domingo, 22 de setembro de 2019

“QUEM É FIEL NAS PEQUENAS COISAS TAMBÉM É FIEL NAS GRANDES”. (Lc 16,10)

“QUEM É FIEL NAS PEQUENAS COISAS TAMBÉM É FIEL NAS GRANDES”. (Lc 16,10)

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Diácono Milton Restivo

A primeira leitura da liturgia de hoje nos leva ao tempo dos desmandos das autoridades civis, judiciárias, militares e religiosas no reino de Israel do tempo do profeta Amós.
O Profeta Amós nasceu em Técoa, uma aldeia a dez quilômetros ao sul de Belém. Era pastor, sem nenhum estudo teológico, e dele nada sabemos até o momento de sua chamada por Yahweh.
Amós viveu num período de grande riqueza e, ao mesmo tempo de grande desmando e imoralidade reinante entre o povo de Israel.
O rei de Israel, Jeroboão II, conseguira restaurar as fronteiras do reino do norte; havia riqueza e abundância no seu reino, resultantes dos despojos de guerra e de negócios vantajosos feitos com Damasco e com principados ao norte e ao nordeste.

Contudo, juntamente com a prosperidade, da qual a classe baixa, como acontece ainda hoje, não participou em nada, havia um materialismo dominante, caracterizando-se pela exploração dos pobres e imoralidade entre os ricos, que tentavam aplacar a ira de Yahweh com cerimoniais vazios e reuniões de louvações sem sentido, como acontece ainda hoje.
Amós negava ser profeta e trabalhava como cultivador de sicômoros (árvores que fornecem madeira para marcenaria e construções) e criador de gados: “Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta. Eu sou criador de gado e cultivador de sicômoros”. (Am 7,14).
Amós era um leigo humilde, trabalhador e seminômade e não pertencia à classe profética.
Sua vida tranquila foi perturbada por uma série de visões que o levaram à conclusão hesitante de que Israel estava prestes a ser aniquilado como nação, a despeito de afirmar-se sob a perpétua proteção de Yahweh.
Amós recusou-se de ser chamado profeta, embora admitindo ter sido forçado a entrar no ministério profético por chamamento divino: “Foi Yahweh quem me tirou de trás do rebanho, e me ordenou: ‘Vá profetizar ao meu povo Israel”. (Am 7,15). 
Amós teve uma missão difícil. Como pastor de ovelhas que era em Judá, no Reino do Sul, foi enviado por Deus para a nação de Israel, Reino do Norte, durante o reinado próspero do rei Jeroboão II, para alertar aquele povo que Yahweh estava descontente com aquela nação e prestes a destruí-la. 
Para as autoridades civis, militares e religiosas de Israel, a pregação de Amós parecia ridícula. Como poderia uma nação forte, como era Israel na oportunidade, vivendo na opulência e luxúria do poder civil, militar e religioso, ser tão rapidamente destruída? O povo ficou perturbado pela sombria mensagem deste pregador estrangeiro. Até mesmo os líderes religiosos, que deveriam compartilhar a nobre missão de Amós, rejeitaram-no, assim como também a sua pregação. 
O sumo sacerdote de Betel, Amasias, tentou expulsar Amós do seu país e induzi-lo a abandonar a sua vocação profética, dizendo a Amós que voltasse para seu próprio país, Judá, e que nunca mais profetizasse em Israel: “Então Amasias disse a Amós: ‘Vidente, vá embora daqui. Retire-se para a terra de Judá. Vá ganhar a sua vida fazendo lá as suas profecias. Não me venha mais fazer profecias em Betel, pois isso aqui é o santuário do rei, e é templo do reino” (Am 7,12-13), tendo Amós enfrentado a situação com coragem e determinação, e respondido: “Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta. Eu sou criador de gado e cultivador de sicômoros. Foi Yahweh que me tirou de trás do rebanho e me ordenou: ‘Vá profetizar ao meu povo Israel’. Pois bem, escute agora a palavra de Yahweh! Você está dizendo: ‘Não profetize contra Israel, não despeje suas palavras contra a casa de Isaac’. Pois bem, assim diz Yahweh: ‘A sua mulher vai se tornar a prostituta da cidade; seus filhos e suas filhas vão morrer a golpe de espada; sua terra será repartida na corda, e você mesmo irá morrer em terra estrangeira. E Israel será levado para o exílio, longe de sua terra”. (Am 7,14-16).
O sumo sacerdote Amasias não deu tréguas a Amós, ameaçando-o, perseguindo-o e acusando-o de conspiração contra o rei Jeroboão II.
A adoração ao ídolo do deus Baal dos cananeus foi incorporada no culto de Israel com a permissão do rei Jeroboão II e o incentivo do sumo sacerdote Amasias fez da religião cananéia, contemporânea do profeta Amós, a religião mais corrupta que havia no Oriente Próximo. A prostituição ritual fazia parte desse culto. Alcoolismo, violência, grosseira sensualidade e idolatria eram fatores constantes.
Israel participava dessa corrupção e Amós não poupou advertências e condenações às mulheres, a quem chamou de “vacas” que se entregavam à prostituição ritual e a todos os que denegriam o culto a Yahweh, corrompendo totalmente o ideal do monoteísmo: “Escutem essa palavra, vacas de Basã, que moram no monte de Samaria: vocês que oprimem os fracos, maltratam os necessitados, e dizem aos seus maridos: ‘Tragam algo para beber.’ O Senhor Yahweh jura por sua santidade que para vocês há de chegar o dia em que serão carregadas com ganchos e seus filhos em arpões.” (Am 4,1-2).
A degradação geral degenerou para a injustiça judicial e social, onde os ricos exploravam os pobres, produzindo um virtual estado escravocrata, os ricos explorando e escravizando os menos afortunados.
Em face dessa situação vivida pelo profeta Amós em Israel, poderíamos perguntar hoje: onde estão os “profetas Amós” dos nossos dias e na Igreja de hoje? Seriam eles bem-vindos nas comunidades acomodadas e hipócritas onde, em muitos lugares, reinam a injustiça e a opressão? Seriam aceitos nas comunidades onde há pretensos fieis que se julgam donos da Igreja, bajuladores de ministros ordenados e difamadores da vida alheia?
O que aconteceu com os profetas que deveriam denunciar os desmandos das autoridades civis, militares, religiosas, que tanto escravizam o povo simples, humilde e pobre, muitas vezes favorecendo ao rico em detrimento da classe menos favorecida? Pedro, João Tiago, Paulo, seriam bem recebidos hoje nas nossas comunidades? E João Batista, com suas roupas fora de moda, costume alimentar esquisito e seu jeito de falar contundente, teria lugar nos púlpitos das igrejas cristãs? Jesus, o Profeta dos profetas, rejeitado que foi pelos líderes religiosos de sua época, como seria aceito pelos líderes religiosos dos nossos dias?
Hoje, possivelmente, tenhamos muitos oradores religiosos conhecedores da teologia e das Sagradas Escrituras, que se vestem bem, aparência sempre apresentável, que falam bonito e emocionam os seus ouvintes, mas que estão mais preocupados com os elogios que receberão pela sua oratória do que demonstrar pela sua vivência os ensinamentos que transmitem das tribunas e púlpitos. Falam bonito, mas não vivem bonito; suas vidas contrariam os seus ensinamentos.
Amós foi fiel ao seu chamado à vocação profética e testemunha contra a tentativa das autoridades em silenciá-lo: Foi Yahweh que me tirou de trás do rebanho e me ordenou: ‘Vá profetizar ao meu povo Israel’. Pois bem, escute agora a palavra de Yahweh! Você está dizendo: ‘Não profetize contra Israel, não despeje suas palavras contra a casa de Isaac’ (Am 7,15-16), e denuncia as autoridades civis, judiciárias e militares que subornavam as corruptas autoridades religiosas para fazerem calar os profetas: “No entanto, vocês embriagaram os homens consagrados e taparam a boca dos profetas”. (Am 2,12).
Amós era um homem só, sem apoio, sem currículo, sem autoridade humana, sem formação acadêmica e teológica, sem título de nobreza, apenas um vaqueiro ou pastor ou agricultor que trabalhava para seu sustento e, nas horas vagas, plantava sicômoros para completar o salário para os gastos domésticos, mais nada; foi esse homem que Deus escolheu, e Amós foi esse homem que cumpriu a incumbência recebida.
A primeira leitura, tirada do livro de Amós, 8,4-7, dispensa comentários.
O Salmo responsorial é um hino de louvor a Yahweh pela sua misteriosa grandeza.
O salmista deixa claro que Yahweh se torna presente no meio de seu povo para fazer justiça: liberta os pobres e os fracos dando-lhes dignidade: “Ele ergue da poeira o fraco e tira do lixo o indigente, fazendo-o sentar-se com os príncipes do seu povo.” (Sl 113 (112), 7-8).
Na segunda leitura Paulo orienta Timóteo para que instrua a sua comunidade na responsabilidade que tem para rezar pelas autoridades porque, sendo as autoridades justas e responsáveis, dignas e honestas o povo tem mais segurança, mais justiça, mais condições de vida digna, para que não se repita o acontecido no tempo do profeta Amós: “Caríssimo, antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças por todos os homens; pelos que governam e todos os que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade. Isso e bom e agradável a Deus, nosso salvador”. (1Tm 2,1-3).
No Evangelho desta liturgia Jesus fala sobre quem é muito mais inteligente nas coisas materiais do que nas preocupações das coisas de Deus: Jesus narra uma parábola que ficou conhecida como a parábola do administrador infiel.
A parábola do administrador, neste caso infiel, foi contada por Jesus aos seus discípulos e nela Jesus apresenta princípios fundamentais que se referem aos discípulos de todos os tempos, pois todos são administradores incumbidos de cuidar da propriedade de Deus.
É uma parábola muito difícil, senão a mais difícil de ser entendida, porque apresenta pontos de difícil compreensão: parece aprovar a desonestidade e a perversidade. Mas, quando a entendemos sob a luz da revelação, ela se torna repleta de instruções para nossa vida.
Jesus começa a parábola dizendo: “Um homem rico tinha um administrador”. (Lc 16,1).
Quem é o patrão, o homem rico? O Pai. Quem é o administrador? Cada um de nós.
A nossa vida não é nossa, a nossa família não é nossa, os nossos bens não são nossos: são todos do Pai que nos elege como administradores dos seus bens. Tudo recebemos de Deus e, um dia, tudo devolveremos ao Pai, como disse Jó: “Nu sai do ventre de minha mãe, e nu para ele voltarei. Yahweh me deu tudo e Yahweh tudo me tirou. Bendito seja o nome de Yahweh”. (Jó 1,21).
Disse um antigo filósofo: “A vida não é dada a ninguém em propriedade, mas a todos em administração” (Sêneca). Mas, como muitos de nós, o administrador da parábola não foi fiel; pelo contrário, “foi acusado de esbanjar os seus bens”, os bens que havia recebido do Pai que foram esbanjados indevidamente como a saúde, a liberdade, a oportunidade de viver em harmonia com todos os demais filhos do Pai.
O patrão, ao ver seus bens dilapidados pelo administrador, o chamou e lhe pediu satisfações: “Que é isso que ouço a teu respeito? Presta contas de tua administração, pois já não podes mais administrar os meus bens”. (Lc 16,2). O administrador compreendeu que caira em desgraça com o seu senhor por não lhe ter sido fiel e, bem por isso, acabara de ser despedido pelo seu senhor.
O administrador fora ingrato e não soubera valorizar o emprego e as possíveis facilidades de uma vida confortável que aquele emprego lhe facultava; caiu na real de que as perspectivas futuras de sua vida seriam tristes. Ele jamais conseguiria outro emprego como aquele e, se fosse procurar outro patrão, suas referências não seriam das melhores e pior, teria que trabalhar o dobro para ter a vida que estava perdendo com a perda desse emprego.
Pior ainda: na impossibilidade de arrumar outro emprego, possivelmente teria que mendigar: “O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha”. (Lc 16,3). Então, planejou uma saída, própria dos sábios das coisas do mundo ou daqueles que querem ludibriar a boa fé dos incautos: “Ah! Já sei o que vou fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração”. (Lc 16,4).
Na tentativa de fazer média e passar por “bonzinho” diante dos devedores de seu patrão, outros infiéis como ele, o administrador infiel engendrou um plano que favorecia os devedores às custas dos bens do patrão, ou seja, continuaria roubando o seu patrão para ser bem visto na sociedade: “Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu patrão?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo’. O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te depressa e escreve cincoenta.’ Depois ele perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve oitenta’.” (Lc 16,5-7).
Quantos administradores infiéis sempre tivemos no nosso meio, quando não, nós mesmos os somos. Para nos safarmos de situações difíceis e constrangedoras que nós mesmos criamos, queremos fazer bonito com as coisas dos outros, quando não, com as coisas do Pai. Isso sem falar dos bens que o Pai nos cumula, ou dos bens que pertencem ao povo por ter pago com sacrifício os impostos exigidos por lei e que deveriam ser revertidos em benfeitorias como habitação, saúde, educação, alimentação, transporte, melhorias de bens públicos e que são roubados pelos administradores que foram escolhidos pelo próprio povo para gerir os seus bens, sendo colocados o dinheiro dos necessitados nas bolsas, nas meias, nas cuecas e, muitas vezes, desviados para paraísos fiscais, julgando que ficarão impunes dessa infidelidade.
São os administradores infiéis. Se roubam de Deus, não roubariam do povo?
A consciência está entorpecida, se é que existe, ainda, consciência.
A negociação que o administrador infiel fez com os devedores de seu patrão revela seu verdadeiro caráter, mostra claramente a sua índole desonesta.
O que vem a seguir pode deixar o leitor chocado: o elogio do patrão ao administrador desonesto: “E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza”. (Lc 16,8a). Como é possível aceitar essa aprovação de uma prática desonesta nos negócios? 
Devemos entender o seguinte: nem o senhor do administrador, nem Jesus elogiaram a atitude desonesta em si. Primeiro porque foi esse o motivo da demissão do administrador. Nenhuma pessoa honesta poderia aprovar tal atitude.
Esta parábola não nos ensina que há justificativa para uma fraude. Somente em uma atitude o administrador infiel poderia ser elogiado: no fato de haver se precavido para o futuro. Ele tomou providências que lhe garantissem amigos que lhe ajudariam depois de perder o emprego. Ele agiu pensando no futuro e não no presente. Aqui está o principal ensino desta parábola. Não é assim que os administradores infiéis agem? Não importa quão condenável tenha sido a sua atitude contra quem quer que seja, desde que isso lhe traga proveito para o futuro, como aumentar a sua renda, a sua riqueza, os seus bens, a sua estabilidade, a sua mordomia. Por isso fazem as suas tramóias procurando sempre acumular bens materiais, juntando dinheiro para garantir uma situação confortável no futuro. Quanto a isso os filhos das trevas são mais sábios que os servos de Deus.
É que os filhos das trevas têm as coisas diante dos seus olhos e os filhos de Deus precisam da fé para impulsioná-los. Para um filho de Deus o futuro significa a eternidade, enquanto que, para os filhos do mundo, o futuro não passa da vida material, que é efêmera. Mas, em questão de esperteza, os filhos da luz têm muito o que aprender com os filhos das trevas: “Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. (Lc 16,8b).
Esta parábola ensina, portanto, que as pessoas preocupadas com os bens materiais são mais sábias e diligentes na preparação do seu futuro aqui na terra do que os filhos de Deus na preparação do seu futuro para a eternidade. Tudo o que temos e o que somos, o aprofundamento intelectual, os bens que adquirimos através de trabalho honesto com empenho e dedicação, são instrumentos que temos na mão para fazer acontecer entre os irmãos a vivência do amor.
Nas mais insignificantes coisas que fazemos, demonstramos amor ou desamor.
E Jesus complementa, dizendo: “Eu digo para vocês, usem o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles receberão vocês nas moradas eternas”. (Lc 16,9).
O que precisamos entender é que todo dinheiro que é acumulado, é sempre injusto. Se acumulamos mais do que necessitamos, algum irmão está passando necessidade, porque o que está no nosso cofre, falta para a subsistência desse irmão, e nisso está subentendido, como já foi dito, moradia, educação, segurança, justiça, alimentação, dignidade humana, e muito mais.
Sabendo que o irmão está passando necessidades, não podemos ficar “deitados em berço esplêndido”. O que nos sobra já não mais nos pertence, deve ser repartido. “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem confiará a vocês o verdadeiro bem? E se vocês não são fiéis no que é dos outros, quem dará a vocês aquilo que é de vocês?” (Lc 16,10-12).
A maneira como tratamos as coisas materiais, o grau em que a elas estamos apegados, são indícios de nosso caráter. Jesus deixa isto bem claro quando diz: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes”.
 Quando Jesus fala “pequenas coisas”, se refere à administração das coisas materiais.
Os fiéis são aqueles que usam estas coisas para a glória de Deus e a promoção de seus semelhantes. Os injustos são os que usam suas possessões para seu próprio conforto, luxo e prazeres egoístas. Se um homem não pode ser fiel no pouco, na administração das coisas materiais, como poderá ser ele fiel no muito, na administração das coisas do Reino de Deus? Se um homem é injusto com as riquezas de origem duvidosa, como poderá se esperar que seja fiel como seguidor de Jesus e despenseiro dos mistérios do Senhor? Paulo Apóstolo se coloca como servidor de Cristo e administrador dos seus bens e incentiva a todos a sê-lo: “Que os homens nos considerem como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se espera dos administradores é que eles sejam dignos de confiança.” (1Cor 4,1).
Finalmente, Jesus convida a todos a fazer uma escolha definitiva, e deixa claro em não ficar com os pés em canoas diferentes: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. (Lc 16,13). Poderíamos dizer que este versículo é o centro de todo o capítulo.
Jesus não usa meio termo ou meia palavra: ele é taxativo, diríamos, até radical. É uma escolha definitiva porque a adesão à filiação divina é incompatível com ao apego ao dinheiro. Ou servimos a um, ou ao outro, porque, entre Deus e o dinheiro existem regras diferentes.
A regra de Deus é a justiça que cria fraternidade e partilha, para que todos tenham liberdade e vida. A regra do dinheiro é a injustiça que gera a não-fraternidade, que dá origem à riqueza que explora, e isso provoca pobreza e até miséria. O dinheiro gera opressão e exploração que dão origem aos poderosos e ricos ao lado de fracos e miseráveis.
Iludimos-nos quando nos apegamos em demasia ao dinheiro, julgando que os bens materiais são verdadeiras riquezas e nos traz a felicidade sem tomar conhecimento que seu valor temporal é transitório. A verdadeira riqueza do cristão vem dos ensinamentos de Jesus e seu valor não pode ser calculado e jamais terá fim.
Jesus não deixa dúvida: qual a sua escolha? Deus ou o dinheiro? A nossa opção não pode ser dividida, porque “ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro”.
Quem se apega aos bens materiais querendo só para si o que deveria ser de todos, já fez a sua escolha, porque “onde está o teu tesouro ai estará também o seu coração”. (Mt 6,21). 

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