domingo, 14 de junho de 2015

A FORÇA DO REINO – O GRÃO DE MOSTARDA

“O REINO DE DEUS É COMO UMA SEMENTE DE MOSTARDA, QUE É A MENOR DE TODAS AS SEMENTES DA TERRA”. (Mc 4,26-34).


Diácono Milton Restivo

Jesus continua a falar em parábolas sobre o Reino de Deus. No capítulo 4 de Marcos Jesus continuou a ensinar o povo por meio de parábolas.
Primeiro Jesus conta a parábola do semeador que saiu para semear, que nós conhecemos como a parábola do semeador.
Como é sabido, parábola é uma narração, geralmente curta e baseada num acontecimento rotineiro e diário ou sazonal, para ensinar uma verdade vivencial, moral ou espiritual, através de comparação com a vida real. A parábola é uma das formas da pregação de Jesus: “Muitas coisas lhes falou em parábolas” (Mt 13,3). 
Jesus fala aos discípulos e às multidões em parábolas. A parábola permite então uma avaliação da profundidade das relações que cada pessoa tem com Jesus: o critério de nossa intimidade com Cristo está no fato de sermos seus discípulos (Mt 12,48-49; 13,55-57). A parábola é “sacramento”, isto é, a parábola é um gesto de Deus para o homem, um chamado e uma “provocação” de Deus ao interlocutor humano.

Na parábola Jesus retoma casos e imagens da própria vida: o campo, a semeadura, a casa, o mercador, a ovelha, o patrão, o empregado, a vinha... É da realidade terrena e da vida vivida de cada dia que Jesus chega às realidades sobrenaturais. É a lógica da encarnação. E Jesus, sempre que ficava sozinho com seus discípulos, estes lhe perguntavam qual era o sentido das parábolas que lhes contava: “Quando Jesus ficou sozinho, os que estavam  com ele, junto com os Doze, perguntaram o que significavam as parábolas”. (Mc 4, 10).  E Jesus os esclarecia a respeito. 
No Evangelho deste domingo Jesus inicia falando do homem que lançou a semente na terra.  Essa é a nossa função, essa é a função de todos os cristãos: lançar a semente. Como na parábola do semeador, não importa aonde a semente venha a cair, o importante é semear.
Não é responsabilidade do semeador se a semente cair em terreno árido, rochoso, cheio de espinhos, e também não é sua responsabilidade se a semente vier a germinar ou não. Isso vai depender do terreno onde a semente caiu e da participação do agricultor, que é o Pai. Por isso, Jesus tranquiliza o semeador: “Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece”. (Mc 4,27). Depois de espalhar a semente, de proclamar a Palavra, o semeador, o cristão, pode dormir e acordar sossegado na certeza de ter cumprido o seu dever; o que vem depois vai depender da terra em que a semente, a Palavra foi semeada “porque o homem não sabe como isso acontece”, porque é o Pai que passa a agir, e “a terra produz fruto por si mesma” (Mc 4,28a). Os resultados se fazem aparecer: “primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos enchem a espiga” (Mc 4,28b).
Há a necessidade de que o semeador que semeia a semente ou o cristão que proclama a Palavra confiarem e serem pacientes até que elas germinem e frutifiquem como se estivessem esperando a vinda do ceifador, que é o Pai, o agricultor, conforme disse Tiago em sua carta: “Irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Olhem o agricultor: ele espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a chuva do outono e da primavera. Sejam pacientes vocês também; fortaleçam os corações, pois a vinda do Senhor está próxima”. (Tg 5,7).
Mas Jesus não para por ai; ele quer ver o resultado da germinação e da frutificação da semente que foi lançada na terra: “Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou”. (Mc 4,29). Assim como o semeador anseia pelo resultado de sua plantação, e quando ela frutifica, ele apanha a foice para apará-la e colhê-la, também o Pai, o agricultor anseia pela germinação e frutificação da Palavra que foi lançada nos corações; no tempo oportuno Ele virá com a foice para colher os seus frutos; os colherá, se tiverem vingado ou os cortará e lançará fogo na plantação se estes o tiver decepcionado, conforme já dissera o profeta Joel: “Lancem a foice, porque a colheita está madura. Venham pisar, pois o tanque está cheio e os barris transbordando, porque é grande a maldade das nações”. (Jl 4,13). 
Depois dessa explanação, Jesus volta a se preocupar com o Reino dos Céus e procura fazer uma comparação ou alusão: “O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (Mc 4,31-32).
Como poderíamos trazer para os nossos dias essa comparação que Jesus faz do Reino, da semente de mostarda, do seu crescimento vertiginoso, dos seus grandes galhos e do abrigo que fornece aos pássaros? O Reino de Deus é uma realidade no nosso meio. Um grande edifício começa com o lançamento de um pequeno tijolo. Com pequenas pedras se faz uma grande montanha. Com gotas de água se formam fontes, que se tornam rios que se agrupam no mar, formando o grande oceano. Uma grande ceara começa com o lançamento, por parte do semeador, de uma primeira e pequena semente. Então o Reino de Deus começa com cada um dos cristãos.
O cristão é o primeiro tijolo, a primeira pedra, a primeira gota de água, a primeira pequenina semente de uma grande plantação que é o Reino de Deus. O que está faltando para que Deus realize o seu grande sonho de concretizar o Reino dos Céus? Semeadores da Palavra. Para o semeador exercer a sua função há a necessidade da semente. Tentar fazer uma colheita sem plantar a semente é completamente ridículo. Além de semeadores da Palavra, o cristão também deve ser semente nas mãos do Pai e que esteja disposto a que o Senhor o plante onde ele queira.
Toda semente destaca-se pela insignificância, humildade e pequenez, e Jesus faz referência à menor de todas as sementes, a da mostarda. Quando o cristão se identificar com essa semente e se deixar ser plantado onde o Pai o determina, de única, humilde e solitária semente, ele germinará, crescerá, frutificará e os pássaros do céu irão buscar conforto e refúgio nos seus galhos.
Jesus define bem o sacrifício, a entrega total e a missão da semente: “Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muitos frutos”. (Jo 12,24).
O Reino de Deus começou somente com um que subiu na montanha para rezar, que depois escolheu doze, que depois escolheu setenta e dois: “Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou  seus discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Mt 6,12-13). “Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus”. (Mc 6,7). “Convocando os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, bem como para curar doenças, e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar” [...] “Depois disso escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois para toda cidade e lugar onde ele próprio devia ir”. (Lc 9,1-2; 10,1).  Por que os mandou dois a dois para proclamar a chegada do Reino? Porque ele havia dito: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. (Mt 18,20). Veja como o Reino de Deus se propagou por sobre a terra: começou com uma simples sementinha de trigo que foi jogada no chão, morreu e, depois de três dias, ressuscitou germinando, e deu muitos frutos: “Eu garanto a vocês; se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto.” (cf Jo 12,24); Esse grão que caiu na terra, morreu e ressuscitou, escolheu doze, depois escolheu setenta e dois, depois escolheu a mim e a você e que, por nós, fundou a Igreja sobre a qual o poder do inferno nada poderá contra ela: “... e o poder da morte nunca poderá vencê-la.” (Mt 16,18b).
E tudo começou com um pequeno grão de mostarda, com o grão de trigo que foi crucificado, jogado na terra, ressuscitado para nos enviar o Espírito de Deus.
Será que deu para entender o que Jesus quis dizer: “O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (?) (Mc 4,31-32). 

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