domingo, 7 de julho de 2019

"A COLHEITA É GRANDE, MAS OS OPERÁRIOS SÃO POUCOS." (Lc 10, 2).

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano: C – Cor: verde – Leituras: Is 66,10-14; Sl 65; Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17.20.

"A COLHEITA É GRANDE, MAS OS OPERÁRIOS SÃO POUCOS." (Lc 10, 2).

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Diácono Milton Restivo

A passagem da primeira leitura corresponde ao último capítulo do livro do profeta Isaias, chamado também de o evangelista do Antigo Testamento. No final do seu livro, Isaias procura transmitir segurança e alegria a um povo sofrido e que esperava com ansiedade a liberdade e a volta para Jerusalém, e assim diz o Senhor através de Isaias: “Os seus bebês serão levados no colo, e serão acariciados sobre os joelhos. Como a mãe consola o seu filho, assim eu vou consolar vocês; em Jerusalém, vocês serão consolados.” (Is 66,12b-13). Isso deixa claro que Isaias se referia quando, na consumação dos tempos, Deus enviaria o seu Filho Unigênito para libertar, não somente o povo judeu, mas todos os povos que aderissem à sua mensagem, como disse Pedro por ocasião do batismo de Cornélio e sua família: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, seja qual for a nação que pertença. [...] Sobre ele (Jesus) todos os profetas dão o seguinte testemunho: todo aquele que acredita em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados.” (At 10,34-35.43).

Para essa missão Jesus, Deus que se fez homem para que os homens se tornassem filhos de Deus, quis necessitar dos homens para que o desejo do Pai se tornasse realidade e, por isso, Jesus “convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, bem como para curar doenças. E os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar. [...] Os discípulos partiram, e percorria os povoados, anunciando a Boa Notícia, e fazendo curas em todos os lugares." (Lc 9,1-2.6).
Para não expor os discípulos demasiadamente ao perigo, principalmente pela inexperiência dos Doze e para que eles não ultrapassassem os limites do seu povo, “Jesus enviou os Doze com estas recomendações: ‘Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Vão e anunciem: ‘O Reino do Céu está próximo’. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, dêem também de graça!” (Mt 10,6-8).         
Para que os discípulos não se iludissem e se vangloriassem das maravilhas que Jesus deu-lhes o poder e autoridade para realizarem, Jesus os chama à realidade: “Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Por isso, sejam prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.” (Mt 10,16). Para dar continuidade à sua missão, Jesus escolhe doze dentre os seus discípulos, os instrui e lhes dá autoridade para visitarem os povoados para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus e, para que o povo dê crédito em seus ensinamentos, o Mestre lhes dá autoridade para expulsar todos os demônios e curar todas as enfermidades, instruindo-os quais seriam os seus procedimentos pessoais e como deveriam tratar o povo.
Ao dispensá-los, Jesus usa uma metáfora para que eles entendam quem são e a quem estão sendo enviados e a maneira como devem se comportar: ovelhas são animais dóceis, amigáveis, amáveis, domésticos, úteis, fornecem lã, leite e, por fim, sua carne para o alimento do homem.
O lobo, por sua vez é um animal selvagem, agressivo, depredador, sem utilidades domésticas, carnívoro, tendo como alimento preferido as ovelhas, sendo grande preocupação para o pastor que cuida do rebanho de ovelhas. Jesus, na parábola do Bom Pastor, intitula-se o Bom Pastor e cita a figura do lobo como algo nocivo ao seu rebanho, referindo-se ao mercenário, aquele que só faz algum bem por dinheiro, e nunca por amor: "Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá a sua vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e as dispersa..." (Jo 10,11-12).
Jesus envia os Doze como ovelhas entre lobos, sabendo das dificuldades que iam encontrar, e, bem por isso, declina qual deveria ser seu comportamento, devendo ser prudentes como a serpente e mansos, sem malícia e simples como a pomba. A serpente é um animal sutil, não se expõe a perigo algum e só ataca quando tem a certeza de que pode dominar a presa sem incorrer em qualquer perigo de vida. Por sua vez, a pomba, como a ovelha, é um animal dócil, meigo, puro e sem malícias.
Jesus continua na sua orientação aos Doze, dizendo: “Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante dos governadores e reis por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês quem falará através de vocês. [...] Vocês serão odiados de todos por causa do meu nome.” (Mt 10,17-20.22a). E muito mais coisas Jesus os alertou sobre como deveriam se comportar quando tomassem sobre os seus ombros a responsabilidade de anunciar o Reino de Deus para todos os homens. Mas, no final, Jesus dá uma certeza acalentadora: “. Mas, aquele que perseverar até o fim, esse será salvo. [...] Portanto, todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante do meu Pai que está no céu.” (Mt 10,22b.32). E uma reprimenda com sintoma de ameaça para aqueles que forem omissos à evangelização: “Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai que está no céu.” (Mt 10,33).
Para confortar os seus discípulos nesse primeiro estágio de evangelização, Jesus lhes diz: “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. [...] Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fria  a um desses pequeninos, por ser meu discípulo,  eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa.” (Mt 10,40.42). “Quando Jesus acabou de dar instruções a seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e pregar nas cidades deles.” (Mt 11,1).
Jesus sabia que a missão que dera aos seus discípulos não era fácil. Precisava de homens com tenacidade, com disponibilidade, com desapego e, acima de tudo, com coragem. Sentiu que apenas doze para essa missão não era o suficiente. E, a partir daí,  entramos na mensagem do Evangelho deste domingo, quando Jesus amplia o estágio de evangelização e “... escolheu outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua frente a toda cidade e lugar onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: ‘A colheita é grande, mas os operários são poucos. Por isso, peçam ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita." (Lc 10,1-2). Jesus usa a metáfora da colheita para referir-se ao povo que deve ser evangelizado.
No Evangelho de João Jesus usa outra metáfora para dizer quem é o agricultor dessa colheita e qual é a árvore que deve gerar os ramos que deverão dar frutos: “Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que dêem mais fruto ainda.” (Jo 15,1-2). E Jesus repete a esses setenta e dois discípulos a mesma recomendação que fizera aos doze em seu primeiro envio, e os adverte: “Vão! Estou enviando vocês como cordeiros para os lobos.” (Lc 10,3).
Hoje Jesus continua enviando discípulos seus, não mais de dois a dois, mas em comunidade, para que todos os corações sejam atingidos pela mensagem da Boa Nova.
Hoje é a cada um de nós que Jesus convoca e envia com as mesmas recomendações que fez aos doze e depois aos setenta e dois discípulos. Só que desta feita Jesus não nos envia para muito longe, para outra cidade, estado ou país; ele nos envia para o seio do nossa própria família, porque, o Evangelho de Jesus Cristo começa a ter vida dentro do nosso próprio lar. Se as nossas famílias forem evangelizadas, comprometendo-se com o Evangelho de Jesus Cristo e assumirem as responsabilidades que o Evangelho impõe, já estamos, em grande parte, cumprindo a missão evangelizadora que Jesus nos transmite: a de sermos portadores e difundidores da sua mensagem e do seu amor. E depois, por onde andarmos, passarmos, pararmos, ai também devemos deixar uma mensagem do Reino de Deus.
A nossa responsabilidade de cristão é muito grande. Não precisamos ir às praças públicas e ler o Evangelho em alta voz ou em alto-falantes. O que precisamos fazer é transformar a nossa vida em um Evangelho ambulante e, por onde quer que formos e onde quer que passamos, através daquilo que conversamos ou fazemos, do modo de vida que vivemos, os que conosco convivem, todos devem sentir o Evangelho de Jesus Cristo, porque, não adianta pregarmos o Evangelho aos quatro ventos se não o aplicamos em nossas vidas, para que não suceda que Jesus nos diga, como disse, se referindo aos fariseus: “Por isso, vocês deve fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pos eles falam e não praticam.” (Mt 23,3), e para não sermos alvos da reprimenda com sintoma de ameaça para aqueles que forem omissos à evangelização: “Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai que está no céu.” (Mt 10,33).
O cristão comprometido com o Evangelho deve ser um Evangelho ambulante, um Evangelho encarnado. São Paulo assimilou de tal maneira essa ordem de Jesus que mais tarde ele diria: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 8,16), e levou tão a sério essa recomendação, que afirmou: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Na segunda leitura deste domingo o Apóstolo Paulo incentiva, recomenda e deseja a paz e a misericórdia a todos os que seguirem o seu exemplo de serem portadores e anunciadores da Boa Nova: “Que a paz e a misericórdia estejam sobre todos os que seguirem essa norma, assim como sobre todo o Israel de Deus.” (Gl 6,16).
 Jesus nos repete a mesma recomendação que fez quando enviou os doze: "... proclamem que o Reino dos Céus está próximo. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios." (Mt 10,7-8). É isso que Jesus nos determina: para  proclamarmos o Reino dos Céus com o nosso próprio modo de vida; curar os doentes morais, dando-lhes apoio  e fazendo com que eles se sintam filhos de Deus; ressuscitar os mortos, aqueles que perderam a esperança de dias melhores, perderam a fé de uma vida digna, perderam a confiança de continuarem caminhando para a casa do Pai; purificar os leprosos, os estigmatizados pelos moralistas hipócritas e farisaicos; expulsar o demônio do orgulho, da luxúria, da ira, da vaidade, do egoísmo... Jesus disse, primeiro aos doze, e depois aos setenta e dois, alertando-os sobre o risco que incorreriam ao difundir o Reino de Deus: "Eis que envio vocês como ovelhas entre lobos." (Mt 10,16). Isso continua acontecendo até os nossos dias. Quem prega o Evangelho, quem difunde o Reino de Deus na sua família, no seu trabalho, no seu ambiente social, é logo posto de lado, olhado com pouco caso e acaba sendo marginalizado, porque, quem vive nas trevas não se sente bem perto de quem é portador da luz e, quem prega e vive o Evangelho sempre diz coisas que, quem vive nas trevas, não gosta de ouvir. Por isso, quem vive e prega o Evangelho é uma ovelha no meio de lobos, prestes a ser devorada pela não aceitação que o mundo tem pelo Evangelho.
Assim como Jesus disse aos setenta e dois, continua nos repetindo hoje, quando vivemos e pregamos o Evangelho: "Quem ouve vocês, a mim ouve, quem despreza vocês, a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou." (Lc 10,16). E os setenta e dois discípulos, depois de cumprirem o estágio de evangelização, voltaram, e com que alegria que voltaram, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!’ Ele lhes disse: ‘Eu vi Satanás cair do céu como um relâmpago! Eis que dei o poder a vocês de pisar serpentes, escorpiões  e todo o poder do inimigo, e nada poderá causar dano a vocês." (Lc 10,17-19).
Jesus compartilha com a alegria dos discípulos, mas, na sua pedagogia divina, chama a atenção de todos para que não se prendam no sucesso do trabalho e sim no resultado da missão bem cumprida: "Contudo, não se alegrem porque os espíritos se submetem a vocês; alegrem-se, antes,  porque vossos nomes estão escritos nos céus." (Lc 10,20). Essa é a recompensa de quem vive e fala a todos do Reino de Deus, contagiando a todos com a alegria e as esperanças que esse reino vem trazer a todos os homens; essa é a recompensa de quem, sem medo, sem respeito humano prega e vive o Evangelho de Jesus Cristo. Somos cristãos na medida em que vivemos o Evangelho e evangelizamos todos aqueles que nos cercam. Em seu Evangelho, Jesus fala do destino pouco agradável dos que não aceitarem no Reino de Deus e na sua mensagem: "Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus." (Mt 10,33).
Da mesma forma, ele anima e demonstra a alegria e a esperança daqueles que aceitam o Reino de Deus e propagam a sua mensagem: "Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus." (Mt 10,32), e: "Aquele, porém, que preservar até o fim, esse será salvo." (Mt 10,22).
Hoje Jesus nos envia a todos os lugares por onde passamos para pregar e viver o Evangelho. Um dia voltaremos para Jesus. E, nessa volta, depois de termos cumprido a nossa missão de enviado do Senhor, vamos levar estampada em nossa face a alegria do dever cumprido com a certeza de que: "... os nossos nomes estão inscritos  nos céus." (Lc 10,20).


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