“QUEM É FIEL NAS PEQUENAS
COISAS TAMBÉM É FIEL NAS GRANDES”. (Lc 16,10)
Diácono Milton Restivo
A primeira
leitura da liturgia de hoje nos leva ao tempo dos desmandos das autoridades
civis, judiciárias, militares e religiosas no reino de Israel do tempo do
profeta Amós.
O Profeta Amós nasceu
em Técoa, uma aldeia a dez quilômetros ao sul de Belém. Era pastor, sem nenhum
estudo teológico, e dele nada sabemos até o momento de sua chamada por Yahweh.
Amós viveu num período de grande riqueza e,
ao mesmo tempo de grande desmando e imoralidade reinante entre o povo de Israel.
O rei de Israel, Jeroboão II, conseguira
restaurar as fronteiras do reino do norte; havia riqueza e abundância no seu
reino, resultantes dos despojos de guerra e de negócios vantajosos feitos com
Damasco e com principados ao norte e ao nordeste.
Contudo, juntamente com a prosperidade, da
qual a classe baixa, como acontece ainda hoje, não participou em nada, havia um
materialismo dominante, caracterizando-se pela exploração dos pobres e
imoralidade entre os ricos, que tentavam aplacar a ira de Yahweh com
cerimoniais vazios e reuniões de louvações sem sentido, como acontece ainda
hoje.
Amós negava ser profeta e trabalhava
como cultivador de sicômoros (árvores que fornecem madeira para marcenaria e
construções) e criador de gados: “Eu não
sou profeta, nem discípulo de profeta. Eu sou criador de gado e cultivador de
sicômoros”. (Am 7,14).
Amós era um
leigo humilde, trabalhador e seminômade e não pertencia à classe profética.
Sua vida tranquila
foi perturbada por uma série de visões que o levaram à conclusão hesitante de
que Israel estava prestes a ser aniquilado como nação, a despeito de afirmar-se
sob a perpétua proteção de Yahweh.
Amós recusou-se
de ser chamado profeta, embora admitindo ter sido forçado a entrar no
ministério profético por chamamento divino: “Foi
Yahweh quem me tirou de trás do rebanho, e me ordenou: ‘Vá profetizar ao meu
povo Israel”. (Am 7,15).
Amós teve uma missão difícil. Como
pastor de ovelhas que era em Judá, no Reino do Sul, foi enviado por Deus para a
nação de Israel, Reino do Norte, durante o reinado próspero do rei Jeroboão II,
para alertar aquele povo que Yahweh estava descontente com aquela nação e
prestes a destruí-la.
Para as autoridades civis, militares e
religiosas de Israel, a pregação de Amós parecia ridícula. Como poderia
uma nação forte, como era Israel na oportunidade, vivendo na opulência e
luxúria do poder civil, militar e religioso, ser tão rapidamente
destruída? O povo ficou perturbado pela sombria mensagem deste pregador
estrangeiro. Até mesmo os líderes religiosos, que deveriam compartilhar a
nobre missão de Amós, rejeitaram-no, assim como também a sua pregação.
O sumo sacerdote de Betel, Amasias, tentou
expulsar Amós do seu país e induzi-lo a abandonar a sua vocação profética, dizendo
a Amós que voltasse para seu próprio país, Judá, e que nunca mais profetizasse
em Israel: “Então Amasias disse a Amós:
‘Vidente, vá embora daqui. Retire-se para a terra de Judá. Vá ganhar a sua vida
fazendo lá as suas profecias. Não me venha mais fazer profecias em Betel, pois
isso aqui é o santuário do rei, e é templo do reino” (Am 7,12-13), tendo
Amós enfrentado a situação com coragem e determinação, e respondido: “Eu não sou profeta, nem discípulo de
profeta. Eu sou criador de gado e cultivador de sicômoros. Foi Yahweh que me
tirou de trás do rebanho e me ordenou: ‘Vá profetizar ao meu povo Israel’. Pois
bem, escute agora a palavra de Yahweh! Você está dizendo: ‘Não profetize contra
Israel, não despeje suas palavras contra a casa de Isaac’. Pois bem, assim diz
Yahweh: ‘A sua mulher vai se tornar a prostituta da cidade; seus filhos e suas
filhas vão morrer a golpe de espada; sua terra será repartida na corda, e você
mesmo irá morrer em terra estrangeira. E Israel será levado para o exílio,
longe de sua terra”. (Am 7,14-16).
O sumo
sacerdote Amasias não deu tréguas a Amós, ameaçando-o, perseguindo-o e acusando-o
de conspiração contra o rei Jeroboão II.
A adoração ao
ídolo do deus Baal dos cananeus foi incorporada no culto de Israel com a
permissão do rei Jeroboão II e o incentivo do sumo sacerdote Amasias fez da religião
cananéia, contemporânea do profeta Amós, a religião mais corrupta que havia no
Oriente Próximo. A prostituição ritual fazia parte desse culto. Alcoolismo,
violência, grosseira sensualidade e idolatria eram fatores constantes.
Israel
participava dessa corrupção e Amós não poupou advertências e condenações às
mulheres, a quem chamou de “vacas” que se entregavam à prostituição ritual e a
todos os que denegriam o culto a Yahweh, corrompendo totalmente o ideal do
monoteísmo: “Escutem essa palavra, vacas
de Basã, que moram no monte de Samaria: vocês que oprimem os fracos, maltratam
os necessitados, e dizem aos seus maridos: ‘Tragam algo para beber.’ O Senhor
Yahweh jura por sua santidade que para vocês há de chegar o dia em que serão
carregadas com ganchos e seus filhos em arpões.” (Am 4,1-2).
A degradação
geral degenerou para a injustiça judicial e social, onde os ricos exploravam os
pobres, produzindo um virtual estado escravocrata, os ricos explorando e
escravizando os menos afortunados.
Em face dessa
situação vivida pelo profeta Amós em Israel, poderíamos perguntar hoje: onde
estão os “profetas Amós” dos nossos dias e na Igreja de hoje? Seriam eles
bem-vindos nas comunidades acomodadas e hipócritas onde, em muitos lugares,
reinam a injustiça e a opressão? Seriam aceitos nas comunidades onde há
pretensos fieis que se julgam donos da Igreja, bajuladores de ministros
ordenados e difamadores da vida alheia?
O que aconteceu
com os profetas que deveriam denunciar os desmandos das autoridades civis,
militares, religiosas, que tanto escravizam o povo simples, humilde e pobre,
muitas vezes favorecendo ao rico em detrimento da classe menos favorecida?
Pedro, João Tiago, Paulo, seriam bem recebidos hoje nas nossas comunidades? E
João Batista, com suas roupas fora de moda, costume alimentar esquisito e seu
jeito de falar contundente, teria lugar nos púlpitos das igrejas cristãs?
Jesus, o Profeta dos profetas, rejeitado que foi pelos líderes religiosos de
sua época, como seria aceito pelos líderes religiosos dos nossos dias?
Hoje,
possivelmente, tenhamos muitos oradores religiosos conhecedores da teologia e
das Sagradas Escrituras, que se vestem bem, aparência sempre apresentável, que
falam bonito e emocionam os seus ouvintes, mas que estão mais preocupados com
os elogios que receberão pela sua oratória do que demonstrar pela sua vivência
os ensinamentos que transmitem das tribunas e púlpitos. Falam bonito, mas não
vivem bonito; suas vidas contrariam os seus ensinamentos.
Amós foi fiel ao seu chamado à vocação
profética e testemunha contra a tentativa das autoridades em silenciá-lo: “Foi Yahweh que me tirou de trás do rebanho e me ordenou: ‘Vá profetizar
ao meu povo Israel’. Pois bem, escute agora a palavra de Yahweh! Você está
dizendo: ‘Não profetize contra Israel, não despeje suas palavras contra a casa
de Isaac’ (Am 7,15-16), e denuncia
as autoridades civis, judiciárias e militares que subornavam as corruptas
autoridades religiosas para fazerem calar os profetas: “No entanto, vocês embriagaram os homens consagrados e taparam a boca
dos profetas”. (Am 2,12).
Amós era um
homem só, sem apoio, sem currículo, sem autoridade humana, sem formação
acadêmica e teológica, sem título de nobreza, apenas um vaqueiro ou pastor ou
agricultor que trabalhava para seu sustento e, nas horas vagas, plantava
sicômoros para completar o salário para os gastos domésticos, mais nada; foi esse
homem que Deus escolheu, e Amós foi esse homem que cumpriu a incumbência
recebida.
A primeira
leitura, tirada do livro de Amós, 8,4-7, dispensa comentários.
O Salmo
responsorial é um hino de louvor a Yahweh pela sua misteriosa grandeza.
O salmista
deixa claro que Yahweh se torna presente no meio de seu povo para fazer
justiça: liberta os pobres e os fracos dando-lhes dignidade: “Ele ergue da poeira o fraco e tira do lixo
o indigente, fazendo-o sentar-se com os príncipes do seu povo.” (Sl 113
(112), 7-8).
Na segunda
leitura Paulo orienta Timóteo para que instrua a sua comunidade na
responsabilidade que tem para rezar pelas autoridades porque, sendo as
autoridades justas e responsáveis, dignas e honestas o povo tem mais segurança,
mais justiça, mais condições de vida digna, para que não se repita o acontecido
no tempo do profeta Amós: “Caríssimo,
antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de
graças por todos os homens; pelos que governam e todos os que ocupam altos
cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda
piedade e dignidade. Isso e bom e agradável a Deus, nosso salvador”. (1Tm
2,1-3).
No Evangelho
desta liturgia Jesus fala sobre quem é muito mais inteligente nas coisas
materiais do que nas preocupações das coisas de Deus: Jesus narra uma parábola que
ficou conhecida como a parábola do administrador infiel.
A parábola do
administrador, neste caso infiel, foi contada por Jesus aos seus discípulos e
nela Jesus apresenta princípios fundamentais que se referem aos discípulos de
todos os tempos, pois todos são administradores incumbidos de cuidar da
propriedade de Deus.
É uma parábola
muito difícil, senão a mais difícil de ser entendida, porque apresenta pontos
de difícil compreensão: parece aprovar a desonestidade e a perversidade. Mas,
quando a entendemos sob a luz da revelação, ela se torna repleta de instruções
para nossa vida.
Jesus começa a
parábola dizendo: “Um homem rico tinha um
administrador”. (Lc 16,1).
Quem é o
patrão, o homem rico? O Pai. Quem é o administrador? Cada um de nós.
A nossa vida
não é nossa, a nossa família não é nossa, os nossos bens não são nossos: são
todos do Pai que nos elege como administradores dos seus bens. Tudo recebemos
de Deus e, um dia, tudo devolveremos ao Pai, como disse Jó: “Nu sai do ventre de minha mãe, e nu para
ele voltarei. Yahweh me deu tudo e Yahweh tudo me tirou. Bendito seja o nome de
Yahweh”. (Jó 1,21).
Disse um antigo
filósofo: “A vida
não é dada a ninguém em propriedade, mas
a todos em administração” (Sêneca). Mas, como muitos de nós, o
administrador da parábola não foi fiel; pelo contrário, “foi acusado de esbanjar os seus bens”, os bens que havia recebido
do Pai que foram esbanjados indevidamente como a saúde, a liberdade, a
oportunidade de viver em harmonia com todos os demais filhos do Pai.
O patrão, ao ver seus bens
dilapidados pelo administrador, o chamou e lhe pediu satisfações: “Que é isso que ouço a teu respeito? Presta
contas de tua administração, pois já não podes mais administrar os meus bens”. (Lc
16,2). O administrador compreendeu que caira em desgraça com o seu senhor por
não lhe ter sido fiel e, bem por isso, acabara de ser despedido pelo seu
senhor.
O administrador fora ingrato e não
soubera valorizar o emprego e as possíveis facilidades de uma vida confortável
que aquele emprego lhe facultava; caiu na real de que as perspectivas futuras
de sua vida seriam tristes. Ele jamais conseguiria outro emprego como aquele e,
se fosse procurar outro patrão, suas referências não seriam das melhores e
pior, teria que trabalhar o dobro para ter a vida que estava perdendo com a
perda desse emprego.
Pior ainda: na impossibilidade de
arrumar outro emprego, possivelmente teria que mendigar: “O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não
tenho forças; de mendigar, tenho vergonha”. (Lc 16,3). Então, planejou uma
saída, própria dos sábios das coisas do mundo ou daqueles que querem ludibriar
a boa fé dos incautos: “Ah! Já sei o que
vou fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da
administração”. (Lc 16,4).
Na tentativa de fazer média e passar
por “bonzinho” diante dos devedores de seu patrão, outros infiéis como ele, o
administrador infiel engendrou um plano que favorecia os devedores às custas
dos bens do patrão, ou seja, continuaria roubando o seu patrão para ser bem
visto na sociedade: “Então ele chamou
cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto
deves ao meu patrão?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo’. O administrador
disse: ‘Pega a tua conta, senta-te depressa e escreve cincoenta.’ Depois ele
perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’.
O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve oitenta’.” (Lc 16,5-7).
Quantos administradores infiéis
sempre tivemos no nosso meio, quando não, nós mesmos os somos. Para nos
safarmos de situações difíceis e constrangedoras que nós mesmos criamos,
queremos fazer bonito com as coisas dos outros, quando não, com as coisas do
Pai. Isso sem falar dos bens que o Pai nos cumula, ou dos bens que pertencem ao
povo por ter pago com sacrifício os impostos exigidos por lei e que deveriam
ser revertidos em benfeitorias como habitação, saúde, educação, alimentação,
transporte, melhorias de bens públicos e que são roubados pelos administradores
que foram escolhidos pelo próprio povo para gerir os seus bens, sendo colocados
o dinheiro dos necessitados nas bolsas, nas meias, nas cuecas e, muitas vezes,
desviados para paraísos fiscais, julgando que ficarão impunes dessa
infidelidade.
São os administradores infiéis. Se
roubam de Deus, não roubariam do povo?
A consciência está entorpecida, se é
que existe, ainda, consciência.
A negociação que o administrador
infiel fez com os devedores de seu patrão revela seu verdadeiro caráter, mostra
claramente a sua índole desonesta.
O que vem a seguir pode deixar o
leitor chocado: o elogio do patrão ao administrador desonesto: “E o senhor elogiou o administrador
desonesto, porque ele agiu com esperteza”. (Lc 16,8a). Como é possível
aceitar essa aprovação de uma prática desonesta nos negócios?
Devemos entender o seguinte: nem
o senhor do administrador, nem Jesus elogiaram a atitude desonesta em si. Primeiro porque
foi esse o motivo da demissão do administrador. Nenhuma pessoa honesta poderia
aprovar tal atitude.
Esta parábola
não nos ensina que há justificativa para uma fraude. Somente em uma atitude o administrador
infiel poderia ser elogiado: no fato de haver se precavido para o futuro. Ele
tomou providências que lhe garantissem amigos que lhe ajudariam depois de perder
o emprego. Ele agiu pensando no futuro e não no presente. Aqui está o principal
ensino desta parábola. Não é assim que os administradores infiéis agem? Não
importa quão condenável tenha sido a sua atitude contra quem quer que seja,
desde que isso lhe traga proveito para o futuro, como aumentar a sua renda, a
sua riqueza, os seus bens, a sua estabilidade, a sua mordomia. Por isso fazem
as suas tramóias procurando sempre acumular bens materiais, juntando dinheiro
para garantir uma situação confortável no futuro. Quanto a isso os filhos das
trevas são mais sábios que os servos de Deus.
É que os filhos
das trevas têm as coisas diante dos seus olhos e os filhos de Deus precisam da
fé para impulsioná-los. Para um filho de Deus o futuro significa a eternidade,
enquanto que, para os filhos do mundo, o futuro não passa da vida material, que
é efêmera. Mas, em questão de esperteza, os filhos da luz têm muito o que
aprender com os filhos das trevas: “Com
efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os
filhos da luz”. (Lc 16,8b).
Esta parábola
ensina, portanto, que as pessoas preocupadas com os bens materiais são mais
sábias e diligentes na preparação do seu futuro aqui na terra do que os filhos
de Deus na preparação do seu futuro para a eternidade. Tudo o que temos e o que
somos, o aprofundamento intelectual, os bens que adquirimos através de trabalho
honesto com empenho e dedicação, são instrumentos que temos na mão para fazer
acontecer entre os irmãos a vivência do amor.
Nas mais
insignificantes coisas que fazemos, demonstramos amor ou desamor.
E Jesus
complementa, dizendo: “Eu digo para
vocês, usem o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles
receberão vocês nas moradas eternas”. (Lc 16,9).
O que
precisamos entender é que todo dinheiro que é acumulado, é sempre injusto. Se
acumulamos mais do que necessitamos, algum irmão está passando necessidade,
porque o que está no nosso cofre, falta para a subsistência desse irmão, e
nisso está subentendido, como já foi dito, moradia, educação, segurança,
justiça, alimentação, dignidade humana, e muito mais.
Sabendo que o
irmão está passando necessidades, não podemos ficar “deitados em berço
esplêndido”. O que nos sobra já não mais nos pertence, deve ser repartido. “Quem é fiel nas pequenas coisas também é
fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes.
Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem confiará a
vocês o verdadeiro bem? E se vocês não são fiéis no que é dos outros, quem dará
a vocês aquilo que é de vocês?” (Lc 16,10-12).
A maneira como
tratamos as coisas materiais, o grau em que a elas estamos apegados, são
indícios de nosso caráter. Jesus deixa isto bem claro quando diz: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é
fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes”.
Quando
Jesus fala “pequenas coisas”, se
refere à administração das coisas materiais.
Os fiéis são
aqueles que usam estas coisas para a glória de Deus e a promoção de seus
semelhantes. Os injustos são os que usam suas possessões para seu próprio
conforto, luxo e prazeres egoístas. Se um homem não pode ser fiel no pouco, na
administração das coisas materiais, como poderá ser ele fiel no muito, na
administração das coisas do Reino de Deus? Se um homem é injusto com as
riquezas de origem duvidosa, como poderá se esperar que seja fiel como seguidor
de Jesus e despenseiro dos mistérios do Senhor? Paulo Apóstolo se coloca como
servidor de Cristo e administrador dos seus bens e incentiva a todos a sê-lo: “Que os homens nos considerem como
servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se
espera dos administradores é que eles sejam dignos de confiança.” (1Cor 4,1).
Finalmente,
Jesus convida a todos a fazer uma escolha definitiva, e deixa claro em não ficar
com os pés em canoas diferentes: “Ninguém
pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se
apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao
dinheiro”. (Lc 16,13). Poderíamos dizer que este versículo é o centro de
todo o capítulo.
Jesus não usa
meio termo ou meia palavra: ele é taxativo, diríamos, até radical. É uma
escolha definitiva porque a adesão à filiação divina é incompatível com ao
apego ao dinheiro. Ou servimos a um, ou ao outro, porque, entre Deus e o
dinheiro existem regras diferentes.
A regra de Deus
é a justiça que cria fraternidade e partilha, para que todos tenham liberdade e
vida. A regra do dinheiro é a injustiça que gera a não-fraternidade, que dá
origem à riqueza que explora, e isso provoca pobreza e até miséria. O dinheiro
gera opressão e exploração que dão origem aos poderosos e ricos ao lado de
fracos e miseráveis.
Iludimos-nos
quando nos apegamos em demasia ao dinheiro, julgando que os bens materiais são
verdadeiras riquezas e nos traz a felicidade sem tomar conhecimento que seu
valor temporal é transitório. A verdadeira riqueza do cristão vem dos
ensinamentos de Jesus e seu valor não pode ser calculado e jamais terá fim.
Jesus não deixa
dúvida: qual a sua escolha? Deus ou o dinheiro? A nossa opção não pode ser
dividida, porque “ou odiará um e amará o
outro, ou se apegará a um e desprezará o outro”.
Quem se apega
aos bens materiais querendo só para si o que deveria ser de todos, já fez a sua
escolha, porque “onde está o teu tesouro
ai estará também o seu coração”. (Mt 6,21).
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