XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano - C; Cor – Verde; Leituras; Gn 18,20-32; Sl 137 (138); Cl 2,12-14;
Lc 11,1-13.
“QUEM PEDE RECEBE; QUEM PROCURA ENCONTRA; E, PARA QUEM BATE, SE ABRIRÁ”
(Lc 11,10).
Diácono
Milton Restivo
Santo Tomás de
Aquino disse que a oração do Pai Nosso é a mais perfeita de todas as orações,
pois “contém não apenas todas as coisas
que podemos corretamente desejar, mas também tudo o que nos é proveitoso
querer”.
A oração do Pai
Nosso é apresentada no Novo Testamento em duas versões: a longa, com sete
petições (Mt 6,9-13) e a curta, com cinco petições (Lc 11,2-5). Embora a versão
de Lucas seja considerada a mais fidedigna, pois não é concebível que Lucas
tenha subtraído duas petições, a tradição da Igreja privilegiou a mais longa, a
de Mateus, para uso litúrgico.
Nas Sagradas
Escrituras ninguém jamais ousou se dirigir diretamente a Deus chamando-o de Pai
antes de Jesus. A palavra “Abba”, Pai,
não se encontra no Antigo Testamento e nunca foi usada como invocação de Deus;
ela somente aparece no Novo Testamento, pela primeira vez com Jesus ensinando
seus discípulos a orar (Mt 6,9; Lc 11,2) e, depois, nas cartas paulinas como,
por exemplo: “A prova de que vocês são
filhos é o fato de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho
que clama: ‘Abba, Pai! ’ Portanto, você já não é escravo, mas filho; e se é
filho é também herdeiro por vontade de Deus”. (Gl 4,6-7).
A oração do Pai Nosso, no Evangelho de Mateus,
está inserida no Sermão da Montanha, quando Jesus ensinava qual deveria ser a
relação dos seus discípulos com Deus, quando Jesus orientava que não seja
espalhafatoso como eram os hipócritas fariseus “que gostam de rezar nas sinagogas e nas esquinas para serem vistos
pelos homens.” (Mt 6,5). Nas
orações Jesus recomenda discrição: “quando
você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente;
e seu Pai que vê o escondido, recompensará você”. (Mt 6,6).
O quarto a que Jesus se refere não se trata
de um cômodo de sua casa.
O quarto é o coração. Você pode rezar onde
quer que esteja, desde um lugar tranquilo como no mais movimentado e barulhento
dos locais e, se estiver em um lugar assim, recolha-se no seu quarto, isto é,
no seu coração, sem gestos chamativos ou
voz que chame a atenção e, dessa maneira, eleve o seu pensamento ao Pai que
está sempre com você. Jesus orienta e dá conselhos como deve ser formulada a
oração para que o Pai possa ouvi-la e atendê-la.
Algumas orientações de Jesus são:
pedir as coisas a Deus sempre em nome de Jesus (Jo 15,16; 16,23-24); deve-se
pedir as coisas com muita confiança, sem esmorecer, sem desistir (Lc 11,5-13;
Mc 7,7-11); não usar muitas palavras nem confiar no muito palavreado (Mt
6,7-18); não rezar com exibicionismo para ser visto pelos outros, mas entrar no
quarto (no coração), fechar a porta e rezar no segredo, pois o Pai nos vê (Mt
6,5-6).
No Antigo
Testamento Moisés também incentivava o povo israelita a buscar ao Senhor nosso
Deus através da oração: "De lá,
então, você buscará Iahweh seu Deus e, se o procurar com todo o coração e com
toda a alma, você o encontrará." (Dt 4,29).
Nos Evangelhos encontramos, com frequência,
Jesus rezando. Citamos apenas alguns exemplos: na hora de ser batizado e
de assumir a sua missão, Jesus reza (Lc 3,21); na hora de iniciar a missão,
passa quarenta dias em oração no deserto (Lc 4,1-2); na tentação Jesus enfrenta
o tentador com textos da Escritura (Lc 4,3-12); na hora de escolher os doze
Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12); na hora de fazer levantamento da
realidade e falar da sua paixão, Jesus reza (Lc 9,18); na alegria de ver o Evangelho
revelado aos pequenos, Jesus reza em voz alta ao Pai (Lc 10,21); na
ressurreição de Lázaro Jesus reza para que todos o ouçam: “Pai eu sei que sempre me ouves!” (Jo 11,41-42); Jesus procura a
solidão do deserto para rezar (Mc 1,35; Lc 5,16; 9,18); Jesus busca as
montanhas para rezar (Lc 6,12); rezando, Jesus desperta a vontade de rezar nos
apóstolos e lhes ensina a oração do Pai Nosso (Lc 11,1); na crise Jesus escolhe
três discípulos e sobe o Monte da transfiguração para rezar (Lc 9,28); na hora
da despedida, na última ceia, Jesus reza a oração sacerdotal (Jo 17,1-26); na
angústia da agonia pede aos três amigos para rezar com ele (Mt 26,38); na hora
de ser pregado na cruz reza pedindo perdão pelos carrascos (Lc 23,34); Jesus
morre soltando um grito, que é a oração dos pobres e oprimidos (Mc 15,37).
Jesus também
insiste muito na oração comunitária, na oração no grupo de irmãos, na oração
onde se reúnem várias pessoas para louvar, para agradecer, para pedir: "E lhes digo ainda mais: Se dois de
vocês na terra estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso
lhes será concedido por meu Pai que está no céu. Pois onde dois ou três
estiverem reunidos em meu nome, eu estou ai no meio deles." (Mt 18,20)
e no Evangelho de João, Jesus nos diz: "Se
vocês ficam unidos a mim e minhas palavras permanecem em vocês, peçam o que
quiserem e será concedido a vocês." (Jo 15,7). O livro dos Atos dos
Apóstolos diz que os primeiros cristãos se ajudavam mutuamente em suas
necessidades e rezavam sempre juntos; "Eles
mostravam-se assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à
fração do pão e às orações." (At 2,42).
Nossas orações
devem ser sinceras e o que a boca diz o coração deve estar sentindo, senão a
reprimenda do profeta Isaías servirá também para nós: "O Senhor disse: ‘Visto que este povo se chega junto a mim com
palavras e me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim e a
sua reverência para comigo não passa de mandamento humano, de coisa aprendida
por rotina, o que me resta é continuar a assustar esse povo com coisas
espantosas e assombrosas’." (Is 29,13-14) e exatamente, por agirem
dessa forma, é que Jesus condena os fariseus do seu tempo chamando-os de
hipócritas, por citarem palavras bonitas em suas orações e não haver
sinceridade em suas atitudes, conforme nos narra Mateus 15,1-9.
Jesus incita seus discípulos a rezar: “E eu
digo a vocês: peçam, e lhes será dado; busquem, e acharão; batem, e lhes será
aberto; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate se
abrirá”. (Lc 11,9-10; Mt 7,7).
Com certeza, os judeus tinham as suas
obrigações religiosas e rituais e as horas certas para fazer as suas orações,
mas Jesus tinha um jeito especial e contagiante e provocativo que originava nas
pessoas o desejo de aprender a rezar como ele rezava.
No Evangelho da liturgia de hoje Lucas diz
que “Jesus estava rezando em um certo
lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a
rezar, como também João (Batista) ensinou
seus discípulos.” (Lc 11,1). E Jesus lhes ensinou a oração do Pai Nosso.
A oração do Pai Nosso é a oração da família: “Pai Nosso”, a oração da partilha: “o pão nosso”, e a oração do perdão: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido”; "E quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra
alguém, Perdoai-lhe, para que também vosso Pai que está nos céus vos perdoe as
vossas ofensas." (Mc 11,25-26), “Pois,
se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos
perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os
vossos delitos." (Mt 9,15).
§ “Pai Nosso” – Pai não apenas meu, Pai não apenas
seu. Pai meu e Pai seu, portanto, Pai Nosso; Pai do rico e Pai do pobre; Pai do
bom e Pai do mau: Pai do branco e Pai do negro; Pai do livre e Pai do
encarcerado. Pai do cristão e pai do muçulmano. Pai do sábio e Pai do
ignorante. Pai de todos os homens de todas as nacionalidades, ideologias e
religiões. Deus é Pai de todos. O
mesmo Pai que cuida de mim, cuida também de você. É Pai universal que
nos ama infinitamente e deseja a nossa felicidade e realização, a nossa plenitude.
Enviou seu Filho para nos redimir: “Pois
Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o
que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o
seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja
salvo por meio dele.” (Jo
3,16-17). Somos filhos do Pai, do Pai Nosso, filhos de Deus e, portanto, filhos
do Rei e herdeiros dos céus. Deus é Pai
e Pai Nosso. Ele não é somente Pai meu e nem seu, é nosso. Se Deus não for Pai
Nosso, ele deixa de ser Pai, porque Deus é Pai de todos. Deus é Pai de todos,
por isso Jesus nos ensina a chamá-lo de “Pai Nosso”. Deus não faz distinção
entre as pessoas. Ele amou tanto Teresa de Calcutá como ama intensamente
Fernandinho Beiramar. A Diferença é que Teresa de Calcutá foi receptiva ao amor
do Pai e o direcionou para os pobres, infelizes, marginalizados e os amou como
Jesus nos amou, por isso, hoje temos mais uma estrela brilhando no céu da nossa
fé. Ao contrário disso, Fernandinho Beiramar se fechou ao amor do Pai, e
preferiu a violência, a corrupção, as drogas, mas o amor do Pai para com ele
não mudou, continua o mesmo; o Pai está na soleira, esperando a sua volta. O
Pai nos ama dessa maneira, não importando o caminho que tenhamos seguido ou
escolhido, por isso ele é “Pai Nosso”. O que ele espera, simplesmente, é a
retribuição do amor que ele nos dedica.
§
Que
estais nos céus – Deus está nos
céus porque ele só pode estar nos céus. Entendemos céu como a morada de Deus, um
lugar de pleno gozo, felicidade, sem tristeza, sem corrupção, enfim, um lugar
de eterna alegria, um lugar de extrema pureza e sabedoria, e este é o lugar
onde Deus está. Mas o céu não é lá em cima, como pensamos, o céu é,
simplesmente, o lugar onde está Deus. Muitas vezes dizemos: Deus está no meu
coração, Deus está na minha casa, Deus está no meu trabalho; então, se Deus
está no seu coração, na sua casa, no seu trabalho, esses locais são o céu onde
Deus se faz presente, porque Deus só pode estar no céu e nós, com nossas
atitudes, maneira de viver e amor ao próximo, preparamos o céu, a morada de
Deus no nosso meio. O Pai está nos céus, está na terra, está nos
corações, está em nossas vidas, está em todas as partes. O nosso Pai é
Onipotente e Onipresente. Quem vive em Deus está com Deus sempre, em todos os
momentos, na dor, na alegria, na vivência da fraternidade, especialmente do
amor. Onde existe amor, Deus aí está, porque "Deus é amor." (1Jo 4,8).
§
Santificado seja o vosso nome – Reportamos-nos
ao decálogo, onde Yahweh determina para que Moisés transmita para o povo
israelita: “Não jurem falsamente pelo meu
nome, porque vocês estariam profanando o nome de seu Deus.” (Lv 19,12) e “Não pronuncie em vão o nome de Yahweh seu
Deus, porque Yahweh não deixará sem castigo aquele que pronunciar o nome dele
em vão.” (Ex 20,7). Seja santificado o nome do Pai por todos os homens, por
todas as criaturas, por toda a natureza. Santificado e adorado seja agora e
para sempre o Santo Nome do Senhor. Santificado seja o nome do Pai através do
dom da vida, do apostolado que realizamos, do nosso testemunho de vida cristã,
da nossa caridade vivida no dia-a-dia.
§
Venha a nós o vosso Reino - Reino de
paz, de alegria, de justiça, de concórdia, de amor. Reino que acontece no
silêncio dos corações dos homens de boa vontade, homens e mulheres dedicadas,
não pela força das armas, da violência, da coação e da opressão. Reino
invisível enquanto espiritualizado, visível quando é colocado em prática o novo
mandamento de Jesus: “Amem-se uns aos
outros como eu amei vocês, assim todos saberão que vocês são meus discípulos”
(Jo 13,34). Reino eterno, reino
libertador, reino espiritual, reino material. Reino que Jesus veio trazer para
todos, o reino de amor, reino de união, reino de confraternização. Venha o vosso
reino que deverá ser participado por todos os homens e mulheres de boa vontade.
Praticar as leis de Deus para sermos cidadãos do seu reinado e termos direito às
petições.
§
Seja feita a vossa vontade - Mesmo
nos tornando cidadãos do reino de Deus,
não podemos fazer projetos a revelia. Temos que nos adaptar aos critérios de
Deus e nos conformar com o que ele nos permitir. Só assim seremos, de fato,
bem-aventurados em tudo o que fizermos. A vontade do Pai é que todos os homens
sejam seus filhos e filhos felizes. Que todos os seus filhos se amem uns aos
outros, assim como o próprio Jesus amou e ensinou a todos se amarem. A vontade do Pai é que não haja mais desavenças,
brigas, ódios, guerras, roubos, mortes, violências, acidentes, abortos,
desuniões, infidelidades. Mas, infelizmente, não cumprimos a vontade do Pai e,
bem por isso, existem tantas infidelidades, desuniões, ódios, guerra. Humanos e
egoístas que somos, buscamos fazer, quase sempre, a nossa vontade, negligenciando
a vontade do Pai, tentando adaptar a vontade divina à nossa vontade. Nas horas alegres
é fácil dizer: "Seja feita a vossa
vontade", mas, nos momentos ásperos da vida, nas horas da provação, do
sofrimento maior, da dor, custa-nos muito aceitar a vontade do Pai. O céu desce
até nós quando construímos ambientes de paz de harmonia, de amizade, de amor,
de compreensão. O céu se afasta de nós e o inferno se instala em nosso meio
quando campeiam o ódio, a inveja, a infidelidade, a injustiça, o ciúme, a
inimizade, o rancor, a desavença, o desrespeito, o ressentimento, a falta de
perdão, a impaciência, o desamor. Porque nos odiamos e nos infernizamos tanto
se temos tão pouco tempo para nos amar e nos querermos bem? E Jesus, na agonia
que antecedeu a sua paixão e morte, já sabendo qual seria o seu fim, naquela
angústia em que até a alma fica aterrorizada diante da possibilidade da morte como
ele mesmo disse: "Minha alma está
triste até a morte." (Mt 26,38), não fugiu do destino que Deus Pai lhe
havia determinado e faz uma súplica angustiante, entregando tudo de acordo com
a vontade do Pai: "Meu Pai, se é
possível, afaste de mim este cálice; contudo não seja como eu quero, mas como
tu queres." (Mt 26,39). Mais adiante ele repete a mesma oração,
cumprindo a vontade de Deus Pai: "Meu
Pai, se não é possível que isso passe sem que eu beba, seja feita a tua
vontade." (Mt 26,42). E Jesus entregou-se à morte, e morte de cruz
para obedecer e fazer cumprir a vontade do Pai. E o exemplo que Jesus nos deixa
é que a vontade do Pai está sobre e acima até de nossa própria vida. E Maria, a
escolhida por Deus para ser a mãe de seu Filho, também aceita sem reservas a
vontade do Pai, e afirma: "Eu sou a
serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1,38).
§
Assim na terra como no céu – No céu,
com certeza, a vontade do Pai é uma realidade e está sendo cumprida. Mas na
terra onde o Pai, depois de ter criado todas as coisas, depois de ter criado o
homem e a mulher e "Deus viu o que
tinha feito, e era muito bom" (Gn 1,31), onde deveria imperar a
vontade do Pai, vem o maligno, então de identificando como serpente, e hoje
personificado na falta de respeito aos direitos humanos em todas as áreas e
situações e destrói tudo de bom que o Senhor havia feito, conforme nos narra Gênesis
3,1-24. Mas o Senhor quis e quer que a sua vontade seja feita na terra e por
isso nos mandou seu Filho Jesus, sendo que "todos
os que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1,12). E
hoje, cabe a cada um de nós, que nos dizemos cristãos, fazer com que a vontade do
Pai seja feita aqui na terra, porque, no céu, os Anjos não se cansam de cantar
os seus louvores, e não cessam de o louvar e o adorar.
§
O pão nosso de cada dia nos dai hoje – Quando
as Sagradas Escrituras falam “pão”, quer dizer todo tipo de alimento e
necessidades humanas. Pão é símbolo do alimento humano, o alimento necessário e
suficiente: “Concede-me apenas o meu
pedaço de pão, para que, saciado, eu não te renegue...” (Pr 30,8b). Além do
alimento humano, o pão representa tudo o que a pessoa precisa para viver com
dignidade: comida e bebida, casa, roupa, educação, saúde, descanso, trabalho,
amizade, religião, solidariedade, comunidade, respeito, e muito mais. O pão
expressa o amor de Deus Criador e o dom do pão é um convite à generosidade. O
pão, enquanto alimento, dá-nos vida; partilhar do mesmo alimento é participar
da mesma vida e quem participa da mesma vida é irmão e irmã e tem um pai em
comum, o Pai Nosso. O Evangelho proíbe que eu peça o pão só para mim deixando
de lado as necessidades dos irmãos que nos rodeiam, por isso não rezamos “o pão meu” e sim “o pão nosso”. Não adianta pedir a mais com o intuito de estocar.
Deus só concede o que necessitamos de imediato, o amanhã será um outro dia e
não adianta pedir com antecedência e Jesus já nos alertou a respeito disso: “Não se preocupem com o dia de amanhã, pois
o dia de amanhã terá as suas próprias preocupações. Basta a cada dia a sua
própria dificuldade” (Mt 6,34). E Jesus mesmo responde qual é o verdadeiro
pão que dá a vida: "Em verdade, em
verdade vos digo: não foi Moisés quem deu a vocês o pão do céu, mas é meu Pai
que dá a vocês o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce
dos céus e dá vida ao mundo." (Jo 6,32-33), e completa: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca
mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede." (Jo 6,35).
Jesus se auto afirma como sendo o pão que Deus Pai nos manda do céu para que
não tenhamos mais fome e nem sede no relacionamento com os irmãos e das coisas
do Pai. Mas, também precisamos do pão material da mesma forma que precisamos do
pão dos valores eternos. O pão de trigo, sem bromato. O pão da verdade, sem
mentiras. O pão da fidelidade, sem traições. O pão da justiça, sem enganações. O
pão da liberdade, sem opressão. O pão do amor, sem ódio. O pão da união, sem
abandono. O pão da luz, sem trevas. O pão da alegria, sem tristezas. O pão da
fé, sem dúvidas. O pão do perdão, sem mágoas. Esse pão que devemos repartir com
os nossos irmãos. O pão que sobra na mesa dos ricos e faz falta na mesa dos
pobres. O pão que sobra na nossa mesa e que não se destina ao necessitado é o
diagnóstico do desamor, porque o pão que sobra na nossa casa e endurece no
nosso armário deixou de matar a fome de alguém. O pão que os egoístas querem só
para si enquanto centenas e milhares morrem à mingua por falta do pão de trigo,
do pão da justiça, do pão da liberdade, do pão do amor, do pão da moradia, do
pão da saúde. O pão da amabilidade que revela nobreza de coração e respeito à
individualidade do outro. O pão vindo do céu, que é o Senhor Jesus, que
alimenta nossos ideais de apostolado cristão. O pão da solidariedade de quem
reparte tempo, atenção, alegria e jovialidade com seus irmãos. O pão da fé e da
esperança num mundo descrente, confuso, desencantado, materialista e pagão. O
pão da justiça e do respeito aos direitos humanos, numa sociedade de opressores
e oprimidos, de ricos e miseráveis nesse século em que nós, cristãos, desejamos
cristianizar e converter o mundo para Deus.
§
Perdoai as nossas ofensas - Senhor
Deus, perdoai a nossa mediocridade, a nossa falta de idealismo, o nosso
cansaço, as nossas rebeldias, as nossas críticas precipitadas, a nossa
violência, a nossa maledicência, as nossas omissões e comodismo, a nossa fé nem
sempre adulta, a nossa fragilidade, a nossa impaciência em aceitar as
limitações próprias e as limitações dos nossos irmãos; perdoai, Senhor, as
nossas dívidas, que temos convosco e com os nossos irmãos. Sabemos do barro que
fomos feitos, mas, com o seu perdão, fortalecei-nos para que o vaso de barro,
que somos nós, não se quebre e deixe desperdiçar a vossa graça, abundante em
cada um de nós.
§
Assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido – Perdoa-nos, Pai, as nossas dívidas, as nossas ofensas, que
são tantas, mas ensina-nos, também, a perdoarmos os que nos ofendem, porque, o
seu perdão, Pai, só o recebemos na medida em que soubermos perdoar a quem nos
tem ofendido. Jesus nos ensina que a medida do perdão do Pai para conosco é a
mesma medida do nosso perdão para com o irmão. Sabemos, Pai, que se não perdoarmos,
também não seremos perdoados. Se guardarmos ódio contra os irmãos no coração,
não receberemos o perdão do Pai. Se guardarmos mágoa contra qualquer irmão, somos
indignos de repetir a oração do Pai Nosso que Jesus nos ensinou. Se quisermos
repetir a oração do Pai Nosso, é indispensável que antes tenhamos perdoado a
todos os que nos tem ofendido, indistintamente. Não podemos nos esquecer do que
Jesus nos alertou: “Se vocês perdoarem
aos homens os males que eles fizeram, o Pai de vocês que está no céu também
perdoará vocês. Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também
não perdoará os males que vocês tiverem feito.” (Mt 6,14-15) e ainda mais: “Se você for até ao altar levar a sua
oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe
a oferta ai diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com o seu irmão;
depois volte para apresentar a oferta.” (Mt 5,23-24); "E quando você estiver orando, se tiver alguma coisa contra
alguém, perdoa-lhe, para que também seu Pai que está nos céus perdoe as suas
ofensas." (Mc 11,25-26). Magoamos e somos magoados a cada passo. Decepcionamos
os nossos irmãos, e somos decepcionados por eles. Ferimos tantas vezes, e até
sem querer. Somos feridos muitas vezes, até sem merecer. Nem sempre é fácil
perdoar injustiças e maldades, ofensas e incompreensões, desamores e infidelidades.
A ingratidão dói, a indelicadeza nos desalenta. Perdoar exige heroísmo, muitas
vezes. Especialmente quando fomos magoados pelas pessoas que amamos. Mas o Pai
nos perdoa na medida em que perdoarmos a quem nos tem ofendido, porque, assim
nos disse Jesus: "Não julguem para
não serem julgados. Pois com o julgamento com que vocês julgarem vocês serão
julgados, e com a medida com que vocês medirem, vocês serão medidos" (Mt
7,1-2).
§
E não nos deixeis cair em tentação – Não
nos deixeis cair na tentação do mais fácil, do mais cômodo. Na tentação da vanglória
e da inimizade. Na tentação de seguir os nossos caprichos e leviandades. Na
tentação de abandonarmos o vosso Reino e buscarmos o nosso próprio reino, o
reino do mundo, vulgar, mesquinho, egoísta. Na tentação de vivermos uma fé sem
obras, de uma religião desencarnada da verdade e da realidade. A tentação de
quem prega Jesus Cristo, mas desconhece as Sagradas Escrituras, os Santos Evangelhos.
A tentação de quem fala em paz e só promove intrigas, fofocas; de quem prega a
justiça e só pratica a injustiça; de quem diz que vive o amor e semeia a
inimizade, o ódio, a desconfiança. Não nos exponha à tentação de abandonar os ensinamentos
pregados e vividos por Jesus Cristo. Não nos exponha à tentação de virarmos as
costas para os nossos irmãos necessitados, tanto material como espiritualmente.
Não nos exponha à tentação de querermos tudo para nós e não repartir nada com
os irmãos necessitados.
§
Mas livrai-nos do mal - Livrai-nos
do mal da auto-suficiência, da vaidade, do orgulho, da presunção, da
prepotência, do autoritarismo. Alguém já disse que "os maus não são bons porque os bons não são melhores."
Todos necessitamos de conversão. Continuamos recitando muitos “Pais Nossos” de
mentirinha, só da boca para fora. Esquecemos-nos
do que o Senhor disse através do profeta Isaias: "O Senhor disse: ‘Visto que este povo se chega junto a mim com
palavras e me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim e a
sua reverência para comigo não passa de mandamento humano, de coisa aprendida
por rotina, o que me resta é continuar a assustar esse povo com coisas
espantosas e assombrosas’." (Is 29,13-14). Os nossos lábios falam e
recitam a prece mas o nosso coração e a nossa vivência cristã desmentem o que
os lábios dizem. Livrai-nos desse mal, Senhor.
Amém –
Só
se diz “amém” quando se aceita e concorda com a vontade do Pai, quando segue os
seus mandamentos, porque “amém” quer dizer: assim seja, concordo com tudo que
orei. E, por isso Pai, “amém”. Pai, dai-nos a vossa redenção. Ajudai-nos
a vivenciar e não apenas recitar essa magnífica prece que o próprio Senhor
Jesus nos ensinou. Pai aceite e receba a nossa boa vontade, o nosso desejo de
acertar e crescer no seu amor. Queremos ser instrumentos de vosso amor num
reino a construir hoje e sempre...
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