domingo, 10 de janeiro de 2021

 

BATISMO DE JESUS

 

Ano – B; Cor – Branco; Leituras: Is 42,1-4.6-7; Sl 28 (29); At 10,34-38; Mc 1,7-11.

 

Diácono Milton Restivo

 

A festa do Batismo de Jesus faz parte das celebrações da manifestação do Senhor: Natal, Epifania, Batismo, Apresentação de Jesus aos discípulos por João Batista e as bodas de Caná, e é também o Primeiro Domingo do Tempo Comum.

Em todas as manifestações de Jesus a todos os homens houve festa, houve alegria, houve participação; muitas pessoas foram convidadas para essas manifestações de alegria e esperança.

Quando Jesus nasceu no curral à beira da estrada, na cidade de Belém os Anjos vieram dos céus porque os céus também estavam em festa, e a alegria nos céus era tamanha que transbordou, derramou sobre a terra e os Anjos que participavam dessa festa nos céus, radiantes de alegria, desceram cantando, alegres e felizes, anunciando a Boa Nova que a humanidade esperava desde o início dos tempos:

·         “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade.” (Lc 2,14).

Depois houve a grande festa na visita dos magos, servindo-se, como guia desses homens sábios, uma reluzente estrela no firmamento enviada pelo Senhor Nosso Deus para conduzi-los até onde estava o menino Jesus, e chegaram perguntando:

·         “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2).

E os magos manifestaram a sua alegria em presentes porque, quem ama dá presentes.        

A terceira manifestação pública de Jesus, antes de iniciar a sua evangelização, também foi uma grande festa, tão grande que o céu se abriu, o Espírito Santo manifestou-se e o próprio Pai identificou quem era Jesus:

·         “Ora, aconteceu que recebendo o batismo todo o povo, batizado também Jesus, e estando em oração, abriu-se o céu, e desceu sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz:” “Tu és meu filho dileto; em ti pus as minhas complacências.” (Lc 3,21-22).

Quem batizou Jesus? Foi João Batista. Quem era João Batista?

Se fosse levar conforme a Lei de Moisés o destino de João Batista partindo de sua família, mais proximamente de seu pai Zacarias, jamais ele poderia estar no deserto como esteve, mas no templo como seu pai, porque, filho de sacerdote que era, deveria também, por herança paterna e tribal, pois pertencia à tribo de Levi, ser sacerdote, servindo como sacerdote no templo, como seu pai, por ocasião da anunciação do Anjo Gabriel que anunciara ao seu pai o seu nascimento.

Mas a vocação que lhe foi imposta foi outra, a de ser o mensageiro enviado por Deus que viria antes do Messias

·         “a fim de preparar o seu caminho; a voz que clama no deserto para preparar o caminho do Senhor e tornar reta as suas veredas” (Mc 1,2-3; Is 40,3).

Na verdade, desde o seu nascimento, João Batista foi escolhido para ser o profeta do Altíssimo, o último do grupo dos profetas da Antiga Aliança (Mt 11,13; Lc 7,26-28), ou seja, mais do que um  profeta, João teve como missão sublime ser o precursor do tão esperado Messias.

Como precursor, a sua obra era de promover o reavivamento espiritual de Israel, e assim, preparar a nação à vinda do Messias (Is 40,3; Ml 3,1; 4.5-6; Lc 1,16-17). Esteve nos desertos em preparação até o dia em que se mostrou a Israel (Lc 1,89).   

Aproximadamente no ano 27 dC, (no ano 15 de Tibério César – Lc 3,1) veio a Palavra de Yahweh a João para que desse início ao seu ministério e, assim, João começou a percorrer o deserto da Judéia, ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para o perdão dos pecados (Lc 3,2-3). João não tão somente pregava o batismo de arrependimento, mas também batizava os arrependidos. Por causa  do seu ministério de batizador, isto é, por batizar com água, é que recebeu o cognome de Batista.

Na oportunidade do Batismo de Jesus por João Batista é narrado um encontro entre essas duas personalidades de suma importância na história da salvação.

O primeiro encontro, sabemos, aconteceu ainda no útero materno de suas mães, quando Maria vai em socorro a Isabel, mulher idosa, grávida de João Batista, onde aconteceu um transbordamento de alegria e louvor. 

Aquelas duas mulheres, Maria e Isabel, eram portadoras de um mistério e, cúmplices, fizeram de seus corpos instrumentos da revelação de Deus à humanidade. 

A gestação de ambas seguiu um ritmo paralelo, próximo. Juntas, foram descobrindo, aos poucos, a grandeza da maternidade, a entrega de suas vidas ao Senhor. 

Maria, já portadora do Filho de Deus, foi visitar sua prima Isabel e, conta a história, a serviu durante sua gravidez. Manifestava-se na Mãe, o serviço do Filho aos homens e mulheres.  Isabel, portadora do Precursor, no primeiro momento daquele reencontro entre as duas primas, anunciou – como mais tarde seu filho o faria – que naquela jovem que chegava estava sendo gerado o Messias:

·         “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!” (Lc 1,42).

As Sagradas Escrituras não narram outros encontros entre os dois, mas, com certeza, pela proximidade de parentesco e pelos cuidados que Maria teve com Isabel por ocasião do nascimento de João Batista, não cometemos nenhuma falha se julgarmos que não foram somente esses dois encontros que eles tiveram entre si.

O batismo de Jesus marca o início do ministério público de Jesus. Este evento é narrado nos três Evangelhos sinóticos – Mateus, Marcos e Lucas -, enquanto que em João 1,29-33, que não é uma narrativa direta, João Batista apenas testemunha o episódio.

O batismo é um dos cinco eventos mais importantes da narrativa evangélica sobre a vida de Jesus, os outros sendo a transfiguração, a crucificação, a ressurreição e a ascensão.

João havia dito:

·         “Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com o Espírito Santo” (Mc 1,8).

Água e Espírito se apresentam como sinais de conversão.  Um lava, o outro restaura. 

A água tem sua natureza ligada à geração e à manutenção da vida humana.  Simboliza a purificação, o renascimento. 

O Espírito salva, redime, fortalece, torna divino o que é humano. João batizava com a água. Era o batismo simbólico do Precursor, cuja liturgia até hoje celebramos. Dizia que depois dele viria um outro – Jesus – que nos batizaria no Espírito.

Era o anúncio do maior dos profetas, de que a salvação era chegada através do Espírito de Deus manifestado em Jesus Cristo, que revelaria com sua vida o caminho para Deus: conversão – misericórdia – amor – serviço.  O mesmo caminho anunciado por João Batista. Era Deus revelado àqueles homens que a própria vida uniu por laços familiares e por ideais.

Nós chamamos João, que batizou Jesus, de João Batista. Então, o que o batismo significa?

Significa “ser submerso”, e o significado mais importante do batismo é “levar o pecado e a morte”.

A frase “ser submerso” implica em morte. Todos os pecados do mundo foram transferidos para Jesus quando João Batista o batizou e, portanto, ele assumiu todos os pecados da humanidade e morreu na cruz para pagar o salário do pecado. Jesus morreu em nosso lugar.

A morte significa o resultado do pecado, porque

·         “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23).

Batismo também significa “ser lavado”. Todos os nossos pecados foram lavados, sem restar nem um pouquinho deles, pois Jesus levou todos na Sua carne, através do Seu batismo.

Todos os pecados dos corações humanos foram lavados, porque foram passados para Jesus através do batismo.

O Batismo é para Jesus o assumir público da sua missão como Filho do Pai e Servo de Yahweh. A voz do céu confirma a sua opção de vida.

O Pai confirma reconhecer Jesus, desde o início do seu ministério público, como seu Filho, seu bem-amado, objeto da sua predileção:

·         “Você é o meu filho, eu hoje o gerei”. (Sl 2,7).

O Filho amado é o servo que implantará a justiça, será centro de aliança do povo e luz das nações:

·         “Eu, Yahweh, chamei você para a justiça, tomei-o pela mão, e lhe dei forma, e o coloquei como aliança de um povo e luz para as nações. Para você abrir os olhos dos cegos, para tirar os presos da cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro”. (Is 42,6-7). 

Sua palavra é revelação do Pai e de seu Reino.

Ao ser batizado, está revelando que será necessário passar pelas águas para ser filho e ungido pelo Espírito, como ele o foi. Depois que Jesus sai das águas, abrem-se os céus.

Jesus é o caminho para o céu de onde vem a voz do Pai e é enviado o Espírito.

O batismo que João dá a Jesus não é o que recebemos, pois o batismo de João é de água para a conversão:

·         “Eu batizo vocês com água para a conversão” (Mt 3,11).

E Jesus batiza no Espírito, como disse João Batista:

·         “Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo”. (Lc 3,16).

O batismo de Jesus por João Batista é a inauguração de seu ministério, sua unção pelo Espírito. Nesse batismo o Pai declara todo seu amor por esse Filho e lhe põe o Espírito como guia.

Este Filho amado é o servo que implantará a justiça, será centro da aliança e luz das nações:

·         “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. (Is 9,1).

Sua missão de fazer o bem é universal. Esse batismo revela-nos a missão do Filho. Deus o unge com o Espírito para o anuncio da Palavra para a redenção de todo homem e do homem todo.

Sua missão está voltada para os necessitados:

·         “... para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.” (Is 42,7).

Como disse o Redentorista, Padre Luiz Carlos de Oliveira,

·         “foi manifestada, no batismo de Jesus, a sua carteira de identidade; no seu Batismo, Jesus é manifestado a todo o povo e mostra a sua identidade como Filho amado do Pai; é declinada a sua profissão: a de anunciar, pois o Pai diz a todos; Escutai-o. É fornecido o seu endereço: onde se faz o bem. É tornado público o seu robby: seguir a pombinha, o Espírito Santo que o conduz; seu time: doze pernas de pau, chamados apóstolos”.

A cena do batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor dos homens.

Como verdadeiro Filho, ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.

O episódio do batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena.

No batismo Jesus tomou consciência da sua missão (essa missão que o Pai lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projeto libertador do Pai.

Na segunda leitura, Pedro, tomando a palavra, disse:

·         “Vocês sabem o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio porque Deus estava com ele.” (At 10,37-38).

E isso Jesus confirma depois, no início de sua missão:

·         “Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito [...] Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem (de Isaias) onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor.” (Lc 4,14.17-19).

Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso do nosso batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de criação do mundo que Deus quer; um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz.

O nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente de criação, fazendo crescer o Reino dele, que

·         “já está no meio de nós” (Mc 1,14).

 

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