O SIGNIFICADO DOS 7 DONS DO ESPÍRITO SANTO
Qual
é a diferença entre sabedoria, entendimento e ciência? E por que o “temor de
Deus” é diferente do medo?
Com
o dom da fortaleza, Deus nos dá a coragem necessária para enfrentarmos as
circunstâncias desafiadoras da vida e a firmeza de caráter para suportarmos as
perseguições e tribulações decorrentes do nosso testemunho cristão, rejeitado e
combatido pelo mundo. Foi graças ao dom da fortaleza que os santos recusaram as
falsas promessas e enfrentaram as ameaças da mundanidade, muitos com o
sacrifício da própria vida.
SABEDORIA
O
dom da sabedoria nos leva a distinguir entre o que é essencial e o que não é;
entre o que realmente importa e o que é meramente secundário. Ser sábio é saber
escolher e apreciar o bem em meio às muitas alternativas sedutoras que se
colocam diante do nosso livre arbítrio, confundindo o nosso julgamento com
aparências que precisam ser desmascaradas. A sabedoria não necessariamente
envolve inteligência, cultura e entendimento: é outro tipo de conhecimento; é a
capacidade singela de enxergar ou intuir o bom, o belo e o verdadeiro a partir
da referência do Absoluto, não do relativo. É o dom de “saber viver” em Deus,
na bondade, na verdade e na beleza, ainda que não se entendam muitas coisas no
sentido intelectual do termo “entender” – aliás, o entendimento é outro dom
divino, que veremos em seguida.
ENTENDIMENTO
Este
dom torna a nossa inteligência capaz de compreender e assimilar os conteúdos
das verdades reveladas, auxiliando-se também da ciência, que ilumina a razão a
fim de conhecermos melhor a criação e chegarmos assim ao Criador. Pode parecer
um tanto confuso, à primeira vista, distinguir entre a sabedoria, o
entendimento e a ciência. De fato, são dons complementares entre si, mas há
distinção entre eles. Expliquemos dando um exemplo: há pessoas simples que,
mesmo sem entenderem o vasto significado da liturgia, dos dogmas e das orações,
sabem apreciar o sabor das coisas de Deus e dão testemunho de intensa devoção e
piedade, sendo capazes de inspirar e ajudar os outros a viverem uma vida
espiritual mais profunda, ainda que esses outros tenham maiores talentos
intelectuais. Essas pessoas simples possuem o dom da sabedoria, mas lhes
falta o entendimento – que é o dom de compreender o sentido das coisas de Deus.
Com o dom do entendimento, o cristão contempla com mais lucidez e consciência o
mistério da Santíssima Trindade, o amor de Cristo pela humanidade, o
significado da Sagrada Eucaristia, dos sacramentos, dos ritos litúrgicos, da
moral católica etc. E onde é que entra o dom da ciência? A ciência nos ajuda
nessa compreensão fornecendo-nos um tesouro crescente de informações sobre a
criação como precisamente isso: criação, obra do Criador.
CIÊNCIA
É o
dom divino que aperfeiçoa as nossas faculdades intelectivas e nos ajuda a
compreender a realidade como obra do Criador, iluminados, simultânea
e harmoniosamente, pela fé e pela razão – “as duas asas que elevam o
espírito humano à contemplação da Verdade”, conforme a bela descrição
apresentada pela encíclica “Fides et Ratio”, do Papa São João Paulo II.
O dom da ciência, portanto, nos abre à contemplação do Criador mediante o
conhecimento da criação. É importante observar que se trata do dom da ciência
de Deus, não da ciência das coisas do mundo; ele envolve o reconhecimento da
criação como meio para a contemplação de Deus. Graças ao dom da ciência, os
santos, por exemplo, souberam ver Deus atrás das criaturas como que através de
um espelho. São Francisco de Assis compôs o “cântico das criaturas” ao Senhor
porque todos os seres criados, desde as flores até as aves, desde a água até o
fogo e o sol, lhe eram ocasião para contemplar e amar a Deus, Criador
de tudo o que há. O dom da verdadeira ciência nos leva, mediante o
reto conhecimento e reconhecimento das criaturas como criaturas, a vislumbrar o
Criador. Entre as criaturas não se incluem apenas os demais seres
tangíveis, mas também as próprias ações e comportamentos humanos, que
fazem parte do mundo criado: o dom da ciência, portanto, nos ajuda ainda a
saber como agir – e, neste sentido, evoca o dom do conselho.
CONSELHO
É o
dom que permite à alma o reto discernimento sobre como responder às
circunstâncias da existência, tanto no tocante às próprias decisões quanto na
hora de orientar os irmãos a trilharem o caminho do bem.
PIEDADE
É a
graça de Deus na alma que proporciona o relacionamento filial e profundo com
Deus, mediante a oração e as práticas piedosas ensinadas pela Igreja. É o dom
da devoção, do fervor, da experiência de viver em comunhão permanente com Deus.
TEMOR
DE DEUS
O
nome deste dom pode causar estranheza e confusão, pois muitos o entendem em
sentido negativo, como se devêssemos ter medo de Deus. Na verdade, trata-se do
dom divino que nos leva a “temer” por Deus no sentido de não querer que Ele
seja desprezado e deixado de lado, nem pelos outros, nem por nós mesmos. É
o santo temor de que Deus seja ofendido; ao mesmo tempo, é
o sadio temor das consequências do afastamento de Deus – consequências que
não consistem num castigo imposto por Deus, mas sim na decorrência
natural da nossa própria possibilidade de optar por viver longe d’Ele:
Deus respeita a nossa liberdade a tal ponto que não nos impede de odiá-lo se
assim escolhermos; por isso mesmo, Ele tampouco impede as consequências desse
ódio voluntário, que se resumem no afastamento eterno de Deus decretado por nós
próprios com a nossa liberdade e arbítrio. O dom do santo temor de Deus nos
ajuda, assim, a evitar tudo o que nos afasta d’Ele – ou seja, o pecado; e não
por medo de castigo, mas pela justa consciência de que, ao nos afastarmos
d’Ele, nós próprios O perdemos voluntariamente.
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