domingo, 10 de dezembro de 2017

“DEPOIS DE MIM VIRÁ ALGUÉM MAIS FORTE QUE EU”. (Mc 1,7).

II DOMINGO DO ADVENTO
Ano – B; Cor – Roxo; Leituras: Is 40,1-5.9-11; Sl 84 (85); 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8.

“DEPOIS DE MIM VIRÁ ALGUÉM MAIS FORTE QUE EU”. (Mc 1,7).

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Diácono Milton Restivo

Estamos vivendo o Tempo do Advento, na expectativa da vinda da Luz do mundo:
ü  “O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que habitavam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.” (Is 9,2).
O profeta Isaias é uma constante no Tempo do Advento.
O livro do profeta Isaias tem uma particularidade única: é dividido em três partes chamadas Proto-Isaías, do capítulo 1 ao 39, Segundo Isaias também chamado Dêutero-Isaías ou “Livro da Consolação” que compreende dos capítulos 40 ao 55 e o Trito-Isaías, dos capítulos 56 a 66.
A história dos poemas narrativos constantes do Dêutero-Isaías ou Livro da Consolação tem a ver com o regresso dos judeus depois do cati­veiro da Babilônia.
A primeira deportação dos judeus para a Babilônia deu-se em 597 aC; em 586 aC é a conquista de Jerusalém e a segunda deportação.
No “Livro da Consolação” Isaías fala em palavras luminosas, não só da restauração de Judá, mas da vinda do “Servo de Yahweh”, que seria o Rei Messias, o próprio Servo de Yahweh que iria remir o seu povo.
Num período sombrio da história do seu povo, através do seu profeta Isaías, Yahweh torna-se presente. A mensagem do Livro da Consolação (Is 40 – 55) é clara: num momento em que o povo conhece o exílio e o sentimento de abandono, Yahweh escuta e responde à sua súplica enviando um profeta para anunciar que o fim da desgraça está próximo. A imagem de Deus que os judeus tinham adquirido foi purificada através da enorme provação do exílio. 
    Quando o Segundo Isaías fala de Yahweh, não se encontram referências à cólera, nem às ameaças, nem a afirmações autoritárias. Deus ama, e ama apenas por causa do seu amor:
ü  “... porque você é precioso para mim, é digno de estima e eu o amo; dou homens em troca de você, e povos em troca de sua vida. Não tenha medo, pois eu estou com você. [...] Era eu mesmo, por minha conta quem acabava limpando suas transgressões e não me lembrava mais de seus pecados.” (Is 43,4-5ª.25); “Num ímpeto de ira, por um momento eu escondi de você o meu rosto; agora, com amor eterno, volto a me compadecer de você, diz Yahweh, seu redentor. Como no tempo de Noé, agora faço a mesma coisa: jurei que as águas do dilúvio nunca mais iriam cobrir a terra; da mesma forma, agora eu juro que não deixarei minha ira se inflamar contra você e que nunca mais vou castigá-la.” (Is 54,8-9).  
As primeiras palavras deste pequeno conjunto de textos e da leitura deste domingo, são repetidas insistentemente:
ü  “Consolem, consolem o meu povo, diz o Deus de vocês.” (Is 40,1).
O anúncio, que consta da primeira leitura da liturgia deste segundo domingo do Advento, começa com a palavra: “Consolem” não uma única vez, mas duas vezes.
Deus não está mais contra o seu povo, como o sofrimento poderia fazer crer. Depois de um tempo de grande desolação, o povo deve ser consolado, o que significa que deverá poder deixar de se lamentar, para se pôr de pé e retomar o ânimo e a confiança.
Apesar de o povo estar numa situação limite, a consolação deve mostrar que o seu futuro jorrará do coração de Deus:
ü  “Falem ao coração de Jerusalém, gritem para ela que já se completou o tempo de sua escravidão, que o seu crime já foi perdoado, que ela já recebeu da mão de Yahweh o castigo em dobro por todos os seus pecados.” (Is 40,2).
Deus não quer o desespero humano. Ele não usa o sofrimento para ganhar o seu povo, quer antes abrir-lhe um caminho de vida dando-lhe uma vida futura.
Isaias, nesta leitura, não para por ai. Como Isaias é o mais messiânico e mais evangélico de todos os profetas, mais ou menos seiscentos antes de Cristo, ele antevê e profetiza sobre o precursor do Messias anunciado por ele:
ü  “Uma voz grita: ‘Abram no deserto um caminho para Yahweh; na região da terra seca, aplainem uma estrada para o nosso Deus. Que todo vale seja aterrado, e todo monte e colina sejam nivelados; que o terreno acidentado se transforme em planície, e as elevações em lugar plano.” (Is 40,3-4).
No seu Evangelho Mateus confirma a veracidade dessa profecia, quando afirma:
ü  “Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia: ‘Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo’. João foi anunciado pelo profeta Isaias, que disse: ‘Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas’.” (Mt 3,1-3).
A figura de João Batista começa a ser delineada através da profecia de Isaias. Como Isaias, João Batista é personagem indispensável neste Tempo do Advento. É o mensageiro da Boa Nova.
O profeta Malaquias, também, anuncia o mensageiro que haveria de vir antes da Boa Nova:
ü  “Vejam! Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente. De repente, vai chegar ao seu Templo o Senhor que vocês procuram, o mensageiro da Aliança que vocês desejam. Olhem! Ele vem! – diz Yahweh dos Exércitos.” (Ml 3,1).
Malaquias compara João Batista ao profeta Elias pela sua coragem e destemor em acusar os pecados dos reis e das autoridades de sua época:
ü  “Vejam, eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso Dia de Yahweh. Ele há de fazer que o coração dos pais volte para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total.” (Ml 3,23-24).
João Batista começa a sua missão identificando-se:
ü  “Eu não sou o Messias.” (Jo 1,20)
E declara ser  aquela voz que prepara o caminho do rei:
ü  “Eu sou uma voz gritando no deserto: ‘Aplainem o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaias.” (Jo 1,23). 
O anjo Gabriel, no Evangelho de Lucas, quando anunciava o nascimento de João Batista ao seu pai, reafirma a profecia de Malaquias a respeito de João:
ü  “Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto.” (Lc 1,17).
No Evangelho de Mateus, Jesus, falando sobre João Batista, diz:
ü  “É de João que a Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti. [...] E se vocês o quiserem aceitar, é este o Elias que devia vir.” (Mt 11,10.14).
João Batista, que teria nascido aproximadamente seis meses antes do Messias (cf Lc 1,26.36), foi esse mensageiro enviado por Yahweh para abrir as cortinas do Novo Testamento, de uma Nova Aliança, e apontar aos seus discípulos a chegada da Salvação e proclamar a presença do Cordeiro de Deus no meio do seu povo:
ü  “No dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu falei; Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim’. (Jo 1,29.35).
João declarou sua insignificância diante do Messias que já estava no meio do povo, e antecipou a missão do Messias:
ü  “Eu batizo vocês com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que eu. Eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo. Ele terá na mão uma pá; vai limpar sua eira, e recolher o trigo no seu celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga.” (Lc 3,16-17).
Mais tarde, o próprio Jesus destacaria a importância do ministério profético de João Batista, quando disse:
ü  “Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram, nenhum me maior que João Batista.” (Mt. 11,11).
João Batista foi um homem de aspecto rude e caráter firme. Era austero, com hábitos aparentemente anti-sociais; sua vestimenta era primária e seu alimento era apenas aquilo que a natureza lhe oferecia:
ü  “João usava roupas de pelos de camelo, e cinto de couro na cintura; comia gafanhotos e mel silvestre.” (Mt 3,4; Mc 1,6).
João Batista não tinha papas na língua, jamais vacilou em falar clara, aberta e contundentemente quando se fizesse necessário e, para ele não importava quem estivesse cometendo algum delito, fosse gente do povo, fosse autoridade ou até rei. 
Às pessoas simples do povo, os publicanos, que eram considerados pecadores públicos, aos soldados e ao povo em geral, que buscavam a verdade, o amor, o perdão e a reconciliação com Deus, e que perguntavam a João Batista: “O que é que devemos fazer?” (Lc 3,10), João recomendava a partilha e a generosidade:
ü  “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma coisa.” (Lc 3,10-11).
ü  Para aqueles que tinham cargos públicos e que podiam se aproveitar dos impostos que cobravam do povo, João recomendava a honestidade: “Não cobrem nada além da taxa estabelecida.” (Mt 3,13).
Para aqueles que eram responsáveis pela segurança do povo, os soldados, João recomendava a não violência e o contentamento pelo salário recebido:
ü  “Não maltratem ninguém; não façam acusações falsas, e fiquem contentes com o salário de vocês.” (Lc 3,14).
A preparação feita por João Batista para receber a Salvação que vinha de Deus, foi para um caminho de santidade, e o povo de Deus deve andar nesse caminho, conforme dissera o profeta Isaias:
ü  “Haverá ai uma estrada, um caminho, que chamarão de caminho santo. Impuro nenhum passará por ele, e os bobos não vão errar o caminho. [...] Por ele andará os que foram redimidos e os que foram resgatados por Yahweh.” (Is 35,8.9b.10a).
Mas, voltando-se para os fariseus e saduceus que eram as autoridades religiosas e civis do povo judeu, que se julgavam santos e superiores a tudo e a todos, que exploravam o povo simples e humilde, que se julgavam já salvos simplesmente por se acharem filhos de Abraão, João Batista denunciou a religiosidade aparente e falsa deles, que eram as classes sociais abastadas, assim os condenou, dizendo:
ü  “Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: ‘Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir a ira que vai chegar? Façam coisas que provem que vocês se converteram. Não pensem que basta dizer: ‘Abraão é nosso pai’. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada no fogo.” (Mt 3,7-10; Lc 3,7-9).
Ao rei Herodes, que era um homem violento e sanguinário, mas fraco e acovardado, que fora influenciado por Herodíades, que fora esposa de seu irmão e a quem o rei havia tomado-a para si, João Batista não se intimidou e o condenou abertamente, o que lhe custou a própria vida:
ü  “João dizia a Herodes: ‘Não é permitido você se casar com a mulher do seu irmão’. Por isso, Herodíades ficou com raiva de João e queria matá-lo, mas não podia. Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava.” (Mc 6,18-20).
O resultado dessa ousadia e sinceridade foi a decapitação de João Batista a pedido da própria Herodíades (cf Mc 6,17-29; Mt 14,1-12). Mais tarde, talvez corroído pelo remorso, como se isso fosse possível, o rei Herodes viu em Jesus a ressurreição de João Batista:
ü  “Herodes, governador da Galiléia, ouviu falar da fama de Jesus. Disse então aos seus oficiais: ‘Ele é João Batista que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem.” (Mt 14,1-2).
As Sagradas Escrituras não informam se João Batista e Jesus se conheciam antes de se encontrarem no rio Jordão, por ocasião do batismo de Jesus, mas o próprio João Batista afirma que:
ü  Eu mesmo não o conhecia...”. (Jo 1,31).
João Batista era filho do sacerdote Zacarias e Isabel (Lc 1,15-25). O mesmo Lucas diz que Isabel era “parenta” de Maria, possivelmente prima (cf Lc 1,36).
Jesus se dirige ao rio Jordão para ser batizado por João Batista, muito embora não precisasse desse ritual para se lavar dos pecados, porque ele, Jesus, não os tinha; Jesus não precisava do batismo de João Batista, pois não tinha qualquer culpa, a não ser a culpa da humanidade que ele assumira. Quis, entretanto, nos deixar o exemplo do que fazer e a lição de que ninguém é puro, a não ser ele próprio, Jesus.
A princípio, João, conhecedor dessa realidade, se recusa a batizar Jesus, conforme narra Mateus no seu Evangelho:
ü  “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim’. Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou.” (Mt 3,13-15).
Nessa oportunidade acontece uma teofania: pela primeira vez e publicamente, a Santíssima Trindade se manifesta:
ü  “Logo que Jesus saiu da água, viu o céu se rasgando, e o Espírito como pomba, desceu sobre ele. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado’.” (Mc 1,10-11),
O fato acima foi testemunhado pelo próprio João Batista:
ü  “Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele.” (Jo 1,32). ”
A vida pública de Jesus tem início com seu Batismo por João, no rio Jordão:
ü “Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública.” (Lc 3,23).     
Até para o povo e para os próprios discípulos de Jesus, a figura de João Batista, depois de sua morte, ainda permanecia entre todos porque, quando Jesus perguntou aos discípulos quem os homens diziam que ele era, eles responderam:
ü  “Alguns dizem que é João Batista...” (Mt 16,14).
A vaidade, o orgulho, a soberba, jamais estiveram presentes na vida de João Batista.
Por sua austeridade e fidelidade ao seu Deus, João Batista foi confundido com o próprio Cristo, mas, imediatamente, retruca:
ü  “Eu não sou o Cristo” (Jo 3,28) e ainda “não sou digno de desatar a correia de sua sandália”. (Jo 1,27; Mc 1,7).
Quando seus discípulos hesitavam, sem saber a quem seguir, João Batista apontava em direção ao único caminho, demonstrando o rumo certo, ao exclamar:
ü  "Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". (Jo 1,29).
A pregação de João Batista foi totalmente cristológica.
Como faltam profetas como João Batista nos nossos dias...


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