domingo, 28 de julho de 2019

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano - C; Cor – Verde; Leituras; Gn 18,20-32; Sl 137 (138); Cl 2,12-14; Lc 11,1-13.

“QUEM PEDE RECEBE; QUEM PROCURA ENCONTRA; E, PARA QUEM BATE, SE ABRIRÁ” (Lc 11,10).

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Diácono Milton Restivo

Santo Tomás de Aquino disse que a oração do Pai Nosso é a mais perfeita de todas as orações, pois “contém não apenas todas as coisas que podemos corretamente desejar, mas também tudo o que nos é proveitoso querer”.
A oração do Pai Nosso é apresentada no Novo Testamento em duas versões: a longa, com sete petições (Mt 6,9-13) e a curta, com cinco petições (Lc 11,2-5). Embora a versão de Lucas seja considerada a mais fidedigna, pois não é concebível que Lucas tenha subtraído duas petições, a tradição da Igreja privilegiou a mais longa, a de Mateus, para uso litúrgico.
Nas Sagradas Escrituras ninguém jamais ousou se dirigir diretamente a Deus chamando-o de Pai antes de Jesus. A palavra “Abba”, Pai, não se encontra no Antigo Testamento e nunca foi usada como invocação de Deus; ela somente aparece no Novo Testamento, pela primeira vez com Jesus ensinando seus discípulos a orar (Mt 6,9; Lc 11,2) e, depois, nas cartas paulinas como, por exemplo: “A prova de que vocês são filhos é o fato de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: ‘Abba, Pai! ’ Portanto, você já não é escravo, mas filho; e se é filho é também herdeiro por vontade de Deus”. (Gl 4,6-7).

A oração do Pai Nosso, no Evangelho de Mateus, está inserida no Sermão da Montanha, quando Jesus ensinava qual deveria ser a relação dos seus discípulos com Deus, quando Jesus orientava que não seja espalhafatoso como eram os hipócritas fariseus “que gostam de rezar nas sinagogas e nas esquinas para serem vistos pelos homens.(Mt 6,5). Nas orações Jesus recomenda discrição: “quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e seu Pai que vê o escondido, recompensará você”. (Mt 6,6).
O quarto a que Jesus se refere não se trata de um cômodo de sua casa.
O quarto é o coração. Você pode rezar onde quer que esteja, desde um lugar tranquilo como no mais movimentado e barulhento dos locais e, se estiver em um lugar assim, recolha-se no seu quarto, isto é, no seu coração, sem gestos chamativos  ou voz que chame a atenção e, dessa maneira, eleve o seu pensamento ao Pai que está sempre com você. Jesus orienta e dá conselhos como deve ser formulada a oração para que o Pai possa ouvi-la e atendê-la.
Algumas orientações de Jesus são: pedir as coisas a Deus sempre em nome de Jesus (Jo 15,16; 16,23-24); deve-se pedir as coisas com muita confiança, sem esmorecer, sem desistir (Lc 11,5-13; Mc 7,7-11); não usar muitas palavras nem confiar no muito palavreado (Mt 6,7-18); não rezar com exibicionismo para ser visto pelos outros, mas entrar no quarto (no coração), fechar a porta e rezar no segredo, pois o Pai nos vê (Mt 6,5-6).
No Antigo Testamento Moisés também incentivava o povo israelita a buscar ao Senhor nosso Deus através da oração: "De lá, então, você buscará Iahweh seu Deus e, se o procurar com todo o coração e com toda a alma, você o encontrará." (Dt 4,29).
Nos Evangelhos encontramos, com frequência, Jesus rezando. Citamos apenas alguns exemplos: na hora de ser batizado e de assumir a sua missão, Jesus reza (Lc 3,21); na hora de iniciar a missão, passa quarenta dias em oração no deserto (Lc 4,1-2); na tentação Jesus enfrenta o tentador com textos da Escritura (Lc 4,3-12); na hora de escolher os doze Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12); na hora de fazer levantamento da realidade e falar da sua paixão, Jesus reza (Lc 9,18); na alegria de ver o Evangelho revelado aos pequenos, Jesus reza em voz alta ao Pai (Lc 10,21); na ressurreição de Lázaro Jesus reza para que todos o ouçam: “Pai eu sei que sempre me ouves!” (Jo 11,41-42); Jesus procura a solidão do deserto para rezar (Mc 1,35; Lc 5,16; 9,18); Jesus busca as montanhas para rezar (Lc 6,12); rezando, Jesus desperta a vontade de rezar nos apóstolos e lhes ensina a oração do Pai Nosso (Lc 11,1); na crise Jesus escolhe três discípulos e sobe o Monte da transfiguração para rezar (Lc 9,28); na hora da despedida, na última ceia, Jesus reza a oração sacerdotal (Jo 17,1-26); na angústia da agonia pede aos três amigos para rezar com ele (Mt 26,38); na hora de ser pregado na cruz reza pedindo perdão pelos carrascos (Lc 23,34); Jesus morre soltando um grito, que é a oração dos pobres e oprimidos (Mc 15,37).
Jesus também insiste muito na oração comunitária, na oração no grupo de irmãos, na oração onde se reúnem várias pessoas para louvar, para agradecer, para pedir: "E lhes digo ainda mais: Se dois de vocês na terra estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está no céu. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ai no meio deles." (Mt 18,20) e no Evangelho de João, Jesus nos diz: "Se vocês ficam unidos a mim e minhas palavras permanecem em vocês, peçam o que quiserem e será concedido a vocês." (Jo 15,7). O livro dos Atos dos Apóstolos diz que os primeiros cristãos se ajudavam mutuamente em suas necessidades e rezavam sempre juntos; "Eles mostravam-se assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações." (At 2,42).       
Nossas orações devem ser sinceras e o que a boca diz o coração deve estar sentindo, senão a reprimenda do profeta Isaías servirá também para nós: "O Senhor disse: ‘Visto que este povo se chega junto a mim com palavras e me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim e a sua reverência para comigo não passa de mandamento humano, de coisa aprendida por rotina, o que me resta é continuar a assustar esse povo com coisas espantosas e assombrosas’." (Is 29,13-14) e exatamente, por agirem dessa forma, é que Jesus condena os fariseus do seu tempo chamando-os de hipócritas, por citarem palavras bonitas em suas orações e não haver sinceridade em suas atitudes, conforme nos narra Mateus 15,1-9.
Jesus incita seus discípulos a rezar: E eu digo a vocês: peçam, e lhes será dado; busquem, e acharão; batem, e lhes será aberto; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate se abrirá”. (Lc 11,9-10; Mt 7,7).
Com certeza, os judeus tinham as suas obrigações religiosas e rituais e as horas certas para fazer as suas orações, mas Jesus tinha um jeito especial e contagiante e provocativo que originava nas pessoas o desejo de aprender a rezar como ele rezava.
No Evangelho da liturgia de hoje Lucas diz que “Jesus estava rezando em um certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João (Batista) ensinou seus discípulos.” (Lc 11,1). E Jesus lhes ensinou a oração do Pai Nosso.
A oração do Pai Nosso é a oração da família: “Pai Nosso”, a oração da partilha: “o pão nosso”, e a oração do perdão: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”; "E quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, Perdoai-lhe, para que também vosso Pai que está nos céus vos perdoe as vossas ofensas." (Mc 11,25-26), “Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos." (Mt 9,15).
§     “Pai Nosso” – Pai não apenas meu, Pai não apenas seu. Pai meu e Pai seu, portanto, Pai Nosso; Pai do rico e Pai do pobre; Pai do bom e Pai do mau: Pai do branco e Pai do negro; Pai do livre e Pai do encarcerado. Pai do cristão e pai do muçulmano. Pai do sábio e Pai do ignorante. Pai de todos os homens de todas as nacionalidades, ideologias e religiões. Deus é Pai de todos. O mesmo Pai que cuida de mim, cuida também de você. É Pai universal que nos ama infinitamente e deseja a nossa felicidade e realização, a nossa plenitude. Enviou seu Filho para nos redimir: “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele.(Jo 3,16-17). Somos filhos do Pai, do Pai Nosso, filhos de Deus e, portanto, filhos do Rei e herdeiros dos céus. Deus é Pai e Pai Nosso. Ele não é somente Pai meu e nem seu, é nosso. Se Deus não for Pai Nosso, ele deixa de ser Pai, porque Deus é Pai de todos. Deus é Pai de todos, por isso Jesus nos ensina a chamá-lo de “Pai Nosso”. Deus não faz distinção entre as pessoas. Ele amou tanto Teresa de Calcutá como ama intensamente Fernandinho Beiramar. A Diferença é que Teresa de Calcutá foi receptiva ao amor do Pai e o direcionou para os pobres, infelizes, marginalizados e os amou como Jesus nos amou, por isso, hoje temos mais uma estrela brilhando no céu da nossa fé. Ao contrário disso, Fernandinho Beiramar se fechou ao amor do Pai, e preferiu a violência, a corrupção, as drogas, mas o amor do Pai para com ele não mudou, continua o mesmo; o Pai está na soleira, esperando a sua volta. O Pai nos ama dessa maneira, não importando o caminho que tenhamos seguido ou escolhido, por isso ele é “Pai Nosso”. O que ele espera, simplesmente, é a retribuição do amor que ele nos dedica.
§     Que estais nos céus – Deus está nos céus porque ele só pode estar nos céus. Entendemos céu como a morada de Deus, um lugar de pleno gozo, felicidade, sem tristeza, sem corrupção, enfim, um lugar de eterna alegria, um lugar de extrema pureza e sabedoria, e este é o lugar onde Deus está. Mas o céu não é lá em cima, como pensamos, o céu é, simplesmente, o lugar onde está Deus. Muitas vezes dizemos: Deus está no meu coração, Deus está na minha casa, Deus está no meu trabalho; então, se Deus está no seu coração, na sua casa, no seu trabalho, esses locais são o céu onde Deus se faz presente, porque Deus só pode estar no céu e nós, com nossas atitudes, maneira de viver e amor ao próximo, preparamos o céu, a morada de Deus no nosso meio. O Pai está nos céus, está na terra, está nos corações, está em nossas vidas, está em todas as partes. O nosso Pai é Onipotente e Onipresente. Quem vive em Deus está com Deus sempre, em todos os momentos, na dor, na alegria, na vivência da fraternidade, especialmente do amor. Onde existe amor, Deus aí está, porque "Deus é amor." (1Jo 4,8).
§     Santificado seja o vosso nome – Reportamos-nos ao decálogo, onde Yahweh determina para que Moisés transmita para o povo israelita: “Não jurem falsamente pelo meu nome, porque vocês estariam profanando o nome de seu Deus.” (Lv 19,12) e “Não pronuncie em vão o nome de Yahweh seu Deus, porque Yahweh não deixará sem castigo aquele que pronunciar o nome dele em vão.” (Ex 20,7). Seja santificado o nome do Pai por todos os homens, por todas as criaturas, por toda a natureza. Santificado e adorado seja agora e para sempre o Santo Nome do Senhor. Santificado seja o nome do Pai através do dom da vida, do apostolado que realizamos, do nosso testemunho de vida cristã, da nossa caridade vivida no dia-a-dia.
§     Venha a nós o vosso Reino - Reino de paz, de alegria, de justiça, de concórdia, de amor. Reino que acontece no silêncio dos corações dos homens de boa vontade, homens e mulheres dedicadas, não pela força das armas, da violência, da coação e da opressão. Reino invisível enquanto espiritualizado, visível quando é colocado em prática o novo mandamento de Jesus: “Amem-se uns aos outros como eu amei vocês, assim todos saberão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,34). Reino eterno, reino libertador, reino espiritual, reino material. Reino que Jesus veio trazer para todos, o reino de amor, reino de união, reino de confraternização. Venha o vosso reino que deverá ser participado por todos os homens e mulheres de boa vontade. Praticar as leis de Deus para sermos cidadãos do seu reinado e termos direito às petições.
§     Seja feita a vossa vontade - Mesmo nos tornando cidadãos do reino de Deus, não podemos fazer projetos a revelia. Temos que nos adaptar aos critérios de Deus e nos conformar com o que ele nos permitir. Só assim seremos, de fato, bem-aventurados em tudo o que fizermos. A vontade do Pai é que todos os homens sejam seus filhos e filhos felizes. Que todos os seus filhos se amem uns aos outros, assim como o próprio Jesus amou e ensinou a todos se amarem.  A vontade do Pai é que não haja mais desavenças, brigas, ódios, guerras, roubos, mortes, violências, acidentes, abortos, desuniões, infidelidades. Mas, infelizmente, não cumprimos a vontade do Pai e, bem por isso, existem tantas infidelidades, desuniões, ódios, guerra. Humanos e egoístas que somos, buscamos fazer, quase sempre, a nossa vontade, negligenciando a vontade do Pai, tentando adaptar a vontade divina à nossa vontade. Nas horas alegres é fácil dizer: "Seja feita a vossa vontade", mas, nos momentos ásperos da vida, nas horas da provação, do sofrimento maior, da dor, custa-nos muito aceitar a vontade do Pai. O céu desce até nós quando construímos ambientes de paz de harmonia, de amizade, de amor, de compreensão. O céu se afasta de nós e o inferno se instala em nosso meio quando campeiam o ódio, a inveja, a infidelidade, a injustiça, o ciúme, a inimizade, o rancor, a desavença, o desrespeito, o ressentimento, a falta de perdão, a impaciência, o desamor. Porque nos odiamos e nos infernizamos tanto se temos tão pouco tempo para nos amar e nos querermos bem? E Jesus, na agonia que antecedeu a sua paixão e morte, já sabendo qual seria o seu fim, naquela angústia em que até a alma fica aterrorizada diante da possibilidade da morte como ele mesmo disse: "Minha alma está triste até a morte." (Mt 26,38), não fugiu do destino que Deus Pai lhe havia determinado e faz uma súplica angustiante, entregando tudo de acordo com a vontade do Pai: "Meu Pai, se é possível, afaste de mim este cálice; contudo não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mt 26,39). Mais adiante ele repete a mesma oração, cumprindo a vontade de Deus Pai: "Meu Pai, se não é possível que isso passe sem que eu beba, seja feita a tua vontade." (Mt 26,42). E Jesus entregou-se à morte, e morte de cruz para obedecer e fazer cumprir a vontade do Pai. E o exemplo que Jesus nos deixa é que a vontade do Pai está sobre e acima até de nossa própria vida. E Maria, a escolhida por Deus para ser a mãe de seu Filho, também aceita sem reservas a vontade do Pai, e afirma: "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1,38).
§     Assim na terra como no céu – No céu, com certeza, a vontade do Pai é uma realidade e está sendo cumprida. Mas na terra onde o Pai, depois de ter criado todas as coisas, depois de ter criado o homem e a mulher e "Deus viu o que tinha feito, e era muito bom" (Gn 1,31), onde deveria imperar a vontade do Pai, vem o maligno, então de identificando como serpente, e hoje personificado na falta de respeito aos direitos humanos em todas as áreas e situações e destrói tudo de bom que o Senhor havia feito, conforme nos narra Gênesis 3,1-24. Mas o Senhor quis e quer que a sua vontade seja feita na terra e por isso nos mandou seu Filho Jesus, sendo que "todos os que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1,12). E hoje, cabe a cada um de nós, que nos dizemos cristãos, fazer com que a vontade do Pai seja feita aqui na terra, porque, no céu, os Anjos não se cansam de cantar os seus louvores, e não cessam de o louvar e o adorar.      
§     O pão nosso de cada dia nos dai hoje – Quando as Sagradas Escrituras falam “pão”, quer dizer todo tipo de alimento e necessidades humanas. Pão é símbolo do alimento humano, o alimento necessário e suficiente: “Concede-me apenas o meu pedaço de pão, para que, saciado, eu não te renegue...” (Pr 30,8b). Além do alimento humano, o pão representa tudo o que a pessoa precisa para viver com dignidade: comida e bebida, casa, roupa, educação, saúde, descanso, trabalho, amizade, religião, solidariedade, comunidade, respeito, e muito mais. O pão expressa o amor de Deus Criador e o dom do pão é um convite à generosidade. O pão, enquanto alimento, dá-nos vida; partilhar do mesmo alimento é participar da mesma vida e quem participa da mesma vida é irmão e irmã e tem um pai em comum, o Pai Nosso. O Evangelho proíbe que eu peça o pão só para mim deixando de lado as necessidades dos irmãos que nos rodeiam, por isso não rezamos “o pão meu” e sim “o pão nosso”. Não adianta pedir a mais com o intuito de estocar. Deus só concede o que necessitamos de imediato, o amanhã será um outro dia e não adianta pedir com antecedência e Jesus já nos alertou a respeito disso: “Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá as suas próprias preocupações. Basta a cada dia a sua própria dificuldade” (Mt 6,34). E Jesus mesmo responde qual é o verdadeiro pão que dá a vida: "Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem deu a vocês o pão do céu, mas é meu Pai que dá a vocês o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é aquele que desce dos céus e dá vida ao mundo." (Jo 6,32-33), e completa: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede." (Jo 6,35). Jesus se auto afirma como sendo o pão que Deus Pai nos manda do céu para que não tenhamos mais fome e nem sede no relacionamento com os irmãos e das coisas do Pai. Mas, também precisamos do pão material da mesma forma que precisamos do pão dos valores eternos. O pão de trigo, sem bromato. O pão da verdade, sem mentiras. O pão da fidelidade, sem traições. O pão da justiça, sem enganações. O pão da liberdade, sem opressão. O pão do amor, sem ódio. O pão da união, sem abandono. O pão da luz, sem trevas. O pão da alegria, sem tristezas. O pão da fé, sem dúvidas. O pão do perdão, sem mágoas. Esse pão que devemos repartir com os nossos irmãos. O pão que sobra na mesa dos ricos e faz falta na mesa dos pobres. O pão que sobra na nossa mesa e que não se destina ao necessitado é o diagnóstico do desamor, porque o pão que sobra na nossa casa e endurece no nosso armário deixou de matar a fome de alguém. O pão que os egoístas querem só para si enquanto centenas e milhares morrem à mingua por falta do pão de trigo, do pão da justiça, do pão da liberdade, do pão do amor, do pão da moradia, do pão da saúde. O pão da amabilidade que revela nobreza de coração e respeito à individualidade do outro. O pão vindo do céu, que é o Senhor Jesus, que alimenta nossos ideais de apostolado cristão. O pão da solidariedade de quem reparte tempo, atenção, alegria e jovialidade com seus irmãos. O pão da fé e da esperança num mundo descrente, confuso, desencantado, materialista e pagão. O pão da justiça e do respeito aos direitos humanos, numa sociedade de opressores e oprimidos, de ricos e miseráveis nesse século em que nós, cristãos, desejamos cristianizar e converter o mundo para Deus.
§     Perdoai as nossas ofensas - Senhor Deus, perdoai a nossa mediocridade, a nossa falta de idealismo, o nosso cansaço, as nossas rebeldias, as nossas críticas precipitadas, a nossa violência, a nossa maledicência, as nossas omissões e comodismo, a nossa fé nem sempre adulta, a nossa fragilidade, a nossa impaciência em aceitar as limitações próprias e as limitações dos nossos irmãos; perdoai, Senhor, as nossas dívidas, que temos convosco e com os nossos irmãos. Sabemos do barro que fomos feitos, mas, com o seu perdão, fortalecei-nos para que o vaso de barro, que somos nós, não se quebre e deixe desperdiçar a vossa graça, abundante em cada um de nós.
§     Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido – Perdoa-nos, Pai, as nossas dívidas, as nossas ofensas, que são tantas, mas ensina-nos, também, a perdoarmos os que nos ofendem, porque, o seu perdão, Pai, só o recebemos na medida em que soubermos perdoar a quem nos tem ofendido. Jesus nos ensina que a medida do perdão do Pai para conosco é a mesma medida do nosso perdão para com o irmão. Sabemos, Pai, que se não perdoarmos, também não seremos perdoados. Se guardarmos ódio contra os irmãos no coração, não receberemos o perdão do Pai. Se guardarmos mágoa contra qualquer irmão, somos indignos de repetir a oração do Pai Nosso que Jesus nos ensinou. Se quisermos repetir a oração do Pai Nosso, é indispensável que antes tenhamos perdoado a todos os que nos tem ofendido, indistintamente. Não podemos nos esquecer do que Jesus nos alertou: “Se vocês perdoarem aos homens os males que eles fizeram, o Pai de vocês que está no céu também perdoará vocês. Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os males que vocês tiverem feito.” (Mt 6,14-15) e ainda mais: “Se você for até ao altar levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe a oferta ai diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com o seu irmão; depois volte para apresentar a oferta.” (Mt 5,23-24); "E quando você estiver orando, se tiver alguma coisa contra alguém, perdoa-lhe, para que também seu Pai que está nos céus perdoe as suas ofensas." (Mc 11,25-26). Magoamos e somos magoados a cada passo. Decepcionamos os nossos irmãos, e somos decepcionados por eles. Ferimos tantas vezes, e até sem querer. Somos feridos muitas vezes, até sem merecer. Nem sempre é fácil perdoar injustiças e maldades, ofensas e incompreensões, desamores e infidelidades. A ingratidão dói, a indelicadeza nos desalenta. Perdoar exige heroísmo, muitas vezes. Especialmente quando fomos magoados pelas pessoas que amamos. Mas o Pai nos perdoa na medida em que perdoarmos a quem nos tem ofendido, porque, assim nos disse Jesus: "Não julguem para não serem julgados. Pois com o julgamento com que vocês julgarem vocês serão julgados, e com a medida com que vocês medirem, vocês serão medidos" (Mt 7,1-2).
§     E não nos deixeis cair em tentação – Não nos deixeis cair na tentação do mais fácil, do mais cômodo. Na tentação da vanglória e da inimizade. Na tentação de seguir os nossos caprichos e leviandades. Na tentação de abandonarmos o vosso Reino e buscarmos o nosso próprio reino, o reino do mundo, vulgar, mesquinho, egoísta. Na tentação de vivermos uma fé sem obras, de uma religião desencarnada da verdade e da realidade. A tentação de quem prega Jesus Cristo, mas desconhece as Sagradas Escrituras, os Santos Evangelhos. A tentação de quem fala em paz e só promove intrigas, fofocas; de quem prega a justiça e só pratica a injustiça; de quem diz que vive o amor e semeia a inimizade, o ódio, a desconfiança. Não nos exponha à tentação de abandonar os ensinamentos pregados e vividos por Jesus Cristo. Não nos exponha à tentação de virarmos as costas para os nossos irmãos necessitados, tanto material como espiritualmente. Não nos exponha à tentação de querermos tudo para nós e não repartir nada com os irmãos necessitados.
§     Mas livrai-nos do mal - Livrai-nos do mal da auto-suficiência, da vaidade, do orgulho, da presunção, da prepotência, do autoritarismo. Alguém já disse que "os maus não são bons porque os bons não são melhores." Todos necessitamos de conversão. Continuamos recitando muitos “Pais Nossos” de mentirinha, só da boca para fora.  Esquecemos-nos do que o Senhor disse através do profeta Isaias: "O Senhor disse: ‘Visto que este povo se chega junto a mim com palavras e me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim e a sua reverência para comigo não passa de mandamento humano, de coisa aprendida por rotina, o que me resta é continuar a assustar esse povo com coisas espantosas e assombrosas’." (Is 29,13-14). Os nossos lábios falam e recitam a prece mas o nosso coração e a nossa vivência cristã desmentem o que os lábios dizem. Livrai-nos desse mal, Senhor.
Amém – Só se diz “amém” quando se aceita e concorda com a vontade do Pai, quando segue os seus mandamentos, porque “amém” quer dizer: assim seja, concordo com tudo que orei. E, por isso Pai, “amém”. Pai, dai-nos a vossa redenção. Ajudai-nos a vivenciar e não apenas recitar essa magnífica prece que o próprio Senhor Jesus nos ensinou. Pai aceite e receba a nossa boa vontade, o nosso desejo de acertar e crescer no seu amor. Queremos ser instrumentos de vosso amor num reino a construir hoje e sempre...   

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