sábado, 12 de janeiro de 2013

BATISMO DE JESUS


BATISMO DO SENHOR – ANO “C”
Cor: branco – Leituras: Is 42,1-4.6-7; Sl 28; At 10,34-38; Lc 3,15-16.21-22.

“TU ÉS O MEU FILHO AMADO QUE MUITO ME AGRADA” (Lc 3,22).

Diácono Milton Restivo


A festa do Batismo de Jesus faz parte das celebrações da manifestação do Senhor: Natal, Epifania, Batismo, Apresentação de Jesus aos discípulos por João Batista e as bodas de Caná, e é também o Primeiro Domingo do Tempo Comum.
Em todas as manifestações de Jesus a todos os homens houve festa, houve alegria, houve participação; muitas pessoas foram convidadas para essas manifestações de alegria e esperança.
Quando Jesus nasceu no curral à beira da estrada, na cidade de Belém os Anjos vieram dos céus porque os céus também estavam em festa, e a alegria nos céus era tamanha que transbordou, derramou sobre a terra e os Anjos que participavam dessa festa nos céus, radiantes de alegria, desceram cantando, alegres e felizes, anunciando a Boa Nova que a humanidade esperava desde o início dos tempos: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade.” (Lc 2,14). Depois houve a grande festa na visita dos magos, servindo-se, como guia desses homens sábios, uma reluzente estrela no firmamento enviada pelo Senhor Nosso Deus para conduzi-los até onde estava o menino Jesus, e chegaram perguntando: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mt 2,2).
E os magos manifestaram a sua alegria em presentes porque, quem ama dá presentes.  
              A terceira manifestação pública de Jesus, antes de iniciar a sua evangelização, também foi uma grande festa, tão grande que o céu se abriu, o Espírito Santo manifestou-se e o próprio Pai identificou quem era Jesus: “Ora, aconteceu que recebendo o batismo todo o povo, batizado também Jesus, e estando em oração, abriu-se o céu, e desceu sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz:” “Tu és meu filho dileto; em ti pus as minhas complacências.” (Lc 3,21-22).
Segundo Lucas no seu Evangelho, “Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública” (Lc 3,23) e a tradição cristã atribui a Jesus essa idade quando dirigiu-se às margens do rio Jordão ao encontro do João Batista para se deixar batizar. E foi nessa oportunidade que nova manifestação de alegria se realiza nos céus: o batismo de Jesus.  
Nessa oportunidade novamente os céus se tornam pequenos demais para conter a Trindade e, bem por isso, a Unidade Trina manifesta-se nas margens do rio Jordão: o Pai Eterno falando das nuvens: “Tu és o meu filho dileto...” (Lc 3,22), referindo-se a Jesus que acabara de ser batizado por João Batista e o Espírito Santo se faz visível “em forma corpórea como uma pomba” (Lc 3,22), e paira sobre a cabeça de Jesus. Manifestou-se assim, de forma admirável, visível e audível, pela primeira vez aos homens, a Santíssima Trindade: Deus Filho sendo batizado, o Espírito Santo como uma pomba, e o Pai fazendo-se ouvir do mais alto dos céus: era o Pai, o Filho e o Espírito Santo manifestando-se e apresentando aos homens aquele que viera para a salvação de “todos os homens de boa vontade.” (Lc 2,14).
As Sagradas Escrituras revelam que o povo do Antigo Testamento, antes da vinda de Jesus, desconhecia a Trindade. Antes de Jesus o Senhor Nosso Deus era conhecido e chamado pelos judeus apenas de “Yahweh”, que quer dizer, conforme o próprio Senhor revelou-se a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. “Moisés disse a Deus: Eis que eu irei aos filhos de Israel, e lhes direi: O Deus de vossos pais enviou-me a vós. Se eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes hei de responder? Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou’. E disse: Assim dirás aos filhos de Israel: Aquele que é enviou-me a vós. Este é o meu nome por toda a eternidade, e com ele serei recordado de geração em geração.” (Ex 3,13-14.15). Através do profeta Isaias, Yahweh diria: “Eu sou Yahweh; este é o meu nome.” (Is 42,8).       
Esta foi a terceira manifestação de Jesus para dar início à sua vida pública e antes de iniciar a sua missão de transmitir as verdades eternas e dar poder aos apóstolos e discípulos de evangelizar a todos os homens e que terminou com o envio dos apóstolos a todas as gentes: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Mc 16,15). Esta, além de ser a terceira manifestação pública de Jesus antes de começar o seu ministério foi, também, uma manifestação pública da Santíssima Trindade. Mas, trinta anos antes, no silêncio de uma pobre e humilde casa de Nazaré, a Santíssima Trindade já havia se manifestado, já havia se revelado em silêncio a uma jovenzinha virgem chamada Maria, quando Gabriel, o Anjo Mensageiro, lhe veio anunciar o nascimento do Messias: “O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo (o Pai) te cobrirá com a sua sombra; por isso mesmo o Santo que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus (o Filho).” (Lc 1,35). Assim se manifestou a Trindade: o Espírito Santo desceu sobre Maria, o Pai a cobriu com a sua sombra, e o Filho tornou-se homem, assumiu a natureza humana no seu ventre.
Segundo as Escrituras essa foi a primeira manifestação da Trindade na simplicidade, na pobreza, no silêncio e no clima de oração que reinava na humilde e pobre casa de uma humilde, pobre, pura e virgem jovenzinha de Nazaré. O que aconteceu em Maria que deu origem à sua gravidez, foi obra do Espírito Santo, conforme disse o Anjo em sonhos a José: “José, filho de Davi, não temas receber em tua casa Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido é obra do Espírito Santo.” (Mt 1,20).
Quando falamos de Santíssima Trindade dizemos que “é um mistério”.  Mas, antes de ser um mistério é um segredo: o segredo do amor que tem como centro um Deus-Comunidade, um Deus-Família que se ama infinitamente e esse amor transborda e é derramado sobre todos os homens. Se não é possível desvendar esse mistério, pelo menos é possível descobrir um segredo, mesmo porque, o segredo do grande amor que Deus tem por nós se faz presente nos corações dos homens de boa vontade. A nossa alegria, a nossa salvação consiste em crer nesse amor, descobri-lo dentro de nós, retribuí-lo, revelá-lo e distribuí-lo a todos os irmãos.
A festa do Batismo de Jesus, além da manifestação palpável e audível da Trindade, é densa de ensinamentos sobre Jesus e sua missão, como também sobre nosso batismo.
Muitos se perguntam: “Mas se Jesus é o Filho de Deus, é Deus, havia necessidade de ser batizado, considerando que o batismo de João era um batismo de conversão e para se arrepender dos pecados, e Jesus não tinha pecados?” Não, Jesus não precisava ser batizado, pois, repito, o batismo de João era para a conversão. Jesus não necessitava desse batismo porque Jesus, ao assumir a natureza humana, era em tudo igual a nós, menos no pecado. Nessa atitude de procurar João Batista nas margens do rio Jordão para ser batizado: “Jesus veio da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele” (Mt 3,13) Jesus se faz igual a todos os homens, não assumindo os pecados, mas sim, sobre si, assumindo toda a iniquidade da humanidade e, nessa oportunidade, santifica as águas, para que o futuro batismo que ele vai determinar aos seus discípulos e apóstolos, purifique todos os homens dos pecados e a eles dê o Espírito Santo: “Toda a autoridade foi dada a mim no céu e na terra. Portanto, vão e façam  com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês.” (Mt 28,18-20). “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Mc 16,15 ).         
Nesse momento de entrega de Jesus ao mundo para a redenção, o Pai o identifica e o declara: “Este é o meu Filho amado no qual ponho todo o meu agrado” (Mt 3,17).  Esta afirmativa nos remonta à primeira leitura desta liturgia, onde o profeta Isaias se antecipa, dizendo: “Assim fala o Senhor: ‘Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações.” (Is 42,1).
O Espírito Santo é enviado pelo Pai e, definitivamente, passa a ser o seu guia. Jesus caminhará na força do Espírito. As ações de Jesus, sua intimidade com o Pai, seu poder de curar serão sempre movidas pelo Espírito, como vemos logo a seguir ao batismo: “Então Jesus, foi levado pelo Espírito para o deserto para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1).
O Batismo é para Jesus o assumir público da sua missão como Filho do Pai e Servo de Yahweh. A voz do céu confirma a sua opção de vida. O Pai confirma reconhecer Jesus, desde o início do seu ministério público, como seu Filho, seu bem-amado, objeto da sua predileção: “Você é o meu filho, eu hoje o gerei”. (Sl 2,7). O Filho amado é o servo que implantará a justiça, será centro de aliança do povo e luz das nações: “Eu, Yahweh, chamei você para a justiça, tomei-o pela mão, e lhe dei forma, e o coloquei como aliança de um povo e luz para as nações. Para você abrir os olhos dos cegos, para tirar os presos da cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro”. (Is 42,6-7).  
Sua palavra é revelação do Pai e de seu Reino.
Ao ser batizado, está revelando que será necessário passar pelas águas para ser filho e ungido pelo Espírito, como ele o foi. Depois que Jesus sai das águas, abrem-se os céus. Jesus é o caminho para o céu de onde vem a voz do Pai e é enviado o Espírito.
O batismo que João dá a Jesus não é o que recebemos, pois o batismo de João é de água para a conversão: “Eu batizo vocês com água para a conversão” (Mt 3,11), e Jesus batiza no Espírito, como disse João Batista: “Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo”. (Lc 3,16). O batismo de Jesus por João Batista é a inauguração de seu ministério, sua unção pelo Espírito. Nesse batismo o Pai declara todo seu amor por esse Filho e lhe põe o Espírito como guia.
Este Filho amado é o servo que implantará a justiça, será centro da aliança e luz das nações: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. (Is 9,1).
Sua missão de fazer o bem é universal. Esse batismo revela-nos a missão do Filho. Deus o unge com o Espírito para o anuncio da Palavra para a redenção de todo homem e do homem todo. Sua missão está voltada para os necessitados: “... para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.” (Is 42,7).
Como disse o Redentorista, Padre Luiz Carlos de Oliveira, “foi manifestada, no batismo de Jesus, a sua carteira de identidade; no seu Batismo, Jesus é manifestado a todo o povo e mostra a sua identidade como Filho amado do Pai; é declinada a sua profissão: a de anunciar, pois o Pai diz a todos; Escutai-o. É fornecido o seu endereço: onde se faz o bem, s/n. É tornado público o seu robby: seguir a pombinha, o Espírito Santo que o conduz; seu time: doze pernas de pau, chamados apóstolos”.
A cena do batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor dos homens.
Como verdadeiro Filho, ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.
O episódio do batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou identificar-se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. No batismo Jesus tomou consciência da sua missão (essa missão que o Pai lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projeto libertador do Pai.
Na segunda leitura, Pedro, tomando a palavra, disse: “Vocês sabem o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio porque Deus estava com ele.” (At 10,37-38). E isso Jesus confirma depois, no início de sua missão: “Jesus voltou para a Galiléia, com a força do Espírito [...] Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem (de Isaias) onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor.” (Lc 4,14.17-19).
Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso do nosso batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de criação do mundo que Deus quer; um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz.
O nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente de criação, fazendo crescer o Reino dele, que “já está no meio de nós” (Mc 1,14).

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