sábado, 19 de maio de 2012

ASCENSÃO DO SENHOR

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4DvGkTpVJG4dEkEtVpp2kHpEXEJM0StcnMZb3vjvy_d1HBFhdwk76ne6vTKftXiZklx8oZ5XE5TWA_os2zkfNhUkWtwG9-mXLlK-ArEXg1QKu0BlezHs7Fve81rJoSB77LfDOgX_d2Nc/s1600/advir11.jpg

ASCENSÃO DO SENHOR

Ano – B – Cor – Branco; Leituras: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20.

“DEPOIS DE FALAR COM OS DISCÍPULOS, O SENHOR JESUS FOI LEVADO AO CÉU, E SENTOU-SE À DIREITA DE DEUS”. (Mc 16,19).

Diácono Milton Restivo

Comemoramos, neste domingo, a Ascensão de Jesus aos céus.

O livro dos Atos dos Apóstolos, atribuído a Lucas, inicia com a narrativa desse acontecimento: a ascensão de Jesus aos céus. O interessante é que Lucas dedica esse livro, como já o havia feito no seu Evangelho, a um personagem que até hoje ninguém sabe quem seja: “No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou...” (At 1,1).

Há várias indagações e teses a respeito de quem seja Teófilo, mas até hoje ninguém chegou a um consenso. Quem seria Teófilo? Teófilo é um nome próprio grego, composto de duas palavras: “Theos” e “filós”, que quer dizer, exatamente: amigo de Deus. Então, foi para esse ou esses amigos de Deus que Lucas dedicou e escreveu as suas obras: o Evangelho e os Atos dos Apóstolos. Para todos aqueles que ouviram e aceitaram a mensagem de Jesus Cristo: “Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando”. (Jo 15,14). Seríamos nós esses amigos de Deus? O Salmo desta liturgia também aclama Yahweh subindo aos céus, antecipando a subida de Jesus ressuscitado para o Pai: “Yahweh sobe por entre ovações, Yahweh, ao toque da trombeta.” (Sl 46 (47),6).

Paulo escreve aos efésios falando sobre a ressurreição e ascensão de Jesus aos céus, onde o Pai o fez cabeça da Igreja, colocando tudo a seus pés, e dando-lhe a plenitude universal: “Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem a cima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro.” (Ef 1,20-21).
Na nossa profissão de fé, dizemos que Jesus “Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai. E de novo há de vir para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim”. Se Jesus não voltasse ao Pai, ele não enviaria à Igreja o Espírito Santo, conforme ele mesmo dissera: “Entretanto, eu lhes digo a verdade: é melhor para vocês que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vocês. mas se eu for, eu o enviarei.” (Jo 16,7). Para que os discípulos de Jesus de todos os tempos pudessem lembrar-se do que ele havia dito e ensinado, haveria a necessidade de receberem o Espírito Santo: “Mas o Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.” (Jo 14,26) e. “quando o Advogado vier, ele vai desmascarar o mundo, mostrando quem é pecador, quem é o Justo e quem é o condenado. Quem é o pecador? Aqueles que não acreditaram em mim. Quem é o Justo? Sou eu” (Jo 16,10a).

Então, como Jesus deixou claro, havia a necessidade de Jesus Cristo voltar para o Pai depois de consumada sua missão entre os homens para cumprir a sua promessa do envio do Espírito Santo.

A nossa fé nos diz que o Cristo ressuscitado e glorificado entrou na glória de Deus Pai: “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus Pai” depois de ter “aparecido a Cefas e depois aos doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram. Posteriormente apareceu a Tiago, e depois a todos os apóstolos. Em último, apareceu também a mim (Paulo) como a um abortivo”. (1Cor 15,5-8).

Comemoramos, na festa litúrgica da Ascensão de Jesus, a sua elevação ao céu, quarenta dias após a sua ressurreição. Rezamos na profissão de fé que “Jesus subiu aos céus”. Na oração que o Senhor nos ensinou, também dizemos: “Pai nosso que estais no céu”, e interpretamos o céu como a morada de Deus, conforme a própria Bíblia, no Antigo Testamento, procura transmitir: “Vestido de esplendor e majestade, envolto em luz como num manto, estendendo os céus como tenda, construindo tua morada sobre as águas”. (Sl 104, 1b-2); “Cantem a Deus, reis da terra, toquem para o Senhor, que avança pelos céus, os céus antigos”. (Sl 68,33-34); “Ninguém é como o Deus de Jesurun: ele cavalga o céu em seu auxílio e as nuvens com a sua majestade”. (Dt 33,26).

O Antigo Testamento ensina que é no céu que o Senhor tem o seu trono e de lá reina sobre a sua corte e sobre os seus exércitos: “Ouça a palavra de Iahweh. Eu vi Iahweh sentado em seu trono, e todo o exército do céu estava em pé, à direita e à esquerda de Iahweh”. (1Rs 22,19).

Deus é do céu, mora no céu, no céu está o seu trono, e de lá observa os fiéis e os transgressores de sua aliança: “Iahweh, Deus do céu, Deus grande e terrível, fiel à aliança e misericordioso com aqueles que te amam e observam teus mandamentos”. (Ne 1,5).

Estas são imagens poéticas que o Antigo Testamento transmite, entre outras tantas, sobre a morada de Deus; uma morada distante e quase inaccessível para o homem.

Vem Jesus, e, na boca de Jesus a palavra céu aparece de uma forma diferente, natural e muito frequente, como uma realidade que existe por si mesma e que já está no meio de nós. Jesus fala do Reino dos Céus: “Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu”. (Mt 5,12), do tesouro que deve ser acumulado no céu: “Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam e nem roubam”. (Mt 6,2); “Se você quer ser perfeito, vá, vende tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu”. (Mt 19,21). Jesus conhece os segredos do Reino do Céu e o transmite aos seus: “Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não.” (Mt 13,11).

Enfim, Jesus é o pão descido do céu: “É o meu Pai quem dá para vocês o verdadeiro pão que vem do céu, porque o pão de Deus e aquele que desceu do céu e dá a vida ao mundo”. (Jo 6,33).

A obra de Jesus consiste em unir a terra ao céu, em fazer que venha o Reino dos céus e que a vontade de Deus seja feita assim na terra como no céu: “Venha ao teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. (Mt 6,10). Jesus recebeu do Pai todo o poder no céu e na terra: “Toda autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra”. (Mt 28,18), e, bem por isso, “O Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”. (Mc 16,19b). E Jesus subiu aos céus. O Antigo Testamento nos diz que o céu é a morada do Deus dos Exércitos.

Jesus, na nova Aliança, ensina que o céu é a presença paternal e invisível de Deus que envolve todo o mundo, a natureza: “Olhem os pássaros do céu; eles não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta”. (Mt 6,26); os justos e os injustos: “Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos”. (Mt 5,45); e com a inesgotável bondade do Pai: “Se vocês que são maus, sabem dar coisas boas a seus filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe pedirem”. (Mt 7,11).

Quarenta dias depois de sua ressurreição Jesus foi levado para o céu (cf. At 1,3): “Jesus foi levado ao céu à vista deles. E quando uma nuvem o cobriu, eles não puderam vê-lo mais”. (At 1,9).

Mas, afinal das contas, o que é o céu? Onde fica? E Jesus “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus Pai” (Mc 16,19). No Antigo Testamento e no Novo Testamento, em suma, o céu é a casa de Deus; e Jesus, que veio do Pai, voltou para o céu, a casa o Pai. Se o céu é a casa de Deus, então é um lugar pleno de alegria, felicidade, amor, fraternidade, compreensão, aceitação.

Paulo, no grande hino do amor, diz: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”. (1Cor 13,13). A fé e a esperança desaparecerão com a morte, só restará o amor; portanto, o céu é a casa do amor.

João disse na sua carta: “Deus é amor”. (1Jo 4,16). Agora ficamos na dúvida se João quis realmente dizer que “Deus é amor”, ou se “o amor é Deus”; não importa, a conclusão que chegamos é que o céu é a casa de Deus, a casa do amor. Quando dizemos que temos Deus no coração, o nosso coração é o céu, porque Deus só pode estar no céu, a morada de Deus só pode ser o céu; quando afirmamos que o nosso lar é o céu, queremos dizer que Deus reside no nosso lar, porque Deus só pode residir no céu. Deus só pode estar no céu, e se a nossa comunidade tem a presença sensível de Deus, então a nossa comunidade já vive antecipadamente a alegria e o amor que reina no céu. E Jesus “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus Pai”. (Mc 16,19).

No início do Evangelho de Marcos Jesus começa os seus ensinamentos com uma advertência que, aliás, são as primeiras palavras de Jesus nesse Evangelho: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Nova”. (Mc 1,14).

E, antes de Jesus ascender aos céus, deixou as últimas orientações para os seus seguidores, que se assemelham à primeira advertência sobre a Boa Nova: “E Jesus disse: ‘vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar será condenado”. (Mc 16,15-16). Jesus pede aos seus discípulos que dêem continuidade àquilo que ele veio fazer e que fez durante toda a sua vida: trazer a Boa Nova, proclamar a Boa Nova, anunciar a Boa Nova. O que nos vem à cabeça quando ouvimos “anunciar” seria transmitir com palavras o que o Cristo nos ensinou e nos deixou; é também isso, mas não é só isso. “Anunciar”, em primeira instância, é viver, é colocar em prática, é converter-se, é encher o seu coração do amor e do perdão do Pai, porque ninguém dá o que não tem, e só damos e anunciamos aquilo de que o coração está cheio. É pelos exemplos de vida cristã que vivemos é que conseguimos cativar mais ovelhas para o rebanho do bom Pastor, sendo uma ovelha exemplar.

Quem poderia acreditar em Jesus Cristo e se deixar batizar se não tiver um exemplo a ser seguido e um anúncio a ser colocado em prática? O fato de ser salvo ou condenado, não é uma atitude ou iniciativa de Jesus, mas, é de quem crer e assumir a Boa Nova com responsabilidade, este será salvo, e, quem toma conhecimento da Boa Nova e não a leva a sério, já se condenou.

Jesus já havia advertido sobre isso quando disse: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. Quem acredita nele, não está condenado, quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus”. (Jo 3,17-18), repetindo essa mesma admoestação quando disse antes de voltar para o Pai: E Jesus disse: ‘vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar será condenado”. (Mc 16,15-16). O batismo leva-nos a imitar Jesus em tudo e a fazer o que ele faria se estivesse no nosso lugar.

Paulo nos diz em uma de suas cartas: “Que a palavra de Cristo permaneça em vocês com toda a sua riqueza, de modo que possam instruir-se e aconselhar-se mutuamente com toda a sabedoria. Inspirados pela graça, cantem a Deus de todo o coração, salmos, hinos e cânticos espirituais. E tudo o que vocês fizerem através de palavras ou ações, o façam em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai por meio dele”. (Cl 2,16-17). Jesus coloca na nossa mão uma grande responsabilidade: a de nos convertermos e, pelo nosso exemplo de vida, converter o irmão.

Ser batizado é aderir à fé e assumí-la com todas as suas consequências. Ter fé é assumir com responsabilidade as exigências do batismo. Para quem assim o fizer, Jesus foi primeiro para o céu para reservar a cada um uma morada na casa do Pai: “Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. Existem muitas moradas na casa do meu Pai.Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês”. (Jo 141-2).

E Jesus continua na sua exortação: “Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem, são estes: expulsarão demônio em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem cobras ou algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre os doentes,estes ficarão curados”. (Mc 16,17-18). Com isso Jesus quer dizer que a Boa Nova que ele veio trazer, é libertadora: liberta o homem que expulsa os demônios que o impedem de viver em harmonia e fraternidade. Falarão novas línguas. Não línguas incompreensíveis, inelegíveis, indecifráveis e inteligíveis que indevidamente são atribuídas ao Espírito Santo, mas a verdadeira língua do Espírito Santo que todos entendem: a língua do amor, da paz, da fraternidade, da igualdade, da união, da inclusão dos discriminados e marginalizados; falarão uma língua que todos entendem sem haver necessidade de tradutores, porque será a língua do amor, porque “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Também não serão contaminados com as cobras e venenos do século, como a mídia, a imprensa marrom, as atitudes inconvenientes de quem deveriam dar o exemplo. Também curarão muitos surdos que não têm ouvido para ouvir a Boa Nova, muitos mudos, que mesmo conhecendo a Boa Nova não a vivem e nem a divulgam, muitos cegos que não tem visão para contemplar as maravilhas do Senhor, muitos paralíticos que se colocaram nas cadeiras de rodas da ignorância, da inércia, do comodismo, e se acomodaram no exercício de divulgar a Boa Nova. E ressuscitarão muitos mortos que se encontram nas suas tumbas mortuárias por terem perdido a vontade e a alegria de viver por não conhecerem ou não crerem na Boa Nova. E, finalmente, “O Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”. (Mc 16,19). O que tinha de fazer Jesus o fez; agora ele deixa a continuidade de sua missão aos seus apóstolos, aos seus discípulos, enfim, à sua Igreja. O tempo da salvação e do Reino de Deus não terminou com a ida de Jesus para a casa do Pai; muito pelo contrário, tornou-se universal pelas atitudes daqueles que aderiram à fé, que acreditam em Jesus e se tornaram as suas testemunhas e seus representantes na caminhada rumo a casa do Pai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário