III DOMINGO DA QUARESMA
Ano – A; Cor – roxo; Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94 (95); Rm 5,1-2.5-8; Jo
4,5-42.
“COMO É QUE TU, SENDO JUDEU, PEDES DE BEBER A MIM QUE SOU UMA MULHER
SAMARITANA?” (Jo 4,9).
Diácono
Milton Restivo
Quando
procuramos meditar ou tirar mensagens dos acontecimentos bíblicos ou, de uma
maneira geral, evangélicos, tratamos o fato como se estivesse acontecendo nos
nossos dias, com as nossas leis, a nossa ética, a nossa moral e a nossa
realidade. E, geralmente, chegamos a conclusões que, a nosso ver, seriam as
mais corretas, mas que nada têm a ver com o fato que foi exposto.
Quantos
seguimentos religiosos, que se dizem cristãos, fazem isso, e impõem aos seus
seguidores um jugo pesado de ser levado, querendo que seus adeptos tenham os
costumes de dois mil anos atrás, e os condenam se assim não for. Desconhecem a
realidade religiosa, política, social, moral, ética, os costumes e a situação
de dependência ou independência que aquele povo vivia dentro do contesto que se
pretende meditar.
Desconhecendo a
realidade do povo na época desse acontecimento, é uma leviandade querer tirar
conclusões ou buscar conforto espiritual em um fato acontecido há dois mil anos
que nada tem a ver com a nossa realidade, a nossa lei, com os nossos costumes e
tudo o mais.
A passagem do
evangelho do encontro de Jesus com a mulher samaritana é um fato típico desses
que envolve problemas de política, religião, sexo e povos diferentes que tinham
as suas rivalidades políticas, religiosas e sociais e conflitos em vários
seguimentos dos seus costumes e interpretações sobre a Lei de Moisés.
Judeus e
samaritanos não se suportavam e eram inimigos entre si. Os judeus tinham o seu
Templo na cidade de Jerusalém, e os samaritanos, que foram proibidos de
auxiliar na construção desse Templo (cf Esd 4,2-3) e proibidos, também, de
frequentar o templo de Jerusalém, construíram o seu próprio templo no monte de
Garizim, no território da Samaria.
Os habitantes
da Samaria,
os samaritanos, portanto, eram considerados impuros, pecadores
e não merecedores da misericórdia de Deus pelos habitantes de Judá. Para os
judeus os samaritanos eram um povo misturado com os pagãos que adoravam outros
deuses e não tinham suas raízes fundadas no Deus único, que os tirou da
escravidão do Egito e lhes deu a tão sonhada Terra Prometida e, por isso, os
judeus o tinham como um caso perdido que não mereciam a salvação.
Os samaritanos
eram mestiços ou meio-sangue, sendo meio judeu e meio gentio ou, simplesmente,
estrangeiro. Os judeus odiavam os samaritanos e a sua terra.
Os samaritanos
tinham sua própria religião (Jo 4,20-24) e esperavam a volta do messias (Jo 4,25).
Para os judeus a palavra “samaritano” era pejorativa e significava um homem sem
escrúpulos, sem religião, sem moral, sem ética, sem respeito pelas leis de
Moisés ou que tivesse uma visão destorcida das mesmas, e que não se preocupava
com elas no dia a dia. Por isso, chamar um
judeu de samaritano era o mesmo que denominá-lo herege, idólatra ou excomungado,
como vemos no Evangelho de João, as autoridades judias se dirigindo com
desprezo a Jesus, chamando-o de “samaritano”: “As autoridades dos judeus disseram: ‘Não temos razão de dizer que és
um samaritano e que estás louco?” (Jo 8,48).
Não existia,
para os judeus, um nome mais injurioso que o de “samaritano”. Um judeu que se
prezava jamais dirigia a palavra a um samaritano, como é visto através do
espanto da samaritana quando Jesus lhe dirige a palavra: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim que sou samaritana?” (Jo
4,9).
Em certa
ocasião os samaritanos foram hostis e não receberam os discípulos de Jesus, por
serem judeus, quando buscaram alojamento em uma cidade samaritana (cf Lc
9,52-56). Daí o espanto da mulher samaritana quando Jesus lhe dirige a palavra,
pedindo-lhe água (cf Jo 4,3-8).
O problema não
ficava só por ai porque, um judeu, em sã consciência, jamais dirigiria a
palavra a uma mulher na rua, ainda que fosse judia, e ainda mais se essa mulher
fosse estrangeira e, para piorar a situação, essa mulher era uma samaritana,
pertencente ao povo inimigo do povo judeu.
No tempo de
Jesus a mulher era considerada, em tudo, inferior ao homem. Não importando qual
fosse a sua idade, a mulher permanecia sempre sendo tratada como menor de
idade. O voto de uma moça ou mulher casada, assim como de uma criança ou
escravo, não tinha validade, a não ser pelo consentimento do pai ou do marido,
que podiam também anulá-lo (cf Nm 30,3-17).
O Decálogo,
mandamentos da Lei de Moisés, coloca a mulher entre as posses de seu marido,
juntamente com a casa e o campo, o escravo e a escrava, o boi e o asno: “Não cobice a casa de seu próximo, nem a
mulher do próximo, nem o escravo, nem a escrava, nem o boi, nem o jumento, nem
coisa alguma que pertença ao seu próximo”. (Ex 20,17; Dt 5,21).
O descaso e o
desapreço atribuídos às pessoas com menos dignidade, era nessa ordem: mulheres,
escravos e crianças. O marido era o dono da mulher. Como o escravo não judeu e
o filho menor de idade, a mulher pertencia e era propriedade do seu dono, que
podia ser o pai, se fosse solteira (o pai, em caso de dificuldade financeira,
podia vender sua filha como escrava quando ela tivesse entre 6 e 12 anos e meio
de idade (cf Ex 21,7-9); ou ao marido, se fosse casada; ou ao cunhado solteiro,
se fosse viúva sem filhos (Dt 25,5-10; cf Mc 12,18-27).
Somente o homem
podia ter várias mulheres, e a esposa tinha, por dever, tolerar a existência de
concubinas consigo em sua própria casa (privilégio dos ricos, inacessível aos
pobres). Somente os filhos homens eram herdeiros dos bens paternos; as filhas
somente aumentavam o patrimônio, graças ao preço que os pretendentes pagavam ao
pai ao comprá-las.
A religião
judaica era uma religião só para homens. No Templo e nas sinagogas homens e
mulheres ficavam rigorosamente separados; as mulheres sempre em lugares
inferiores, secundários aos dos homens. O culto nas sinagogas era celebrado
apenas caso houvesse, pelo menos, dez homens com mais de treze anos de idade,
por mais numerosas que fossem as mulheres.
As mulheres não
aprendiam a ler, não frequentavam qualquer tipo de escola, estavam isentas de
peregrinar nas grandes festas anuais a que estavam obrigados os homens, e de
outras práticas religiosas, e nem podiam pronunciar a ação de graças à mesa,
mas, eram obrigadas a cumprir todas as proibições da lei religiosa e
submetidas, também, a todo rigor da legislação civil, penal e religiosa,
inclusive à pena de morte (Jo 8,1-5).
Os trabalhos
mais difíceis eram destinados à mulher: cuidar do lar, dos filhos e orientar as
empregadas (Pr 31,15b.27-28), apascentar rebanhos (Gn 29,6), buscar água (Gn
24,14; 1Sm 9,11; Jo 4,7), trabalhar no campo e apanhar espigas deixadas pelos
segadores (Rt 2,2s), fazer pão (Pr 31,15a) e tecer (Pr 31,13.19.22.24); mas
isso não era tido na conta de humilhação, ao contrário, lhe garantiam
consideração por parte do pai, do marido e da comunidade (Pr 31,26-31).
Somente o
marido tinha o direito de romper o matrimônio exigindo o divórcio, a mulher
não. Causas prováveis de divórcio: se uma mulher saísse à rua sem cobrir a
cabeça, ofendia de tal modo os bons costumes que o marido tinha o direito,
inclusive o dever religioso de expulsá-la de casa e divorciar-se dela, sem
estar obrigado a pagar-lhe a soma combinada no contrato matrimonial; a mulher
que perdia seu tempo na rua, falando com outras mulheres (porque não podia
conversar com homens), ou que se põe a fiar na porta de sua casa, podia ser
repudiada por seu marido sem qualquer compensação econômica.
A mulher não
tinha crédito na sociedade e jamais poderia ser convocada e atuar como testemunha
num tribunal, nem mesmo como testemunha de acusação; era tida como inclinada à
mentira e, baseando-se em Gênesis 18,11-15 em que Sara, mulher de
Abraão, ambos de idade avançada, quando ouviu de Yahweh que conversava com
Abraão, que no próximo ano teria um filho, Sara riu. Yahweh chamou-lhe a
atenção e Sara tentou justificar-se dizendo que não rira, e Yahweh insistiu: “Não negue, você riu”; por isso era
entendido que todas as mulheres eram inclinadas à mentira.
Agora, imaginem
só: Jesus, o Mestre, conversando com uma mulher em público, possivelmente
casada, fato agravado por ser uma mulher estrangeira e, piorando a situação
ainda, por ser uma mulher de religião combatida e rejeitada pelo judaísmo e,
para complicar mais a situação, mulher pertencente a um povo considerado
inimigo do povo judeu.
Para dar
continuidade à conversa com a mulher, Jesus apelou para um costume da época:
era necessária a presença do seu marido, e Jesus lhe diz: “Vá chamar o seu marido e volte aqui” (Jo 4,16). A mulher
samaritana deve ter ficado sem jeito pelo seu passado pouco recomendável, e
respondeu: “Eu não tenho marido” (Jo
4,17a).
E Jesus mostra
que sabia disso antes de conhecê-la pessoalmente, e lhe diz: “Você tem razão ao dizer que não tem marido.
De fato, você teve cinco maridos. E o homem que você tem agora, não é seu
marido. Nisso você falou a verdade” (Jo 4,17b-18).
Para piorar
ainda mais a situação, a mulher com quem Jesus conversava era tida como uma
pecadora pública, de reputação duvidosa, e um judeu que se prezasse passaria ao
longe de uma mulher desse tipo. Isso justifica a admiração dos discípulos de
Jesus quando o surpreenderam conversando com uma mulher, e uma mulher
estrangeira e de maus costumes, como João diz no seu evangelho: “Nesse momento, os discípulos de Jesus
chegaram. E ficaram admirados de ver Jesus falando com uma mulher, mas ninguém
perguntou o que ele queria, ou porque ele estava conversando com a mulher”. (Jo
4,27).
Segundo o
costume e o conceito da época, a
samaritana era
quatro vezes rejeitada: primeiro - por ser mulher; segundo - por ser pecadora;
terceiro - por ser estrangeira e quarto – por pertencer a um povo inimigo dos
judeus. Com essa atitude Jesus contraria frontalmente a Lei de Moisés.
A preocupação
de Jesus é, primeiro, valorizar o ser humano para depois seguir a lei, se a lei
não menosprezasse o ser humano. Jesus mostra que, seguir a lei apenas pela lei,
de forma que prejudica o ser humano digno como qualquer outro, não vale de
nada.
Com a conversa
de Jesus com a mulher samaritana o evangelista João também quer mostrar a
universalidade do messianismo de Cristo. Jesus veio para todos e não só para os
judeus. Para mostrar aos judeus que diziam cumprir a Lei, mas desprezavam o
próximo, em algumas passagens, Jesus demonstra que entre o povo samaritano
rejeitado pelos judeus havia compaixão, misericórdia para com o próximo e
agradecimento e reconhecimento para com Deus, e isso ele o demonstra na
parábola do bom samaritano (Lc 10,30-37) e no samaritano leproso que fora
curado por Jesus juntamente com outros nove judeus e somente o samaritano
voltou para agradecê-lo (Lc 17,11-19).
Conversando com
uma mulher com aquelas qualificações que a colocavam no degrau mais baixo da
dignidade humana para um judeu, Jesus supera os preconceitos e as discriminações
sociais de sua época e de todas as épocas, inclusive, hoje. A afirmação de
Jesus: “Muitos os que agora são
primeiros, serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os
primeiros.” (Mc 10,31; cf Mt 19,30; 20,16), aplicava-se, de uma maneira
especial, às mulheres pela sua situação de inferioridade nas estruturas
dominadas pelos homens (seria diferente nos dias de hoje?).
Para um mestre
judeu era intolerável ter mulheres como suas discípulas, mas Jesus quebrou esse
preconceito e não teve somente discípulos homens; teve muitas discípulas,
aliás, mais assíduas e fiéis do que os homens, e ter discípulas era proibido
aos mestres judeus.
Jesus teve
amigas muito queridas, como as irmãs Marta e Maria, e manifestou por elas
amizade humana, intensa, profunda e publicamente: “Estando (Jesus) em viagem,
entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua
irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra”.
(Lc 10,38-42); “Jesus amava Marta e sua
irmã (Maria) e Lázaro. Quando Jesus a
viu chorar (Maria) e também os
judeus, que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado”.
(Jo 11,5.33); “Seis dias antes da Páscoa,
Jesus foi à Betânia, onde estava Lázaro que ele ressuscitara dos mortos. Ofereceram-lhe
um jantar: Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então
Maria, tendo tomado uma libra de um perfume de nardo puro, muito caro, ungiu os
pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos; e a casa inteira ficou cheia do
perfume do bálsamo”. (Jo 12,1-8).
Jesus teve
centenas de discípulas: “Maria de
Magdala, chamada de Madalena, de quem Jesus fez sair sete espíritos; Joana,
mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Suzana, e várias outras mulheres
que ajudavam a Jesus e aos seus discípulos com os bens que possuíam.” (Lc
8,1-3; cf Mc 15,40-41). O judeu que se considerava puro e santo jamais
conversaria na rua com uma mulher sozinha, e principalmente ainda se essa
mulher estivesse isolada no campo, e principalmente ainda se essa mulher fosse
de vida duvidosa, e principalmente, ainda se essa mulher fosse uma estrangeira.
E quem era a Samaritana? E onde estava a samaritana? (Jo 4,1-30).
A samaritana
era uma mulher que estava sozinha no campo; uma mulher estrangeira, considerada
pelos judeus uma idólatra, de moral duvidosa e maldita por todo judeu que se
julgava fiel e santo, o que justifica, repito, a admiração e espanto dos
discípulos quando depararam com Jesus conversando com uma mulher desse quilate:
“Nesse momento, os discípulos de Jesus
chegaram. E ficaram admirados de ver Jesus falando com uma mulher, mas ninguém
perguntou o que ele queria, ou porque ele estava conversando com a mulher”. (Jo
4,27).
E o que
presenciamos depois disso? A comunidade
cristã da Samaria começa exatamente por essa mulher, de vida e moral duvidosa,
idólatra, estrangeira e qualquer judeu de bom senso deveria cortar léguas dela:
“Então a mulher deixou o balde, foi para
a cidade e disse para as pessoas: ‘Venham ver um homem que me disse tudo o que
eu fiz. Será que ele não é o Messias? O pessoal saiu da cidade e foi ao
encontro de Jesus.”. (Jo 4,29-30).
A samaritana
foi a primeira missionária de Jesus: foi até à cidade, encantada que estava com
o que ouvira de Jesus a respeito de si própria e de onde se deveria adorar o
Deus verdadeiro, trouxe até Jesus todos os habitantes da cidade, e foi para ela
que Jesus ofereceu a água viva: “Quem
bebe desta água vai ter sede de novo. Mas aquele que beber a água que eu vou
dar, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro
dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna’. A mulher disse para
Jesus: Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise
vir aqui para tirar”. (Jo 4,13-15).
As discípulas
de Jesus, mulheres galiléias na sua maior parte, são apresentadas nos
Evangelhos precisamente como as únicas, que, fiéis a ele, permaneceram em
Jerusalém durante a sua execução e enterro, arriscando a própria segurança e a
vida: “E também estavam ali (no
Calvário, aos pés da cruz) algumas
mulheres, olhando de longe. Entre elas, Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, o
Menor, e de José, e Salomé. Elas o seguiam e serviam enquanto esteve na
Galiléia. “E ainda muitas outras que subiram com ele para Jerusalém”. (Mc
15,40-41; Mt 27,55-56; Lc 23,49; Jo 19,25). Para o embalsamamento do corpo do
Senhor morto no sepulcro, quem se habilitou? Os homens? Não! As mulheres: “Passado o sábado, Maria Madalena e Maria
mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas par ir ungi-lo. De madrugada, no
primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol”. (Mc 16,1-8;
Mt 28,1-8; Lc 24,1-10; Jo 20,1-2).
E os homens,
também seguidores de Jesus, Pedro, o primeiro Papa, e os apóstolos, onde
estavam? Covardemente abandonaram Jesus, fugiram, e o deixaram só: “Então, abandonando-o, fugiram todos”.
(Mc 14,50). Para quem Jesus se manifestou primeiro depois de sua ressurreição?
Quais foram as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus, senão as
mulheres, discípulas de Jesus? Mateus
diz o seguinte: “De repente, Jesus foi ao
encontro delas, e disse: ‘Alegrem-se’! As mulheres se aproximaram e se
ajoelharam diante de Jesus, abraçando seus pés. Então Jesus disse a elas: ‘Não
tenham medo. Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia. Lá eles me
verão”. (Mt 28,9-10). Marcos diz: “Depois de ressuscitar na madrugada do
primeiro dia após o sábado, Jesus apareceu primeiro à Maria Madalena, da qual
havia expulsado sete demônios. Ela foi anunciar isso aos seguidores de Jesus,
que estavam de luto e chorando”. (Mc 16,9-10).
E o pior disso
tudo, ainda, é que os homens, discípulos que estavam de luto e chorando,
escondidos e acovardados de medo dos judeus, não quiseram acreditar em Maria Madalena: “Quando ouviram que ele estava vivo e fora
visto por ela, não quiseram acreditar”. (Mc 16,11).
Lucas, depois
de as mulheres terem estado no sepulcro e terem a visão de dois anjos que lhes
anunciaram a ressurreição de Jesus, diz o seguinte a respeito das mulheres: “Voltaram ao túmulo, e anunciaram tudo isso
aos onze, bem como a todos os outros. Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe
de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas contaram essas coisas
aos apóstolos. Contudo, os apóstolos acharam que eram tolices o que as mulheres
contavam e não acreditaram nelas”. (Lc 24,9-11).
João narra: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena
vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra
fora retirada do sepulcro. Corre então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo
que Jesus amava, e lhes diz: ‘Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde
o colocaram”. (Jo 20,1-2); “Dizendo
isso, voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não sabia que era Jesus. Jesus lhe diz:
‘Mulher, porque choras? A quem procuras? ‘ Pensando ser ele o jardineiro, ela
lhe diz: ‘Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste e eu o irei
buscar!’ Diz-lhe Jesus: ‘Maria!’ Voltando-se, ela lhe diz em hebraico:
‘Rabboni’, que quer dizer ‘Mestre’. Jesus lhe diz: ‘Não me retenhas, pois ainda
não subi ao Pai, a meu Deus e vosso Deus’. Maria foi anunciar aos discípulos:
‘Vi o Senhor’, e as coisas que ele lhes disse”. (Jo 20,14-18).
Por vontade do
próprio Jesus, várias mulheres estão de fato na primeira fila do testemunho
apostólico, são as primeiras missionárias de Jesus.
E o que dizer
da mulher pega em flagrante adultério e apresentada a Jesus? O que dizer da
adúltera apresentada à Jesus? Pela Lei
de Moisés e dos judeus tanto o homem como a mulher que fossem pegos nessa
situação deveriam ser mortos, conforme prevê o livro do Deuteronômio 22,22: “Se um homem for pego em flagrante tendo
relações sexuais com uma mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem como
a mulher. Deste modo você eliminará o mal de Israel”. Mas isso não
aconteceu quando apresentaram a mulher adúltera para Jesus, que “foi surpreendida em adultério” (sozinha?). Se foi surpreendida em adultério, deveria
haver um parceiro em cena; onde estava o homem que cometera adultério com a
mulher? Então vemos que o homem estava isento de qualquer responsabilidade e
acima da Lei; somente a mulher era culpada e merecia punição, e Jesus sabia
disso e não perdeu tempo em perguntar pelo homem.
Qual foi a
atitude de Jesus diante dos anciãos, sacerdotes, escribas, doutores da lei e
todo o povo? Jesus reconhece que a mulher pecara, trata-a como pecadora, mas
com amor, compreensão e misericórdia: “Eu
também não te condeno. Vai em paz e não peques mais”. (Jo 8,2-11).
Paulo,
Apóstolo, nos diz na carta aos Gálatas: “De
fato, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois
todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há
mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e
mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo.” (Gl 3,26-28).
Será que hoje,
realmente, na nossa Igreja, principalmente no que diz respeito à mulher, está
acontecendo isso?
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