QUATRO ANOS SEM TERESA CRISTINA
O Pai é o agricultor, o
dono da messe, o dono do jardim. Cada um de nós somos os operários da messe, o
jardineiro do jardim do Pai. Ele nos dá a terra, ele nos dá a semente, ele nos
dá as condições dignas para que a terra seja boa, para que a semente se
transforme em arbusto e para que o arbusto floresça, dê flores dignas de um
rei.
O Pai nos dá uma família,
nos dá filhos, mas família e filhos não são propriedades nossas, são do Pai. Os
filhos são as flores que cultivamos no jardim do Pai. Compete a cada um de nós,
pais, cuidar do jardim do Pai, dar-lhe flores viçosas, coloridas, perfumadas e
perfeitas. Devemos cuidar dessas flores desde em botão. Dar-lhes condições de
crescerem saudáveis, floridas e perfumadas. Mas elas são do Pai, não são
nossas. E o dia em que o Pai achar por
bem, ele visita o nosso jardim, colhe a sua flor preferida, a mais bonita entre
todas e a leva para embelezar o seu trono.
Assim aconteceu conosco.
Assim aconteceu com Teresa Cristina. Mulher bonita, inteligente, carinhosa,
amigável, acolhedora. Filha amorosa e presente. Quarenta e três anos. Câncer
de mama. E, no dia 11 de julho de 2010,
o Pai visitou o meu jardim, escolheu dentre as flores a mais bela, e a levou
consigo para embelezar o seu trono.
As pessoas boas deixam
alegria. As pessoas más deixam lições. As pessoas maravilhosas deixam
lembranças e saudades. Saudade é a confirmação do amor. Saudade é a perpetuação
do amor. Saudade é o amor eterno presente no coração de quem ficou sem ter
condições de esquecer a pessoa amada que partiu. Um dia a saudade deixa de ser
dor e vira lembrança para compartilhar e guardar para sempre. As pessoas muito
amadas por nós são eternas dentro da gente. A mais bonita lágrima é a da
saudade, pois ela nasce dos risos que não se acabam, das alegrias que marcaram
e das lembranças que jamais se apagam.
Mais do que chorar a perda
de um ente querido, não podemos perder a oportunidade de agradecer. Agradecer o
tempo em que o Pai, o dono do jardim, permitiu que a flor Teresa Cristina
ficasse conosco durante quarenta e três anos, embelezando o nosso lar, perfumando
a nossa vida, aromatizando o nosso ambiente e transmitindo alegria no seu
sorriso belo, singelo e encantador. Ela deixou o nosso jardim, mas está
embelezando o trono do Pai, o dono do jardim.
Só nos resta
repetir com o santo homem Jó: “O Senhor
deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1,21).
O acontecimento
de uma pessoa amada nos deixar e ir para a casa do Pai leva-nos à conclusão de
que não existe morte. A morte é, simplesmente, um ponto de partida, não um fim.
A morte é um trampolim que nos arremessa para a vida eterna, para a vida que
não se acaba mais.
A vida é
eterna; a vida é abundante porque Jesus Cristo veio para que tivéssemos vida, e
a tivéssemos em abundância: “Eu vim para
que tenham a vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10,10). A vida não se
acaba. A vida da pessoa amada que se
foi não se acabou, apenas passou para um plano superior onde a presença de Deus
é permanente e visível, a felicidade é eterna e a certeza de que a morte jamais
a atingirá, jamais a separará de ninguém.
Na nossa
ignorância naquilo que diz respeito às promessas divinas em relação à vida
eterna, sofremos, sofremos muito quando um ente querido nos deixa e parte desta
para herdar a vida eterna.
Choramos,
choramos muito dentro de nós, ainda que o nosso semblante se esforce para
demonstrar conformismo. É bom chorar, se faz necessário chorar, mas o cristão
não chora por desespero e revolta. Antes de tudo, o cristão chora por saudade,
saudade de alguém que partiu temporariamente mas, temos certeza, está na casa
do Pai; apenas nos antecipou a isso e a nossa fé nos garante que um dia nos
juntaremos a esse ente querido porque Jesus nos conforta dizendo: “Não se perturbe o vosso coração! Credes em
Deus, crede também em mim. Na
casa de meu Pai há muitas moradas.” (Jo 14,1-2).
Apesar da
certeza da ressurreição que nos é transmitida pelas Sagradas Escrituras, os
nossos sentimentos humanos nos fazem sentir saudades dos nossos entes queridos
que nos deixaram, mas, não podemos perder a esperança, não podemos perder a
confiança nos ensinamentos de Jesus Cristo; temos de acreditar nas suas verdades
evangélicas de que os nossos entes queridos, que caminharam conosco neste vale
de lágrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e fizeram parte de seu rebanho,
agora, depois desse passamento, estão na glória do Senhor, na casa do Pai,
onde, segundo uma das promessas do Divino Mestre, existem muitas moradas: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se
não fosse assim, eu vos teria dito, pois vou preparar-vos um lugar, e quando eu
me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a
fim de que, onde eu estiver, estejais vós também.” (Jo 14,2-3).
O Senhor Jesus
venceu a morte ressuscitando e “... a
morte não tem domínio sobre ele.” (Rm 6,9), e Paulo Apóstolo se baseia na
ressurreição de Cristo para nos dar a certeza que também venceremos a morte: “Se não há ressurreição dos mortos, também
Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação,
vazia também é a vossa fé.” (1Cor 15,13-14).
Quem morre
acaba de nascer, de nascer para a vida, de ressurgir para a vida em abundância,
a vida que não se acaba mais, a vida que é para valer, e isso entendeu muito
bem Francisco, o pobrezinho de Assis: “É MORRENDO QUE SE RESSUSCITA PÁRA A
VIDA...”
A presença, o
perfume,o amor da Teresa Cristina são uma constante no nosso coração, na nossa
casa, na nossa família...
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