sábado, 21 de julho de 2018

SANTA MARIA MADALENA – DISCÍPULA DE JESUS

SANTA MARIA MADALENA – DISCÍPULA DE JESUS

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O que os Evangelhos falam sobre Maria Madalena:
Os Evangelhos apresentam Maria Madalena como:
ü  - Discípula de Jesus (Lc. 8,1-3)
ü  - A mulher de quem Jesus expulsou sete demônios (Mc. 16,9; Lc. 8,2);
ü  - Uma das mulheres que ajudaram Jesus e seus discípulos enquanto estes pregavam o evangelho (Lc 8,1-3)
ü  - Uma das muitas outras mulheres que seguiram Jesus desde a Galiléia quando ele foi para Jerusalém no final do seu ministério e foi testemunha da sua crucifixão (Mc. 15,40-41; Mt. 27,55-56; Lc. 23,49; Jo 19,25)
ü  - Ela e outras mulheres seguiram de longe os acontecimentos quando Jesus foi levado para ser crucificado, (Mt 27,55-56; Mc 15,40-41; Jo 13,25)
ü  - Quando Jesus foi sepultado, foi uma das mulheres que observou o lugar onde o corpo foi posto (Mc 15,45-47; Mt 27,61)

ü  - Ela e outras mulheres foram ao túmulo no primeiro dia da semana para embalsamar o corpo de Jesus (Mc 16,1-2; Mt 28,1)
ü  - Levou perfumes para ungir o corpo do Senhor no sepulcro (Mt. 28,1; Mc. 16,1-2; Lc. 24,1; Jo 20,1); - Foi uma das primeiras a receber a notícia da ressurreição quando um anjo falou às mulheres perto do túmulo aberto, portanto, testemunha da sua ressurreição (Mc. 16,1 - 8; Mt 28,1 - 10; Lc. 24,1 - 10; Jo. 20,1; 20,11 - 8)
ü  - Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver Jesus depois da ressurreição (Mt 28:8-10; Mc 16,9; Jo 20:13-18)
ü  - Anunciou a boa notícia da ressurreição aos discípulos (Lc 24,9-10) - Foi enviada aos Onze com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17 - 18). Maria Madalena é citada dezoito vezes nos Evangelhos, além de ser a mulher mais citada pelo próprio nome. 
Além disso, ela aparece sempre realizando funções muito importantes para as origens do Cristianismo. Chama a atenção o fato de Maria Madalena ser citada, entre as mulheres em primeiro lugar em todos estes textos.  A única exceção é Jo 19,25, onde a mãe de Jesus aparece em primeiro lugar.
A citação de Maria Madalena em primeiro lugar parece indicar sua liderança no grupo das discípulas de Jesus.

O que os Evangelhos não falam sobre Maria Madalena:
Não diz que Maria Madalena era a pecadora citada em Lucas 7,36-50.
ü  - Não diz que era a mesma Maria, irmã de Marta e Lázaro. - Não sugere nenhum tipo de relacionamento especial ou íntimo entre Jesus e Maria. Sempre fala de Maria junto com outras mulheres.
ü  - Depois da ascensão de Jesus, a Bíblia nunca mais menciona o nome de Maria Madalena.

Quem é Maria Madalena:
Maria Madalena pode-se dizer, era de origem judaica, mas não foi definida como outras mulheres dos Evangelhos Canônicos, ou seja, pela família, mas por sua cidade de origem.
O fato que intriga, e que talvez tenha gerado ao longo desses dois milênios de cristianismo tantas hipóteses e construções fantasiosas sobre Maria Madalena, é que ela não aparece como filha, esposa ou irmã de nenhum homem.
Essa independência feminina em uma sociedade dominada por homens tem intrigado muitos pesquisadores. Todas as Marias que aparecem nos Evangelhos são reconhecidas por suas famílias: Maria mãe de Jesus; Maria de Cléofas; Maria irmã de Marta e de Lázaro.

E Maria de Magdala?
Madalena não é sobrenome, provinha de el-Mejdel, que era uma cidade a noroeste do lago da Galiléia, seis quilômetros ao norte de Tiberíades, lugar onde Madalena pode ter nascido ou residia.
É no Evangelho de Lucas que Maria Madalena aparece como a mulher que seguia Jesus e de quem são expulsos sete espíritos malignos (Lc 8,2).
Há um aspecto interessante nessa passagem, pois não é um demônio, nem uma legião de demônios que são expulsos, porém sete: “Sete é o número da salvação e do que é divino”. São também sete os pecados capitais: gula, luxúria, ira, orgulho, vaidade, preguiça e inveja.
Se fizermos uma associação dos sete demônios expulsos por Jesus de Maria Madalena e dos sete pecados capitais, pode-se dizer que o que houve foi uma total libertação dessa mulher; aconteceu sua salvação integral, uma Metanoia [1], não apenas uma conversão.
Pecado e possessão demoníaca eram coisas diferentes. Naquela época, a possessão demoníaca era entendida essencialmente como uma enfermidade, não acentuava os aspectos morais, não era considerada como um pecado.
Em uma interpretação mais literal, pode-se dizer que aconteceu, naquele momento da expulsão dos sete demônios, não um simples arrependimento dos pecados, mas a imersão em uma vida autêntica e redimida; Maria Madalena emergiu de uma vida de escravidão para uma libertação.
Mas por que se associa Maria Madalena sempre a uma pecadora arrependida e não a uma mulher que foi reconciliada? Pois a Maria Madalena histórica, aquela que está nos quatro Evangelhos Canônicos, é testemunha do sacrifício, morte e Ressurreição de Jesus; mulher que seguiu como discípula e serviu a Jesus de Nazaré.
Há exegetas que fazem essa associação, Maria Madalena/pecadora arrependida, porque há um relato anterior ao episódio da expulsão dos demônios (Lc 8,2), em que uma pecadora anônima unge os pés de Jesus na casa de Simão, o fariseu, e é perdoada por Jesus (Lc 7,37-50).
A proximidade desses fatos favoreceu a associação das duas mulheres, ou seja, Maria Madalena e a pecadora anônima, que não tem nada haver entre si.
Como há, no Evangelho de João, a unção de Betânia, e nele é Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que unge Jesus (Jo 12,1-8), as três mulheres se tornaram apenas uma: Maria Madalena.
Em suma, é essa Madalena que muitos historiadores denominam mulher híbrida, a saber: Maria, irmã de Marta e de Lázaro (Jo 12,1-8); - a pecadora anônima que ungiu Jesus na casa de Simão, o fariseu (Lc 7,37-50) e a mulher adútera apresentada a Jesus pelos anciãos e por ele perdoada (Jo 8,1-11) e Maria Madalena, de quem Jesus expulsou sete demônios (Lc 8,2).
A confusão da identidade das três mulheres remonta ao Século III, e foi no final do Século VI que o Papa Gregório Magno (540-604) pôs fim à questão ao declarar que Maria Madalena, Maria de Betânia (Jo 12,1-8) e a pecadora anônima eram a mesma pessoa.
Apesar de muitos séculos terem se passado e a visão de Madalena ter mudado para a Igreja, essa declaração de Gregório Magno ainda suscita discussões.
De acordo com os relatos dos Evangelhos, nada há contra a moral de Maria Madalena, pois estar possuído por sete demônios não era considerado pecado.
Ao se fazer uma leitura atenta dos fatos, não se chega à conclusão de que Maria Madalena tenha sido uma mulher adúltera.
O que acontece é que, ao ser identificada com a pecadora anônima de Lucas e com Maria de Betânia, incorpora a mulher de cabelos longos e soltos que serviram para secar os pés de Jesus. Essa imagem evoca a feminilidade e também a sexualidade, que induz a uma associação com o pecado.
Hoje a Igreja reconhece em Maria Madalena a mulher de quem Jesus expulsou sete demônios; a que seguiu e serviu Jesus nas pregações; a que acompanhou a Paixão e a morte de Jesus e como a primeira testemunha da Ressurreição.
O que os evangelhos nos trazem sobre Maria Madalena é que seguia Jesus. Estava presente na crucificação e foi testemunha, de acordo com o evangelho de João, da ressurreição, sendo a primeira com a missão de proclamar a boa noticia.
Maria Madalena foi à portadora do anúncio que Cristo havia ressuscitado.
Normalmente, repito, as mulheres nos evangelhos são lembradas como mãe, mulher e filha de alguém, um costume da sociedade patriarcal. Porém, Maria Madalena aparece sem pertencer a nenhum homem. Pelos evangelhos não é possível descrever sua vida familiar.
Não podendo descrevê-la como uma mulher jovem ou solteira, viúva ou repudiada, ou se ela preferiu ficar solteira como algumas mulheres influenciadas pelo helenismo, optando pela liberdade.
Maria Madalena devia possuir alguma riqueza. Após ser curada por Jesus, tornou-se sua discípula fiel e inseparável, e o acompanhava em seu ministério, com outros discípulos/as.
Pela forma como é nomeada, parece que possuía uma situação familiar diferente em seu tempo. Provavelmente fosse uma mulher solteira e independente.
Ainda que sejam escassas as informações sobre Maria Madalena, seu nome aparece mais vezes que outras mulheres no Novo Testamento e geralmente em primeiro lugar.

Maria Madalena é a pecadora?
Teriam interpretado mal a expressão “Maria Madalena, da qual haviam saído sete demônios”? (Lc 8,2) Esta expressão, que aparece somente em Lucas e no apêndice de Marcos (Lc 8,2; Mc 16,9), criou uma série de preconceitos contra Maria Madalena.
Mas para o Evangelho de Lucas, a possessão não significa pecado e, sim, doença. O número 7, sempre simbólico, parece indicar a gravidade da situação.
Dentro do contexto de Lucas, podemos interpretar que Maria Madalena padecia de uma grave doença nervosa ou psicossomática.
No encontro com Jesus, ela recupera a harmonia interior e entra em um processo de crescimento e amadurecimento pessoal até atingir a plenitude do seu ser na experiência pascal.
Aquela mulher anônima do episódio narrado por Lc 7,36-50 passou a ser identificada com as mulheres anônimas que ungiram Jesus para a sepultura (Mc 14,3-9 e Mt 26,6-13). Uma leitura atenta destes textos vai mostrar que os ritos que realizam são diferentes.
No texto de Lucas, o próprio narrador trata de esclarecer que se trata de um rito de acolhida e coloca esta explicação no diálogo de Jesus com Simão.
Nos Evangelhos de Marcos e de Mateus, o rito está situado no contexto da Páscoa. Marcos faz questão de informar que faltavam apenas dois dias para a Páscoa e os Ázimos (Mc 14,1).
Mostra que o contexto era conflitivo, pois a execução de Jesus já estava decidida: “os chefes dos sacerdotes e os fariseus apenas procuravam um ardil para matá-lo” (Mc 14,1b). É justamente neste contexto que está a unção de Jesus, feita por uma mulher anônima (Mc 14,3-9).
O texto de Marcos está muito próximo do texto de João 12,1-8. Tanto Marcos como João contam que o perfume derramado pela mulher no corpo de Jesus era nardo puro (Mc 14,3 e Jo 12,3).
Marcos informa ainda que este episódio da unção para a sepultura passou-se em Betânia (Mc 14,3). Tudo isso parece ligar os textos de Marcos, Mateus e João (Mc 14,3-9; Mt 26,6-13 e Jo 12,1-8) e ajuda a compreender a importância desde ritual. Sua protagonista parece ser Maria de Betânia, a irmã de Marta e de Lázaro. O gesto de unção de Jesus para a sepultura é ao mesmo tempo profético e solidário com seu projeto e sua entrega sem limites.

Maria Madalena no sepulcro de Jesus.
Depois que Pedro e João conferiram o sepulcro e constataram a ausência do corpo de Jesus (Jo 20,4-10; Lc 24,12), Maria Madalena permaneceu no jardim, procurando Jesus, depois que Pedro e o outro discípulo foram embora. Ela chorava angustiada e confundiu Jesus com o jardineiro.
No entanto, Maria Madalena o reconhece imediatamente quando Jesus a chama pelo nome.
Em toda a Bíblia, chamar pelo nome faz parte dos relatos de missão. Às vezes, acontece mudar o nome, para indicar a missão que a pessoa vai realizar.
Mas, em Jo 20,16, Jesus a chama pelo nome com que sempre a havia chamado - talvez do mesmo jeito e com o mesmo tom de voz. 
E provavelmente Maria responde também da maneira como sempre o tratou: Rabuni.
Sem pretender ser fundamentalista, quero mostrar como neste relato simbólico se revela a importância da missão de Maria Madalena nas primeiras comunidades cristãs: Maria é chamada pelo nome;
ü  - Reconhece imediatamente a voz de Jesus;
ü  - Chama-o de Mestre em aramaico;
ü  - Depois, é enviada por Jesus com uma mensagem para os outros discípulos.
Da maneira como este episódio é descrito, parece um evento de fundação, no qual Maria Madalena foi investida de autoridade.

Sobre Maria Madalena.
Maria Madalena foi a mulher de quem Jesus expulsou sete demônios (Mc. 16,9; Lc. 8,2);
ü  - que acompanhava e servia Jesus na Galiléia (Lc. 8,2);
ü  - que acompanhou Jesus até a Judéia pouco antes da Paixão (Mt. 27,55; Mc. 15,41);
ü  - que ficou diante da Cruz (Mt. 27,55; Mc. 15,41; Jo. 13,25);
ü  - que levou perfumes para ungir o corpo do Senhor no sepulcro (Mt. 28,1; Mc. 16,1-2; Lc. 24,1; Jo 20,1);
ü  - que viu pessoalmente o Senhor ressuscitado (Mc 16,9); e que foi enviada aos apóstolos pelo Senhor (Jo. 20,17).

Sobre Maria, irmã de Marta e Lázaro.
Maria, irmã de Marta e Lázaro, também chamada de Maria de Betânia, era a mulher que ouvia as palavras do Senhor enquanto sua irmã, Marta, trabalhava arduamente (Lc. 10,38-42);
ü  - que esteve presente durante a ressurreição de seu irmão Lázaro (Jo. 11,1-2); e que ungiu os pés do Senhor alguns dias antes da Páscoa (Jo. 12,3-8).

Sobre a mulher pecadora anônima em Lucas 7,36-50.
Além, destas duas Marias, lemos em Lc 7,36-50 que "uma mulher de má fama" ungiu o Senhor. Repare-se que o evangelista não citou seu nome.
Quem seria, portanto? Seria Maria de Betânia, tendo em vista a informação de Jo. 12,3-8?
Não! Porque a unção de Jo 12,3-8 se deu na casa de Lázaro/Marta/Maria, em Betânia, empregando-se nardo; enquanto que a de Lc 7,36-50 se deu na casa de Simão, o fariseu, sendo que a pecadora empregou as próprias lágrimas que lhe caíram do rosto e alabastro. Logo, se tratando de dois episódios distintos e independentes, distintas e independentes são as personagens.
Seria, então, Maria Madalena, já que esta foi citada logo depois (Lc. 8,2) do episódio, nominalmente, como uma das mulheres que acompanhavam Jesus e era endemoniada (pecadora)?
Ora, o fato de ter sido endemoniada, não significa que era pecadora (até porque todos são pecadores, mas nem todos são endemoniados!), muito menos a específica pecadora de Lc 7, que o evangelista fez questão de manter o anonimato e não afirmou que era também endemoniada! Logo, muito provavelmente não se tratava de Maria Madalena. 
E quem era? Não sabemos, pois nem os Evangelhos, nem a tradição lhe conservaram o nome! Basta, pois, chamá-la de "a pecadora anônima".

Sobre a mulher adúltera em João 8,3-12.
E quanto à mulher adúltera de João 8,3-12? Também não lhe sabemos o nome; apenas que "era pecadora". Ora, o fato de a mulher adúltera ser pecadora, não tem o condão de transformá-la, arbitrariamente, na Maria Madalena. Trata-se, assim, de uma quarta pessoa.
Como quer que seja, e voltando o foco para Maria Madalena, a grande lição que a Bíblia e a tradição oferecem sobre ela (mesmo quando um ou outro teólogo adota o entendimento minoritário) é que ela foi uma grande convertida ao Evangelho, a ponto de poder ser considerada pelos católicos como grande exemplo de serviço e "padroeira dos convertidos".

Maria Madalena ignorada fora dos Evangelhos.
A pesquisa sobre Maria Madalena nos Evangelhos canônicos leva à frustração, pelo escasso número de dados que revelam a identidade dessa mulher. Ela também não é citada nos Atos dos Apóstolos, nas Epístolas, nem no Apocalipse de João, mesmo tendo sido citada, enquanto personagem híbrido, dezoito vezes nos Evangelhos.
Maria Madalena vai desaparecer nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas.
Nem Paulo, naturalmente, nem Pedro nada falam sobre ela.
Mesmo João não acreditou na importância de falar sobre ela nas suas cartas, nem no Apocalipse.  Para todos aqueles que seguem, ela inexiste.
Da Maria Madalena que se conhece através dos Evangelhos canônicos, porém, não há registros de suas falas ou de algum diálogo, salvo em João, quando fala a Simão e a outro discípulo que “retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos aonde o colocaram” e quando anuncia “Vi o Senhor” após o breve diálogo com Jesus ressuscitado no jardim do sepulcro vazio (Jo 20, 2.18), mas é desacreditada pelos apóstolos (Mc 16,11).
São comemorados também nesta data: São José da Palestina, São Cirilo de Antioquia (bispo), São Menelau de Ménat (abade), São Pancário de Besançon (mártir), Santos Felipe Evans e João Lloyd (presbíteros e mártires).


[1] 1 Metanoeó, um verbo bastante neutro em grego profano: “mudar posteriormente, mudar de idéia, ter remorso”. Na Bíblia, exprime a conversão religiosa e moral. Seu campo léxico no N.T. associa-o à fé ( Mc 1,15), ao batismo (At 2,38) e ao perdão dos pecados (Lc 7,13). A conversão (metanoia) está ainda ligada ao retorno (At 3,19, com epistrephó) (cf. Wénin, 2004, p. 457). 2 As referências bíblicas deste texto são da Bíblia de Jerusalém.


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