XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
“COMBATE O BOM COMBATE DA FÉ...” (1Tm 6,11).
Diácono
Milton Restivo
A segunda
leitura da liturgia de hoje é tirada da segunda carta de Paulo a Timóteo.
São encontrados
quarenta e dois registros em toda a Sagrada Escritura para o nome Timóteo, dos
quais, vinte e quatro constam no Novo Testamento e referem-se a Timóteo,
discípulo muito amado de Paulo, a quem Paulo escreveu duas cartas.
A primeira
referência desse Timóteo foi quando Paulo o conheceu na cidade de Listra: “Chegou a Derbe
e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia
cristã, mas de pai grego...”. (At 16,1).
Ao visitar a
cidade de Listra durante sua segunda viagem missionária, Paulo ouviu o bom
testemunho dos irmãos de fé sobre Timóteo e decidiu levá-lo consigo para o
trabalho da pregação do evangelho (At 16,2-3).
Sendo que o pai
de Timóteo não era cristão, Paulo logo se tornou como um "pai" não
somente na fé para este discípulo muito jovem, mas, também, transmitiu-lhe conselhos
paternais na preocupação de não se descuidar da fé e de bem cuidar-se, conforme
vemos em toda a sequência das duas cartas.
O apóstolo
mostra grande respeito, confiança, e amor por Timóteo, mencionando o discípulo
com muita afeição em oito das treze cartas que escreveu. Timóteo foi um
companheiro inseparável de Paulo, a quem chamava de irmão: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão
Timóteo...” (2Cor 1,1; Cl 1,1; 1Ts 3,2), e um discípulo muito querido, de
quem dificilmente se separava: “Saúdam-vos
Timóteo, meu cooperador...” (Rm 16,12).
Paulo também o
chamava de “meu filho amado”, a quem
depositava toda sua confiança: “Para isso
é que vos enviei Timóteo, meu filho muito amado e fiel no Senhor. Ele vos
recordará as minhas normas de conduta, tais como as ensino por toda parte, em
todas as igrejas”. (1Cor 4,17); “...
a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia, paz da parte de
Deus Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor!” (1Tm 1,2; 1,18, Fl 1,1).
Timóteo era
natural da cidade de Listra, filho de um grego gentio cujo nome não consta nos
escritos de Paulo e de Eunice, uma judia convertida ao cristianismo.
Sua mãe Eunice
e a avó materna, Loide, abraçaram o cristianismo durante a primeira visita de
Paulo (2Tm 1,5) à região da cidade de Listra.
Quando Paulo
pregou, sete anos mais tarde em Listra, Timóteo substituiu Barnabé no
ministério (At 16,1-6). Timóteo acompanhou Paulo em sua segunda viagem missionária.
Quando a
oposição dos judeus compeliu Paulo a deixar aquela região, Timóteo ficou em seu
lugar para batizar, organizar e confirmar os convertidos na nova fé (At 17,10-14).
É provável que
Timóteo estivesse com Paulo quando este foi preso na Cesárea e, com certeza de
novo em Roma onde Paulo esteve preso por algum tempo.
O historiador
Eusébio afirmou que Timóteo foi para Éfeso e tornou-se seu primeiro Bispo, tendo
sido consagrado por Paulo, segundo algumas tradições, e lá ficou até ser morto
a pedradas e pauladas após ter denunciado e combatido uma festa pagã no
festival em honra ao deus pagão Dionísio.
Paulo escreveu
duas cartas para Timóteo. A segunda carta foi escrita enquanto Paulo estava preso
em Roma aguardando sua morte.
As cartas orientavam
Timóteo no sentido de corrigir inovadores e professores de falsas doutrinas e
ainda concedeu a Timóteo poderes para consagrar Bispos e Diáconos.
Timóteo tinha
grande dedicação a Paulo e sempre o descrevia com admiração e respeito.
Na segunda
carta, Paulo encoraja Timóteo a continuar pregando a palavra, corrigindo e
repreendendo: “Rogo a você diante de Deus
e de Jesus Cristo, que há de vir para julgar os vivos e os mortos, pela sua
manifestação e por seu Reino: proclame a Palavra, insista no tempo oportuno e
inoportuno, advertindo, reprovando e aconselhando com toda paciência e
doutrina”. (2Tm 4,1-2), e isso acontecia mesmo no meio de muitas
perseguições promovidas pelos infiéis (2Tm 1,8; 2,3; 3,12-13; 4,5).
Destemidamente,
com a força que Deus lhe deu, Paulo exortou Timóteo: “Convido você a reavivar o dom de Deus que está em você pela imposição
de minhas mãos. De fato, Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito
de força, de amor e de sabedoria. Não se envergonhe, portanto, de dar
testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário,
participe do meu sofrimento pelo Evangelho, confiando no poder de Deus”.
(2Tm 1,6-8).
Na leitura de
hoje, Paulo continua a exortar Timóteo, agora como diácono, presbítero e
epíscopo, para não esmorecer na fé e para dar testemunho vivo e real de uma
vida verdadeiramente cristã: “Você que é
homem de Deus, fuja dessas coisas. Procure a justiça, a piedade, a fé, o amor,
a perseverança, a mansidão. Combata o bom combate da fé, conquiste a vida
eterna, para a qual você foi chamado. Isso você o reconheceu numa bela
profissão de fé diante de muitas testemunhas”. (1Tm 6,11-12).
No Evangelho da
liturgia de hoje Jesus narra uma estória (sem “h” mesmo, por se tratar de um
fato fictício) que muita gente discute se se trata de uma parábola ou não.
Muitos afirmam
que não seja parábola porque em todas as parábolas de Jesus ele não dá nomes aos
personagens envolvidos, e nesta estória apresenta nomes. Das parábolas de Jesus
narradas por Lucas, quinze delas falam da misericórdia e compaixão de Deus em
relação aos que se convertem e demonstram arrependimento.
Esta parábola
mostra, de forma bem nítida, a justiça e a justa indignação contra os que
morreram sem a conversão e arrependimento, no caso, o rico que ignorou o pobre
Lázaro.
O propósito
seria esclarecer a quem foi dirigida esta parábola, porque Jesus contou esta
parábola e qual seria o propósito fundamental da parábola.
A parábola do
rico extravagante e do pobre Lázaro surgiu por causa da zombaria dos fariseus
com relação ao ensinamento da parábola anterior, do administrador infiel (Lc
16,1-13), onde Jesus termina dizendo: “Nenhum
empregado pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou
se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao
dinheiro” (Lc 16,13).
Os fariseus que
ouviram a parábola do administrador infiel eram, também, administradores
infiéis das coisas de Deus porque se passavam por santos e honestos e
cumpridores dos mandamentos, mas possuíam uma vida de luxo, e vivam apegados em
demasia ao dinheiro e aos prazeres que a riqueza podia proporcionar (ainda bem
que isso só acontecia no tempo de Jesus).
Por isso, Lucas
diz a respeito deles: “Os fariseus, que
são amigos do dinheiro, ouviam tudo isso e caçoavam de Jesus”. (Lc 16,14).
O dinheiro era deles e eles achavam que deveriam dispor do seu dinheiro do
jeito que quisessem e ao seu bel prazer e não gostaram da sugestão que Jesus
havia dado como as riquezas deste mundo deveriam ser usadas corretamente.
A partir daí
Jesus vê a necessidade de narrar esta parábola que, por si só, dispensa
comentários a respeito do destino de quem se apega aos bens materiais,
ignorando a preocupação que deveriam ter com os irmãos necessitados e menos
afortunados.
Jesus descreve o
modo de viver do rico que “se vestia de
púrpura e linho fino, e dava banquete todos os dias”. (Lc 16,19).
Depois descreve
a situação desesperadora e miserável do pobre Lázaro, “cheio de feridas, que estava caído à porta do rico. Ele queria matar a
fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros
lamber-lhe as feridas”. (Lc 16,20-21).
Essa era a
situação em que viviam os dois personagens da parábola: o rico que gozava a
vida da melhor maneira que a sua existência lhe proporcionava, morava numa
mansão imponente e se vestia com as melhores roupas, tinha uma vida luxuosa só
se preocupando consigo mesmo, com um corpo sadio e bem alimentado, com médicos
que cuidavam da sua saúde e, por outro lado, Lázaro caído à porta do rico em
total contraste com a realidade daquele que gozava plenamente a vida: era
extremamente pobre, miserável mesmo, doente, maltrapilho, cheio de feridas que
os cães lambiam para amenizar a sua dor e que ficava na porta do rico
contemplando com os olhos famintos aqueles banquetes patrocinados pelo rico e
torcendo para que migalhas de alimentos caíssem no chão para que ele pudesse
amenizar a sua fome.
“Aconteceu que o pobre morreu, e os anjos o
levaram para junto de Abraão”. (Lc 16,22).
O pobre Lázaro,
ao morrer, foi para o céu não porque era pobre, mas porque, em toda a sua
penúria nunca deixou de confiar em Deus, considerando que o seu próprio nome
sugere isso: seu nome, Lázaro, significa "Deus ajuda",
ou “Deus tem ajudado”, ou ainda, “Deus é aquele que ajuda”, e isso era a
realidade na vida deste mendigo que não tinha riqueza material; tinha riqueza
espiritual e que confiava plenamente na providência divina e, por isso “os anjos o levaram para junto de Abraão”
(Lc 16,22a); foi para o céu porque, apesar de sua vida lamentável, ele confiava
em Deus, servido a Deus, buscado consolo em Deus e encontrado constante auxílio
em Deus.
Acontece que “morreu também o rico, e foi enterrado. Na
região dos mortos, no meio aos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de
longe Abraão com Lázaro ao seu lado” (Lc 16,22b-23). A morte não faz
acepção de pessoas: os pobres morrem, mas os ricos também morrem e, do jeito
que vieram ao mundo, à terra retornam: sem nada: “Nu sai do ventre de minha mãe, e nu para ele voltarei”. (Jó 1,21).
O pobre Lázaro
morreu. O rico, que vivia em abundância de bens e de saúde, também faleceu.
Por certo que o
cortejo do rico foi seguido por muitas pessoas ricas e importantes,
autoridades; mas a morte é a grande zombadora das intenções do homem, das
divisões sociais e nessa hora se pode ver que todos são feitos da mesma
substância fraca que envolve a todos, tanto ricos como pobres: todos vieram do
pó e ao pó tornarão: “Você é pó e ao pó
voltará” (Gn 3,19b).
O rico era
indiferente ao sofrimento presente, pois não o tinha experimentado e talvez por
isso, não tivesse se preparado para o encontro com a morte, confiando em si e
em suas riquezas.
O rico foi para
o inferno não porque era rico, mas porque era uma pessoa egocêntrica, queria
tudo para si ignorando a miséria do irmão, porque não é a riqueza que determina
a condenação, mas a maneira como ela é usada.
A riqueza é uma
graça de Deus, mas o rico não deve esquecer-se que ele é apenas o administrador
das coisas que Deus lhe faculta, e a riqueza que Deus lhe deu devia ser
partilhada buscando sempre o auxílio aos mais necessitados.
Esta parábola
traça um contraste entre o rico que ignorava os preceitos de Deus a respeito do
próximo e o pobre que em Deus depositava confiança, e os preceitos de Deus
eram: “Ame ao Senhor seu Deus com todo o
seu coração, com toda a sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior
e o primeiro mandamento, O segundo é semelhante a esse: ame ao seu próximo como
a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt
22,37-40).
Os judeus acreditavam
ser a riqueza um sinal das bênçãos de Deus pelo fato de serem descendentes de
Abraão, e a pobreza indício do desagrado de Deus para com os ímpios e, na sua
concepção, os ricos eram os amados por Deus e os pobres os rejeitados.
Jesus deixa
claro que o problema não estava no fato do homem ser rico, mas sim por ser
egoísta. A má administração dos bens concedidos por Deus havia afastado os
fariseus da verdadeira riqueza, que é a vida em Deus e com Deus. Esqueceram do
segundo objetivo que se encerra na lei de Deus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).
O rico foi para
o inferno porque não percebeu que Deus o havia feito o seu administrador, o seu
procurador com riquezas e influências que poderiam ser usadas para a glória de
Deus e o benefício espiritual e material de seu próximo.
Foi a
perversidade e não a sua riqueza que trouxe ao rico a desgraça eterna. A
aplicação mais relevante desta parábola reside na metodologia de Jesus em levar
a mensagem do Evangelho.
Cristo usou a
crença dos fariseus para lhes ensinar uma verdade fundamental que significa a
oportunidade de vida que existe enquanto o homem vive.
Os dois homens
foram tão opostos na morte como o foram em vida. Do lugar de tormentos de onde estava, o rico
levantou os olhos e viu Lázaro ao lado de Abraão num lugar de refrigério e paz,
“então gritou: Pai Abraão, tem piedade de mim”. (Lc 16,24).
Porque o rico
apelou para Abraão? Porque Abraão era considerado o pai da raça judaica e todos
os israelitas se diziam filhos de Abraão e diziam que, estar no “seio de Abraão” significava
encontrar-se sob a proteção e perto do santo patriarca, a fim de compartilhar o
seu estado de benção e graça. A expressão “seio
de Abraão” do Novo Testamento transmite a idéia de consolo, paz e
segurança, visto que Abraão, como pai da nação judaica, naturalmente
preocupava-se com o bem estar de todos os seus descendentes.
Jesus, nesta
parábola, estava usando uma linguagem que todos os seus ouvintes judeus
conheciam. Ao chamar Abraão de “Pai
Abraão” o rico estava apelando para a afinidade sanguínea com o pai da sua nação.
Segundo uma
lenda judaica, Abraão estaria sentado à entrada do inferno a fim de
certificar-se de que nenhum israelita circuncidado seria atirado ali.
Entretanto, até
mesmo para os israelitas sentenciados a passar algum tempo no inferno, Abraão detinha
a autoridade de retirá-los de lá e recepcioná-los, encaminhando-os ao céu. Jesus
dá a entender que essas tradições deram ao rico da parábola, independente da
vida que levara, a esperança de que Abraão pudesse confortá-lo.
Em várias
passagens dos Evangelhos os judeus se vangloriam de serem descendentes de
Abraão e terem Abraão por pai: “Somos
descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém...” (Jo 8,33), e Jesus sempre
os contestava dizendo que ser filhos de Abraão não lhes davam prerrogativa
alguma se não fossem justos como Abraão fora e se não realizassem as obras de
Abraão: “Nosso pai, replicaram eles, é Abraão.
Disse-lhes Jesus: Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras de Abraão”
(Jo 8,39), e
Jesus ironizava as autoridades religiosas judaicas: “Não digam dentro
de vocês: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu lhes digo: Deus é poderoso para
suscitar destas pedras filhos a Abraão”. (Mt 3,9); “Façam, pois, uma conversão realmente
frutuosa e não comecem a dizer: temos Abraão por pai. Pois lhes digo: Deus tem
poder para destas pedras suscitar filhos a Abraão”. (Lc 3,8).
Então o rico fez uso de
uma prerrogativa que julgava ser sua por ter Abraão como pai: o de tirá-lo
daquela situação contristadora, procurando ignorar o que o levara àquela
realidade.
Ao apelar para Abraão o
rico pede algo com que ele nunca havia se preocupado em fazer durante toda a
sua vida terrena: a de que Lázaro amenizasse o seu sofrimento, o que ele não
fizera para Lázaro enquanto estavam vivos: “Pai
Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me
refrescar a língua, porque sofro muito nessas chamas”. (Lc 16,24).
Jesus deu a entender que
Abraão sabia que tipo de vida o rico e Lázaro tiveram antes de ali estarem:
sabia da prosperidade do rico e da vida de miséria de Lázaro, e, por isso,
lembra ao rico a sua vida passada: “Filho,
lembra-te que tu recebeste bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males.
Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado” (Lc 16,25).
A distância que existia
entre o rico e Lázaro em vida, quando Lázaro não tinha condições e nem meios
para usufruir da vida do rico e nem sentar à sua mesa enquanto ele se
banqueteava, agora se inverteu, e Abraão esclarece isso: “E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém
desejasse, não poderia passar daqui para junto de você e nem os daí poderiam atravessar
até nós!”. (Lc 16,26).
Vendo infrutíferas as suas
tentativas e se conscientizando da impossibilidade de ser socorrido por quem
quer que fosse, o rico lembra-se dos seus familiares que continuavam com o
mesmo estilo de vida que tivera a vida toda e suplica ao pai Abraão que libere
Lázaro para ir alertá-los de seu futuro destino de sofrimento se continuarem a
viver como ele mesmo viveu: “Pai, eu te
suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda
preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormentos”. (Lc
16,27-28).
O rico teve um lampejo de
bom senso e já não suportava a idéia de estarem, ele e os cinco irmãos, a
família reunida pela eternidade, naquele local de sofrimentos.
Abraão sabia da
inutilidade desse procedimento, pois quem é amigo do dinheiro não o deixará jamais,
ratificando aquilo que Jesus já dissera pouco antes: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o
outro, ou se apegara a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e
ao dinheiro”. (Lc 16,13; Mt 6,24), e mais: “Eu garanto a você: um rico dificilmente entrará no Reino do Céu. E
digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um
rico entrar no Reino de Deus”. (Mt 19,23-24).
E não foi isso que
aconteceu com o rico da parábola? O mesmo aconteceria com os seus cinco irmãos
que iriam debochar de quem viesse para lhes dizer que deviam mudar de vida e
mentalidade e olhassem para as necessidades de seus irmãos carentes. Abraão
responde dizendo que “eles têm Moisés e
os profetas, que os escutem”. (Lc 16,29).
Deus, através de Moisés,
dos profetas e, principalmente através de Jesus, revelou-se, mostrou-se um Deus
de amor deixando claro que é através do irmão que chegaremos a ele: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que
vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” Mt
25,34-40).
Temos as Escrituras
e os ensinamentos de Jesus como bússola para orientar-nos para o caminho da
salvação e fica claro que Deus não mandará pessoas que já morreram para voltar
à terra e falar o que devemos fazer ou deixar de fazer para alcançarmos a
salvação. Os antigos, para alcançarem a salvação, tinham Moisés e os profetas
que os orientavam em vida.
A Nova Aliança
apresenta Jesus Cristo como aquele a quem todos devem recorrer para alcançar a
felicidade futura, sem haver necessidade de vir do além mortos para nos dizer
que estamos em caminhos errados.
E é Jesus
Cristo quem diz isso quando tentava fazer os judeus entenderem a sua missão: “Vocês vivem estudando as Escrituras,
pensando que vão encontrar nelas a vida eterna. No entanto, as Escrituras dão
testemunho de mim. Mas vocês não querem vir a mim para terem a vida eterna” (Jo
5,39-40).
“O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se
converter”. (Lc 16,30). O rico julgava que algo de espetacular poderia
mudar a maneira de pensar, mudando a consciência de seus cinco irmãos que,
fatalmente teriam o seu mesmo destino.
Mas Abraão
deixou claro e Jesus testifica que nada, além da revelação das Escrituras poderia
evitar que seus irmãos viessem a dividir a mesma condenação, e Abraão ratifica
isso: “Se não escutam a Moisés nem aos
profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc
16,31).
Jesus narrou
essa parábola para os “boas-vidas”, para aqueles que exploravam o povo na sua
época, aqueles que depositavam no dinheiro e nas riquezas a razão de suas
vidas, ignorando a partilha e o atendimento aos irmãos menos afortunados,
aqueles a quem o evangelista Lucas chamou de “amigos do dinheiro”: “Os
fariseus, que são amigos do dinheiro, ouviam tudo isso e caçoavam de Jesus”. (Lc
16,14).
Essa parábola,
como as demais, vence o tempo e serve de chamada de atenção a todos que, ainda
hoje, fazem do dinheiro a razão de suas vidas, preferindo-o aos ensinamentos
evangélicos e ignorando as necessidades do irmão menos afortunado.
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