“O REINO DE DEUS É COMO UMA SEMENTE DE
MOSTARDA, QUE É A MENOR DE TODAS AS SEMENTES DA TERRA”. (Mc 4,26-34).
Diácono Milton Restivo
Jesus continua a falar em parábolas sobre o Reino de
Deus. No capítulo 4 de Marcos Jesus continuou a ensinar o povo por meio de
parábolas.
Primeiro Jesus conta a parábola do semeador que saiu
para semear, que nós conhecemos como a parábola do semeador.
Como é sabido, parábola é uma narração, geralmente
curta e baseada num acontecimento rotineiro e diário ou sazonal, para ensinar
uma verdade vivencial, moral ou espiritual, através de comparação com a vida
real. A parábola é uma das formas da pregação de Jesus: “Muitas coisas lhes falou em parábolas” (Mt 13,3).
Jesus fala aos discípulos e às multidões em parábolas. A parábola
permite então uma avaliação da profundidade das relações que cada pessoa tem
com Jesus: o critério de nossa intimidade com Cristo está no fato de sermos
seus discípulos (Mt 12,48-49; 13,55-57). A parábola é “sacramento”, isto é, a
parábola é um gesto de Deus para o homem, um chamado e uma “provocação” de Deus
ao interlocutor humano.
Na parábola Jesus retoma casos e imagens da própria vida:
o campo, a semeadura, a casa, o mercador, a ovelha, o patrão, o empregado, a
vinha... É da realidade terrena e da vida vivida de cada dia que Jesus chega às
realidades sobrenaturais. É a lógica da encarnação. E Jesus, sempre que ficava
sozinho com seus discípulos, estes lhe perguntavam qual era o sentido das
parábolas que lhes contava: “Quando Jesus
ficou sozinho, os que estavam com ele,
junto com os Doze, perguntaram o que significavam as parábolas”. (Mc 4,
10). E Jesus os esclarecia a
respeito.
No Evangelho deste domingo Jesus inicia falando do
homem que lançou a semente na terra.
Essa é a nossa função, essa é a função de todos os cristãos: lançar a
semente. Como na parábola do semeador, não importa aonde a semente venha a
cair, o importante é semear.
Não é responsabilidade do semeador se a semente cair
em terreno árido, rochoso, cheio de espinhos, e também não é sua
responsabilidade se a semente vier a germinar ou não. Isso vai depender do
terreno onde a semente caiu e da participação do agricultor, que é o Pai. Por
isso, Jesus tranquiliza o semeador: “Depois
ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o
homem não sabe como isso acontece”. (Mc 4,27). Depois de espalhar a
semente, de proclamar a Palavra, o semeador, o cristão, pode dormir e acordar
sossegado na certeza de ter cumprido o seu dever; o que vem depois vai depender
da terra em que a semente, a Palavra foi semeada “porque o homem não sabe como isso acontece”, porque é o Pai que
passa a agir, e “a terra produz fruto por
si mesma” (Mc 4,28a). Os resultados se fazem aparecer: “primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos
enchem a espiga” (Mc 4,28b).
Há a necessidade de que o semeador que semeia a
semente ou o cristão que proclama a Palavra confiarem e serem pacientes até que
elas germinem e frutifiquem como se estivessem esperando a vinda do ceifador,
que é o Pai, o agricultor, conforme disse Tiago em sua carta: “Irmãos, sejam pacientes até a vinda do
Senhor. Olhem o agricultor: ele espera pacientemente o fruto precioso da terra,
até receber a chuva do outono e da primavera. Sejam pacientes vocês também;
fortaleçam os corações, pois a vinda do Senhor está próxima”. (Tg 5,7).
Mas Jesus não para por ai; ele quer ver o resultado da
germinação e da frutificação da semente que foi lançada na terra: “Quando as espigas estão maduras, o homem
corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou”. (Mc 4,29). Assim
como o semeador anseia pelo resultado de sua plantação, e quando ela frutifica,
ele apanha a foice para apará-la e colhê-la, também o Pai, o agricultor anseia
pela germinação e frutificação da Palavra que foi lançada nos corações; no
tempo oportuno Ele virá com a foice para colher os seus frutos; os colherá, se
tiverem vingado ou os cortará e lançará fogo na plantação se estes o tiver
decepcionado, conforme já dissera o profeta Joel: “Lancem a foice, porque a colheita está madura. Venham pisar, pois o
tanque está cheio e os barris transbordando, porque é grande a maldade das
nações”. (Jl 4,13).
Depois dessa explanação, Jesus volta a se preocupar
com o Reino dos Céus e procura fazer uma comparação ou alusão: “O Reino é como uma semente de mostarda, que
é a menor de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda
cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que
os pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (Mc 4,31-32).
Como poderíamos trazer para os nossos dias essa
comparação que Jesus faz do Reino, da semente de mostarda, do seu crescimento vertiginoso,
dos seus grandes galhos e do abrigo que fornece aos pássaros? O Reino de Deus é
uma realidade no nosso meio. Um grande edifício começa com o lançamento de um
pequeno tijolo. Com pequenas pedras se faz uma grande montanha. Com gotas de
água se formam fontes, que se tornam rios que se agrupam no mar, formando o
grande oceano. Uma grande ceara começa com o lançamento, por parte do semeador,
de uma primeira e pequena semente. Então o Reino de Deus começa com cada um dos
cristãos.
O cristão é o primeiro tijolo, a primeira pedra, a
primeira gota de água, a primeira pequenina semente de uma grande plantação que
é o Reino de Deus. O que está faltando para que Deus realize o seu grande sonho
de concretizar o Reino dos Céus? Semeadores da Palavra. Para o semeador exercer
a sua função há a necessidade da semente. Tentar fazer uma colheita sem plantar
a semente é completamente ridículo. Além de semeadores da Palavra, o cristão
também deve ser semente nas mãos do Pai e que esteja disposto a que o Senhor o plante
onde ele queira.
Toda semente destaca-se pela insignificância,
humildade e pequenez, e Jesus faz referência à menor de todas as sementes, a da
mostarda. Quando o cristão se identificar com essa semente e se deixar ser
plantado onde o Pai o determina, de única, humilde e solitária semente, ele
germinará, crescerá, frutificará e os pássaros do céu irão buscar conforto e
refúgio nos seus galhos.
Jesus define bem o sacrifício, a entrega total e a
missão da semente: “Se o grão de trigo
não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muitos
frutos”. (Jo 12,24).
O Reino de Deus começou somente com um que subiu na
montanha para rezar, que depois escolheu doze, que depois escolheu setenta e
dois: “Nesses dias, Jesus foi para a
montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus. Ao amanhecer,
chamou seus discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de
apóstolos”. (Mt 6,12-13). “Chamou os
doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os
espíritos maus”. (Mc 6,7). “Convocando
os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, bem como para
curar doenças, e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar” [...] “Depois disso escolheu outros setenta e dois
discípulos, e os enviou dois a dois para toda cidade e lugar onde ele próprio
devia ir”. (Lc 9,1-2; 10,1). Por que
os mandou dois a dois para proclamar a chegada do Reino? Porque ele havia dito:
“Pois onde dois ou três estiverem
reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. (Mt 18,20). Veja como o
Reino de Deus se propagou por sobre a terra: começou com uma simples sementinha
de trigo que foi jogada no chão, morreu e, depois de três dias, ressuscitou
germinando, e deu muitos frutos: “Eu garanto a vocês; se o grão de trigo não
cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto.”
(cf Jo 12,24); Esse grão que caiu na terra, morreu e ressuscitou, escolheu
doze, depois escolheu setenta e dois, depois escolheu a mim e a você e que, por
nós, fundou a Igreja sobre a qual o poder do inferno nada poderá contra ela: “...
e o poder da morte nunca poderá vencê-la.” (Mt 16,18b).
E tudo começou com um pequeno grão de mostarda, com o
grão de trigo que foi crucificado, jogado na terra, ressuscitado para nos
enviar o Espírito de Deus.
Será que deu para entender o que Jesus quis dizer: “O Reino é como uma semente de mostarda, que
é a menor de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda
cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que
os pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (?) (Mc 4,31-32).
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