ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
Ano – C; Cor – Branco; Missa da Vigília: 1Cr
15,3-4.15-16; 16,1-2; Sl 131 (132); 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28 - Missa do dia: Apo
11,19; 12,1-6.10; Sl 44; 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-56.
“A MINHA ALMA ENGRANDECE O SENHOR”. (Lc 1,46).
Diácono
Milton Restivo
Devemos ver Maria como a viram os
primeiros cristãos com os dados que os Santos Evangelhos lhes forneceram: Maria
mulher, Maria esposa, Maria dona de casa, Maria humilde, Maria doce, Maria
meiga, Maria pobre.
No tempo de Maria, como hoje, deveriam
existir mulheres que se destacavam na sociedade, na política, no poder, na
riqueza. Mulheres que, sem dúvida, poderiam oferecer ao Filho de Deus, para o
seu nascimento, um palácio com todas as mordomias, ao invés de uma gruta úmida
e fria; poderiam oferecer um berço de ouro, ao invés de um cocho mal cheiroso e
de higiene duvidosa de animal como primeiro leito; aquecedores de ar ao invés
do respirar quente dos animais para aquecer o recém-nascido; uma banheira com
água aromatizada para dar o primeiro banho ao que acabara de nascer, ao invés
de, possivelmente, uma poça de água da chuva ou água do bebedouro dos animais.
O Pai poderia ter escolhido, para o
nascimento de seu Filho, uma mulher que poderia providenciar e determinar para
que as primeiras visitas ao Filho de Deus recém-nascido fossem os mais ricos e
poderosos monarcas que existiam na terra naquele tempo, ao invés de as
primeiras visitas terem sido, como foram, pobres e humildes, desamparados e
discriminados pastores. Mas, a Divina Providencia
age diferentemente dos pensamentos humanos, como disse Yahweh: “Os meus
pensamentos não são os seus pensamentos, e os seus caminhos não são os meus
caminhos.” (Is 55,8). Deus não quis para o seu Filho um palácio, já que o
mundo inteiro é seu.
O Senhor não quis para o seu Filho um
berço de ouro, já que tem a abóbora celeste para lhe servir de suporte dos pés.
Deus não quis para o seu Filho um aquecedor de ar para aquecê-lo, já que os
ventos que sopram dos quatro cantos do Universo obedecem as suas ordens,
obedecem a sua voz. O Pai não quis para o primeiro banho de seu Filho humanado
uma banheira com água aquecida, já que ele é o criador de todas as águas que
joram sobre a terra e de todos os mares que a cobrem. Deus não quis para
visitar seu Filho pela primeira vez ricos monarcas e poderosos reis e nem
esnobes gentes da sociedade, porque ele é o Rei dos Reis, e todos os reinos do
mundo lhe pertence. Deus não quis para mãe de seu Filho uma mulher rica,
poderosa, da sociedade, porque sabia que no coração dessas mulheres não havia
lugar para a Vida em abundância que deveria ser vivida pelos homens e para a
Verdade que seria transmitida a toda a humanidade, porque os corações das
mulheres ricas estariam encharcados e inchados das coisas da terra e não teriam
espaços para as coisas do céu e nem condições de trilhar o Caminho que o Filho
de Deus veio mostrar a todos os que não se envergonhassem dele e de seus
ensinamentos.
Para ser a mãe de seu Filho o Senhor não
procurou mulheres em palácios ou sociedades, mas procurou a mais pobre, a mais
humilde exatamente numa das mais pobres e humildes casas de Nazaré, na
Galiléia, cidade desconhecida, até então nos escritos sagrados.
Para a mãe de seu Filho, o Senhor não
escolheu a mulher mais rica da terra, mas aquela que estava mais familiarizada
com as coisas do céu. Deus não escolheu uma mulher comprometida com a sociedade
e com o mundo, com o coração cheio das preocupações passageiras e apegado
demais às coisas que perecem, mas escolheu uma mulher com o coração desapegado,
um coração pobre, um coração que, ele sabia, poderia não entender o que
estivesse acontecendo, mas que se submeteria dócil e livremente a vontade de
Deus, ainda que isso lhe custasse as mais cruciantes dores e que afirmasse com
convicção: “Eis aqui a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), e a quem o Espírito Santo
diria pela boca de Isabel: “Você é
bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre. [...] Bem-aventurada aquela que acreditou, porque
vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu.” (Lc 142.45).
E Jesus Cristo foi exigente na escolha de
sua mãe. Nós não escolhemos a mãe que temos, embora agradeçamos a Deus pelas
mães que ele nos deu, mas Jesus teve um privilégio a mais que nós: ele teve o
privilégio de poder escolher a sua mãe, e nisso ele foi exigente: escolheu a
mais bela, a mais pura, a mais santa, a mais imaculada, a mais inviolável, e,
além de tudo isso, a mais humilde.
Maria foi pobre em toda a extensão da
palavra. Não só teve espírito de pobre, mas viveu a pobreza materialmente com
todas as suas consequências.
Maria sentiu-se um instrumento humilde e
pobre para os planos da Providência. E foi exatamente por isso que o Senhor a
julgou apta para operar nela as suas maravilhas. Poderia haver algo de mais
pobre do que uma Virgem para ser mãe?
E no livro do Cântico dos Cânticos, Deus já havia
prenunciado a beleza, tanto exterior como interior dessa virgem que seria a mãe
de seu Filho, e faz um elogio divino à beleza física e espiritual de Maria: “Quem é essa mulher que se eleva como a
aurora, bela como a lua, resplandecente como o sol, temível como batalhões?” (Ct 6,10).
Deus opera as suas maravilhas nos pobres,
nos humildes e nos corações desapegados das coisas do mundo, e Maria preencheu
em tudo os requisitos exigidos e os desejos do Pai.
Para conhecermos bem Maria, para
encontrarmos dentro de sua humildade todo o esplendor da graça da qual Deus Pai
sempre a cumulou, precisamos conhecer o que os santos que a amaram muito e a
reverenciaram em toda as suas vidas disseram e escreveram sobre ela e como esses
santos e santas descobriram em Maria virtudes incalculáveis, tesouros com
valores infinitos e como eles se colocaram sob a proteção materna de Maria.
A nossa inteligência é pequena, os nossos
conhecimentos parcos, pouquíssimos mesmo; então, por isso, há a necessidade de
procurarmos ler escritos dos grandes santos e santas que amaram e veneraram
Maria e nos ensinam como devemos amar e venerar a Mãe de Deus e nossa Mãe. Todos
os santos que amaram Jesus amaram também Maria sem diminuir ou depreciar o seu
amor por Jesus. Jamais chegaremos a Jesus se não for pelas mãos imaculadas de
Maria, considerando que Jesus chegou até nós, assumindo a sua natureza humana
pelo ventre sacrossanto de Maria. O próprio exemplo é Jesus quem nos dá. Para
Jesus chegar até nós, ele quis precisar de Maria. Se não fosse por Maria jamais
teríamos Jesus como o temos. Jesus, para se fazer o Filho do Homem, ele quis
precisar de Maria.
O homem, para se fazer filho de Deus, tem
que precisar de Maria também, porque foi no Calvário, nos estertores da morte,
quando Jesus sentiu que partiria irremediavelmente deixando os homens sozinhos,
foi ali, naquele momento supremo de dor, de angústia e de aniquilamento total
que Jesus nos dá Maria como Mãe (cf Jo 19,25-27). Se quisermos chegar com mais
segurança até Jesus, tem que ser pelas mãos imaculadas de Maria. E nós
conhecemos tão pouco dessa ligação tão íntima de Maria com Jesus Cristo e de
Jesus Cristo com Deus Pai.
Os santos e santas devotos de Maria nos
ensinam e nos esclarecem como devemos amar de verdade Maria. Não podemos nos
descuidar de conhecer melhor e mais a cada dia que passa esse mar de graças que
é Maria. São Luiz Maria Grignon de Montfort, grande devoto de Maria no seu
livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria” nos dá uma
verdadeira lição de conhecimento sobre Maria e como devemos amá-la, e nos diz: “Deus fez um lago muito grande de água, e o
chamou de mar – depois fez um mar de graças e o chamou Maria”.
São Bernardo, em uma das orações mais
lindas feitas em honra à Maria nos diz que: “jamais se ouviu dizer que alguém que tivesse recorrido à proteção de
Maria, tivesse deixado de ser por ela atendido”. São Maximiliano Maria
Kolbe, o fundador da Milícia da Imaculada, o santo polonês canonizado pelo
nosso Papa João Paulo II, nas conversas que tinha com seus frades, jamais
deixou de dizer, e jamais se cansava de dizer: “meus filhinhos, amem a Nossa Senhora, o tanto que vocês quiserem e mais
do que vocês puderem”. E Santa Terezinha do Menino Jesus dizia sempre que o
caminho mais curto para se chegar até Jesus é Maria. E como seria bom se todos nós, a exemplo de
São Luiz Maria Grignon de Montfort, repetíssemos todos os dias e a toda hora: “sou todo vosso, ò minha amada mãe e senhora,
e tudo o que tenho vos pertence”.
Os
cristãos de todos os tempos reconhecem em Maria a Mãe do Rei do Universo, Jesus
e, sabemos que, a mãe do Rei é Rainha, e Maria, além de Rainha é a Mãe de
misericórdia, doçura da vida, esperança nossa. Rainha dos céus, Rainha da
terra, Rainha de todo o universo. Rainha radiante como o sol, Rainha coroada de
estrelas, rainha vestida com o azul do infinito, Rainha linda como o raiar de
um novo dia. Rainha, Rainha dos
Anjos, Gabriel, Rafael, Miguel. Rainha de todos os Anjos que lhe prestam
homenagens sem cessar pelos séculos dos séculos. Rainha dos Anjos que cantaram
radiantes “Glória a Deus nas alturas e
paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14) quando o Cristo Senhor, o
Rei, o filho da Rainha nascera. Rainha dos Anjos que a levaram gloriosa de
corpo e alma para os céus por ocasião de sua assunção que comemoramos nesta data,
para, junto de Deus, receber a recompensa por ter sido a mais pura e a mais
santa de todas as criaturas, depois de seu Filho Jesus. Rainha dos Patriarcas,
Rainha de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Judá, de José, de Moisés, de todos
aqueles que foram colunas mestras para a consolidação do povo de Deus e a implantação
da justiça e da lei do Senhor no mundo. Rainha de Israel, do povo escolhido,
donde nasceria o Salvador, o Sol da Justiça. Rainha dos Profetas, de Isaias,
Jeremias, Malaquias, Oséias. Rainha de todos aqueles que prepararam o povo
escolhido para a vinda do Senhor. Rainha de João Batista. Rainha dos Profetas
de todos os tempos, de todos aqueles que fizeram de sua palavra a palavra de
Deus, de sua vontade a vontade de Deus, de sua vida a vida de Deus. Rainha dos
Apóstolos, de Pedro, João, Paulo, Tiago, Mateus. Rainha de todos os que
disseram sim ao chamamento vocacional de Jesus Cristo. Rainha de Anchieta, de
Teresa de Calcutá, da Irmã Dulce, da Irmã Paulina do Coração Agonizante, do
Frei Galvão, dos Diáconos, dos Presbíteros dos Bispos e do Papa. Rainha de
todos aqueles que, ainda nos nossos dias, fazem valer no nosso meio a Palavra
viva do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Rainha dos Mártires, de
Sebastião, de Maria Goretti, de Maximiliano Maria Kolbe, de Dóroti, de Ezequiel
Ramim, de D. Romero, de Chico Mendes, da irmã Lindalva, de todos aqueles que
deram a sua vida e derramaram o seu sangue por sua fé, por sua religião, por
sua pátria, por seus ideais, como os desaparecidos políticos de todos os
países, como os mortos anônimos que são desenterrados nos cemitérios latinos
americanos e de todo mundo, como as vítimas dos campos de concentrações de
todos os tempos, vítimas de regimes que não respeitam os valores e os direitos
humanos. Rainha dos confessores, Rainha daqueles que não tem vergonha, não tem
medo e nem receio de dizer que são cristãos seguidores de Jesus Cristo, ainda
que isso lhes custe o emprego, o sossego, e até a própria vida. Rainha daqueles
que confessam a sua fé tanto nos tempos de paz como nos tempos de guerra, tanto
nos tempos calmos, como nos tempos de perseguições religiosas. Rainha das
Virgens, de Terezinha do Menino Jesus, de Maria Goretti, de Cecília, de Ifigênia,
de Inês, de Luzia. Virgem Rainha, Rainha de todas as Virgens que dedicaram e
dedicam a sua vida inteira para cuidar dos filhos dos outros, dos filhos que
não tiveram e que tornaram seus filhos por amor dos irmãos e de Jesus Cristo. Rainha
de todos os Santos, dos santos de ontem, dos santos de hoje e dos santos de amanhã;
dos santos que estão na glória de Deus Pai, dos santos que caminham conosco
neste vale de lágrimas, dos santos que despontam no amanhã da esperança de dias
melhores. Rainha concebida sem pecado original, Rainha pura, Rainha bela,
Rainha casta, Rainha imaculada. Rainha preservada pela graça de Deus da mancha
do pecado de qualquer natureza. Rainha da paz, não da paz que se resume na
ausência de guerra, mas da paz interior, ainda que o mundo esteja explodindo na
maior violenta das guerras. Rainha da paz que vem do amor, da paz que vem da
fé, da paz que vem de Jesus Cristo, da paz que o Mestre desejou e deixou aos
seus apóstolos, quando disse: “Eu deixo
para vocês a paz, eu lhes dou a minha paz. A paz que eu dou para vocês não é a
paz que o mundo dá. Não fiquem perturbados, nem tenham medo”. (Jo 14,27). Rainha
e Mãe da Igreja que é o povo de Deus e que caminha por veredas muitas vezes inseguras,
mas sempre conduzido pela estrela dos magos que fatalmente o levará até a gruta
de Belém onde o Senhor Jesus o espera, e onde a Rainha, de braços abertos e com
um largo sorriso receberá a todos os que, partindo deste vale de lágrimas, depois
deste desterro, para nos mostrar a Jesus, que é o bendito fruto de seu ventre,
ò clemente, ò piedosa, ò doce, sempre Virgem e Mãe, sempre Rainha... Maria é a
Rainha que se fez escrava: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim
segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).
Poderia Deus permitir que o corpo de Maria, que foi o
sacrário vivo de seu Filho durante nove meses e onde seu Filho assumiu a
natureza humana para ser o Emanuel, o Deus conosco, poderia Deus permitir que
esse corpo tivesse o mesmo destino dos corpos de todos os pecadores e fosse
consumido pela terra? Absolutamente! O Senhor o resgatou e mandou seus anjos
virem buscá-lo para que Maria gozasse, de corpo e alma, a recompensa por ter-se
colocado nas mãos de Deus, ouvido a Palavra, se engravidado da Palavra e dado
luz à Palavra, que é a salvação de todos os homens. E é isso que comemoramos hoje: a Assunção de
Maria aos céus.
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