sábado, 22 de março de 2014

JESUS E A SAMARITANA

III DOMINGO DA QUARESMA
Ano – A; Cor – roxo; Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94 (95); Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42.

“COMO É QUE TU, SENDO JUDEU, PEDES DE BEBER A MIM QUE SOU UMA MULHER SAMARITANA?” (Jo 4,9).


Diácono Milton Restivo

Quando procuramos meditar ou tirar mensagens dos acontecimentos bíblicos ou, de uma maneira geral, evangélicos, tratamos o fato como se estivesse acontecendo nos nossos dias, com as nossas leis, a nossa ética, a nossa moral e a nossa realidade. E, geralmente, chegamos a conclusões que, a nosso ver, seriam as mais corretas, mas que nada têm a ver com o fato que foi exposto.
Quantos seguimentos religiosos, que se dizem cristãos, fazem isso, e impõem aos seus seguidores um jugo pesado de ser levado, querendo que seus adeptos tenham os costumes de dois mil anos atrás, e os condenam se assim não for. Desconhecem a realidade religiosa, política, social, moral, ética, os costumes e a situação de dependência ou independência que aquele povo vivia dentro do contesto que se pretende meditar.
Desconhecendo a realidade do povo na época desse acontecimento, é uma leviandade querer tirar conclusões ou buscar conforto espiritual em um fato acontecido há dois mil anos que nada tem a ver com a nossa realidade, a nossa lei, com os nossos costumes e tudo o mais.
          A passagem do evangelho do encontro de Jesus com a mulher samaritana é um fato típico desses que envolve problemas de política, religião, sexo e povos diferentes que tinham as suas rivalidades políticas, religiosas e sociais e conflitos em vários seguimentos dos seus costumes e interpretações sobre a Lei de Moisés.
Judeus e samaritanos não se suportavam e eram inimigos entre si. Os judeus tinham o seu Templo na cidade de Jerusalém, e os samaritanos, que foram proibidos de auxiliar na construção desse Templo (cf Esd 4,2-3) e proibidos, também, de frequentar o templo de Jerusalém, construíram o seu próprio templo no monte de Garizim, no território da Samaria.
Os habitantes da Samaria, os samaritanos, portanto, eram considerados impuros, pecadores e não merecedores da misericórdia de Deus pelos habitantes de Judá. Para os judeus os samaritanos eram um povo misturado com os pagãos que adoravam outros deuses e não tinham suas raízes fundadas no Deus único, que os tirou da escravidão do Egito e lhes deu a tão sonhada Terra Prometida e, por isso, os judeus o tinham como um caso perdido que não mereciam a salvação.
Os samaritanos eram mestiços ou meio-sangue, sendo meio judeu e meio gentio ou, simplesmente, estrangeiro. Os judeus odiavam os samaritanos e a sua terra.
Os samaritanos tinham sua própria religião (Jo 4,20-24) e esperavam a volta do messias (Jo 4,25). Para os judeus a palavra “samaritano” era pejorativa e significava um homem sem escrúpulos, sem religião, sem moral, sem ética, sem respeito pelas leis de Moisés ou que tivesse uma visão destorcida das mesmas, e que não se preocupava com elas no dia a dia.  Por isso, chamar um judeu de samaritano era o mesmo que denominá-lo herege, idólatra ou excomungado, como vemos no Evangelho de João, as autoridades judias se dirigindo com desprezo a Jesus, chamando-o de “samaritano”: “As autoridades dos judeus disseram: ‘Não temos razão de dizer que és um samaritano e que estás louco?” (Jo 8,48).
Não existia, para os judeus, um nome mais injurioso que o de “samaritano”. Um judeu que se prezava jamais dirigia a palavra a um samaritano, como é visto através do espanto da samaritana quando Jesus lhe dirige a palavra: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim que sou samaritana?” (Jo 4,9).
Em certa ocasião os samaritanos foram hostis e não receberam os discípulos de Jesus, por serem judeus, quando buscaram alojamento em uma cidade samaritana (cf Lc 9,52-56). Daí o espanto da mulher samaritana quando Jesus lhe dirige a palavra, pedindo-lhe água (cf Jo 4,3-8).
O problema não ficava só por ai porque, um judeu, em sã consciência, jamais dirigiria a palavra a uma mulher na rua, ainda que fosse judia, e ainda mais se essa mulher fosse estrangeira e, para piorar a situação, essa mulher era uma samaritana, pertencente ao povo inimigo do povo judeu.
No tempo de Jesus a mulher era considerada, em tudo, inferior ao homem. Não importando qual fosse a sua idade, a mulher permanecia sempre sendo tratada como menor de idade. O voto de uma moça ou mulher casada, assim como de uma criança ou escravo, não tinha validade, a não ser pelo consentimento do pai ou do marido, que podiam também anulá-lo (cf Nm 30,3-17).
O Decálogo, mandamentos da Lei de Moisés, coloca a mulher entre as posses de seu marido, juntamente com a casa e o campo, o escravo e a escrava, o boi e o asno: “Não cobice a casa de seu próximo, nem a mulher do próximo, nem o escravo, nem a escrava, nem o boi, nem o jumento, nem coisa alguma que pertença ao seu próximo”. (Ex 20,17; Dt 5,21).
O descaso e o desapreço atribuídos às pessoas com menos dignidade, era nessa ordem: mulheres, escravos e crianças. O marido era o dono da mulher. Como o escravo não judeu e o filho menor de idade, a mulher pertencia e era propriedade do seu dono, que podia ser o pai, se fosse solteira (o pai, em caso de dificuldade financeira, podia vender sua filha como escrava quando ela tivesse entre 6 e 12 anos e meio de idade (cf Ex 21,7-9); ou ao marido, se fosse casada; ou ao cunhado solteiro, se fosse viúva sem filhos (Dt 25,5-10; cf Mc 12,18-27).
Somente o homem podia ter várias mulheres, e a esposa tinha, por dever, tolerar a existência de concubinas consigo em sua própria casa (privilégio dos ricos, inacessível aos pobres). Somente os filhos homens eram herdeiros dos bens paternos; as filhas somente aumentavam o patrimônio, graças ao preço que os pretendentes pagavam ao pai ao comprá-las.
A religião judaica era uma religião só para homens. No Templo e nas sinagogas homens e mulheres ficavam rigorosamente separados; as mulheres sempre em lugares inferiores, secundários aos dos homens. O culto nas sinagogas era celebrado apenas caso houvesse, pelo menos, dez homens com mais de treze anos de idade, por mais numerosas que fossem as mulheres.
As mulheres não aprendiam a ler, não frequentavam qualquer tipo de escola, estavam isentas de peregrinar nas grandes festas anuais a que estavam obrigados os homens, e de outras práticas religiosas, e nem podiam pronunciar a ação de graças à mesa, mas, eram obrigadas a cumprir todas as proibições da lei religiosa e submetidas, também, a todo rigor da legislação civil, penal e religiosa, inclusive à pena de morte (Jo 8,1-5).
Os trabalhos mais difíceis eram destinados à mulher: cuidar do lar, dos filhos e orientar as empregadas (Pr 31,15b.27-28), apascentar rebanhos (Gn 29,6), buscar água (Gn 24,14; 1Sm 9,11; Jo 4,7), trabalhar no campo e apanhar espigas deixadas pelos segadores (Rt 2,2s), fazer pão (Pr 31,15a) e tecer (Pr 31,13.19.22.24); mas isso não era tido na conta de humilhação, ao contrário, lhe garantiam consideração por parte do pai, do marido e da comunidade (Pr 31,26-31).
Somente o marido tinha o direito de romper o matrimônio exigindo o divórcio, a mulher não. Causas prováveis de divórcio: se uma mulher saísse à rua sem cobrir a cabeça, ofendia de tal modo os bons costumes que o marido tinha o direito, inclusive o dever religioso de expulsá-la de casa e divorciar-se dela, sem estar obrigado a pagar-lhe a soma combinada no contrato matrimonial; a mulher que perdia seu tempo na rua, falando com outras mulheres (porque não podia conversar com homens), ou que se põe a fiar na porta de sua casa, podia ser repudiada por seu marido sem qualquer compensação econômica.
A mulher não tinha crédito na sociedade e jamais poderia ser convocada e atuar como testemunha num tribunal, nem mesmo como testemunha de acusação; era tida como inclinada à mentira e, baseando-se em Gênesis 18,11-15 em que Sara, mulher de Abraão, ambos de idade avançada, quando ouviu de Yahweh que conversava com Abraão, que no próximo ano teria um filho, Sara riu. Yahweh chamou-lhe a atenção e Sara tentou justificar-se dizendo que não rira, e Yahweh insistiu: “Não negue, você riu”; por isso era entendido que todas as mulheres eram inclinadas à mentira.
Agora, imaginem só: Jesus, o Mestre, conversando com uma mulher em público, possivelmente casada, fato agravado por ser uma mulher estrangeira e, piorando a situação ainda, por ser uma mulher de religião combatida e rejeitada pelo judaísmo e, para complicar mais a situação, mulher pertencente a um povo considerado inimigo do povo judeu.
Para dar continuidade à conversa com a mulher, Jesus apelou para um costume da época: era necessária a presença do seu marido, e Jesus lhe diz: “Vá chamar o seu marido e volte aqui” (Jo 4,16). A mulher samaritana deve ter ficado sem jeito pelo seu passado pouco recomendável, e respondeu: “Eu não tenho marido” (Jo 4,17a).
E Jesus mostra que sabia disso antes de conhecê-la pessoalmente, e lhe diz: “Você tem razão ao dizer que não tem marido. De fato, você teve cinco maridos. E o homem que você tem agora, não é seu marido. Nisso você falou a verdade” (Jo 4,17b-18).
Para piorar ainda mais a situação, a mulher com quem Jesus conversava era tida como uma pecadora pública, de reputação duvidosa, e um judeu que se prezasse passaria ao longe de uma mulher desse tipo. Isso justifica a admiração dos discípulos de Jesus quando o surpreenderam conversando com uma mulher, e uma mulher estrangeira e de maus costumes, como João diz no seu evangelho: “Nesse momento, os discípulos de Jesus chegaram. E ficaram admirados de ver Jesus falando com uma mulher, mas ninguém perguntou o que ele queria, ou porque ele estava conversando com a mulher”. (Jo 4,27).
Segundo o costume e o conceito da época, a samaritana era quatro vezes rejeitada: primeiro - por ser mulher; segundo - por ser pecadora; terceiro - por ser estrangeira e quarto – por pertencer a um povo inimigo dos judeus. Com essa atitude Jesus contraria frontalmente a Lei de Moisés.
A preocupação de Jesus é, primeiro, valorizar o ser humano para depois seguir a lei, se a lei não menosprezasse o ser humano. Jesus mostra que, seguir a lei apenas pela lei, de forma que prejudica o ser humano digno como qualquer outro, não vale de nada.
Com a conversa de Jesus com a mulher samaritana o evangelista João também quer mostrar a universalidade do messianismo de Cristo. Jesus veio para todos e não só para os judeus. Para mostrar aos judeus que diziam cumprir a Lei, mas desprezavam o próximo, em algumas passagens, Jesus demonstra que entre o povo samaritano rejeitado pelos judeus havia compaixão, misericórdia para com o próximo e agradecimento e reconhecimento para com Deus, e isso ele o demonstra na parábola do bom samaritano (Lc 10,30-37) e no samaritano leproso que fora curado por Jesus juntamente com outros nove judeus e somente o samaritano voltou para agradecê-lo (Lc 17,11-19).
Conversando com uma mulher com aquelas qualificações que a colocavam no degrau mais baixo da dignidade humana para um judeu, Jesus supera os preconceitos e as discriminações sociais de sua época e de todas as épocas, inclusive, hoje. A afirmação de Jesus: “Muitos os que agora são primeiros, serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os primeiros.” (Mc 10,31; cf Mt 19,30; 20,16), aplicava-se, de uma maneira especial, às mulheres pela sua situação de inferioridade nas estruturas dominadas pelos homens (seria diferente nos dias de hoje?).
Para um mestre judeu era intolerável ter mulheres como suas discípulas, mas Jesus quebrou esse preconceito e não teve somente discípulos homens; teve muitas discípulas, aliás, mais assíduas e fiéis do que os homens, e ter discípulas era proibido aos mestres judeus.
Jesus teve amigas muito queridas, como as irmãs Marta e Maria, e manifestou por elas amizade humana, intensa, profunda e publicamente: “Estando (Jesus) em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra”. (Lc 10,38-42); “Jesus amava Marta e sua irmã (Maria) e Lázaro. Quando Jesus a viu chorar (Maria) e também os judeus, que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado”. (Jo 11,5.33); “Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi à Betânia, onde estava Lázaro que ele ressuscitara dos mortos. Ofereceram-lhe um jantar: Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tendo tomado uma libra de um perfume de nardo puro, muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos; e a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo”. (Jo 12,1-8).
Jesus teve centenas de discípulas: “Maria de Magdala, chamada de Madalena, de quem Jesus fez sair sete espíritos; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Suzana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos seus discípulos com os bens que possuíam.” (Lc 8,1-3; cf Mc 15,40-41). O judeu que se considerava puro e santo jamais conversaria na rua com uma mulher sozinha, e principalmente ainda se essa mulher estivesse isolada no campo, e principalmente ainda se essa mulher fosse de vida duvidosa, e principalmente, ainda se essa mulher fosse uma estrangeira. E quem era a Samaritana? E onde estava a samaritana? (Jo 4,1-30).
A samaritana era uma mulher que estava sozinha no campo; uma mulher estrangeira, considerada pelos judeus uma idólatra, de moral duvidosa e maldita por todo judeu que se julgava fiel e santo, o que justifica, repito, a admiração e espanto dos discípulos quando depararam com Jesus conversando com uma mulher desse quilate: “Nesse momento, os discípulos de Jesus chegaram. E ficaram admirados de ver Jesus falando com uma mulher, mas ninguém perguntou o que ele queria, ou porque ele estava conversando com a mulher”. (Jo 4,27).
E o que presenciamos depois disso?  A comunidade cristã da Samaria começa exatamente por essa mulher, de vida e moral duvidosa, idólatra, estrangeira e qualquer judeu de bom senso deveria cortar léguas dela: “Então a mulher deixou o balde, foi para a cidade e disse para as pessoas: ‘Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Messias? O pessoal saiu da cidade e foi ao encontro de Jesus.”. (Jo 4,29-30).
A samaritana foi a primeira missionária de Jesus: foi até à cidade, encantada que estava com o que ouvira de Jesus a respeito de si própria e de onde se deveria adorar o Deus verdadeiro, trouxe até Jesus todos os habitantes da cidade, e foi para ela que Jesus ofereceu a água viva: “Quem bebe desta água vai ter sede de novo. Mas aquele que beber a água que eu vou dar, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna’. A mulher disse para Jesus: Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise vir aqui para tirar”. (Jo 4,13-15).
As discípulas de Jesus, mulheres galiléias na sua maior parte, são apresentadas nos Evangelhos precisamente como as únicas, que, fiéis a ele, permaneceram em Jerusalém durante a sua execução e enterro, arriscando a própria segurança e a vida: “E também estavam ali (no Calvário, aos pés da cruz) algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas, Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé. Elas o seguiam e serviam enquanto esteve na Galiléia. “E ainda muitas outras que subiram com ele para Jerusalém”. (Mc 15,40-41; Mt 27,55-56; Lc 23,49; Jo 19,25). Para o embalsamamento do corpo do Senhor morto no sepulcro, quem se habilitou? Os homens? Não! As mulheres: “Passado o sábado, Maria Madalena e Maria mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas par ir ungi-lo. De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol”. (Mc 16,1-8; Mt 28,1-8; Lc 24,1-10; Jo 20,1-2).
E os homens, também seguidores de Jesus, Pedro, o primeiro Papa, e os apóstolos, onde estavam? Covardemente abandonaram Jesus, fugiram, e o deixaram só: “Então, abandonando-o, fugiram todos”. (Mc 14,50). Para quem Jesus se manifestou primeiro depois de sua ressurreição? Quais foram as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus, senão as mulheres, discípulas de Jesus?  Mateus diz o seguinte: “De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: ‘Alegrem-se’! As mulheres se aproximaram e se ajoelharam diante de Jesus, abraçando seus pés. Então Jesus disse a elas: ‘Não tenham medo. Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia. Lá eles me verão”.  (Mt 28,9-10). Marcos diz: “Depois de ressuscitar na madrugada do primeiro dia após o sábado, Jesus apareceu primeiro à Maria Madalena, da qual havia expulsado sete demônios. Ela foi anunciar isso aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e chorando”. (Mc 16,9-10).
E o pior disso tudo, ainda, é que os homens, discípulos que estavam de luto e chorando, escondidos e acovardados de medo dos judeus, não quiseram acreditar em Maria Madalena: “Quando ouviram que ele estava vivo e fora visto por ela, não quiseram acreditar”. (Mc 16,11).
Lucas, depois de as mulheres terem estado no sepulcro e terem a visão de dois anjos que lhes anunciaram a ressurreição de Jesus, diz o seguinte a respeito das mulheres: “Voltaram ao túmulo, e anunciaram tudo isso aos onze, bem como a todos os outros. Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas contaram essas coisas aos apóstolos. Contudo, os apóstolos acharam que eram tolices o que as mulheres contavam e não acreditaram nelas”. (Lc 24,9-11).
João narra: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro. Corre então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo que Jesus amava, e lhes diz: ‘Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram”. (Jo 20,1-2); “Dizendo isso, voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não sabia que era Jesus. Jesus lhe diz: ‘Mulher, porque choras? A quem procuras? ‘ Pensando ser ele o jardineiro, ela lhe diz: ‘Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar!’ Diz-lhe Jesus: ‘Maria!’ Voltando-se, ela lhe diz em hebraico: ‘Rabboni’, que quer dizer ‘Mestre’. Jesus lhe diz: ‘Não me retenhas, pois ainda não subi ao Pai, a meu Deus e vosso Deus’. Maria foi anunciar aos discípulos: ‘Vi o Senhor’, e as coisas que ele lhes disse”. (Jo 20,14-18).
Por vontade do próprio Jesus, várias mulheres estão de fato na primeira fila do testemunho apostólico, são as primeiras missionárias de Jesus. 
E o que dizer da mulher pega em flagrante adultério e apresentada a Jesus? O que dizer da adúltera apresentada à Jesus?  Pela Lei de Moisés e dos judeus tanto o homem como a mulher que fossem pegos nessa situação deveriam ser mortos, conforme prevê o livro do Deuteronômio 22,22: “Se um homem for pego em flagrante tendo relações sexuais com uma mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem como a mulher. Deste modo você eliminará o mal de Israel”. Mas isso não aconteceu quando apresentaram a mulher adúltera para Jesus, que “foi surpreendida em adultério” (sozinha?).  Se foi surpreendida em adultério, deveria haver um parceiro em cena; onde estava o homem que cometera adultério com a mulher? Então vemos que o homem estava isento de qualquer responsabilidade e acima da Lei; somente a mulher era culpada e merecia punição, e Jesus sabia disso e não perdeu tempo em perguntar pelo homem.
Qual foi a atitude de Jesus diante dos anciãos, sacerdotes, escribas, doutores da lei e todo o povo? Jesus reconhece que a mulher pecara, trata-a como pecadora, mas com amor, compreensão e misericórdia: “Eu também não te condeno. Vai em paz e não peques mais”. (Jo 8,2-11).
Paulo, Apóstolo, nos diz na carta aos Gálatas: “De fato, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo.” (Gl 3,26-28).
Será que hoje, realmente, na nossa Igreja, principalmente no que diz respeito à mulher, está acontecendo isso?

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