domingo, 25 de setembro de 2016

PARÁBOLA DO RICO E DO POBRE LÁZARO

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

“COMBATE O BOM COMBATE DA FÉ...” (1Tm 6,11).

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Diácono Milton Restivo

A segunda leitura da liturgia de hoje é tirada da segunda carta de Paulo a Timóteo.
São encontrados quarenta e dois registros em toda a Sagrada Escritura para o nome Timóteo, dos quais, vinte e quatro constam no Novo Testamento e referem-se a Timóteo, discípulo muito amado de Paulo, a quem Paulo escreveu duas cartas.
A primeira referência desse Timóteo foi quando Paulo o conheceu na cidade de Listra: Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia cristã, mas de pai grego...”. (At 16,1).
Ao visitar a cidade de Listra durante sua segunda viagem missionária, Paulo ouviu o bom testemunho dos irmãos de fé sobre Timóteo e decidiu levá-lo consigo para o trabalho da pregação do evangelho (At 16,2-3).
Sendo que o pai de Timóteo não era cristão, Paulo logo se tornou como um "pai" não somente na fé para este discípulo muito jovem, mas, também, transmitiu-lhe conselhos paternais na preocupação de não se descuidar da fé e de bem cuidar-se, conforme vemos em toda a sequência das duas cartas.
O apóstolo mostra grande respeito, confiança, e amor por Timóteo, mencionando o discípulo com muita afeição em oito das treze cartas que escreveu. Timóteo foi um companheiro inseparável de Paulo, a quem chamava de irmão: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo...” (2Cor 1,1; Cl 1,1; 1Ts 3,2), e um discípulo muito querido, de quem dificilmente se separava: “Saúdam-vos Timóteo, meu cooperador...” (Rm 16,12). 
       Paulo também o chamava de “meu filho amado”, a quem depositava toda sua confiança: “Para isso é que vos enviei Timóteo, meu filho muito amado e fiel no Senhor. Ele vos recordará as minhas normas de conduta, tais como as ensino por toda parte, em todas as igrejas”. (1Cor 4,17); “... a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia, paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor!” (1Tm 1,2; 1,18, Fl 1,1).
Timóteo era natural da cidade de Listra, filho de um grego gentio cujo nome não consta nos escritos de Paulo e de Eunice, uma judia convertida ao cristianismo.
Sua mãe Eunice e a avó materna, Loide, abraçaram o cristianismo durante a primeira visita de Paulo (2Tm 1,5) à região da cidade de Listra.
Quando Paulo pregou, sete anos mais tarde em Listra, Timóteo substituiu Barnabé no ministério (At 16,1-6). Timóteo acompanhou Paulo em sua segunda viagem missionária.
Quando a oposição dos judeus compeliu Paulo a deixar aquela região, Timóteo ficou em seu lugar para batizar, organizar e confirmar os convertidos na nova fé (At 17,10-14).
É provável que Timóteo estivesse com Paulo quando este foi preso na Cesárea e, com certeza de novo em Roma onde Paulo esteve preso por algum tempo.
O historiador Eusébio afirmou que Timóteo foi para Éfeso e tornou-se seu primeiro Bispo, tendo sido consagrado por Paulo, segundo algumas tradições, e lá ficou até ser morto a pedradas e pauladas após ter denunciado e combatido uma festa pagã no festival em honra ao deus pagão Dionísio.
Paulo escreveu duas cartas para Timóteo. A segunda carta foi escrita enquanto Paulo estava preso em Roma aguardando sua morte.
As cartas orientavam Timóteo no sentido de corrigir inovadores e professores de falsas doutrinas e ainda concedeu a Timóteo poderes para consagrar Bispos e Diáconos.
Timóteo tinha grande dedicação a Paulo e sempre o descrevia com admiração e respeito.
Na segunda carta, Paulo encoraja Timóteo a continuar pregando a palavra, corrigindo e repreendendo: “Rogo a você diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de vir para julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e por seu Reino: proclame a Palavra, insista no tempo oportuno e inoportuno, advertindo, reprovando e aconselhando com toda paciência e doutrina”. (2Tm 4,1-2), e isso acontecia mesmo no meio de muitas perseguições promovidas pelos infiéis (2Tm 1,8; 2,3; 3,12-13; 4,5).
Destemidamente, com a força que Deus lhe deu, Paulo exortou Timóteo: “Convido você a reavivar o dom de Deus que está em você pela imposição de minhas mãos. De fato, Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria. Não se envergonhe, portanto, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participe do meu sofrimento pelo Evangelho, confiando no poder de Deus”.  (2Tm 1,6-8).
Na leitura de hoje, Paulo continua a exortar Timóteo, agora como diácono, presbítero e epíscopo, para não esmorecer na fé e para dar testemunho vivo e real de uma vida verdadeiramente cristã: “Você que é homem de Deus, fuja dessas coisas. Procure a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. Combata o bom combate da fé, conquiste a vida eterna, para a qual você foi chamado. Isso você o reconheceu numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas”. (1Tm 6,11-12).
No Evangelho da liturgia de hoje Jesus narra uma estória (sem “h” mesmo, por se tratar de um fato fictício) que muita gente discute se se trata de uma parábola ou não.
Muitos afirmam que não seja parábola porque em todas as parábolas de Jesus ele não dá nomes aos personagens envolvidos, e nesta estória apresenta nomes. Das parábolas de Jesus narradas por Lucas, quinze delas falam da misericórdia e compaixão de Deus em relação aos que se convertem e demonstram arrependimento.
Esta parábola mostra, de forma bem nítida, a justiça e a justa indignação contra os que morreram sem a conversão e arrependimento, no caso, o rico que ignorou o pobre Lázaro.
O propósito seria esclarecer a quem foi dirigida esta parábola, porque Jesus contou esta parábola e qual seria o propósito fundamental da parábola.
A parábola do rico extravagante e do pobre Lázaro surgiu por causa da zombaria dos fariseus com relação ao ensinamento da parábola anterior, do administrador infiel (Lc 16,1-13), onde Jesus termina dizendo: “Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13).
Os fariseus que ouviram a parábola do administrador infiel eram, também, administradores infiéis das coisas de Deus porque se passavam por santos e honestos e cumpridores dos mandamentos, mas possuíam uma vida de luxo, e vivam apegados em demasia ao dinheiro e aos prazeres que a riqueza podia proporcionar (ainda bem que isso só acontecia no tempo de Jesus).
Por isso, Lucas diz a respeito deles: “Os fariseus, que são amigos do dinheiro, ouviam tudo isso e caçoavam de Jesus”. (Lc 16,14). O dinheiro era deles e eles achavam que deveriam dispor do seu dinheiro do jeito que quisessem e ao seu bel prazer e não gostaram da sugestão que Jesus havia dado como as riquezas deste mundo deveriam ser usadas corretamente.
A partir daí Jesus vê a necessidade de narrar esta parábola que, por si só, dispensa comentários a respeito do destino de quem se apega aos bens materiais, ignorando a preocupação que deveriam ter com os irmãos necessitados e menos afortunados.
Jesus descreve o modo de viver do rico que “se vestia de púrpura e linho fino, e dava banquete todos os dias”. (Lc 16,19).
Depois descreve a situação desesperadora e miserável do pobre Lázaro, “cheio de feridas, que estava caído à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros lamber-lhe as feridas”. (Lc 16,20-21).
Essa era a situação em que viviam os dois personagens da parábola: o rico que gozava a vida da melhor maneira que a sua existência lhe proporcionava, morava numa mansão imponente e se vestia com as melhores roupas, tinha uma vida luxuosa só se preocupando consigo mesmo, com um corpo sadio e bem alimentado, com médicos que cuidavam da sua saúde e, por outro lado, Lázaro caído à porta do rico em total contraste com a realidade daquele que gozava plenamente a vida: era extremamente pobre, miserável mesmo, doente, maltrapilho, cheio de feridas que os cães lambiam para amenizar a sua dor e que ficava na porta do rico contemplando com os olhos famintos aqueles banquetes patrocinados pelo rico e torcendo para que migalhas de alimentos caíssem no chão para que ele pudesse amenizar a sua fome.
“Aconteceu que o pobre morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão”. (Lc 16,22).
O pobre Lázaro, ao morrer, foi para o céu não porque era pobre, mas porque, em toda a sua penúria nunca deixou de confiar em Deus, considerando que o seu próprio nome sugere isso: seu nome, Lázaro, significa "Deus ajuda", ou “Deus tem ajudado”, ou ainda, “Deus é aquele que ajuda”, e isso era a realidade na vida deste mendigo que não tinha riqueza material; tinha riqueza espiritual e que confiava plenamente na providência divina e, por isso “os anjos o levaram para junto de Abraão” (Lc 16,22a); foi para o céu porque, apesar de sua vida lamentável, ele confiava em Deus, servido a Deus, buscado consolo em Deus e encontrado constante auxílio em Deus.
Acontece que “morreu também o rico, e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio aos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe Abraão com Lázaro ao seu lado” (Lc 16,22b-23). A morte não faz acepção de pessoas: os pobres morrem, mas os ricos também morrem e, do jeito que vieram ao mundo, à terra retornam: sem nada: “Nu sai do ventre de minha mãe, e nu para ele voltarei”. (Jó 1,21).
O pobre Lázaro morreu. O rico, que vivia em abundância de bens e de saúde, também faleceu.
Por certo que o cortejo do rico foi seguido por muitas pessoas ricas e importantes, autoridades; mas a morte é a grande zombadora das intenções do homem, das divisões sociais e nessa hora se pode ver que todos são feitos da mesma substância fraca que envolve a todos, tanto ricos como pobres: todos vieram do pó e ao pó tornarão: “Você é pó e ao pó voltará” (Gn 3,19b).
O rico era indiferente ao sofrimento presente, pois não o tinha experimentado e talvez por isso, não tivesse se preparado para o encontro com a morte, confiando em si e em suas riquezas.
O rico foi para o inferno não porque era rico, mas porque era uma pessoa egocêntrica, queria tudo para si ignorando a miséria do irmão, porque não é a riqueza que determina a condenação, mas a maneira como ela é usada.
A riqueza é uma graça de Deus, mas o rico não deve esquecer-se que ele é apenas o administrador das coisas que Deus lhe faculta, e a riqueza que Deus lhe deu devia ser partilhada buscando sempre o auxílio aos mais necessitados.
Esta parábola traça um contraste entre o rico que ignorava os preceitos de Deus a respeito do próximo e o pobre que em Deus depositava confiança, e os preceitos de Deus eram: “Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento, O segundo é semelhante a esse: ame ao seu próximo como a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22,37-40).
Os judeus acreditavam ser a riqueza um sinal das bênçãos de Deus pelo fato de serem descendentes de Abraão, e a pobreza indício do desagrado de Deus para com os ímpios e, na sua concepção, os ricos eram os amados por Deus e os pobres os rejeitados.
Jesus deixa claro que o problema não estava no fato do homem ser rico, mas sim por ser egoísta. A má administração dos bens concedidos por Deus havia afastado os fariseus da verdadeira riqueza, que é a vida em Deus e com Deus. Esqueceram do segundo objetivo que se encerra na lei de Deus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).
O rico foi para o inferno porque não percebeu que Deus o havia feito o seu administrador, o seu procurador com riquezas e influências que poderiam ser usadas para a glória de Deus e o benefício espiritual e material de seu próximo.
Foi a perversidade e não a sua riqueza que trouxe ao rico a desgraça eterna. A aplicação mais relevante desta parábola reside na metodologia de Jesus em levar a mensagem do Evangelho.
Cristo usou a crença dos fariseus para lhes ensinar uma verdade fundamental que significa a oportunidade de vida que existe enquanto o homem vive.
Os dois homens foram tão opostos na morte como o foram em vida. Do lugar de tormentos de onde estava, o rico levantou os olhos e viu Lázaro ao lado de Abraão num lugar de refrigério e paz, “então gritou: Pai Abraão, tem piedade de mim”. (Lc 16,24).
Porque o rico apelou para Abraão? Porque Abraão era considerado o pai da raça judaica e todos os israelitas se diziam filhos de Abraão e diziam que, estar no “seio de Abraão” significava encontrar-se sob a proteção e perto do santo patriarca, a fim de compartilhar o seu estado de benção e graça. A expressão “seio de Abraão” do Novo Testamento transmite a idéia de consolo, paz e segurança, visto que Abraão, como pai da nação judaica, naturalmente preocupava-se com o bem estar de todos os seus descendentes.
Jesus, nesta parábola, estava usando uma linguagem que todos os seus ouvintes judeus conheciam. Ao chamar Abraão de “Pai Abraão” o rico estava apelando para a afinidade sanguínea com o pai da sua nação.
Segundo uma lenda judaica, Abraão estaria sentado à entrada do inferno a fim de certificar-se de que nenhum israelita circuncidado seria atirado ali.
Entretanto, até mesmo para os israelitas sentenciados a passar algum tempo no inferno, Abraão detinha a autoridade de retirá-los de lá e recepcioná-los, encaminhando-os ao céu. Jesus dá a entender que essas tradições deram ao rico da parábola, independente da vida que levara, a esperança de que Abraão pudesse confortá-lo.
Em várias passagens dos Evangelhos os judeus se vangloriam de serem descendentes de Abraão e terem Abraão por pai: “Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém...” (Jo 8,33), e Jesus sempre os contestava dizendo que ser filhos de Abraão não lhes davam prerrogativa alguma se não fossem justos como Abraão fora e se não realizassem as obras de Abraão: Nosso pai, replicaram eles, é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras de Abraão” (Jo 8,39), e Jesus ironizava as autoridades religiosas judaicas: Não digam dentro de vocês: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu lhes digo: Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão”. (Mt 3,9); Façam, pois, uma conversão realmente frutuosa e não comecem a dizer: temos Abraão por pai. Pois lhes digo: Deus tem poder para destas pedras suscitar filhos a Abraão”. (Lc 3,8).
Então o rico fez uso de uma prerrogativa que julgava ser sua por ter Abraão como pai: o de tirá-lo daquela situação contristadora, procurando ignorar o que o levara àquela realidade.
Ao apelar para Abraão o rico pede algo com que ele nunca havia se preocupado em fazer durante toda a sua vida terrena: a de que Lázaro amenizasse o seu sofrimento, o que ele não fizera para Lázaro enquanto estavam vivos: “Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nessas chamas”. (Lc 16,24).
Jesus deu a entender que Abraão sabia que tipo de vida o rico e Lázaro tiveram antes de ali estarem: sabia da prosperidade do rico e da vida de miséria de Lázaro, e, por isso, lembra ao rico a sua vida passada: “Filho, lembra-te que tu recebeste bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado” (Lc 16,25).
A distância que existia entre o rico e Lázaro em vida, quando Lázaro não tinha condições e nem meios para usufruir da vida do rico e nem sentar à sua mesa enquanto ele se banqueteava, agora se inverteu, e Abraão esclarece isso: “E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de você e nem os daí poderiam atravessar até nós!”. (Lc 16,26).
Vendo infrutíferas as suas tentativas e se conscientizando da impossibilidade de ser socorrido por quem quer que fosse, o rico lembra-se dos seus familiares que continuavam com o mesmo estilo de vida que tivera a vida toda e suplica ao pai Abraão que libere Lázaro para ir alertá-los de seu futuro destino de sofrimento se continuarem a viver como ele mesmo viveu: “Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormentos”. (Lc 16,27-28).
O rico teve um lampejo de bom senso e já não suportava a idéia de estarem, ele e os cinco irmãos, a família reunida pela eternidade, naquele local de sofrimentos.
Abraão sabia da inutilidade desse procedimento, pois quem é amigo do dinheiro não o deixará jamais, ratificando aquilo que Jesus já dissera pouco antes: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegara a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. (Lc 16,13; Mt 6,24), e mais: “Eu garanto a você: um rico dificilmente entrará no Reino do Céu. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. (Mt 19,23-24).
E não foi isso que aconteceu com o rico da parábola? O mesmo aconteceria com os seus cinco irmãos que iriam debochar de quem viesse para lhes dizer que deviam mudar de vida e mentalidade e olhassem para as necessidades de seus irmãos carentes. Abraão responde dizendo que “eles têm Moisés e os profetas, que os escutem”. (Lc 16,29).
Deus, através de Moisés, dos profetas e, principalmente através de Jesus, revelou-se, mostrou-se um Deus de amor deixando claro que é através do irmão que chegaremos a ele: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” Mt 25,34-40).
Temos as Escrituras e os ensinamentos de Jesus como bússola para orientar-nos para o caminho da salvação e fica claro que Deus não mandará pessoas que já morreram para voltar à terra e falar o que devemos fazer ou deixar de fazer para alcançarmos a salvação. Os antigos, para alcançarem a salvação, tinham Moisés e os profetas que os orientavam em vida.
A Nova Aliança apresenta Jesus Cristo como aquele a quem todos devem recorrer para alcançar a felicidade futura, sem haver necessidade de vir do além mortos para nos dizer que estamos em caminhos errados.
E é Jesus Cristo quem diz isso quando tentava fazer os judeus entenderem a sua missão: “Vocês vivem estudando as Escrituras, pensando que vão encontrar nelas a vida eterna. No entanto, as Escrituras dão testemunho de mim. Mas vocês não querem vir a mim para terem a vida eterna” (Jo 5,39-40).
“O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter”. (Lc 16,30). O rico julgava que algo de espetacular poderia mudar a maneira de pensar, mudando a consciência de seus cinco irmãos que, fatalmente teriam o seu mesmo destino.
Mas Abraão deixou claro e Jesus testifica que nada, além da revelação das Escrituras poderia evitar que seus irmãos viessem a dividir a mesma condenação, e Abraão ratifica isso: “Se não escutam a Moisés nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc 16,31).
Jesus narrou essa parábola para os “boas-vidas”, para aqueles que exploravam o povo na sua época, aqueles que depositavam no dinheiro e nas riquezas a razão de suas vidas, ignorando a partilha e o atendimento aos irmãos menos afortunados, aqueles a quem o evangelista Lucas chamou de “amigos do dinheiro”: “Os fariseus, que são amigos do dinheiro, ouviam tudo isso e caçoavam de Jesus”. (Lc 16,14).
Essa parábola, como as demais, vence o tempo e serve de chamada de atenção a todos que, ainda hoje, fazem do dinheiro a razão de suas vidas, preferindo-o aos ensinamentos evangélicos e ignorando as necessidades do irmão menos afortunado.

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