sábado, 14 de abril de 2012

“FELIZES OS QUE NÃO VIRAM E CRERAM.”

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SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA – DIVINA MISERICÓRDIA

Ano – B; Cor – Branco; Leituras: At, 4,32-35; Sl 117; 1Jo 5,1-6; Jo 20,19-31.

“FELIZES OS QUE NÃO VIRAM E CRERAM.” (Jo 20, 29).

Diácono Milton Restivo

Estamos comemorando, neste domingo, a divina misericórdia do Pai.

A ressurreição de Jesus é uma realidade e a sua presença acontece em cada irmão, principalmente naquele mais necessitado, no pobre, no doente, no carente. Na quinta-feira, na última ceia de Jesus com seus discípulos e apóstolos, antes de Jesus instituir o sacerdócio e deixar para a sua Igreja a Eucaristia, Jesus foi o diácono por excelência, praticou a diaconia, isto é, o ato de caridade, de serviço para com os seus irmãos; lavou os pés dos seus apóstolos e, “Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto, sentou-se de novo e perguntou: ‘Vocês compreenderam o que eu acabei de fazer? Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo. Pois bem, eu que sou o Mestre e o Senhor, lavei seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. [...] Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática.” (Jo 1312-15.17).

A igreja primitiva, conforme consta da primeira leitura tirada do livro dos Atos dos Apóstolos, seguiu fielmente o exemplo de diaconia ensinado e deixado por Jesus: “a multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum.” (At 4,32).

No encerramento da vida de Jesus e no início da vida da Igreja primitiva, fica patente as três mesas através das quais o cristão deve viver a sua vida e desempenhar o seu apostolado.

Primeiro: a mesa da Palavra: “A Palavra se fez homem e veio habitar entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade.” (Jo 1,14). A liturgia da Palavra é o desdobramento da Aliança de Deus com o seu povo, e é o comprometimento da Igreja ratificada na celebração litúrgica (cf AG 10). Onde se ouve a Palavra, se faz o discernimento e se ratifica a Aliança. Jesus Cristo é a Palavra do Pai encarnada em nossa humanidade. Segundo a carta aos Hebreus, no Antigo Testamento Deus falou com a humanidade de muitas maneiras; por fim manifestou-se na pessoa de Jesus Cristo: “Nele Deus se expressou tal como ele é em si mesmo.” (Hb 1,1-4).

Segundo: a mesa da Eucaristia, a mesa do vinho e do pão. Depois do discernimento na Mesa da Palavra, a comunidade ratifica a Aliança no sangue de Jesus. Em Jesus Cristo a Aliança está completa, está realizada. É eterna. Então, ratificada a Aliança no vinho, sangue do cordeiro derramado, e no pão, corpo entregue, a comunidade de fé parte para a missão que brota da Aliança: a mesa do serviço da Caridade no Amor, que é a terceira mesa.

Terceiro: a Mesa da Caridade e do Amor, que se concretiza, basicamente, em duas afirmativas: “Façam isso em memória de mim” (Lc 22,19) e “Deus é Amor” (1Jo 4,8). Depois do discernimento da palavra e da ratificação da Aliança, a comunidade continua a celebração fora do templo, no serviço à Mesa da Caridade. A Igreja primitiva espelhou-se no seguimento e no discernimento dessa sequência: primeiro: ouviram e transmitiram a Palavra através da Mesa da Palavra: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos...” (At 2,42a); segundo: se alimentavam e se fortaleciam do pão e do sangue através da Mesa da Eucaristia: “... na comunhão fraterna, no partir o pão e nas orações. [...] Diariamente todos juntos frequentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração.” (At 2,42b) e, terceiro, auxiliavam-se mutuamente buscando socorrer a necessidade do irmão: “Todos os que abraçavam a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens, e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um.” At 2,44-45).

Após a ressurreição de Jesus “com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e todos eles gozavam de grande aceitação” (At 4,33) e, após terem participado da Mesa da Palavra, da Mesa da Eucaristia e da Mesa da Caridade, “louvavam a Deus, eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação.” (At 2,47).

O Evangelho narra que “ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana...” (Jo 20,19). Era um primeiro dia da semana. Não era, portanto, uma segunda-feira. Era o dia da semana que o mundo cristão, posteriormente, passaria a chamar de “domingo”, isto é, Dia do Senhor.

Jesus havia sido crucificado na sexta-feira. Havia sido retirado da cruz e sepultado (Jo 19,38-42). Na manhã daquele primeiro dia da semana, daquele domingo, portanto, algumas mulheres haviam se dirigido até o sepulcro e lá não acharam o corpo do Senhor. A pedra que tapava a entrada do sepulcro estava removida (cf Jo 20,11-13), “Eles, porém disseram: Porque você busca entre os mortos o que está vivo? Ele não está aqui, ressuscitou. Lembre-se do que ele disse, quando estava na Galiléia: Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos homens pecadores, seja crucificado, ressuscite ao terceiro dia.”(Lc 24,5-7). E, nessa oportunidade, dois anjos vestidos de branco aparecem no túmulo de Jesus às mulheres e dizem que o Senhor havia ressuscitado como havia dito. (cf Lc 24,5-7). As mulheres vão e contam aos Apóstolos o acontecido, dizendo que o corpo do Senhor havia desaparecido. João, o Apóstolo amado e Pedro, dois Apóstolos queridos do Senhor, saíram correndo de onde estavam e dirigiram-se a toda pressa até o sepulcro onde, três dias antes, haviam depositado o corpo do Senhor, sem vida. Ao lá chegarem notaram que, realmente, a pedra de entrada do sepulcro havia sido removida e que o corpo do Senhor Jesus já não estava mais lá. Viram apenas alguns panos no chão, os mesmos panos que haviam envolvido o corpo inerte do Senhor. Ficaram confusos. Já não estavam entendendo mais nada.

O Senhor Jesus havia prometido que ressuscitaria ao terceiro dia, mas a fé dos Apóstolos ainda não era tão grande assim, a ponto de acreditarem de imediato na maravilhosa realização da promessa do Senhor. Não era para menos; depois de tudo o que o Senhor passou depois de seu corpo ter sido esmagado pelo sofrimento, era até impossível, humanamente falando, acreditar que realmente ele ressuscitaria. E ainda mais: se ele tivesse realmente o poder para ressuscitar dos mortos, então porque se submeteu a tantas humilhações, a tantos sofrimentos? Com o seu poder, ele poderia ter evitado tudo aquilo. Era realmente difícil acreditar que Jesus ressuscitasse dos mortos depois de tudo aquilo que fizeram com ele e por tudo que ele havia passado.

Mas algumas mulheres que foram até o sepulcro na madrugada de domingo vieram afirmando que dois anjos apareceram a elas e que afirmaram que o Senhor Jesus ressuscitara dos mortos como havia prometido. Acreditar naquelas mulheres naquela altura dos acontecimentos não era nada fácil; ainda mais que as mulheres na sociedade judaica e contemporânea de Jesus não tinham tanto crédito assim. Aquelas mulheres haviam acompanhado o Senhor em toda a sua "via crucis" e, sem sombra de dúvida, por tudo aquilo que haviam presenciado seu estado emocional estava completamente arrasado: será que não tiveram uma alucinação coletiva?

As dúvidas persistiam; talvez, na hora em que elas foram ao sepulcro ainda estava por demais escuro e, possivelmente, se confundiram com alguma coisa, viram algum vulto e deram asas à imaginação, e aumentaram na narração dos fatos, dizendo que haviam visto anjos vestidos de branco, e mais, até que haviam conversado com eles.

Por via das dúvidas, os Apóstolos Pedro e João, ainda que, a princípio, incrédulos, quiseram confirmar o fato "in loco", e foram correndo até o sepulcro. Chegando constataram que o corpo do Senhor lá não se encontrava.

O boato que já corria pela cidade era que os seguidores fanáticos de Jesus haviam roubado o seu corpo para dizer que ele ressuscitara como havia prometido, porque “Enquanto elas (as mulheres) iam a caminho, eis que foram à cidade alguns dos guardas e noticiaram aos príncipes tudo o que tinha sucedido. Tendo eles congregado com os anciãos, depois de tomarem conselho, deram uma grande soma de dinheiro aos soldados, dizendo-lhes: ‘Digam: Os seus discípulos vieram de noite e, enquanto nós estávamos dormindo, o roubaram. Se chegar isto aos ouvidos do governador, nós o aplacaremos e vocês estarão seguros’. Eles, recebido o dinheiro, fizeram como lhes tinha sido ensinado. E esta voz divulgou-se entre os judeus e dura até o dia de hoje.” (Mt 28, 11-15).

A situação estava muito confusa e ninguém poderia, em sã consciência, acreditar em nada por medo de ser enganado. E assim os Apóstolos, discípulos, mulheres e seguidores de Jesus passaram aquele dia na maior das angústias, todos reunidos e trancafiados em uma casa com medo dos judeus e sem saberem o que fazer. Parecia que tudo havia terminado, e da forma mais triste e melancólica: o remédio era cada um voltar para sua casa, esquecer tudo o que havia acontecido, retomarem de novo seus afazeres e trabalhos, começarem vida nova, porque, os momentos que passaram com Jesus foram, sem sombra de dúvida, maravilhosos, mas que não passaram de um sonho, e a realidade mostrava que tudo acabara tragicamente. Tinham que se conscientizar que o Senhor Jesus morrera e eles ficaram sozinhos: essa era a triste realidade...

E, nessa angústia, o dia vai terminando, vai chegando a noite daquele primeiro dia da semana após o trágico fim de Jesus. As portas e janelas da casa onde eles estavam encontravam-se todas cuidadosamente trancadas por medo dos judeus, mas, “Chegada, pois, a tarde daquele dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se achavam juntos, com medo dos judeus, foi Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: ‘A paz esteja com vocês’. Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois os discípulos ao ver o Senhor. Ele disse-lhes novamente: ‘A paz esteja com vocês’.” (Jo 20, 19-21).

Não havia mais dúvidas: o Senhor Jesus havia, em verdade, ressuscitado dos mortos e ali estava ele afastando qualquer dúvida, dirimindo qualquer suspeita e consolando os seus apóstolos e discípulos, afirmando: “Porque vocês estão perturbados e que pensamentos são esses que sobem aos corações de vocês? Olhem para as minhas mãos e pés, porque sou eu mesmo; apalpem e vejam, porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vocês vêem que eu tenho. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas, não crendo eles ainda e estando fora de si com a alegria, disse-lhes: ‘Vocês têm aqui alguma coisa que se coma’? Eles apresentaram-lhe uma posta de peixe assado e um favo de mel. Tendo-os tomado comeu-os à vista deles.” (Lc 24,38-43).

Mas... Em todas as histórias felizes há sempre um "mas"...; naquela oportunidade não estava ali presente um dos apóstolos, e não era outro senão Tomé que, ainda com o estado emocional abalado pelos acontecimentos, relutou em acreditar no que diziam os apóstolos.

Quando Tomé retornou onde estavam todos os apóstolos, os apóstolos cheios de alegria e transbordando felicidade, correram para lhe dar a boa nova: o Senhor havia ressuscitado dentre os mortos: “... Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: ‘Nós vimos o Senhor’. Mas ele disse-lhes: ‘Se não vir em suas mãos a abertura dos cravos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, não creio’.” (Jo 20, 24-25).

Que lástima, diríamos nós; mas, quantos de nós somos iguais a Tomé; não temos fé, não acreditamos e fazemos pouco das verdades fundamentais das promessas e ensinamentos do Senhor Jesus. Não cremos no poder do Senhor Jesus. Ainda hoje quantos de nós, como Tomé, duvidam que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, que Jesus Cristo é o “Filho de Deus que se fez homem para que todos os homens se tornassem filhos de Deus”, enfim, que Jesus Cristo é o Filho de Deus.

Quantas vezes somos Tomé; quantos Tomé temos no nosso meio.

Mas... Sempre o mas...: “Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio e disse: ‘A paz esteja com vocês’. Em seguida disse a Tomé: ‘Põe aqui o teu dedo, vê as minhas mãos, aproxima também a tua mão, põe-na no meu lado; e não seja incrédulo, mas fiel’.” (Jo 20, 26-27).

Que susto deve ter tomado Tomé; ao Jesus lhe determinar que lhe tocasse, instintivamente Tomé levou a mão e tocou nas chagas dos cravos nas mãos e na ferida provocada pela lança no peito de Jesus e, vencido pala realidade dos fatos, em atitude de adoração, acreditando que realmente o Senhor Jesus jamais faltou com suas promessas e cumprira o que prometera que ressuscitaria ao terceiro dia, cai de joelhos e exclama: “Meu Senhor e meu Deus.” (Jo 20, 28). E o Senhor Jesus lhe adverte em tom de amargurada doçura: “Você creu, Tomé, porque me viu; bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jo 20, 29).

Com essa sentença, o Senhor Jesus define o que seja fé: ter fé é exatamente acreditar naquilo que não se vê e nem se toca, mas confiar de corpo e alma nos ensinamentos e promessas que o Senhor Nosso Deus nos transmite de diversas maneiras, de um modo especial pelas Sagradas Escrituras e sua Igreja. Ter fé não é somente dizer que acredita; é, antes de tudo, viver o que acredita. Ter fé não é somente dizer que crê, mas, acima de tudo, viver o que crê.

E ainda hoje, depois de dois mil anos, quantos ainda colocam dúvidas sobre a ressurreição e a divindade do Senhor Jesus.

Vários seguimentos que se dizem religiosos ou filosóficos não aceitam a ressurreição de Jesus porque pregam a reencarnação e, bem por isso, colocam em cheque a divindade de Jesus Cristo. E quantos se dizem cristãos e crentes e seguem essa filosofia perigosa que nega o que há de mais importante, sagrado e sublime na nossa fé: a ressurreição do Senhor Jesus e a sua natureza divina.

O Senhor Jesus ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e assim nos ensina o Apóstolo Paulo: “E, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns entre vocês, que não há ressurreição dos mortos? Pois, se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou é, pois, vã a nossa pregação, é também vã a fé de vocês e somos assim considerados falsas testemunhas de Deus, porque demos testemunho contra Deus dizendo que ressuscitou a Cristo, ao qual não ressuscitou, se os mortos não ressuscitam. Verdadeiramente, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a fé de vocês, porque ainda vocês permaneceis nos pecados de vocês. Também, por conseguinte, os que adormeceram em Cristo, pereceram. Se nesta vida somente esperamos em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas Cristo ressuscitou dos mortos, sendo ele as primícias dos que dormem, porque, assim como a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. E, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.” (1Cor 15, 12-22).

O Senhor Jesus ressuscitou dos mortos. É a nossa fé quem nos garante. Não precisamos ser iguais a Tomé que necessitou tocar para crer.

Sejamos cristãos autênticos e não permitamos que crenças ou filosofias que negam a divindade e a ressurreição de Jesus Cristo coloquem dúvidas em nossas cabeças e enfraqueçam a nossa fé. Não aconteça que Jesus Cristo Ressuscitado se dirija a nós, como o fez a Tomé, e nos diga: “felizes os que não viram e creram” (Jo 20,29).

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