APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO
Ano – A; Cor – Branco; Leituras: Ml 3,1-4; Sl 23
(24); Hb 2,14-18; Lc 2,22-40.
“QUANDO SE COMPLETARAM OS DIAS PARA A PURIFICAÇÃO DA
MÃE E DO FILHO, CONFORME A LEI DE MOISÉS...” (Lc 2,22).
Diácono Milton Restivo
A primeira
leitura desta liturgia apresenta o profeta Malaquias. Malaquias é o último
livro do Antigo Testamento, que resume muita da sua história.
Este livro é a
ponte entre o Antigo e o Novo Testamento. Um silêncio de quatrocentos anos
estende-se entre a voz de Malaquias e a voz do que clama no deserto: “Endireitai o caminho do Senhor”. Este
último escrito profético traz na Bíblia grega o título, mais comum entre nós,
de Malaquias, que em hebraico quer dizer "Anjo [ou mensageiro] de
Yahweh," e como nome próprio se encontra alhures no texto bíblico.
A Bíblia
hebraica intitula-o de Malaqui, que pode ser forma abreviada do precedente, ou
significar, por si, "Anjo (mensageiro) meu." O Antigo Testamento
termina com a palavra “maldição”; o Novo Testamento termina com uma benção: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja
com todos vós. Amém” (Apo 22,21).
A festa que
comemoramos hoje é chamada de Apresentação do Senhor, e é celebrada pela Igreja
quarenta dias depois do Natal, de conformidade com o que prescreve o livro do Levítico
para o povo israelita: “Yahweh falou a
Moisés: ‘diga aos filhos de Israel: Quando uma mulher conceber e der à luz um
menino, ficará impura durante sete dias, como durante a sua menstruação. No
oitavo dia o prepúcio do menino será circuncidado; e, durante trinta e três
dias, ela ainda ficará se purificando do seu sangue. Não poderá tocar nenhuma
coisa consagrada, nem ir ao santuário enquanto não terminar o tempo de sua
purificação” (Lv 12,1-4).
À base disso,
José e Maria só poderiam ir ao templo depois de quarenta dias do nascimento do
menino, ou seja, sete dias da impureza (?) da mãe por ter dado à luz e mais
trinta e três dias que ela deveria se purificar do seu sangue (?) depois do
parto.
Coisas de
Moisés, atribuídas a Yahweh e impostas ao povo israelita.
Em primeira
instância devemos entender como a purificação da mãe após o parto, razão pela
qual a Igreja também chama essa festa como a Festa da Purificação de Nossa
Senhora.
Esta festa
começou a ser conhecida no Ocidente, a partir do século X, com o nome de
Purificação da bem-aventurada virgem Maria. Foi incluída entre as festas de
Nossa Senhora.
Mas isto não
totalmente correto, já que a Igreja celebra neste dia, essencialmente, um
mistério de nosso Senhor. No calendário romano, revisado em 1969, com a reforma
litúrgica do Concílio Vaticano II, o nome da festa foi mudado para "A
Apresentação do Senhor", festa que comemoramos nesta oportunidade.
Quando rezamos o
rosário, a Apresentação de Jesus no Templo é o quarto Mistério Gozoso ou Mistério
da Alegria do Santo Rosário.
Mas a história
não termina ai. Jesus era o filho primogênito do casal José e Maria e, segundo
a Lei de Moisés, o filho primogênito, segundo determinação de Yahweh dada a
Moisés, pertencia a Yahweh, conforme ele mesmo determinara a Moisés: “Consagre a mim todos os primogênitos (entenda-se
os do sexo masculino) todo aquele que por
primeiro sai do útero materno entre os filhos de Israel, tanto dos homens como
dos animais: ele pertencerá a mim. [...] Quando Yahweh tiver introduzido você na terra dos cananeus e a tiver
dado, como jurou a você e aos seus antepassados, você reservará para Yahweh
todos os primogênitos do útero materno; e a Yahweh pertencerá todo primogênito
do sexo masculino também dos animais que você possuir. [...] Os primogênitos humanos você os resgatará
sempre” (Ex 13,1-2.11-12.13c).
A cria
primogênita dos animais poderia ser resgatada ou sacrificada, pois pertenciam a
Yahweh: “O primogênito da jumenta, porém,
você o resgatará, trocando por um cordeiro (que deveria ser sacrificado no
lugar do filhote primogênito da jumenta). Se
você não o resgatar, deverá quebrar-lhe a nuca” (Ex 13,13).
Quanto ao filho
primogênito humano, que pertencia a Yahweh, deveria ser resgatado pelos pais,
ou seja, os pais deveriam ir ao templo e ofertar a Yahweh, de acordo com as
suas posses, para os mais ricos um novilho ou ovelha e para os mais pobres um
par de rolas (cf Lv 5,7).
Por isso é que
Lucas esclarece: “Quando se completaram
os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e
José levaram Jesus a Jerusalém a fim de apresentá-lo ao Senhor, conforme está
escrito na lei do Senhor: ‘Todo primogênito do sexo masculino deve ser
consagrado ao Senhor’. Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou
dois pombinhos – como está ordenado na lei do Senhor” (Lc 2,22-24).
Isso posto,
quando da apresentação do menino Jesus no Templo para que fosse cumprida a Lei
de Moisés, lá estavam dois velhos respeitáveis: Simeão e Ana, chamada de “a
profetisa”.
O velho Simeão reconhece
o Messias logo que seus pais adentram o Templo e levantando-o nos braços, louva
a Deus por tê-lo permitido ver Sua glória naquela criança.
É Simeão quem
irá reconhecer no Menino o verdadeiro Messias tão esperado e, após agradecer a
Deus, advertirá Maria sobre o futuro de Jesus: Ele será um sinal de
contradição, revelando os pensamentos de muitos corações e uma espada
traspassará a alma da Mãe amorosa, que verá seu Filho sofrer pelo egoísmo da
humanidade que não o receberá, conforme narra Lucas: “Em Jerusalém havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso
e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele lhe
havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino
Jesus para cumprir o que a lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e
bendisse a Deus Simeão
então entoou uma oração que ficaria conhecida como “Nunc Dimittis”, também
conhecida como o "Cântico de Simeão", que profetiza a redenção do
mundo por Jesus: ‘Agora, Senhor,
conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus
olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos; luz para
iluminar as nações e glória de teu povo Israel. O pai e a mãe estavam admirados
com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de
Jesus: ‘Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para
muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os
pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te transpassará a alma”
(Lc
2,25-35).
Certamente,
Maria pouco entendeu o que Simeão estava a lhe dizer. Porém, continuava a
meditar sobre o significado de todas essas coisas em Seu coração. Voltando
para Nazaré, irá acompanhar o crescimento do Menino em sabedoria, estatura e
graça (cf Lc 2,40).
No Templo também
estava Ana, viúva há muitos anos, vivia no Templo dedicando-se ao serviço a
Deus com jejuns e orações. Ao encontrar o Menino, reconhece nele o
Messias esperado e põe-se a louvar a Deus e a falar da revelação que lhe
acontecera a todas as pessoas: “Havia t
ambém uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de
idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o
seu marido. Depois ficara viúva e
agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saia do templo, dia e noite
servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a
louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de
Jerusalém” (Lc 2,36-38).
Também,
antigamente, neste dia, a Igreja comemorava a festa de Nossa Senhora da Luz, ou
Nossa Senhora da Candelária, ou Nossa Senhora das Candeias, ou Nossa Senhora da
Apresentação, ou Nossa Senhora da Purificação, títulos esses sinônimos pela
qual a Igreja Católica venera a Virgem Maria, considerando que, nesta festa,
Maria é a portadora da luz que é o próprio Jesus, tendo ele afirmado mais
adiante: “Eu sou a luz do mundo. Quem me
segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida” (Jo 8,12). É por
isso que na nossa celebração serão bentas as velas que os fiéis, após a Santa
Missa, as levarão para seus lares.
A bênção das
velas antes da missa e a procissão com as velas acesas são características
chocantes da celebração atual.
O missal romano
manteve estes costumes, oferecendo duas formas alternativas de procissão.
É adequado que,
neste dia, ao escutar o cântico de Simeão no evangelho aclamemos a Cristo como
"luz para iluminar às nações e para dar glória a teu povo, Israel".
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