NOSSA SENHORA APARECIDA, RAINHA E
PADROEIRA DO BRASIL
ANO; C – COR: BRANCO – LEITURAS: Est 5,1b-2 - 7,2b-3; Sl 44 (45); Apo
12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11.
Diácono Milton Restivo
No dia 12 de outubro o Brasil inteiro festeja o dia de
Nossa Senhora Aparecida.
Esta foi a maneira que Maria, a mãe de Jesus, se
manifestou em defesa do povo oprimido e escravizado da época: os negros que
vieram à força da África.
Na pequena imagem encontrada no rio Paraíba, Maria, a
mãe de Jesus, assumiu a cor negra, a cor do povo que era submetido às mais
duras privações. Maria sempre vem em socorro ao povo oprimido e vilipendiado, e
sempre se identifica com ele.
A sua história teve início em meados de 1.717, quando
chegou à cidade de Guaratinguetá a notícia de que o conde de Assumar, D. Pedro Miguel
de Almeida e Portugal, governador da então Capitania de São Paulo e Minas de
Ouro, hoje Minas Gerais, iria passar pela povoação a caminho de Vila Rica, atual
cidade de Ouro Preto, nas Minas de Ouro.
Desejosos de servi-lo com o melhor pescado que
obtivessem, as autoridades determinaram que os pescadores do lugarejo fossem
colher do rio o que de mais nobre ele poderia oferecer: belos peixes. Na região
de um bairro, que hoje é Aparecida do Norte, mas que na época chamava-se Morro
dos Coqueiros, moravam alguns pescadores, entre eles Domingos Alves Garcia,
João Alves e Felipe Pedroso. Esses três pescadores eram parentes, a saber:
Domingos Alves Garcia era pai de João Alves, e João Felipe Pedroso era casado
com uma irmã de Domingos Alves e, consequentemente, tio de João Alves.
Seguindo aquela ordem da Câmara, os três pescadores
também saíram, na mesma canoa, para pescarem rio acima. E pescaram durante
horas e horas, e nada conseguiram.
Por fim, ao chegarem a uma curva do rio, chamada Itaguaçu,
lançaram a rede e, ao puxarem a rede, tiraram das águas uma imagem de Nossa
Senhora que se enroscou nas malhas da rede, mas, essa imagem estava sem a
cabeça, era somente o corpo. Que valor teria para eles uma imagem quebrada,
somente o corpo, sem a cabeça? Claro que nenhum. Mesmo assim eles colocaram
aquela imagem no fundo da canoa e continuaram a lançar a rede, continuaram a pescaria.
Logo em seguida, ao puxarem as redes, notaram que
estava enroscada em uma malha a cabeça da imagem, e viram que se encaixava
direitinho no corpo. A partir daí, cada vez que lançavam a rede maior era o
número dos peixes que retiravam do rio, motivo pelo qual os pescadores deram
por encerrada a pescaria, e voltaram para suas casas com grande quantidade de
grandes peixes.
Tudo isso aconteceu no dia 12 de outubro de 1.717.
Nada melhor para homenagear a nossa rainha e padroeira
do que lançar mão de escritos de santos marianos que tanto veneraram essa mãe
tão querida.
Comecemos por Carlos Maesters, do seu livro “Maria, a
Mãe de Jesus”: “A história do Brasil
parece um imenso andor de Nossa Senhora, andor esse carregado pelo povo simples,
humilde e pobre através dos tempos. Só que o povo não aparece, o povo pobre não
faz propaganda de si próprio e nem carrega placas com o seu nome no peito ou
estende faixas nas ruas contando as suas vantagens, como fazem os demagogos e
corruptos políticos. O povo pobre, simples e humilde faz questão é de ficar
escondido atrás do nome de Maria. O que deve aparecer realmente para o povo
pobre e humilde é o nome e a imagem de Nossa Senhora, a nossa Maria, que é
aclamada e invocada por milhares e milhões de vozes que cantam e rezam sem
parar a Ave Maria... Carregando o andor de Nossa Senhora, a nossa Maria, o povo
carrega pelas ruas a sua esperança de um dia poder chegar lá onde Maria já
chegou, isto é, gozar da liberdade total dos filhos de Deus. A história de
Maria é a imagem da história do
povo humilde; a história do povo pobre e
simples se confunde com a história de Maria. A história de Maria é uma história
que ainda não terminou; a história de Maria continua até hoje, mas pequenas e
grandes histórias do povo. Maria, moça pobre, simples e humilde de uma
cidadezinha do interior da Palestina é saudada até hoje por milhares e milhões
de pessoas; o povo todo a invoca e a venera. Maria mesmo preveniu isso quando
disse à sua prima Isabel: “De hoje em diante todas as nações vão me chamar de
bem-aventurada.” (Lc 1,48). Todas as nações, todos os povos de todos os tempos
e lugares, desde todo o sempre, chamam Maria de bem-aventurada e a veneram como
a eleita de Deus, e ainda hoje, como sempre, o povo simples, o povo humilde, o
povo pobre continua chamando Maria de bem-aventurada. Maria é do povo, do povo
pobre, do povo simples, do povo humilde, mas, além de ser do povo, Maria é
também de Deus, totalmente de Deus, e Deus estava, está e sempre estará em
Maria, como Maria jamais deixou de estar em Deus. Ser do povo é ser
de Deus, e Maria é do povo, e o povo pobre e humilde é de Maria. Estes dois
pontos marcam a vida de Maria, e é por isso que o povo a venera com entusiasmo,
invocando por todo o sempre o seu nome. Para poder ser do povo tem que ser de
Deus; para poder ser de Deus, tem que ser do povo. É assim que Deus e o povo
desejam: ser de Deus e do povo. São esses os dois grandes retratos que as
Sagradas Escrituras tiraram de Maria e que a Igreja conserva até hoje em seu
álbum. Maria soube unir em sua vida o seu amor a Deus e ao povo. O nosso povo
pobre, simples e humilde ama Maria, e Maria se faz presente no sofrido povo
brasileiro com o título de Nossa Senhora Aparecida; Nossa Senhora Aparecida é a
nossa Maria, a Maria brasileira, a Maria humilde, pobre e simples do povo
pobre, simples e humilde. A imagem de Nossa Senhora Aparecida é pequena,
pequenina mesmo, coberta de um manto azul, manto bonito e ricamente enfeitado. Presente
do povo; isso mesmo, presente do povo, porque o povo gosta de enfeitar e
enriquecer a quem ele ama de verdade, muito embora ele continue pobre, simples
e humilde. Mas, o manto azul, bonito e ricamente enfeitado, acabou escondendo
grande parte da imagem brasileira de Maria, imagem que, originariamente é
pobre, simples, humilde e... preta. Só olhando de perto é que a gente percebe
que, no Brasil, Maria é preta. O manto é bonito, isso é bom; o manto não pode
ser jogado fora, mas a gente não pode se esquecer que a imagem de Nossa Senhora
Aparecida é preta, pretinha, igual a tantas Marias e Cidas que a gente encontra
pelas ruas. Aquilo que aconteceu com a sua imagem, aconteceu com a própria Maria:
glorificada pelo povo e pela Igreja como Mãe de Deus, Maria recebeu um manto de
glória; presente de fé do povo. Mas o manto de glória acabou escondendo grande
parte da semelhança que Maria tem conosco. O manto ricamente enfeitado fez de
Maria uma pessoa diferente e a gente quase esquece que Maria foi e ainda é uma
moça pobre e simples do povo. Só olhando de perto é que a gente percebe que na
Bíblia Maria é pobre, simples e humilde, muito semelhante à maioria do nosso
povo. A Bíblia fala muito pouco de Maria, mas o pouco que fala é muito
importante. É o suficiente para a gente poder conhecer a grandeza de sua
simplicidade e a riqueza de sua pobreza”.
Busquemos, agora, nas páginas do pequenino livro escrito
por um dos santos marianos mais fervorosos de todos os tempos: São Luiz Maria
Grignion de Montfort. O nome do livro, que é uma preciosidade e um dos meus
livros de cabeceira é: “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem
Maria. Nesse livro, nos diz esse santo: “Foi
pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio a este mundo, e é também por
meio de Maria que Jesus deve reinar no nosso meio. Maria conservou-se muito
oculta durante toda a sua vida; por essa razão Maria é chamada pelo Espírito
Santo e pela Igreja de Mãe oculta e secreta. Foi tão profunda a humildade de
Maria que não houve na terra encanto mais poderoso e constante que ser ignorada
por si mesma e por todas as criaturas para ser conhecida somente por Deus. Deus
Pai consentiu em que Maria não fizesse milagres em sua vida, pelo menos que nós
tenhamos conhecimento, ainda que lhe tivesse dado o poder de fazê-los. Deus
Filho consentiu que Maria pronunciasse poucas palavras que chegassem até nós,
embora lhe tivesse comunicado a sua sabedoria divina. Deus Espírito Santo
consentiu que os Apóstolos e Evangelistas falassem muito pouco de Maria, e ao
falarem, só falassem muito pouco de Maria e apenas o necessário para fazer
conhecer a Jesus Cristo. Maria Santíssima é a excelente obra prima de Deus
Altíssimo cujo conhecimento e possessão reservou somente para si. Maria
Santíssima é o santuário e o repouso da Santíssima Trindade. Maria é o paraíso
terrestre do novo Adão, Nosso Senhor Jesus Cristo, que nela se encarnou por
obra do Divino Espírito Santo para ai realizar maravilhas incompreensíveis. Os
santos disseram coisas admiráveis sobre essa santa cidade de Deus que é Maria,
e nunca foram mais eloquentes e felizes, como eles próprios confessam, do que
quando falam de Maria. A altura dos merecimentos de Maria é elevada até o trono
da Santíssima Trindade; a largura da caridade de Maria é mais extensa que a
própria terra, não se pode medir; a vastidão do poder de Maria não se pode
conceber; a profundeza da humildade de Maria e de todas as suas virtudes e
graças que são um abismo, não se pode sondar. Todos os dias, de uma a outra
extremidade da terra, no mais alto dos céus, no mais profundo dos abismos, tudo
publica, tudo exalta a admirável Maria. Toda terra está cheia de sua glória,
principalmente entre os cristãos que a tomaram por mãe, protetora e padroeira,
em muitos reinos, países, províncias, estados, dioceses e cidades. Quantas
igrejas e catedrais consagradas a Deus sob o nome de Maria. Não há igreja que
não possua um altar em honra de Maria; não há uma região em algum país em que
não se encontra alguma de suas imagens milagrosas, a cujos pés todos os males
são curados e conseguidos todos os bens. Quantas confrarias e congregações
existem em honra de Maria. Quantas ordens religiosas estão sob o nome e
proteção de Maria. Quantos irmãos e irmãs de todas as confrarias. Quantos
religiosos e religiosas que publicam os seus louvores e anunciam as suas
maravilhas e misericórdias. Não há criancinha que não a louve, balbuciando a
Ave Maria. Não há pecador, que mesmo no meio de sua descrença, não tenha em
Maria uma fagulha de confiança. Maria ainda não foi suficientemente louvada,
exaltada, honrada, amada e servida. Maria merece ainda mais louvores, mais
respeito, mais amor e mais serviços. Os olhos nunca viram, os ouvidos nunca
ouviram, o coração do homem nunca contemplou e nem compreendeu as grandezas e
excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça, da natureza e da glória.
Se quisermos compreender a mãe, precisamos compreender o filho, porque Maria é
uma digna Mãe de Deus. Aqui, emudeça toda língua. Se Maria é ignorada entre nós
até hoje, se ela não é amada como deveria ser, esta é uma das razões pelas
quais Jesus Cristo não é conhecido como deveria ser. Amemos Maria para
conhecermos melhor seu Filho e Nosso Deus, Jesus Cristo”.
Por fim, rezemos juntos a oração que o nosso querido
João Paulo II fez aos pés da imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Rainha e
Padroeira do Brasil, na Basílica na cidade de Aparecida em 04 de julho de
1.982, quando visitava a cidade, a basílica e a imagem de Nossa Senhora
Aparecida: “Nossa Senhora Aparecida! Mulher
revelada por Deus, que haveríeis de esmagar a cabeça da serpente (cf Gn 3,15)
na vossa conceição imaculada! Eleita desde toda a eternidade para ser a mãe do
Verbo Eterno, o qual, pela anunciação do Anjo, foi concebido no vosso seio
maternal e virginal como filho do homem e verdadeiro homem. Unida mais
estreitamente ao mistério da redenção do homem e do mundo, ao pé da cruz, no
Calvário. Dada como Mãe a todos os homens, sobre o Calvário, na pessoa de João,
Apóstolo e Evangelista. Dada como Mãe a toda a Igreja, desde a continuidade que
se preparava para a vinda do Espírito Santo, em Jerusalém, à comunidade de
todos os que peregrinam sobre a terra, no decorrer da história, dos povos e
nações, dos países e continentes, das épocas e gerações. Maria, eu vos saúdo e
vos digo “Ave” neste Santuário, onde a Igreja do Brasil vos ama, vos venera e
vos invoca como “Aparecida”, como revelada e dada particularmente a ele como
sua mãe e padroeira, como medianeira e Advogada junto ao Filho de quem sois
Mãe. Como modelo de todas as almas possuidoras da verdadeira sabedoria e, ao
mesmo tempo, da simplicidade da criança e daquela entranhada confiança que
supera toda fraqueza e sofrimento. Quero confiar-vos, de modo particular, este
povo e esta Igreja, todo este Brasil, grande e hospitaleiro, todos os vossos
filhos e filhas com todos os seus problemas e angústias, trabalhos e alegrias. Ò
Mãe! Fazei que esta Igreja seja para todos eles Sacramento de Salvação e sinal
de unidade de todos os homens, irmãos e irmãs de adoção do vosso Filho e Filho
do Pai do Céu. Ò Mãe! Fazei que esta Igreja, a exemplo de Cristo, servindo
constantemente o homem, seja a defensora de todos, em particular dos pobres e
necessitados, dos socialmente marginalizados e espoliados. Fazei que a Igreja
do Brasil esteja sempre a serviço da justiça entre os homens e contribua ao
mesmo tempo para o bem comum de todos e para a paz social. Ó Mãe! Abri os
corações dos homens e dai a todos a compreensão de que somente no espírito do
Evangelho e seguindo o mandamento do amor e as bem-aventuranças do sermão da montanha
será possível construir um mundo mais humano, no qual será valorizada
verdadeiramente a dignidade de todos os homens. Ò Mãe! Daí à Igreja, que nesta
terra brasileira realizou no passado uma grande obra de evangelização e cuja
história é rica de experiências, que, com novo zelo e amor pela missão recebida
de Cristo, realizar suas tarefas de hoje e de amanhã. Concedei-lhe, para este
fim, numerosas vocações sacerdotais e religiosas, para que todo o povo de Deus
possa beneficiar-se do ministério dos dispensadores da Eucaristia e das
testemunhas do Evangelho. Ò Mãe! Acolhei em vosso Coração todas as famílias
brasileiras. Acolhei os adultos e os anciãos, os jovens e as crianças. Acolhei,
também, os doentes e todos aqueles que vivem na solidão. Acolhei os
trabalhadores do campo e da indústria, os intelectuais nas escolas e
universidades, os funcionários de todas as instituições. Protegei-o a todos. Não
cesseis ò Virgem Aparecida, pela vossa mesma presença, de manifestar nesta
terra que o amor é mais forte que a morte, mais poderoso que o pecado. Não
cesseis de mostrar-nos Deus, que amou tanto o mundo a ponto de entregar seu
Filho Unigênito para que nenhum de nós pereça, mas tenha a vida eterna! (cf Jo
3,16).”
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