domingo, 16 de agosto de 2015

ASSUNÇÃO DE MARIA, A MÃE DE JESUS, AOS CÉUS


ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

“A MINHA ALMA ENGRANDECE O SENHOR”. (Lc 1,46).


Diácono Milton Restivo

Hoje, festivamente, a Igreja comemora, liturgicamente, a Assunção de Maria, a Mãe de Jesus, aos céus. O Senhor nosso Deus não permitiu o corpo daquela mulher que ele escolhera para, no seu ventre, o seu Filho Unigênito assumisse a natureza humana, fosse entregue à decomposição, como são todos os demais corpos dos seres viventes.
O corpo dessa mulher foi o primeiro sacrário de seu Filho, e não somente isso; foi no ventre desse corpo que o Seu Filho recebeu a forma humana, corpo e sangue, para que se concretizasse nele o assumir a natureza humana.
É essa mulher que nós, cristãos, precisamos conhecer bem.
Devemos ver Maria como a viram os primeiros cristãos com os dados que os Santos Evangelhos lhes forneceram: Maria mulher, Maria esposa, Maria dona de casa, Maria humilde, Maria doce, Maria meiga, Maria pobre. 
      No tempo de Maria, como hoje, deveriam existir mulheres que se destacavam na sociedade, na política, no poder, na riqueza.
Mulheres que, sem dúvida, poderiam oferecer ao Filho de Deus, para o seu nascimento, um palácio com todas as mordomias, ao invés de uma gruta úmida e fria; poderiam oferecer um berço de ouro, ao invés de um cocho mal cheiroso e de higiene duvidosa de animal como primeiro leito; aquecedores de ar ao invés do respirar quente dos animais para aquecer o recém-nascido; uma banheira com água aromatizada para dar o primeiro banho ao que acabara de nascer, ao invés de, possivelmente, uma poça de água da chuva ou água do bebedouro dos animais.
O Pai poderia ter escolhido, para o nascimento de seu Filho, uma mulher que poderia providenciar e determinar para que as primeiras visitas ao Filho de Deus recém-nascido fossem os mais ricos e poderosos monarcas que existiam na terra naquele tempo, ao invés de, as primeiras visitas, terem sido, como foram, pobres e humildes, desamparados e discriminados pastores. 
Mas, a Divina Providencia age diferentemente dos pensamentos humanos, como disse Yahweh: “Os meus pensamentos não são os seus pensamentos, e os seus caminhos não são os meus caminhos.” (Is 55,8).
Deus não quis para o seu Filho um palácio, já que o mundo inteiro é seu.
O Senhor não quis para o seu Filho um berço de ouro, já que tem a abóbora celeste para lhe servir de suporte dos pés.
Deus não quis para o seu Filho um aquecedor de ar para aquecê-lo, já que os ventos que sopram dos quatro cantos do Universo obedecem as suas ordens, obedecem a sua voz.
O Pai não quis para o primeiro banho de seu Filho humanado uma banheira com água aquecida, já que ele é o criador de todas as águas que joram sobre a terra e de todos os mares que a cobrem.
Deus não quis para visitar seu Filho pela primeira vez ricos monarcas e poderosos reis e nem esnobes gentes da sociedade, porque ele é o Rei dos Reis, e todos os reinos do mundo lhe pertence.
Deus não quis para mãe de seu Filho uma mulher rica, poderosa, da sociedade, porque sabia que no coração dessas mulheres não havia lugar para a Vida em abundância que deveria ser vivida pelos homens e para a Verdade que seria transmitida a toda a humanidade, porque os corações das mulheres ricas estariam encharcados e inchados das coisas da terra e não teriam espaços para as coisas do céu e nem condições de trilhar o Caminho que o Filho de Deus veio mostrar a todos os que não se envergonhassem dele e de seus ensinamentos.
Para ser a mãe de seu Filho o Senhor não procurou mulheres em palácios ou sociedades, mas procurou a mais pobre, a mais humilde exatamente numa das mais pobres e humildes casas de Nazaré, na Galiléia, cidade desconhecida, até então nos escritos sagrados.
Para a mãe de seu Filho, o Senhor não escolheu a mulher mais rica da terra, mas aquela que estava mais familiarizada com as coisas do céu.
Deus não escolheu uma mulher comprometida com a sociedade e com o mundo, com o coração cheio das preocupações passageiras e apegado demais às coisas que perecem, mas escolheu uma mulher com o coração desapegado, um coração pobre, um coração que, ele sabia, poderia não entender o que estivesse acontecendo, mas que se submeteria dócil e livremente a vontade de Deus, ainda que isso lhe custasse as mais cruciantes dores e que afirmasse com convicção: “Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), e a quem o Espírito Santo diria pela boca de Isabel: “Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre. [...] Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu.” (Lc 142.45).
E Jesus Cristo foi exigente na escolha de sua mãe.
Nós não escolhemos a mãe que temos, embora agradeçamos a Deus pelas mães que ele nos deu, mas Jesus teve um privilégio a mais que nós: ele teve o privilégio de poder escolher a sua mãe, e nisso ele foi exigente: escolheu a mais bela, a mais pura, a mais santa, a mais imaculada, a mais inviolável, e, além de tudo isso, a mais humilde.
Maria foi pobre em toda a extensão da palavra. Não só teve espírito de pobre, mas viveu a pobreza materialmente com todas as suas consequências.
Maria sentiu-se um instrumento humilde e pobre para os planos da Providência. E foi exatamente por isso que o Senhor a julgou apta para operar nela as suas maravilhas.
Poderia haver algo de mais pobre do que uma Virgem para ser mãe?
E no livro do Cântico dos Cânticos, Deus já havia prenunciado a beleza, tanto exterior como interior dessa virgem que seria a mãe de seu Filho, e faz um elogio divino à beleza física e espiritual de Maria: “Quem é essa mulher que se eleva como a aurora, bela como a lua, resplandecente como o sol, temível como batalhões?” (Ct 6,10).
Deus opera as suas maravilhas nos pobres, nos humildes e nos corações desapegados das coisas do mundo, e Maria preencheu em tudo os requisitos exigidos e os desejos do Pai.
Para conhecermos bem Maria, para encontrarmos dentro de sua humildade todo o esplendor da graça da qual Deus Pai sempre a cumulou, precisamos conhecer o que os santos que a amaram muito e a reverenciaram em toda as suas vidas disseram e escreveram sobre ela e como esses santos e santas descobriram em Maria virtudes incalculáveis, tesouros com valores infinitos e como eles se colocaram sob a proteção materna de Maria.
A nossa inteligência é pequena, os nossos conhecimentos parcos, pouquíssimos mesmo; então, por isso, há a necessidade de procurarmos ler escritos dos grandes santos e santas que amaram e veneraram Maria e nos ensinam como devemos amar e venerar a Mãe de Deus e nossa Mãe. Todos os santos que amaram Jesus amaram também Maria sem diminuir ou depreciar o seu amor por Jesus.
Jamais chegaremos a Jesus se não for pelas mãos imaculadas de Maria, considerando que Jesus chegou até nós, assumindo a sua natureza humana pelo ventre sacrossanto de Maria.
O próprio exemplo é Jesus quem nos dá. Para Jesus chegar até nós, ele quis precisar de Maria. Se não fosse por Maria jamais teríamos Jesus como o temos. Jesus, para se fazer o Filho do Homem, ele quis precisar de Maria.
O homem, para se fazer filho de Deus, tem que precisar de Maria também, porque foi no Calvário, nos estertores da morte, quando Jesus sentiu que partiria irremediavelmente deixando os homens sozinhos, foi ali, naquele momento supremo de dor, de angústia e de aniquilamento total que Jesus nos dá Maria como Mãe (cf Jo 19,25-27).
Se quisermos chegar com mais segurança até Jesus, tem que ser pelas mãos imaculadas de Maria. E nós conhecemos tão pouco dessa ligação tão íntima de Maria com Jesus Cristo e de Jesus Cristo com Deus Pai.
Os santos e santas devotos de Maria nos ensinam e nos esclarecem como devemos amar de verdade Maria. Não podemos nos descuidar de conhecer melhor e mais a cada dia que passa esse mar de graças que é Maria.
São Luiz Maria Grignon de Montfort, grande devoto de Maria no seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria” nos dá uma verdadeira lição de conhecimento sobre Maria e como devemos amá-la, e nos diz: “Deus fez um lago muito grande de água, e o chamou de mar – depois fez um mar de graças e o chamou Maria”.
São Bernardo, em uma das orações mais lindas feitas em honra à Maria nos diz que: “jamais se ouviu dizer que alguém que tivesse recorrido à proteção de Maria, tivesse deixado de ser por ela atendido”.
São Maximiliano Maria Kolbe, o fundador da Milícia da Imaculada, o santo polonês canonizado pelo nosso Papa João Paulo II, nas conversas que tinha com seus frades, jamais deixou de dizer, e jamais se cansava de dizer: “meus filhinhos, amem a Nossa Senhora, o tanto que vocês quiserem e mais do que vocês puderem”.
E Santa Terezinha do Menino Jesus dizia sempre que o caminho mais curto para se chegar até Jesus é Maria.  E como seria bom se todos nós, a exemplo de São Luiz Maria Grignon de Montfort, repetíssemos todos os dias e a toda hora: “sou todo vosso, ò minha amada mãe e senhora, e tudo o que tenho vos pertence”.
Os cristãos de todos os tempos reconhecem em Maria a Mãe do Rei do Universo, Jesus e, sabemos que, a mãe do Rei é Rainha, e Maria, além de Rainha é a Mãe de misericórdia, doçura da vida, esperança nossa. Rainha dos céus, Rainha da terra, Rainha de todo o universo.
Rainha radiante como o sol, Rainha coroada de estrelas, rainha vestida com o azul do infinito, Rainha linda como o raiar de um novo dia. Rainha, Rainha dos Anjos, Gabriel, Rafael, Miguel. Rainha de todos os Anjos que lhe prestam homenagens sem cessar pelos séculos dos séculos.
Rainha dos Anjos que cantaram radiantes “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14) quando o Cristo Senhor, o Rei, o filho da Rainha nascera.
Rainha dos Anjos que a levaram gloriosa de corpo e alma para os céus por ocasião de sua assunção que comemoramos nesta data, para, junto de Deus, receber a recompensa por ter sido a mais pura e a mais santa de todas as criaturas, depois de seu Filho Jesus.
Rainha dos Patriarcas, Rainha de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Judá, de José, de Moisés, de todos aqueles que foram colunas mestras para a consolidação do povo de Deus e a implantação da justiça e da lei do Senhor no mundo.
Rainha de Israel, do povo escolhido, donde nasceria o Salvador, o Sol da Justiça.
Rainha dos Profetas, de Isaias, Jeremias, Malaquias, Oséias. Rainha de todos aqueles que prepararam o povo escolhido para a vinda do Senhor. Rainha de João Batista.
Rainha dos Profetas de todos os tempos, de todos aqueles que fizeram de sua palavra a palavra de Deus, de sua vontade a vontade de Deus, de sua vida a vida de Deus.
Rainha dos Apóstolos, de Pedro, João, Paulo, Tiago, Mateus.
Rainha de todos os que disseram sim ao chamamento vocacional de Jesus Cristo.
Rainha de Anchieta, de Teresa de Calcutá, da Irmã Dulce, da Irmã Paulina do Coração Agonizante, do Frei Galvão, dos Diáconos, dos Presbíteros dos Bispos e do Papa.
Rainha de todos aqueles que, ainda nos nossos dias, fazem valer no nosso meio a Palavra viva do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Rainha dos Mártires, de Sebastião, de Maria Goretti, de Maximiliano Maria Kolbe, de Dóroti, de Ezequiel Ramim, de D. Romero, de Chico Mendes, da irmã Lindalva, de todos aqueles que deram a sua vida e derramaram o seu sangue por sua fé, por sua religião, por sua pátria, por seus ideais, como os desaparecidos políticos de todos os países, como os mortos anônimos que são desenterrados nos cemitérios latinos americanos e de todo mundo, como as vítimas dos campos de concentrações de todos os tempos, vítimas de regimes que não respeitam os valores e os direitos humanos.
Rainha dos confessores, Rainha daqueles que não tem vergonha, não tem medo e nem receio de dizer que são cristãos seguidores de Jesus Cristo, ainda que isso lhes custe o emprego, o sossego, e até a própria vida. Rainha daqueles que confessam a sua fé tanto nos tempos de paz como nos tempos de guerra, tanto nos tempos calmos, como nos tempos de perseguições religiosas.
Rainha das Virgens, de Terezinha do Menino Jesus, de Maria Goretti, de Cecília, de Ifigênia, de Inês, de Luzia.
Virgem Rainha, Rainha de todas as Virgens que dedicaram e dedicam a sua vida inteira para cuidar dos filhos dos outros, dos filhos que não tiveram e que tornaram seus filhos por amor dos irmãos e de Jesus Cristo.
Rainha de todos os Santos, dos santos de ontem, dos santos de hoje e dos santos de amanhã; dos santos que estão na glória de Deus Pai, dos santos que caminham conosco neste vale de lágrimas, dos santos que despontam no amanhã da esperança de dias melhores.
Rainha concebida sem pecado original, Rainha pura, Rainha bela, Rainha casta, Rainha imaculada. Rainha preservada pela graça de Deus da mancha do pecado de qualquer natureza.
Rainha da paz, não da paz que se resume na ausência de guerra, mas da paz interior, ainda que o mundo esteja explodindo na maior violenta das guerras.
Rainha da paz que vem do amor, da paz que vem da fé, da paz que vem de Jesus Cristo, da paz que o Mestre desejou e deixou aos seus apóstolos, quando disse: “Eu deixo para vocês a paz, eu lhes dou a minha paz. A paz que eu dou para vocês não é a paz que o mundo dá. Não fiquem perturbados, nem tenham medo”. (Jo 14,27).
Rainha e Mãe da Igreja que é o povo de Deus e que caminha por veredas muitas vezes inseguras, mas sempre conduzido pela estrela dos magos que fatalmente o levará até a gruta de Belém onde o Senhor Jesus o espera, e onde a Rainha, de braços abertos e com um largo sorriso receberá a todos os que, partindo deste vale de lágrimas, depois deste desterro, para nos mostrar a Jesus, que é o bendito fruto de seu ventre, ò clemente, ò piedosa, ò doce, sempre Virgem e Mãe, sempre Rainha... Maria é a Rainha que se fez escrava: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).

Poderia Deus permitir que o corpo de Maria, que foi o sacrário vivo de seu Filho durante nove meses e onde seu Filho assumiu a natureza humana para ser o Emanuel, o Deus conosco, poderia Deus permitir que esse corpo tivesse o mesmo destino dos corpos de todos os pecadores e fosse consumido pela terra? Absolutamente! O Senhor o resgatou e mandou seus anjos virem buscá-lo para que Maria gozasse, de corpo e alma, a recompensa por ter-se colocado nas mãos de Deus, ouvido a Palavra, se engravidado da Palavra e dado luz à Palavra, que é a salvação de todos os homens.  E é isso que comemoramos hoje: a Assunção de Maria aos céus.

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