
SÃO JOSÉ – ESPOSO DE MARIA
“A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria,
sua mãe, comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se
grávida pelo Espírito Santo.”
(Mt 1,18). Maria era noiva de José.
Mas, quem era José? Mateus, em seu Evangelho, 1,16, nos diz que José era filho
de Jacó, enquanto que Lucas em seus escritos, 3,23, diz que o pai de José se
chamava Eli, mas ambos os Evangelistas são unânimes em afirmar que José era
descendente do rei Davi (Lc 3,23-31; Mt 1,20). Segundo o Evangelista Mateus,
José tinha como profissão ser carpinteiro, quando se referiu a Jesus Cristo: “Não
é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55), e Marcos também se referencia a
Jesus dessa maneira: “Não é este o
carpinteiro, o filho de Maria...?”
(Mc 6,3).
Segundo a tradição, a noiva, na época,
firmava compromisso com o noivo, dos doze aos quinze anos de idade, e o jovem
varão, dos dezoito aos vinte anos de idade.
O casamento acontecia quando os jovens
se comprometiam e ficavam noivos, isto é, casavam-se, mas não coabitavam, não
iam morar juntos, como acontece nos nossos dias; o rapaz ia montar a sua casa e
depois de ter tudo pronto, casa, móveis e tudo o mais que fosse necessário para
uma vida a dois, é que o noivo ia na casa dos pais da noiva buscá-la para
coabitarem.
Justifica-se, então, a afirmativa do
Evangelista Mateus: “... Maria, sua mãe,
comprometida em casamento com José, antes de coabitarem, achou-se grávida do
Espírito Santo.” (Mt 1,18). Está claro, principalmente pelas dúvidas que
habitaram a cabeça de José quando notou Maria grávida, que eles não tiveram
contatos íntimos.
Para entendermos melhor os problemas
pelos quais passaram José e Maria por ocasião da visita do Anjo, se faz
necessário que estudemos e meditemos muito sobre a Anunciação do Anjo em si e
sobre a entrega total de Maria nas mãos de seu Deus e Senhor. Maria aceitou ser
a mãe do Filho de Deus: “Eis aqui a
escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,37).
Maria já estava comprometida em
casamento com José, mas ainda não haviam coabitado, e pela afirmativa de Maria,
ela e José “não usaram legitimamente de
todos os direitos do matrimônio”. E o Anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder
do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será
chamado Filho de Deus.” (Lc 1,35).
E para que nenhuma dúvida pairasse no
ar, o Anjo continua: “Para Deus, com
efeito, nada é impossível.” (Lc 1,37).
Maria, simplesmente, mesmo sem
entender como isso poderia acontecer, confia plenamente na palavra do Senhor,
entrega-se totalmente em suas mãos e responde ao Anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”
(Lc 1,38).
A partir daquele momento Maria “achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt
1,18) e começa a trazer dentro de si, no seu ventre, o Filho de Deus, nascido
de mulher, sem a participação de homem algum: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1,14).
De repente, sem uma explicação
razoável aos olhos do povo e ao coração do jovem noivo José, aquela jovenzinha
meiga, pura e casta, aparece grávida. Poderíamos imaginar a repercussão desse
fato numa cidade tão pequena: as comadres, as fofocas...
Uma moça jovem, solteira, de boa
reputação, de família exemplar, bem quista, noiva de um excelente e querido
jovem de todos na cidade, de repente... Aparece grávida... Ainda tem mais uma
agravante. Logo depois da visita do Anjo, ao tomar conhecimento que sua parenta
Isabel, mulher de idade avançada, estava no sexto mês de sua gravidez, “... Maria pôs-se a caminho para a região
montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá.” (Lc 1,39).
Ao saber das dificuldades que sua
parenta Isabel, mulher já de idade avançada teria, principalmente no final de
sua gravidez, Maria não pensou em si e muito menos no seu estado também de
gravidez, e “se pôs a caminho para a
região montanhosa” onde morava Isabel, e segundo as Escrituras, Maria ficou
na casa de Isabel até o nascimento do filho de Isabel, isto é, pelo espaço de
três meses, considerando que o Anjo lhe dissera que “Isabel, tua parenta, concebeu
um filho na velhice, e este é o sexto mês...” (Lc 1,36).
Após o nascimento do filho de Isabel,
João Batista, Maria retornou para a sua pequena cidade. Maria havia saído de
sua cidade sem nenhum enfoque de gravidez.
Ao retornar para a sua cidade, possivelmente
quatro meses depois, considerando os três meses que ficara com Isabel e,
possivelmente um mês que gastou na viagem, porque era longa, a gravidez de
Maria já se fazia notar.
A transformação da gravidez, com
certeza, era patente no seu corpo. José não sabia de nada e, com certeza, como
todos os demais, surpreendeu-se com aquilo.
O povo da localidade sabia menos
ainda. Maria deixou sua cidade e ficou ausente por aproximadamente quatro meses
e, quando dali saiu, estava no seu estado aparentemente normal, e quando volta,
acusa sinais de gravidez.
O que deve ter passado na cabeça de
cada um de seus conhecidos e do povo em geral daquela curritela? De quem seria o filho? De José? Mas era público e notório que José não havia
acompanhado Maria enquanto ela esteve por aquele tempo na casa de Isabel. Imaginem
os mexericos das comadres, das fofoqueiras nos portões, nas esquinas, por sobre
os muros e cercas; como devem ter falado de Maria... Maria permanecia do mais
profundo dos silêncios. Se Deus a colocara naquela situação, Deus cuidaria
dela. E José? O que teria passado pela cabeça de José?
Maria, a sua Maria, a jovenzinha de
seus sonhos a quem ele depositara toda a sua confiança, todo o seu amor, todo o
seu futuro, de repente, sem uma explicação razoável e sem que ela se explique,
aparece grávida. Ele não tivera participação nisso. Não fora ele. Ele era
inocente. Se tivesse sido ele, com certeza, pelo seu caráter e retidão e temor
a Deus, assumiria o seu gesto e, sem sobra de dúvida, levaria Maria de imediato
para a sua casa, pois eles já estavam comprometidos em matrimônio. Mas
não fora ele!
Maria permanecia no mais profundo dos
silêncios... José era um jovem justo e temente a Deus, e, bem por isso, gostava
das coisas certas. Maria não disse nada a José.
José não perguntou nada a Maria. E a lei do povo judeu era severa,
extremamente severa e determinava: “Se
uma jovem virgem, prometida a um homem, e um homem a encontra na cidade e se
deita com ela, trareis ambos à porta da cidade e os apedrejareis até que
morram; a jovem por não ter gritado por socorro na cidade, e o homem por ter
abusado da mulher do próximo...” (Dt 22,23-24). Se José denunciasse Maria
por, supostamente, havê-lo traído, fatalmente a lei seria cumprida... José
amava por demais Maria para chegar a esse extremo.
Mas também não podia aceitar aquela
situação. E Maria não se explicava, não dizia nada. Maria permanecia no seu
silêncio. Maria, simplesmente, poderia sair gritando aos quatro ventos, dizendo
que aquilo que estava acontecendo com ela era obra do Espírito Santo. Poderia
dizer, sem mentir, que “... o Espírito
Santo veio sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriu com sua sombra.” (Lc
1,35), e bem por isso, engravidara, e o filho que trazia dentro de si era o
Messias esperado, era o Filho de Deus que se fazia homem para que todos os homens
se tornassem filhos de Deus.
Mas, se afirmasse isso, pelo menos
três coisas poderiam acontecer: primeira:- o povo poderia dizer que ela estava
louca por afirmar coisas tão absurdas para tentar justificar a sua gravidez;
segunda:- o povo não acreditaria e ela própria passaria por ré confessa, e a
lei de Moisés deveria ser cumprida, e Maria deveria ser apedrejada na porta da
cidade para que o pecado fosse tirado do meio do povo, e, terceira:- o povo que
já estava ansioso pela vinda do Messias poderia até acreditar em Maria, aceitar
que, realmente, ela estaria dizendo a verdade e tratá-la como uma rainha. Maria
não fez nada disso. Maria manteve-se no
seu silêncio.
Foi o silêncio da virgem. Quantas
vezes, no seu silêncio, Maria teria rezado: “Só
em Deus, ó minha alma repouse, porque dele vem a minha esperança. Só ele é
minha rocha e salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalada.” (Sl
62,6-7).
Maria não tentou explicar nada a
ninguém. Nem mesmo ao seu noivo José. O que estava acontecendo nela e com ela
era obra do Senhor, e, se o Senhor a colocara naquela situação, o Senhor
resolveria todos os problemas que estavam surgindo e surgiram após.
Maria sofria com as fofocas do povo.
Maria sofria com a incompreensão de José, com o sofrimento de José, mas se
mantinha no mais profundo silêncio, sempre confiando no Senhor. O que estava
acontecendo com Maria era a vontade do Senhor, e Maria repetia a cada instante:
“Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em
mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).
Maria era a escrava do Senhor, não
competia a ela se defender. O Senhor seria “a
sua rocha, a sua salvação, a sua fortaleza” (Sl 62,3) o seu rochedo, o seu
advogado e agiria na hora em que ele achasse que fosse mais certa. E José
estava amargurado. Não entendia o que estava acontecendo e nem poderia
entender.
Mas, porque Maria não rompia seu
silêncio e explicava tudo para ele? Então, no auge das incertezas e
sofrimentos, José tomou uma decisão: “José,
seu esposo, sendo justo, e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu
repudiá-la em segredo.” (Mt 1,19).
José tomou a decisão que julgou a mais
acertada: abandonar Maria, ir embora, sumir da cidade, ir para um lugar
distante mesmo levando em suas costas que o povo o julgasse dizendo-o culpado
por ter “aprontado” com Maria e fugido para não assumir a sua responsabilidade,
abandonando a sua noiva grávida. Foi o que lhe pareceu mais justo e certo.
Assim ele não denunciaria Maria e não
a entregaria ao terrível cumprimento da lei.
Assim ele não difamaria sua noiva.
Faria isso para não dizer a todos que Maria o havia traído, traído sua
confiança, o seu amor e por isso mesmo ele não poderia mais assumir a
responsabilidade de coabitar com ela, assumí-la em sua casa.
Mesmo sabendo da intenção de José,
Maria, ainda assim, se manteve calada, no silêncio que só o Senhor ouve, só o
Senhor entende. Maria não deixou de confiar no seu Senhor um minuto sequer,
porque “só em Deus a sua alma repousava,
e dele viria a sua salvação.” (Sl 62,2).
E o Senhor nosso Deus não abandonou
Maria. E o Senhor nosso Deus também não
abandonou José que, na sua dor, deve ter rezado: “Yahweh, ouve a minha prece, que o meu grito chegue a ti! Na escondas
tua face de mim, no dia da minha angústia. Inclina teu ouvido para mim, e no
dia em que eu te invoco, responde-me depressa”. (Sl 102,2-3). E o Senhor
respondeu e, certa noite, “Enquanto
(José) decidia, eis que um Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho,
dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que
nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás
com o nome de Jesus, pois ele salvará o povo de seus pecados’. Tudo isso
aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo Profeta: ‘Eis
que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de
Emanuel, que significa, ‘Deus conosco’.” (Mt 1,20-23).
A partir dai José se tranquilizou; não
foi discutir com Maria dizendo que ela deveria ter acreditado e ter tido
confiança nele e ter-lhe dito tudo sobre o que estava acontecendo. Não fez nada
disso, respeitando o silêncio da virgem e “...
agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher.”
(Mt 1,24), e tomou sob sua guarda a mãe e o Filho que, pela revelação do Anjo
em seu sonho passou, a saber, que aquela criança que nasceria de Maria não era
outra senão o Messias, o Salvador dos homens.
Maria, por sua vez, também não foi
tirar satisfações com José por não ter acreditado nela apesar de tudo, e por
José ter-se trancado dentro de si próprio.
Maria não tirou satisfações com José
por ele ter pensado em abandoná-la desconhecendo que tudo aquilo que estava
acontecendo com ela era obra do Espírito Santo; não brigou com José por ele ter
duvidado de sua integridade moral. Maria deixou tudo nas mãos de Deus, nas mãos
do seu Senhor. Se fora o Senhor que a colocara naquela situação, com certeza, o
Senhor esclareceria tudo, como esclareceu, não ao povo, mas, somente a José, e
era isso que realmente interessava. Maria permanecia sempre no seu silêncio,
procurando cumprir aquilo mesmo que ela dissera ao Anjo: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”
(Lc 1, 38).
E isso não era o fim; era apenas o
começo, o começo de muitas dores, muitas lágrimas, muito sofrimento, muitas
incompreensões, muitas perseguições, muito falatório. A partir da aceitação de
Maria sua vida se transformou num constante caminhar rumo ao Calvário. O
Calvário de Maria começou quando ela disse o seu “SIM” ao Anjo do Senhor...
E, interessante, os Santos Evangelhos
não citam nenhuma fala de José, nenhuma palavra que José tenha pronunciado é
citada no Livro Sagrado. Isso não se fez necessário para atestar a integridade
de José. Para se mostrar temente a Deus vale muito mais atitudes que palavras.
A figura de José aparece somente na
infância de Jesus e desaparece durante a vida oculta. Nesse período José
falecera.
Quando Jesus começa a sua vida pública
só Maria o acompanha. José já havia cumprido a sua parte nos planos de Salvação
do Senhor Nosso Deus e partido para a casa do Pai...
A sua morte deve ter sido a mais santa
possível. Imaginemos na cabeceira de seu leito, José moribundo, tendo, de um
lado, Jesus e do outro, Maria. Poderá existir morte mais santa que essa? Por
que Deus Pai incluiu José no seu Plano de Salvação?
Porque ele queria para o seu Filho uma
família constituída. Já que o Senhor dispensou o concurso do homem para gerar o
seu Filho, poderia ele mesmo, o Senhor, cuidar de Maria e de Jesus. Mas o
Senhor quis, com isso, valorizar e divinizar a constituição familiar onde a
união de pai, mãe e filhos, união abençoada por Deus, perfeita e cristã, é o
caminho mais curto para se chegar à casa do Pai. José não foi uma figura
descartável nos planos de Deus e muito menos um anônimo; foi ele quem cuidou de
Maria e Jesus até que Jesus amadurecesse como homem e tivesse condições de
cuidar de si e de sua mãe e depois, iniciar a sua missão. José foi o chefe da
família de Nazaré, o pai da Sagrada Família. José é o exemplo mais perfeito
para ser seguido por todos os pais cristãos. José é o exemplo mais perfeito
para ser seguido por todos os chefes de família.