais terá sede. [...] Eu sou o
pão da vida. [...] Este é o pão que
desceu do céu, para que não venha a morrer quem dele comer. Eu sou o pão vivo
que desceu do céu. Quem comer desse pão viverá para sempre. E o pão que eu vou
dar é a minha carne, para que o mundo tenha a vida. [...] Eu lhes garanto: se vocês não comem a carne
do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não têm a vida em vocês. Quem come
a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no
último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira
bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu
permaneço nele. E como o Pai, que vive,
me enviou, eu vivo pelo Pai, assim aquele que se alimentar de mim viverá por
causa de mim. Esse é o pão que desceu do céu.. não é como o pão que os
antepassados comeram e depois morreram,. Quem come este pão viverá para
sempre.” (Jo 6,35.48.50-51.53-58).
João, na despedida de Jesus na última Ceia, depois do
lava-pés é mais pródigo em discursos e recomendações por parte de Jesus aos
seus apóstolos e termina com a oração sacerdotal.
Mas foi Paulo quem primeiro escreveu sobre a
instituição da Eucaristia considerando que os seus escritos são bem anteriores
aos Evangelhos e, na sua primeira carta aos corintios, nos narra esse
acontecimento da seguinte maneira:
·
“De fato, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que
transmiti para vocês. Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão
e, depois de dar graças, o partiu e disse: ‘Isto é o meu corpo que é para
vocês; façam isso em memória de mim’. Do mesmo modo, após a ceia, tomou também
o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes
que vocês beberem dele, façam isso em memória de mim’. Portanto, todas as vezes
que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, está anunciando a morte do
Senhor, até que ele venha.” (1Cor
11,23-26).
O artigo 1357 do Catecismo da Igreja Católica diz que
·
“Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial
de seu sacrifício. Ao fazermos isto, oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu:
os dons de sua criação, o pão e o vinho, que pelo poder do Espírito Santo e
pelas palavras de Cristo se tornaram o Corpo e o Sangue de Cristo, o qual,
assim, se torna real e misteriosamente presente”.
O artigo 1374
diz que
·
“O modo de presença de Cristo sob
as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os
sacramentos e faz com que seja “como que o coroamento da vida espiritual e o
fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da
Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o
Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus
Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo”. “Esta presença chama-se ‘real’ não
por exclusão, como se as outras não fossem ‘reais’, mas por antonomásia, porque
é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo.”
A Eucaristia, o Corpo e Sangue de Cristo, é o
Sacramento por excelência e, conforme diz o Catecismo da Igreja Católica:
“A Eucaristia
está acima de todos os sacramentos e faz com que seja “como que o coroamento da
vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”.
Isso confirma o dito no artigo 407 do mesmo Catecismo:
·
“A Eucaristia é o coração e o ápice da vida
da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu
sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a
seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu
corpo, que é a Igreja.”
A festa de Corpus Christi é a comemoração, por
excelência, e a festa da entrega total de Jesus no sacramento da Eucaristia
como nosso alimento e fortalecimento na vida espiritual.
Desde o inicio da Igreja a Eucaristia é o ponto de
união dos fieis, mas, já no tempo de Paulo, havia abusos e irresponsabilidades
da recepção da Eucaristia, e Paulo não se cala:
·
“Antes de tudo, ouço dizer que, quando estão reunidos
em assembléia há divisões entre vocês.
[...] De fato, quando se reúnem, o que
vocês fazem não é comer a Ceia do Senhor, porque cada um se apressa em comer a
sua própria ceia. E, enquanto um passa fome, outro fica embriagado.” (1Cor
11,18.20-21).
E Paulo continua chamando os cristãos à
responsabilidade:
·
“Por isso, todo aquele que comer do pão ou beber do
cálice indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, cada um
examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele
que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação.” (1Cor 26,27-29).
Jesus de Nazaré não está longe de nós. Antes de subir
aos céus, após haver sido morto e ter ressuscitado, por ocasião de sua
ascensão, disse aos apóstolos, discípulos, e a todos nós:
·
“Eu vou estar com vocês todos os dias, até o fim do
mundo.” (Mt 28,20).
Jesus não poderia ter afirmado uma coisa que não seria
verdade, porque ele é a verdade por excelência:
·
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (Jo 14,6).
Como acontece de Jesus estar conosco, todos os dias? Isso
acontece de muitas maneiras, mas, de uma maneira especial, no Sacramento da
Eucaristia.
Jesus permanece conosco através da sua Palavra: Pedro
escreve em sua carta, confirmando isso:
·
“A palavra de Deus permanece eternamente, e esta
palavra é a que foi anunciada para vocês pelo Evangelho.” (1Pd 1,25).
Jesus permanece conosco na sua Igreja, o seu Corpo
Místico, como disse Paulo (1Cor 12,12-31):
“Ora, vocês
são o corpo de Cristo, e cada um, como parte desse corpo, é membro.” (1Cor 12,27).
E como ensina o Concílio Vaticano II através da
Encíclica Lumem Gentium, 1:
·
“A Igreja é o Sacramento ou o sinal ou instrumento da
íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano.”
Jesus permanece conosco pela presença e atuação do
Espírito Santo, conforme escreve Paulo:
·
“Deus manda aos seus corações o Espírito de seu Filho
que clama “Abba”, que quer dizer “Pai””.
(Gl 4, 6).
Jesus continua conosco através da tradição da Igreja.
Jesus está conosco através dos Sacramentos que nos
conferem a graça, conforme disse o Papa Paulo VI na Encíclica “Mistérium Fidei,
38:
·
“E ninguém ignora serem os sacramentos ações de Cristo
que os administra por meio dos homens. Por isso, são santos por si mesmos e,
quando tocam nos corpos, infundem, por virtude de Cristo, a graça nas almas.”
E, sobretudo, Jesus permanece conosco no Sacramento da
Eucaristia, que é o seu corpo, o seu sangue e o seu sacrifício presentes em
todos nós.
Na cidade de Cafarnaum, depois da multiplicação dos
pães, Jesus disse:
·
“O pão que hei de dar é minha carne para a salvação do
mundo”. (Jo 6,51).
E mais:
·
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece
em mim e eu nele.” (Jo 6,56).
A nossa Igreja sempre ensinou, acredita e vive que,
assim quando se celebra a santa ceia a mandado de Jesus, presidida por um
sacerdote, ali está presente o corpo e o sangue de Jesus, e ali se renova o seu
sacrifício. E, na santa missa, o celebrante repete as palavras de Jesus, quando
disse ao tomar o pão: “este é o meu
corpo”, e ao tomar o cálice: “este é
o meu sangue”, e complementa, dizendo: “eis
o mistério da fé”, e todos respondemos: “celebramos,
Senhor, a vossa morte e anunciamos a vossa ressurreição, enquanto esperamos a
vossa vinda.”(cf 1Cor 11,23-30).
A Eucaristia é, antes de tudo, uma refeição
comunitária. Sempre e em toda parte, a refeição foi e é um símbolo de união
entre as pessoas que se conhecem, se estimam e se amam.
Eucaristia é, em primeiro plano, a refeição de irmãos
que se amam, e mais do que isso, de irmãos que conhecem o Pai e são agradecidos
por todos os benefícios que tem recebido e ainda receberão durante toda a sua
vida do Pai.
Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual Jesus, na
última ceia, tenha mandado Judas embora e não tenha permitido que ele
participasse da instituição da Eucaristia, pois aquilo que estava acontecendo
era uma reunião de irmãos que se amavam e amavam o Pai presente na pessoa de
Jesus e no coração de todos eles reinava o amor, menos no coração de Judas,
onde já habitava o demônio.
Paulo preocupado com a indiferença e o pouco caso com
que alguns primeiros cristãos estavam tendo na recepção da Eucaristia, chama a
atenção deles, e chama a nossa atenção ainda hoje, escrevendo:
·
“Aquele que come e bebe indignamente o corpo e o
sangue do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.” (1Cor 11,29).
Jesus é o pão da vida, em primeiro lugar por causa de
sua palavra que abre as portas da vida eterna a todos aqueles que crêem, e
depois por sua carne e seu sangue que nos é dado a comer e a beber (cf Jo 6,26-58).
Se não nos alimentarmos primeiro com a palavra de
Deus, jamais entenderemos o que seja a Eucaristia, e pouco proveito tiraremos
dela, porque a Eucaristia, antes de tudo, deve ser o coroamento de uma vida
autenticamente cristã, de uma vida inteiramente voltada para as coisas de Deus
e dos irmãos.
Quando recebemos a Eucaristia estamos dando o nosso
testemunho de autêntica vida cristã, de uma vida nos moldes do Evangelho, e de
uma vida verdadeiramente voltada ao amor de Deus e ao próximo.
Se a Eucaristia é a refeição de irmãos que se amam,
não podemos conceber em receber a Eucaristia estando em desarmonia com o irmão:
“Se você
estiver diante do altar para oferecer o seu sacrifício e se lembrar que tem
alguma desavença contra algum seu irmão, deixe ali a sua oferta e vai primeiro
se reconciliar com o seu irmão, e depois volte e faça a sua oferta.” (Mt 5,23-24).
E quais são, então, as disposições para se aproximar
da Eucaristia, para comungar?
1) Apresentar-se dignamente vestido; é uma irreverência
imperdoável ir comungar com vestes decotadas, indecentes ou indecorosas.
2) Jejum eucarístico - respeito à Eucaristia - Alimentos
sólidos uma hora antes da comunhão. As pessoas doentes e mulheres grávidas são
isentas do jejum eucarístico, e podem tomar água ou remédios até momentos antes
de receber a Eucaristia.
3) Receber a partícula na mão com respeito e cuidado.
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