XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano: A; Cor: Verde; Leituras: Zc 9,9-10; Sl 114; Rm
8,9.11-13; Mt 11,25-30.
“VENHAM PARA MIM TODOS VOCÊS QUE ESTÃO CANSADOS...” (Mt 11,28).
Diácono Milton Restivo
O autor da primeira leitura dessa
liturgia é identificado como sendo o profeta Zacarias.
Seu nome significa “Yahweh se lembra”.
Assim como Jeremias e Ezequiel, Zacarias não era apenas profeta (1,1), mas
também sacerdote.
Zacarias nasceu na durante o exílio do
povo judeu na Babilônia e estava entre os que voltaram do exílio da Babilônia
para Judá em 538 aC sob a liderança de Zorobabel e Josué.
Ido, avô de Zacarias, também é mencionado
entre os que voltaram (Ne 12,4).
Os capítulos de 9 a 14 deste livro estão
cheios de promessas do Messias vindouro e de um reino mundial. Ele virá da
primeira vez como um varão humilde cavalgando um animal humilde (Zc 9,9).
Zacarias dá um
expressivo testemunho sobre a traição sofrida por Jesus por trinta moedas de
prata (Zc 11,12-13; Mt 27,9) e sua crucificação (Zc 12,10), seus sofrimentos
(Zc 13,7) e sua segunda vinda (Zc 14,4).
Uma referência a
Jesus Cristo é considerada como de profundo significado, exatamente a que é
meditada nesta liturgia: a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é descrita
com detalhes: “Ele é pobre e vem montado
num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta” (Zc 9,9; Mt 21,4; Mc
11,7-1), e isso ele profetizou quatrocentos anos antes do acontecimento.
No Salmo 144,
lido e cantado nesta liturgia, o salmista relembra de forma dramática e vívida
o poder de Deus em libertar o Seu povo.
O salmista
escreve como Deus conduziu Israel para fora da terra da escravidão e do pecado,
e os guiou com segurança através das ondas tempestuosas do rio Jordão até a
terra da promessa.
A segunda
leitura é da carta que Paulo escreveu aos romanos, onde ele exalta a força, a
ação e o poder do Espírito Santo, o Espírito do Pai sobre todos os discípulos
de Jesus: “Uma vez que o Espírito de Deus
habita em vocês. Vocês já não estão sob o domínio dos instintos egoístas, mas
sob o Espírito, pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. [...]
Se o Espírito daquele que ressuscitou
Cristo dos mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou Cristo dos mortos
dará a vida também para os corpos mortais do seu Espírito que habita em vocês” (Rm
8,9.11).
O Evangelho deste
domingo traz uma oferta carinhosa, cheia de amor e de entrega total de Jesus a
todos os que acreditam que, “sem ele nada
podemos” (cf Jo 15,4-5). É um dos textos
mais fortes e lindos dos Santos Evangelhos e mostra-nos que Jesus Cristo veio
para mudar o coração e a estrutura do homem: “Venham a mim todos vocês que estão cansados sob o peso de vosso fardo
e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês meu jugo e aprendam de mim, porque
sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas
almas, pois meu jugo è suave e o meu fardo è leve” (Mt 11,28-30).
Quantas
preocupações temos nós no dia-a-dia. Quantas coisinhas por fazer. Quantas
pessoas temos de agradar. Quantas obrigações que nos tomam todo o tempo, o dinheiro,
a paciência e, muitas vezes, até a compostura. Quantas gentilezas fingidas,
quantos sorrisos falsos. Quantas esmolas para nos vermos livres do pedinte. Quantas
ações que não nos levam a nada e a lugar nenhum. E, no final do dia, no final
de tudo isso, sentimo-nos vazios, inúteis, ou com uma alegria que não nos
satisfaz interiormente. Quantos fardos pesados o mundo coloca nos nossos
ombros.
Quantos fardos
pesados temos de carregar para atender às necessidades hipócritas de uma
sociedade apodrecida e farisaica.
Quantos fardos
temos de remover para não ficarmos para trás na estúpida competição de quem se
veste melhor, de quem tem o melhor carro, a melhor casa, a melhor posição
social, de quem é mais no plano dos homens, e, no fim, tudo isso nos leva de
volta de onde viemos: ao pó... “... tu és
pó e ao pó tornarás” (Gn 3,19).
Quantos fardos
pesados o mundo coloca às nossas costas.
O mundo é
exigente e apenas nos dá uma satisfação passageira, uma alegria que não
satisfaz, uma vitória sem glória, um triunfo sem merecimentos. E, depois de
estarmos descrentes de tudo e de todos, depois de havermos dado tudo de nós
para conquistar a glória do mundo e ficar desiludidos e sozinhos, vem Jesus
Cristo e nos propõe: “Venham a mim todos vocês
que estão cansados sob o peso de vosso fardo e eu darei descanso a vocês” (Mt
11,28).
Jesus Cristo
chama para junto de si todos os desesperançados e desiludidos da vida, aqueles
que não encontram mais alegria na vida, no meio e no mundo onde vivem; aqueles
a quem o mundo já secou, já desiludiu, a quem, para o mundo, já não serve para
mais nada, aqueles a quem o mundo exigiu tudo e nada deu em troca, a não ser um
vazio intenso e doloroso e a descrença total das coisas.
Jesus Cristo, no
seu plano de amor, pede para que não mais tomamos sobre nós o fardo e o jugo do
mundo e sim que, segundo suas palavras: "Tomem
sobre vocês o meu jugo e aprendem de mim, porque sou manso e humilde de
coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas, pois o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve." (Mt
11,29-30).
Como somos
orgulhosos; nem para sermos aliviados em nossos problemas, em nossas angústias,
em nossos sofrimentos, em nossas preocupações, procuramos o Senhor Jesus.
Lutamos tanto
para sermos alguém no mundo e na vida e perdemos a vida lutando por nada.
Jesus Cristo nos
chama a atenção a respeito disso, dizendo: “De
fato, que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si
mesmo?” (Lc 9,25).
O mundo nos
oferece uma vida, uma vida de aparências, de rótulos farisaicos, de alegrias
vãs e passageiras, uma vida ilusória. Jesus Cristo nos oferece outro tipo de
vida: “Se alguém quiser me seguir,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia
e me siga” (Lc 9,23) e “se alguém quer me servir, siga-me. e onde
eu estiver, ai estará também o meu servo” (Jo 12,26), e mais “se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o
último, aquele que serve a todos." (Mc 9,35) nos dando essa garantia: “eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
O mundo nos
oferece uma vitória, a vitória da satisfação passageira; Jesus Cristo nos
oferece outra vitória: a conquista da vida eterna.
Ser alguém nos
planos do mundo não é o mesmo que ser alguém nos planos de Deus.
A vida que o
mundo nos oferece termina com o nosso último suspiro; a vida que Jesus Cristo
nos oferece permanece na eternidade, não se findará jamais.
A vitória que o
mundo nos oferece é uma vitória conseguida com as lágrimas, sangue e sacrifício
dos irmãos.
A vitória que
Jesus Cristo nos oferece é conseguida com a ajuda aos outros, amando aos outros
a exemplo de Jesus Cristo: “Assim como eu
amei vocês, vocês se devem amar uns aos outros” (Jo 13,34); “Amem os seus inimigos e façam o bem aos que
os odeiam. Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que
caluniam vocês” (Lc 6,27-28); “Eu dou
a vocês um mandamento novo. amem uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês
devem amar uns aos outros” (Jo 13,34); “Se
alguém me ama, guarda a minha palavra, e meu pai o amará. Eu e meu Pai viremos
a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo, 23); “Se vocês perdoarem aos homens os males que eles fizeram, o pai de
vocês que está nos céus também perdoará a vocês” (Mt 6,14); “Se
vocês tiverem amor uns para os outros, todos reconhecerão que vocês são meus
discípulos” (Jo 13,35) e, finalmente, “Se
vocês guardarem a minha palavra, vocês, de fato, serão meus discípulos” (Jo 8,31).
Ser alguém nos
planos do mundo é conseguir o que conseguiu e chegou onde está pisando nas
cabeças dos outros para conseguir posições e postos mais elevados; é fazer dos
irmãos meros degraus da escada de seu sucesso, não se interessando se está
machucando, se está ferindo, se está humilhando, se está pagando o salário da
fome, porque, para o mundo, o que interessa é promover-se cada vez mais à custa
de qualquer sacrifício, mas, sacrifício dos outros.
Agora, ser
alguém nos planos de Deus é completamente diferente.
O último será o
primeiro. O mais importante é aquele que serve os irmãos. O mais importante é
aquele que procura a perfeição às custas de seu próprio sacrifício e sempre com
a preocupação de ajudar, auxiliar, amparar ao irmão que necessita de seu apoio,
de sua ajuda.
E esse tipo de
vida que Jesus nos oferece é uma coisa maravilhosa, tão maravilhosa que Jesus
não se contém, e eleva aos céus uma de suas mais belas orações: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu, porque escondeste
essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim Pai,
porque assim foi do teu agrado” (Mt 11,25); “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. eu sei que sempre me ouves”
(Jo 11,41-42).
Jesus Cristo
louva e agradece ao Pai porque ele escondeu a vida, a sua misericórdia e
sabedoria aos sábios doutores e ricos, duros de coração, sem abertura para as
coisas de Deus e as revelou aos pobres e pequeninos.
A mensagem de
Jesus Cristo veio para os humildes, para os pobres, para os pequeninos aos olhos
do mundo. Os grandes jamais poderão entendê-la.
Jesus Cristo se
faz pequeno para que os pequenos o pudessem entender.
Jesus Cristo,
através de seu Evangelho, faz uma série de propostas dirigidas, principalmente,
para os desiludidos do mundo: “Venham a
mim todos vocês que estão cansados sob o peso de seus fardos e eu darei
descanso a vocês. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou
manso e humilde de coração e vocês encontrarão descanso para as suas almas,
pois o meu jugo è suave e o meu fardo è leve” (Mt 11,28-30).
Repito: é um dos
textos mais fortes e lindos dos Santos Evangelhos e nos mostra que Jesus Cristo
veio para mudar o coração e a estrutura do homem.
Com que carinho e
amor Jesus se dirige aos pequeninos, aos pobres, aos desprezados, aos desiludidos,
aos abandonados, aos descrentes.
Jesus ampara o
desesperado, o cansado, o desiludido de confiar no mundo e nos homens.
E ele faz isso
sem usar a força e a violência contra as pessoas, mas procura e se dirige
àqueles que se sentem cansados, rejeitados, humilhados pelo peso da estrutura
das religiões, da política, das estruturas que escravizam o homem e da
sociedade que só sabe impor leis como meio de dominação a favor dos poderosos e
dos que as dirigem.
Todos os que
estão cansados, preocupados, sem esperanças, Jesus chama para si e se propõe aliviá-los.
Somos orgulhosos e egoístas até no que diz respeito na divisão de nossas
preocupações.
Todos temos
preocupações, quem não as tem? As preocupações, as tristezas, as angústias, as
desilusões nos consomem, nos diminuem e nos causam insegurança. E Jesus Cristo,
mais do que ninguém, sabe disso. E é por isso que ele diz: “Venham a mim todos vocês que estão cansados sob o peso de seus fardos
e eu darei a vocês descanso” (Mt 11,28).
Não podemos
guardar só para nós as nossas misérias.
Jesus Cristo
coloca-se à nossa disposição, oferece-se e nos pede que as dividamos com ele.
Jesus não quer
compartilhar só das nossas alegrias; ele é o verdadeiro amigo que quer estar do
nosso lado tanto nos momentos alegres como nos tristes, tanto nos momentos de
euforia como nos momentos de angústia, de sofrimento, de desespero, de
desilusões: “vinde a mim todos os que estais
cansados... E eu vos darei descanso... aprendam de mim, porque sou manso e
humilde coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas” (Mt 11,28.29).
Jesus, sendo
Deus, tornou-se o homem mais “manso e
humilde de coração” da terra e de todos os tempos; tornou-se o mais simples
e o mais pobre para que ninguém, em tempo algum pudesse dizer que existe ou já
existiu alguém mais simples e pobre que ele e é por isso que ele diz: “...aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração...” (Mt 11,29), e a pureza, a
pobreza e a simplicidade de Jesus chega no seu ápice quando, na última ceia,
reunido na mesa com seus apóstolos, “...levanta-se
da mesa, tira o manto, e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. depois coloca água numa bacia e começa a
lavar os pés dos discípulos e a
enxugá-los com a toalha com que estava cingido” (Jo 13,4-5).
O fardo de Deus,
o jugo que ele nos propõe não é, absolutamente, uma imposição igual a dos
homens e do mundo, e sim uma proposta de amor, de segurança, de comunhão e de
paz interior.
Jesus convoca
para junto de si os pobres, humildes, desiludidos da vida, sofredores, para
lhes manifestar o amor de Deus e introduzi-los em seu Reino.
Vamos ao
encontro de Cristo. Vamos dividir com ele tudo o que nos causa alegria, mas ele
quer também que dividamos com ele o que nos entristece, nos oprime, nos
angustia, nos desilude, tudo o que nos magoa. Vamos dividir a nossa vida com
ele.
Ele nos aceita
assim, como somos, com virtudes e defeitos, com méritos e pecados, com problemas
e soluções; ele sabe muito bem do barro que fomos feitos...
Jesus Cristo nos
quer assim como somos e, na medida em que nos entregarmos a ele e confiarmos
nele, ele vai nos transformando e nos dando aquela paz interior que é só dele e
só dele vem; ele nos dá uma felicidade que não é deste mundo, mas que vem do
Pai que está nos Céus e, por isso, ele nos repete todos os dias: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. não se perturbe nem se intimide vosso coração”
(Jo 14,27).
Nenhum comentário:
Postar um comentário