quinta-feira, 4 de junho de 2015

CORPUS CHRISTI - FESTA DO CORPO E SANGUE DE CRISTO

CORPUS CHRISTI - FESTA DO CORPO E SANGUE DE CRISTO
Leituras: Ex 24,3-8; Sl 115; Hb 9,11-15; Mc 14, 12-16.22-26.


Diácono Milton Restivo

No mês de junho de 2015 a Igreja celebra, além da festa de Corpus Christi no dia 04, as festas do Sagrado Coração de Jesus no dia 12 e do Doce Coração de Maria no dia 13, dois grandes momentos de afirmativa do grande amor que o Pai tem por nós.
A festa de Corpus Christi é comemorada na quinta-feira seguinte à festa da Santíssima Trindade, que foi celebrada no último domingo.
Para testemunhar e confirmar a morte de Jesus na cruz, “um soldado, lhe atravessou o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água.” (Jo 19,34).
O artigo 112 do Catecismo da Igreja Católica diz: “Prestar muita atenção "ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira". Pois, por mais diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração, aberto depois de sua Páscoa. O coração de Cristo designa a Sagrada Escritura, que dá a conhecer o coração de Cristo. O coração estava fechado antes da Paixão, pois a Escritura era obscura. Mas a Escritura foi aberta após a Paixão, pois os que a partir daí têm a compreensão dela consideram e discernem de que maneira as profecias devem ser interpretadas.”
        Quando da apresentação de Jesus menino no Templo, o velho Simeão dirigiu-se à Maria, dizendo: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe o coração.” (Lc 2,34-35).
E Lucas, para demonstrar a profundidade de amor do coração de Maria, atesta: “E sua mãe conservava no coração todas essas coisas.” (Lc 2,51).
São citações bíblicas que narram e profetizam momentos dolorosos que têm o coração como ponto central e de referência: no primeiro, o Coração de Jesus ferido pela lança como que fazendo uma abertura para nos acolher a todos no amor que ele nos dedica; no segundo, o alerta que o profeta e velho Simeão faz à Maria por tudo o que ela deveria passar pelo seu filho Jesus e pelos demais filhos que somos nós, que o levamos ao patíbulo da cruz.
Liturgicamente a festa de Corpus Christi acontece na quinta-feira posterior à festa da Santíssima Trindade. Porque quinta feira?  Como alusão à Quinta-feira Santa, quando se deu a instituição da Eucaristia durante a última ceia de Jesus com seus apóstolos.
Os Evangelistas Mateus 16,26-28, Marcos 14,22-24 e Lucas 22,19-20 narram a instituição da Eucaristia em poucas palavras: “Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, o partiu,  distribuiu aos seus discípulos, e disse: ‘Tomam e comem, isto é meu corpo’. Em seguida tomou um cálice, agradeceu, e deu a eles, dizendo: ‘Bebam dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança que é derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados.” (Mt 16,26-28).
No Evangelho de João não encontramos a passagem da instituição da Eucaristia, mas João narra o lava-pés que não se encontra nos demais Evangelhos.
João, na despedida de Jesus na última Ceia, é mais pródigo em discursos e recomendações por parte de Jesus aos seus apóstolos e termina com a oração sacerdotal.
Mas foi Paulo quem primeiro escreveu sobre a instituição da Eucaristia considerando que os seus escritos são bem anteriores aos Evangelhos e, na sua primeira carta aos corintios, nos narra esse acontecimento da seguinte maneira: “De fato, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que transmiti para vocês. Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, o partiu e disse: ‘Isto é o meu corpo que é para vocês; façam isso em memória de mim’. Do mesmo modo, após a ceia, tomou também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que vocês beberem dele, façam isso em memória de mim’. Portanto, todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, está anunciando a morte do Senhor, até que ele venha.” (1Cor 11,23-26).
O artigo 1357 do Catecismo da Igreja Católica diz que “Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao fazermos isto, oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua criação, o pão e o vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo se tornaram o Corpo e o Sangue de Cristo, o qual, assim, se torna real e misteriosamente presente”.
O artigo 1374 diz que “O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que seja “como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo”. “Esta presença chama-se ‘real’ não por exclusão, como se as outras não fossem ‘reais’, mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo.”
A Eucaristia, o Corpo e Sangue de Cristo, é o Sacramento por excelência e, conforme diz o Catecismo da Igreja Católica, “a Eucaristia está acima de todos os sacramentos e faz com que seja “como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”, confirmando isso no artigo 407: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.”
A festa de Corpus Christi é a comemoração, por excelência, e a festa da entrega total de Jesus no sacramento da Eucaristia como nosso alimento e fortalecimento na vida espiritual, como ele afirma: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim não terá mais sede. [...] Eu sou o pão da vida. Os pais de vocês comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desceu do céu: quem dele comer nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida. Eu garanto a vocês: se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida em vocês. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele. E como o Pai, que vive, me enviou,  e eu vivo pelo Pai, assim, aquele que me receber como alimento viverá em mim.  Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que o pai de vocês comeram e depois morreram. Quem come deste pão viverá para sempre.” (Jo 6,35.48-58).
Desde o inicio da Igreja a Eucaristia é o ponto de união dos fieis, mas, já no tempo de Paulo, havia abusos e irresponsabilidades da recepção da Eucaristia, e Paulo não se cala: “Antes de tudo, ouço dizer que, quando estão reunidos em assembléia há divisões entre vocês. [...] De fato, quando se reúnem, o que vocês fazem não é comer a Ceia do Senhor, porque cada um se apressa em comer a sua própria ceia. E, enquanto um passa fome, outro fica embriagado.” (1Cor 11,18.20-21).
E Paulo continua chamando os cristãos à responsabilidade: “Por isso, todo aquele que comer do pão ou beber do cálice indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, cada um examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação.” (1Cor 26,27-29).
Jesus de Nazaré não está longe de nós. Antes de subir aos céus, após haver sido morto e ter ressuscitado, por ocasião de sua ascensão, disse aos apóstolos, discípulos, e a todos nós: “Eu vou estar com vocês todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20).
Jesus não poderia ter afirmado uma coisa que não seria verdade, porque ele é a verdade por excelência: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (Jo 14,6).
Como acontece de Jesus estar conosco, todos os dias? Isso acontece de muitas maneiras, mas, de uma maneira especial, no Sacramento da Eucaristia.
Jesus permanece conosco através da sua Palavra: Pedro escreve em sua carta, confirmando isso: “A palavra de Deus permanece eternamente, e esta palavra é a que foi anunciada para vocês pelo Evangelho.” (1Pd 1,25).
Jesus permanece conosco na sua Igreja, o seu Corpo Místico, como disse Paulo (1Cor 12,12-31): “Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um, como parte desse corpo, é membro.” (1Cor 12,27), e como ensina o Concílio Vaticano II através da Encíclica Lumem Gentium, 1: “A Igreja  é o Sacramento ou o sinal ou instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano.” Jesus permanece conosco pela presença e atuação do Espírito Santo, conforme escreve Paulo: “Deus manda aos seus corações o Espírito de seu Filho que clama “Abba”, que quer dizer “Pai””. (Gl 4, 6).
Jesus continua conosco através da tradição da Igreja.
Jesus está conosco através dos Sacramentos que nos conferem a graça, conforme disse o Papa Paulo VI na Encíclica “Mistérium Fidei, 38: “E ninguém ignora serem os sacramentos ações de Cristo que os administra por meio dos homens. Por isso, são santos por si mesmos e, quando tocam nos corpos, infundem, por virtude de Cristo, a graça nas almas.”
E, sobretudo, Jesus permanece conosco no Sacramento da Eucaristia, que é o seu corpo, o seu sangue e o seu sacrifício presentes em todos nós.
Na cidade de Cafarnaum, depois da multiplicação dos pães, Jesus disse: “O pão que hei de dar é minha carne para a salvação do mundo”. (Jo 6,51), e mais: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo 6,56).
A nossa Igreja sempre ensinou, acredita e vive que, assim quando se celebra a santa ceia a mandado de Jesus, presidida por um sacerdote, ali está presente o corpo e o sangue de Jesus, e ali se renova o seu sacrifício. E, na santa missa, o celebrante repete as palavras de Jesus, quando disse ao tomar o pão: “este é o meu corpo”, e ao tomar o cálice: “este é o meu sangue”, e complementa, dizendo: “eis o mistério da fé”, e todos respondemos: “celebramos, Senhor, a vossa morte e anunciamos a vossa ressurreição, enquanto esperamos a vossa vinda.”(cf 1Cor 11,23-30).
A Eucaristia é, antes de tudo, uma refeição comunitária. Sempre e em toda parte, a refeição foi e é um símbolo de união entre as pessoas que se conhecem, se estimam e se amam.
Eucaristia é, em primeiro plano, a refeição de irmãos que se amam, e mais do que isso, de irmãos que conhecem o Pai e são agradecidos por todos os benefícios que tem recebido e ainda receberão durante toda a sua vida do Pai. 
Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual Jesus, na última ceia, tenha mandado Judas embora e não tenha permitido que ele participasse da instituição da Eucaristia, pois aquilo que estava acontecendo era uma reunião de irmãos que se amavam e amavam o Pai presente na pessoa de Jesus e no coração de todos eles reinava o amor, menos no coração de Judas, onde já habitava o demônio.
Paulo preocupado com a indiferença e o pouco caso com que alguns primeiros cristãos estavam tendo na recepção da Eucaristia, chama a atenção deles, e chama a nossa atenção ainda hoje, escrevendo: “Aquele que come e bebe indignamente o corpo e o sangue do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.” (1Cor 11,29).
Jesus é o pão da vida, em primeiro lugar por causa de sua palavra que abre as portas da vida eterna a todos aqueles que crêem, e depois por sua carne e seu sangue que nos é dado a comer e a beber (cf Jo 6,26-58). Se não nos alimentarmos primeiro com a palavra de Deus, jamais entenderemos o que seja a Eucaristia, e pouco proveito tiraremos dela, porque a Eucaristia, antes de tudo, deve ser o coroamento de uma vida autenticamente cristã, de uma vida inteiramente voltada para as coisas de Deus e dos irmãos. Quando recebemos a Eucaristia estamos dando o nosso testemunho de autêntica vida cristã, de uma vida nos moldes do Evangelho, e de uma vida verdadeiramente voltada ao amor de Deus e ao próximo.
Se a Eucaristia é a refeição de irmãos que se amam, não podemos conceber em receber a Eucaristia estando em desarmonia com o irmão: “Se você estiver diante do altar para oferecer o seu sacrifício e se lembrar que tem alguma desavença contra algum seu irmão, deixe ali a sua oferta e vai primeiro se reconciliar com o seu irmão, e depois volte e faça a sua oferta.” (Mt 5,23-24); E quais são, então, as disposições para se aproximar da Eucaristia, para comungar?
1.      Apresentar-se dignamente vestido; é uma irreverência imperdoável ir comungar com vestes decotadas, indecentes ou indecorosas.
2.      Jejum eucarístico - respeito à Eucaristia - Alimentos sólidos uma hora antes da comunhão. As pessoas doentes e mulheres grávidas são isentas do jejum eucarístico, e podem tomar água ou remédios até momentos antes de receber a Eucaristia.
3.       Receber a partícula na mão com respeito e cuidado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário