29
DE AGOSTO
MARTIRIO
DE JOÃO BATISTA
Aproximadamente
setecentos anos antes do nascimento de João Batista, o profeta Isaias já falava
dele, profetizando: “Uma voz grita: ‘Abram no deserto um caminho para
Yahweh; na região da terra seca, aplainem uma estrada para o nosso Deus. Que
todo vale seja aterrado, e todo monte e colina sejam nivelados; que o terreno
acidentado se transforme em planície, e as elevações em lugar plano.” (Is
40,3-4). No seu Evangelho Mateus confirma a veracidade dessa profecia, quando
afirma: “Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da
Judéia: ‘Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo’. João foi anunciado
pelo profeta Isaias, que disse: ‘Esta é a voz daquele que grita no deserto:
Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas’.” (Mt 3,1-3). A
figura de João Batista começa a ser delineada através da profecia de Isaias.
Como Isaias, João Batista é personagem indispensável neste Tempo do Advento. É
o mensageiro da Boa Nova.
O profeta
Malaquias, também, anuncia o mensageiro que haveria de vir antes da Boa Nova: “Vejam!
Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente. De
repente, vai chegar ao seu Templo o Senhor que vocês procuram, o mensageiro da
Aliança que vocês desejam. Olhem! Ele vem! – diz Yahweh dos Exércitos.” (Ml
3,1). Malaquias compara João Batista ao profeta Elias pela sua coragem e
destemor em acusar os pecados dos reis e das autoridades de sua época: “Vejam,
eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso Dia de Yahweh.
Ele há de fazer que o coração dos pais volte para os filhos e o coração dos
filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à
destruição total.” (Ml 3,23-24).
João Batista
começa a sua missão identificando-se: “Eu não sou o Messias.” (Jo 1,20),
e declara ser aquela voz que prepara o caminho do rei: “Eu sou uma voz
gritando no deserto: ‘Aplainem o caminho do Senhor’, como disse o profeta
Isaias.” (Jo 1,23). O anjo Gabriel, no Evangelho de Lucas, quando
anunciava o nascimento de João Batista ao seu pai, reafirma a profecia de
Malaquias a respeito de João: “Caminhará à frente deles, com o espírito e o
poder de Elias, a fim de converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes
à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto.” (Lc
1,17).
No Evangelho
de Mateus, Jesus, falando sobre João Batista, diz: “É de João que a
Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai
preparar o teu caminho diante de ti. [...] E se vocês o quiserem
aceitar, é este o Elias que devia vir.” (Mt 11,10.14).
João Batista,
que teria nascido aproximadamente seis meses antes do Messias (cf Lc 1,26.36),
foi esse mensageiro enviado por Yahweh para abrir as cortinas do Novo
Testamento, de uma Nova Aliança, e apontar aos seus discípulos a chegada da
Salvação e proclamar a presença do Cordeiro de Deus no meio do seu povo: “No
dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: ‘Eis o Cordeiro
de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu falei;
Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de
mim’. (Jo 1,29.35). João declarou sua insignificância diante do Messias que
já estava no meio do povo, e antecipou a missão do Messias: “Eu batizo vocês
com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que eu. Eu não sou digno nem
sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês
com o Espírito Santo e com fogo. Ele terá na mão uma pá; vai limpar sua eira, e
recolher o trigo no seu celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se
apaga.” (Lc 3,16-17).
Mais tarde, o
próprio Jesus destacaria a importância do ministério profético de João Batista,
quando disse: “Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram,
nenhum me maior que João Batista.” (Mt. 11,11). João Batista foi um homem
de aspecto rude e caráter firme. Era austero, com hábitos aparentemente
anti-sociais; sua vestimenta era primária e seu alimento era apenas aquilo que
a natureza lhe oferecia: “João usava roupas de pelos de camelo, e cinto de
couro na cintura; comia gafanhotos e mel silvestre.” (Mt 3,4; Mc 1,6). Não
tinha papas na língua, jamais vacilou em falar clara e contundentemente quando
se fizesse necessário e, para ele não importava quem estivesse cometendo algum
delito, fosse gente do povo, fosse autoridade ou até rei.
Às pessoas
simples do povo, os publicanos, que eram considerados pecadores públicos, aos
soldados e ao povo em geral, que buscavam a verdade, o amor, o perdão e a
reconciliação com Deus, e que perguntavam a João Batista: “O que é que
devemos fazer?” (Lc 3,10), João recomendava a partilha e a generosidade: “Quem
tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma
coisa.” (Lc 3,10-11). Para aqueles que tinham cargos públicos e que podiam
se aproveitar dos impostos que cobravam do povo, João recomendava a
honestidade: “Não cobrem nada além da taxa estabelecida.” (Mt 3,13).
Para aqueles que eram responsáveis pela segurança do povo, os soldados, João
recomendava a não violência e o contentamento pelo salário recebido: “Não
maltratem ninguém; não façam acusações falsas, e fiquem contentes com o salário
de vocês.” (Lc 3,14). A preparação feita por João Batista para receber a
Salvação que vinha de Deus, foi para um caminho de santidade, e o povo de Deus
deve andar nesse caminho, conforme dissera o profeta Isaias: “Haverá ai uma
estrada, um caminho, que chamarão de caminho santo. Impuro nenhum passará por
ele, e os bobos não vão errar o caminho. [...] Por ele andará os que
foram redimidos e os que foram resgatados por Yahweh.” (Is 35,8.9b.10a).
Mas,
voltando-se para os fariseus e saduceus que eram as autoridades religiosas e
civis do povo judeu, que se julgavam superiores a tudo e a todos, que
exploravam o povo simples e humilde, que se julgavam já salvos simplesmente por
se acharem filhos de Abraão, João Batista denunciou a religiosidade aparente deles,
que eram as classes sociais abastadas, assim os condenou, dizendo: “Quando
viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: ‘Raça de
cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir a ira que vai chegar? Façam coisas
que provem que vocês se converteram. Não pensem que basta dizer: ‘Abraão é
nosso pai’. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer
filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore
que não der bom fruto, será cortada e lançada no fogo.” (Mt 3,7-10; Lc
3,7-9).
Ao rei
Herodes, que era um homem sanguinário, mas fraco e acovardado, que fora
influenciado por Herodíades, que fora esposa de seu irmão e a quem o rei havia
tomado-a para si, João Batista não se intimidou e o condenou abertamente, o que
lhe custou a própria vida: “João dizia a Herodes: ‘Não é permitido você se casar
com a mulher do seu irmão’. Por isso, Herodíades ficou com raiva de João e
queria matá-lo, mas não podia. Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois
sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo,
embora ficasse embaraçado quando o escutava.” (Mc 6,18-20) mas, o resultado
disso tudo foi a decapitação de João Batista a pedido da própria Herodíades (cf
Mc 6,17-29; Mt 14,1-12). Mais tarde, talvez corroído pelo remorso, como se isso
fosse possível, o rei Herodes viu em Jesus a ressurreição de João Batista: “Herodes,
governador da Galiléia, ouviu falar da fama de Jesus. Disse então aos seus
oficiais: ‘Ele é João Batista que ressuscitou dos mortos. É por isso que os
poderes agem nesse homem.” (Mt 14,1-2).
As Sagradas
Escrituras não informam se João Batista e Jesus se conheciam antes de se
encontrarem no rio Jordão, por ocasião do batismo de Jesus, mas o próprio João
Batista afirma que: “Eu mesmo não o conhecia...”. (Jo 1,31). João
Batista era filho do sacerdote Zacarias e Isabel (Lc 1,15-25). O mesmo Lucas
diz que Isabel era “parenta” de Maria, possivelmente prima (cf Lc 1,36).
Jesus se
dirige ao rio Jordão para ser batizado por Jesus, muito embora não precisasse
desse ritual para se lavar dos pecados, porque ele, Jesus, não os tinha; Jesus
não precisava do batismo de João Batista, pois não tinha qualquer culpa, a não
ser a culpa da humanidade que ele assumira. Quis, entretanto, nos deixar o
exemplo do que fazer e a lição de que ninguém é puro, a não ser ele próprio,
Jesus. A princípio, João, conhecedor dessa realidade, se recusa a batizar
Jesus, conforme narra Mateus no seu Evangelho: “Jesus foi da Galiléia para o
rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João
procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a
mim’. Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque
devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou.” (Mt 3,13-15). E, nessa
oportunidade, acontece uma teofania: pela primeira vez e publicamente, a
Santíssima Trindade se manifesta: “Logo que Jesus saiu da água, viu o céu se
rasgando, e o Espírito como pomba, desceu sobre ele. E do céu veio uma voz: ‘Tu
és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado’.” (Mc 1,10-11), fato
esse testemunhado pelo próprio João Batista: “Eu vi o Espírito descer do
céu, como uma pomba, e pousar sobre ele.” (Jo 1,32). ”
A vida pública
de Jesus tem início com seu Batismo por João, no rio Jordão: “Jesus tinha
cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública.” (Lc 3,23).
Até para o
povo e para os próprios discípulos de Jesus, a figura de João Batista, depois
de sua morte, ainda permanecia entre todos porque, quando Jesus perguntou aos
discípulos quem os homens diziam que ele era, eles responderam: “Alguns
dizem que é João Batista...” (Mt 16,14).
A vaidade, o
orgulho, a soberba, jamais estiveram presentes na vida de João Batista. Por sua
austeridade e fidelidade ao seu Deus, João Batista foi confundido com o próprio
Cristo, mas, imediatamente, retruca: “Eu não sou o Cristo” (Jo 3,28) e
ainda “não sou digno de desatar a correia de sua sandália”. (Jo 1,27; Mc
1,7). Quando seus discípulos hesitavam, sem saber a quem seguir, João Batista
apontava em direção ao único caminho, demonstrando o rumo certo, ao exclamar: "Eis
o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". (Jo 1,29).
A pregação de
João Batista foi totalmente cristológica.
Como faltam
profetas como João Batista nos nossos dias...
Olá Sr. Milton,
ResponderExcluirGostei muito do blog, otima oportunidade de meditar a palavra.
Eliane