sexta-feira, 27 de abril de 2012

MEDITANDO A PALAVRA - "EU SOU O BOM PASTOR"

http://jesusluzdomundo.files.wordpress.com/2010/09/o-bom-pastor-01.jpg

IV DOMINGO DA PÁSCOA

Ano – B; Cor – Branco; Leituras: At 4,8-12; Sl 117; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18.

"EU SOU O BOM PASTOR" (Jo 10, 11)


Diácono Milton Restivo

O livro dos Atos dos Apóstolos nos traz “Pedro, cheio do Espírito Santo” dirigindo a palavra aos “Chefes do povo e anciãos”. Essas autoridades religiosas estavam interrogando Pedro e João “por terem feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado” e Pedro afirma que “é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, - aquele que vocês crucificaram e que Deus ressuscitou dos mortos, - é pelo seu nome e por nenhum outro, que este homem está curado diante de vocês” (cf At 4,8-10). Pedro complemente e cheio do Espírito Santo, afirma: “Não existe salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos.” (At 4,12). Pedro ainda diz às autoridades religiosas que Jesus “é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, que se tornou a pedra angular.” (At 4,11). O que seria essa pedra? A pedra angular é aquela última pedra, em forma de cunha, colocada no cimo do arco de pedras para dar estabilidade, segurança e não permitir que o arco de pedras venha abaixo. E é exatamente isso que o Salmo desta liturgia afirma, profetizando a rejeição sofrida por Jesus pelas autoridades religiosas do seu tempo e que, depois de ter sido rejeitado por todos, tornou-se a salvação dos homens: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. (Sl 117 (118),22).

O quarto Domingo da Páscoa é chamado o “Domingo do Bom Pastor”. A profissão de pastor de ovelhas, segundo as Sagradas Escrituras, é a mais antiga do mundo, juntamente com a de agricultor: "Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim cultivava o solo. Passado o tempo, Caim apresentou produtos do solo em oferenda a Iahweh. Abel, por sua vez, também ofereceu as primícias e a gordura do seu rebanho." (Gn 4,2-4).

A figura do pastor, no Antigo Testamento, era a de um homem valente, destemido, protetor de seu rebanho, forte, capaz de defender as suas ovelhas contra o ataque de quaisquer que fossem as feras que quisessem dispersar o seu rebanho, ferir ou matar suas ovelhas, enfim, era o chefe, companheiro e amigo de suas ovelhas. Exemplo disso temos quando Davi, ainda adolescente, se apresenta ao rei Saul para aceitar o desafio do gigante Golias, do exército filisteu, que ameaçava invadir Israel e, na sua justificativa, para ser aceito para combater o gigante Golias, assim diz Davi, para convencer o rei: "Quando o teu servo apascentava as ovelhas de seu pai e aparecia um leão ou um urso que arrebatava uma ovelha do rebanho, eu o perseguia e o atacava e arrancava a ovelha de sua goela: e, se vinha contra mim eu o agarrava pela juba, o feria e matava. O teu servo venceu o leão e o urso, e assim será com esse incircunciso filisteu, como se fosse um deles, pois desafiou o exército do Deus vivo." (1Sm 17,34-36).

O Antigo Testamento faz várias referências sobre o cuidado e desprendimento do pastor em relação às suas ovelhas: "Conhece bem o estado das tuas ovelhas, e presta atenção aos teus rebanhos." (Pr, 27,23).

O pastor era cuidadoso e conhecia o estado e as limitações de seu rebanho e preocupava-se com isso, não exigindo mais do que o rebanho pudesse apresentar ou oferecer, comparando as ovelhas com crianças delicadas e frágeis, como disse Jacó, quando Esaú, seu irmão, o convidou para colocar em marcha, no deserto, sua comitiva: “Disse Esaú: ‘Tomemos o bando e partamos; eu caminharei na frente.’ Mas Jacó lhe respondeu: ‘Meu senhor, sabe que as crianças são delicadas e que devo pensar nas ovelhas e vacas de leite; se os forçar um só dia, todo o rebanho vai morrer. Que meu senhor parta, pois, adiante de seu servo; quanto a mim, caminharei calmamente ao passo do rebanho que tenho diante de mim e ao passo das crianças, até chegar à casa de meu senhor, em Seir’.” (Gn 33,12-14).

O cuidado, zelo e desprendimento que o pastor tinha com o seu rebanho, com as suas ovelhas, inspiraram vários profetas do Antigo Testamento a comparar esse amor do pastor com as suas ovelhas com o amor de Deus com o seu povo: “Como um pastor apascenta ele o seu rebanho, com o seu braço reúne os cordeiros, carrega-os no seu colo, conduz carinhosamente as ovelhas que amamentam.” (Is 40,11). “Iahweh é meu pastor, nada me falta.” (Sl 23 (22),1).

No Antigo Testamento, Iahweh não se auto-intitula pastor, mas se diz dono do rebanho, e assim os escritores sagrados o coloca nessa situação quando quer transmitir ao povo o amor e cuidado que tem com a nação escolhida, atribuindo essa função de pastores aos governantes, líderes tanto religiosos quanto políticos, como fez com Moisés: “Guiaste teu povo como um rebanho, pela mão de Moisés e Aarão.” (Sl 77 (76), 21).

Assim como fez com Josué: “Moisés falou assim a Iahweh, e disse: ‘Que Iahweh, Deus dos espíritos que animam toda carne, estabeleça sobre esta comunidade um homem que saia e entre à frente dela e que a faça sair e entrar, para que a comunidade de Iahweh não seja como um rebanho sem pastor’. Iahweh respondeu a Moisés: ‘Toma a Josué, filho de Nun, homem em que está o espírito. Tu lhe imporás a mão [...] e comunica-lhe uma parte de tua autoridade, a fim de que toda a comunidade dos filhos de Israel lhe obedeça.’ (Nm 27,15-18.20); assim como fez a Davi, por intermédio do profeta Samuel: ‘Eis o que dirás ao meu servo Davi: Assim fala Iahweh dos Exércitos: Fui eu que te tirei das pastagens, onde pastoreavas ovelhas, para seres chefe de meu povo Israel.’ (2Sm 7,8), e mais: “Escolheu a Davi, seu servo, tirou-o do aprisco das ovelhas; da companhia das ovelhas fê-lo vir para apascentar Jacó, seu povo, e Israel, sua herança; ele os apascentou com coração íntegro, e conduziu-o com mão sábia.” (Sl 78 (77),70-72).

Mas, também, Iahweh lhes chamava a atenção quando descuidavam do povo, comparando-os a pastores mercenários que negligenciavam o rebanho, manifestando-se dessa maneira aos dirigentes negligentes de Israel: “Pastores, assim diz o Senhor Iahweh: ‘Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar o seu rebanho? [...] Não restaurastes o vigor das ovelhas abatidas, não curastes a que está doente, não tratastes a ferida da que sofreu fratura, não reconduzistes a desgarrada, não buscastes a perdida, mas dominastes sobre elas com dureza e violência. Por falta de pastor, elas dispersaram-se e acabaram por servir de presa para todos os animais do campo; e se dispersaram. O meu rebanho dispersou-se por todos os montes, por todos os outeiros elevados e por toda a superfície da terra dispersou-se o meu rebanho, Não há quem o procure, ou quem vá em sua busca’.” (Ez 34,2.4-6).

E quando Iahweh, depois de chamar a atenção dos governantes e autoridades civis, religiosos e militares, sobre o descaso e negligência dos cuidados que deveriam atribuir ao povo, como pastores que descuidavam de seu rebanho, Iahweh coloca no futuro a possibilidade de ele mesmo assumir a função de pastor sobre seu povo, preparando assim a vinda do Bom Pastor, na pessoa do Messias. Assim se manifesta Iahweh: “Com efeito, assim diz o Senhor Iahweh: ‘Certamente eu mesmo cuidarei do meu rebanho e o procurarei. Como um pastor cuida do seu rebanho, quando está no meio de suas ovelhas dispersas, assim cuidarei das minhas ovelhas e as recolherei de todos os lugares por onde se dispersaram em um dia de nuvem e de escuridão. Eu as trarei dentre os povos, vou reuni-las dentre as nações estrangeiras e reconduzi-las para o seu solo, apascentando-as sobre os montes de Israel, nas margens irrigadas dos seus ribeiros e em todas as regiões habitáveis da terra. Eu a apascentarei em um bom pasto, sobre os altos montes de Israel terão as suas pastagens. Aí repousarão em um bom pasto e encontrarão forragem rica sobre os montes de Israel. Eu mesmo apascentarei o meu rebanho, eu mesmo lhes darei repouso, oráculo do Senhor Iahweh. Buscarei a ovelha que estiver perdida, reconduzirei a que estiver desgarrada, pensarei a que estiver fraturada e restaurarei a que estiver abatida. Quanto à gorda e vigorosa, guardá-la-ei e apascentá-la-ei com o direito.” (Ez 34,11-16). Não foi isso que Jesus disse que faria?

O profeta Miquéias atribui a Jesus Cristo o pastoreio do povo de Deus: “Mas tu, Belém, Éfrata, embora a menor dos clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que será dominador em Israel. [...] Ele se erguerá e apascentará o rebanho pela força de Iahweh, pela glória do nome de seu Deus. Eles se estabelecerão, pois então ele será grande até os confins da terra.” (Mq 5,1.3).

E, quando chega a plenitude dos tempos, para as primeiras visitas do Menino Deus recém-nascido, o Senhor escolhe exatamente pobres pastores que cuidavam de seus rebanhos nas proximidades de Belém: “Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda em seu rebanho. O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. O Anjo, porém, disse-lhes: ‘Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura.’ E de repente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus, dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!’ Quando os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: ‘Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer.’ Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado em uma manjedoura. Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos pastores. [...] E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito.” (Lc 2,8-18.20).

Durante a sua caminhada ensinando, curando e amparando os que buscavam a verdade, Jesus, muitas vezes, se apieda da multidão e a vê como “ovelhas sem pastor”: “Assim que ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Mc 6,34). E, em seguida, não somente preocupado pela falta do alimento espiritual que o povo estava necessitado, alimentou-o materialmente, multiplicando cinco pães e dois peixes que alimentaram cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, (cf Mc 6,35-44). A partir dai, Jesus prepara o povo para vê-lo como o pastor enviado pelo Pai para conduzir o povo escolhido e que aceitasse a mensagem da Boa Nova para a casa do Pai: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.” (Mt 15,24), e se autoproclama “o bom pastor”: “Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas. Mas tenho outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las também; elas ouvirão a minha voz; então haverá um só rebanho, um só pastor. Por isso o Pai me ama, porque dou minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-la e poder de retomá-la; esse é o mandamento que recebi do meu Pai." (Jo 10,11-18).

Jesus Cristo é o Bom Pastor. E isso ele deixa patente na parábola da ovelha perdida, onde retrata a misericórdia do Pai e o extremo zelo que ele, o Bom Pastor, tem por suas ovelhas, a ponto de contá-las com frequência, e, no dia em que, das cem ovelhas que tem, número simbólico, é claro, dá pela falta de apenas uma, deixa as noventa e nove em segurança e parte em busca da desgarrada.

Assim ele narra-nos essa parábola de misericórdia: “Qual de vocês, tendo cem ovelhas e perder uma, não abandona as noventa e nove no deserto e vai em busca daquela que se perdeu, até encontrá-la? E achando-a, alegre a coloca sobre os ombros e, de volta para casa, convoca os amigos e os vizinhos, dizendo-lhes: ‘Alegrem-se comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida!’ Eu digo a vocês que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.” (Lc 15,4-7).

Jesus Cristo é o Bom Pastor. Nós, que o seguimos, somos as suas ovelhas, fazemos parte de seu rebanho. E o nosso Pastor não é um mercenário que faz as coisas por interesse, por dinheiro, por promoção pessoal ou para galgar postos profissionais ou sociais. Tudo que o Bom Pastor faz por suas ovelhas é por amor, e se preciso for, dá a vida por elas; e o que foi que Jesus Cristo fez?

Quando o Bom Pastor vê alguma ovelha doente, corre para socorrê-la, tratá-la, curá-la: e o Bom Pastor jamais deixou partir de junto de si um doente sem lhe restituir a saúde, jamais se deparou com um cego sem lhe devolver a vista, jamais conversou com um descrente, mas que estava à busca da verdade, sem lhe confirmar na fé.

Jesus entregou-se nas mãos dos lobos para que os lobos não atacassem o seu rebanho; foi açoitado, coroado de espinhos, estraçalhado, crucificado, e morreu pela salvação de suas ovelhas.

Quando vamos entender o grande amor que Jesus Cristo tem por nós? Será que ele vai ter de morrer novamente para que possamos entender o quanto nos ama? Qual é a nossa resposta de fé para esse sacrifício que um Deus se propôs a fazer para a salvação de toda a humanidade e de cada um de nós em particular? Somos ovelhas, ou somos lobos? Às vezes somos muito mais lobos do que ovelhas. Muitas vezes estragamos tudo o que o Bom Pastor fez e faz...

Nenhum comentário:

Postar um comentário