XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano: C – Cor: verde – Leituras: Is 66,10-14; Sl 65; Gl
6,14-18; Lc 10,1-12.17.20.
"A COLHEITA É GRANDE, MAS OS OPERÁRIOS SÃO
POUCOS." (Lc 10, 2).
Diácono Milton Restivo
A passagem da primeira
leitura corresponde ao último capítulo do livro do profeta Isaias, chamado
também de o evangelista do Antigo Testamento. No final do seu livro, Isaias
procura transmitir segurança e alegria a um povo sofrido e que esperava com
ansiedade a liberdade e a volta para Jerusalém, e assim diz o Senhor através de
Isaias: “Os seus bebês serão levados no colo, e serão acariciados sobre os
joelhos. Como a mãe consola o seu filho, assim eu vou consolar vocês; em
Jerusalém, vocês serão consolados.” (Is 66,12b-13). Isso deixa claro que Isaias se
referia quando, na consumação dos tempos, Deus enviaria o seu Filho Unigênito
para libertar, não somente o povo judeu, mas todos os povos que aderissem à sua
mensagem, como disse Pedro por ocasião do batismo de Cornélio e sua família: “De fato,
estou compreendendo que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo
contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, seja qual for a nação
que pertença. [...] Sobre ele (Jesus) todos os profetas dão o seguinte testemunho: todo
aquele que acredita em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados.” (At 10,34-35.43).
Para essa missão Jesus,
Deus que se fez homem para que os homens se tornassem filhos de Deus, quis
necessitar dos homens para que o desejo do Pai se tornasse realidade e, por
isso, Jesus “convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre
todos os demônios, bem como para curar doenças. E os enviou a pregar o Reino de
Deus e a curar. [...] Os discípulos partiram, e percorria os povoados,
anunciando a Boa Notícia, e fazendo curas em todos os lugares." (Lc 9,1-2.6).
Para não expor os discípulos demasiadamente ao perigo,
principalmente pela inexperiência dos Doze e para que eles não ultrapassassem
os limites do seu povo, “Jesus enviou os Doze com estas recomendações: ‘Não
tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão
primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Vão e anunciem: ‘O Reino do Céu
está próximo’. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos,
expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, dêem também de graça!” (Mt 10,6-8).
Para que os discípulos não se iludissem e se
vangloriassem das maravilhas que Jesus deu-lhes o poder e autoridade para
realizarem, Jesus os chama à realidade: “Eis
que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Por isso, sejam prudentes
como as serpentes e sem malícia como as pombas.” (Mt 10,16). Para dar
continuidade à sua missão, Jesus escolhe doze dentre os seus discípulos, os
instrui e lhes dá autoridade para visitarem os povoados para anunciar a Boa
Nova do Reino de Deus e, para que o povo dê crédito em seus ensinamentos, o
Mestre lhes dá autoridade para expulsar todos os demônios e curar todas as
enfermidades, instruindo-os quais seriam os seus procedimentos pessoais e como
deveriam tratar o povo.
Ao dispensá-los, Jesus usa uma metáfora para que eles
entendam quem são e a quem estão sendo enviados e a maneira como devem se
comportar: ovelhas são animais dóceis, amigáveis, amáveis, domésticos, úteis,
fornecem lã, leite e, por fim, sua carne para o alimento do homem.
O lobo, por sua vez é um animal selvagem, agressivo,
depredador, sem utilidades domésticas, carnívoro, tendo como alimento preferido
as ovelhas, sendo grande preocupação para o pastor que cuida do rebanho de ovelhas.
Jesus, na parábola do Bom Pastor, intitula-se o Bom Pastor e cita a figura do
lobo como algo nocivo ao seu rebanho, referindo-se ao mercenário, aquele que só
faz algum bem por dinheiro, e nunca por amor: "Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá a sua vida por suas ovelhas.
O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo
aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e as
dispersa..." (Jo 10,11-12).
Jesus envia os Doze como ovelhas entre lobos, sabendo
das dificuldades que iam encontrar, e, bem por isso, declina qual deveria ser
seu comportamento, devendo ser prudentes como a serpente e mansos, sem malícia
e simples como a pomba. A serpente é um animal sutil, não se expõe a perigo
algum e só ataca quando tem a certeza de que pode dominar a presa sem incorrer
em qualquer perigo de vida. Por sua vez, a pomba, como a ovelha, é um animal
dócil, meigo, puro e sem malícias.
Jesus continua na sua orientação aos Doze, dizendo: “Tenham
cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão
vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante dos governadores e reis
por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando
entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar,
porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito,
não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês quem falará
através de vocês. [...] Vocês serão odiados de todos por causa do meu
nome.” (Mt 10,17-20.22a). E muito mais coisas Jesus os alertou sobre como
deveriam se comportar quando tomassem sobre os seus ombros a responsabilidade
de anunciar o Reino de Deus para todos os homens. Mas, no final, Jesus dá uma
certeza acalentadora: “. Mas, aquele que perseverar até o fim, esse
será salvo. [...] Portanto,
todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei
testemunho dele diante do meu Pai que está no céu.” (Mt 10,22b.32). E uma
reprimenda com sintoma de ameaça para aqueles que forem omissos à
evangelização: “Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, eu também o
renegarei diante do meu Pai que está no céu.” (Mt 10,33).
Para confortar os seus discípulos nesse primeiro
estágio de evangelização, Jesus lhes diz: “Quem
recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. [...] Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu
discípulo, eu garanto a vocês: não
perderá a sua recompensa.” (Mt 10,40.42). “Quando Jesus acabou de dar instruções a seus doze discípulos, partiu
dali para ensinar e pregar nas cidades deles.” (Mt 11,1).
Jesus sabia que a missão que dera aos seus discípulos
não era fácil. Precisava de homens com tenacidade, com disponibilidade, com
desapego e, acima de tudo, com coragem. Sentiu que apenas doze para essa missão
não era o suficiente. E, a partir daí,
entramos na mensagem do Evangelho deste domingo, quando Jesus amplia o
estágio de evangelização e “... escolheu
outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua frente a toda cidade e
lugar onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: ‘A colheita é grande, mas os
operários são poucos. Por isso, peçam ao Senhor da colheita que envie operários
para a sua colheita." (Lc 10,1-2). Jesus usa a metáfora da colheita
para referir-se ao povo que deve ser evangelizado.
No Evangelho de João Jesus usa outra metáfora para
dizer quem é o agricultor dessa colheita e qual é a árvore que deve gerar os
ramos que deverão dar frutos: “Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o
agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão
fruto, ele os poda para que dêem mais fruto ainda.” (Jo 15,1-2). E Jesus
repete a esses setenta e dois discípulos a mesma recomendação que fizera aos
doze em seu primeiro envio, e os adverte: “Vão!
Estou enviando vocês como cordeiros para os lobos.” (Lc 10,3).
Hoje Jesus continua enviando discípulos seus, não mais
de dois a dois, mas em comunidade, para que todos os corações sejam atingidos
pela mensagem da Boa Nova.
Hoje é a cada um de nós que Jesus convoca e envia com as
mesmas recomendações que fez aos doze e depois aos setenta e dois discípulos. Só
que desta feita Jesus não nos envia para muito longe, para outra cidade, estado
ou país; ele nos envia para o seio do nossa própria família, porque, o
Evangelho de Jesus Cristo começa a ter vida dentro do nosso próprio lar. Se as
nossas famílias forem evangelizadas, comprometendo-se com o Evangelho de Jesus
Cristo e assumirem as responsabilidades que o Evangelho impõe, já estamos, em
grande parte, cumprindo a missão evangelizadora que Jesus nos transmite: a de
sermos portadores e difundidores da sua mensagem e do seu amor. E depois, por
onde andarmos, passarmos, pararmos, ai também devemos deixar uma mensagem do
Reino de Deus.
A nossa responsabilidade de cristão é muito grande. Não
precisamos ir às praças públicas e ler o Evangelho em alta voz ou em alto-falantes. O
que precisamos fazer é transformar a nossa vida em um Evangelho
ambulante e, por onde quer que formos e onde quer que passamos, através daquilo
que conversamos ou fazemos, do modo de vida que vivemos, os que conosco
convivem, todos devem sentir o Evangelho de Jesus Cristo, porque, não adianta
pregarmos o Evangelho aos quatro ventos se não o aplicamos em nossas vidas,
para que não suceda que Jesus nos diga, como disse, se referindo aos fariseus: “Por isso, vocês deve fazer e observar tudo
o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pos eles falam e não praticam.”
(Mt 23,3), e para não sermos alvos da reprimenda com sintoma de ameaça para
aqueles que forem omissos à evangelização: “Aquele, porém, que me renegar
diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai que está no céu.” (Mt
10,33).
O cristão comprometido com o Evangelho deve ser um
Evangelho ambulante, um Evangelho encarnado. São Paulo assimilou de tal maneira
essa ordem de Jesus que mais tarde ele diria: “Ai de mim se eu não anunciar
o Evangelho” (1Cor 8,16), e levou tão a sério essa recomendação, que
afirmou: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em
mim” (Gl 2,20). Na segunda leitura deste domingo o Apóstolo Paulo
incentiva, recomenda e deseja a paz e a misericórdia a todos os que seguirem o
seu exemplo de serem portadores e anunciadores da Boa Nova: “Que a paz e a
misericórdia estejam sobre todos os que seguirem essa norma, assim como sobre
todo o Israel de Deus.” (Gl 6,16).
Jesus nos repete a mesma recomendação que fez quando
enviou os doze: "... proclamem que o
Reino dos Céus está próximo. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem
os leprosos, expulsem os demônios." (Mt 10,7-8). É isso que Jesus nos
determina: para proclamarmos o Reino dos
Céus com o nosso próprio modo de vida; curar os doentes morais, dando-lhes
apoio e fazendo com que eles se sintam
filhos de Deus; ressuscitar os mortos, aqueles que perderam a esperança de dias
melhores, perderam a fé de uma vida digna, perderam a confiança de continuarem
caminhando para a casa do Pai; purificar os leprosos, os estigmatizados pelos
moralistas hipócritas e farisaicos; expulsar o demônio do orgulho, da luxúria,
da ira, da vaidade, do egoísmo... Jesus disse, primeiro aos doze, e depois aos
setenta e dois, alertando-os sobre o risco que incorreriam ao difundir o Reino
de Deus: "Eis que envio vocês como
ovelhas entre lobos." (Mt 10,16). Isso continua acontecendo até os nossos
dias. Quem prega o Evangelho, quem difunde o Reino de Deus na sua família, no
seu trabalho, no seu ambiente social, é logo posto de lado, olhado com pouco
caso e acaba sendo marginalizado, porque, quem vive nas trevas não se sente bem
perto de quem é portador da luz e, quem prega e vive o Evangelho sempre diz
coisas que, quem vive nas trevas, não gosta de ouvir. Por isso, quem vive e
prega o Evangelho é uma ovelha no meio de lobos, prestes a ser devorada pela
não aceitação que o mundo tem pelo Evangelho.
Assim como Jesus disse aos setenta e dois, continua
nos repetindo hoje, quando vivemos e pregamos o Evangelho: "Quem ouve vocês, a mim ouve, quem despreza vocês, a mim despreza,
e quem me despreza, despreza aquele que me enviou." (Lc 10,16). E os
setenta e dois discípulos, depois de cumprirem o estágio de evangelização,
voltaram, e com que alegria que voltaram, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!’ Ele lhes disse:
‘Eu vi Satanás cair do céu como um relâmpago! Eis que dei o poder a vocês de
pisar serpentes, escorpiões e todo o
poder do inimigo, e nada poderá causar dano a vocês." (Lc 10,17-19).
Jesus compartilha com a alegria dos discípulos, mas,
na sua pedagogia divina, chama a atenção de todos para que não se prendam no
sucesso do trabalho e sim no resultado da missão bem cumprida: "Contudo, não se alegrem porque os
espíritos se submetem a vocês; alegrem-se, antes, porque
vossos nomes estão escritos nos céus." (Lc 10,20). Essa é a recompensa
de quem vive e fala a todos do Reino de Deus, contagiando a todos com a alegria
e as esperanças que esse reino vem trazer a todos os homens; essa é a recompensa
de quem, sem medo, sem respeito humano prega e vive o Evangelho de Jesus
Cristo. Somos cristãos na medida em que vivemos o Evangelho e evangelizamos
todos aqueles que nos cercam. Em seu Evangelho , Jesus fala do destino pouco
agradável dos que não aceitarem no Reino de Deus e na sua mensagem: "Aquele, porém, que me renegar diante
dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus." (Mt
10,33).
Da mesma forma, ele anima e demonstra a alegria e a
esperança daqueles que aceitam o Reino de Deus e propagam a sua mensagem:
"Todo aquele, portanto, que se
declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de
meu Pai que está nos Céus." (Mt 10,32), e: "Aquele, porém, que preservar até o fim, esse será salvo."
(Mt 10,22).
Hoje Jesus nos envia a todos os lugares por onde
passamos para pregar e viver o Evangelho. Um dia voltaremos para Jesus. E,
nessa volta, depois de termos cumprido a nossa missão de enviado do Senhor,
vamos levar estampada em nossa face a alegria do dever cumprido com a certeza
de que: "... os nossos nomes estão
inscritos nos céus." (Lc
10,20).
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