ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
“A MINHA ALMA ENGRANDECE O SENHOR”. (Lc
1,46).
Diácono
Milton Restivo
Hoje, festivamente, a Igreja
comemora, liturgicamente, a Assunção de Maria, a Mãe de Jesus, aos céus. O
Senhor nosso Deus não permitiu o corpo daquela mulher que ele escolhera para,
no seu ventre, o seu Filho Unigênito assumisse a natureza humana, fosse
entregue à decomposição, como são todos os demais corpos dos seres viventes.
O corpo dessa mulher foi o
primeiro sacrário de seu Filho, e não somente isso; foi no ventre desse corpo
que o Seu Filho recebeu a forma humana, corpo e sangue, para que se
concretizasse nele o assumir a natureza humana.
É essa mulher que nós, cristãos,
precisamos conhecer bem.
Devemos ver Maria como a viram os
primeiros cristãos com os dados que os Santos Evangelhos lhes forneceram: Maria
mulher, Maria esposa, Maria dona de casa, Maria humilde, Maria doce, Maria
meiga, Maria pobre.
No tempo de Maria, como hoje,
deveriam existir mulheres que se destacavam na sociedade, na política, no
poder, na riqueza.
Mulheres que, sem dúvida,
poderiam oferecer ao Filho de Deus, para o seu nascimento, um palácio com todas
as mordomias, ao invés de uma gruta úmida e fria; poderiam oferecer um berço de
ouro, ao invés de um cocho mal cheiroso e de higiene duvidosa de animal como
primeiro leito; aquecedores de ar ao invés do respirar quente dos animais para
aquecer o recém-nascido; uma banheira com água aromatizada para dar o primeiro
banho ao que acabara de nascer, ao invés de, possivelmente, uma poça de água da
chuva ou água do bebedouro dos animais.
O Pai poderia ter escolhido, para
o nascimento de seu Filho, uma mulher que poderia providenciar e determinar
para que as primeiras visitas ao Filho de Deus recém-nascido fossem os mais
ricos e poderosos monarcas que existiam na terra naquele tempo, ao invés de, as
primeiras visitas, terem sido, como foram, pobres e humildes, desamparados e
discriminados pastores.
Mas, a Divina Providencia age
diferentemente dos pensamentos humanos, como disse Yahweh: “Os meus
pensamentos não são os seus pensamentos, e os seus caminhos não são os meus
caminhos.” (Is 55,8).
Deus não quis para o seu Filho um
palácio, já que o mundo inteiro é seu.
O Senhor não quis para o seu
Filho um berço de ouro, já que tem a abóbora celeste para lhe servir de suporte
dos pés.
Deus não quis para o seu Filho um
aquecedor de ar para aquecê-lo, já que os ventos que sopram dos quatro cantos
do Universo obedecem as suas ordens, obedecem a sua voz.
O Pai não quis para o primeiro
banho de seu Filho humanado uma banheira com água aquecida, já que ele é o criador
de todas as águas que joram sobre a terra e de todos os mares que a cobrem.
Deus não quis para visitar seu
Filho pela primeira vez ricos monarcas e poderosos reis e nem esnobes gentes da
sociedade, porque ele é o Rei dos Reis, e todos os reinos do mundo lhe pertence.
Deus não quis para mãe de seu Filho
uma mulher rica, poderosa, da sociedade, porque sabia que no coração dessas
mulheres não havia lugar para a Vida em abundância que deveria ser vivida pelos
homens e para a Verdade que seria transmitida a toda a humanidade, porque os
corações das mulheres ricas estariam encharcados e inchados das coisas da terra
e não teriam espaços para as coisas do céu e nem condições de trilhar o Caminho
que o Filho de Deus veio mostrar a todos os que não se envergonhassem dele e de
seus ensinamentos.
Para ser a mãe de seu Filho o
Senhor não procurou mulheres em palácios ou sociedades, mas procurou a mais
pobre, a mais humilde exatamente numa das mais pobres e humildes casas de
Nazaré, na Galiléia, cidade desconhecida, até então nos escritos sagrados.
Para a mãe de seu Filho, o Senhor
não escolheu a mulher mais rica da terra, mas aquela que estava mais
familiarizada com as coisas do céu.
Deus não escolheu uma mulher
comprometida com a sociedade e com o mundo, com o coração cheio das
preocupações passageiras e apegado demais às coisas que perecem, mas escolheu
uma mulher com o coração desapegado, um coração pobre, um coração que, ele
sabia, poderia não entender o que estivesse acontecendo, mas que se submeteria
dócil e livremente a vontade de Deus, ainda que isso lhe custasse as mais
cruciantes dores e que afirmasse com convicção: “Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”
(Lc 1,38), e a quem o Espírito Santo diria pela boca de Isabel: “Você é bendita entre as mulheres, e é
bendito o fruto do seu ventre. [...] Bem-aventurada
aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu.” (Lc
142.45).
E Jesus Cristo foi exigente na
escolha de sua mãe.
Nós não escolhemos a mãe que temos,
embora agradeçamos a Deus pelas mães que ele nos deu, mas Jesus teve um
privilégio a mais que nós: ele teve o privilégio de poder escolher a sua mãe, e
nisso ele foi exigente: escolheu a mais bela, a mais pura, a mais santa, a mais
imaculada, a mais inviolável, e, além de tudo isso, a mais humilde.
Maria foi pobre em toda a extensão
da palavra. Não só teve espírito de pobre, mas viveu a pobreza materialmente
com todas as suas consequências.
Maria sentiu-se um instrumento
humilde e pobre para os planos da Providência. E foi exatamente por isso que o
Senhor a julgou apta para operar nela as suas maravilhas.
Poderia haver algo de mais pobre
do que uma Virgem para ser mãe?
E no livro do Cântico dos Cânticos, Deus já havia
prenunciado a beleza, tanto exterior como interior dessa virgem que seria a mãe
de seu Filho, e faz um elogio divino à beleza física e espiritual de Maria: “Quem é essa mulher que se eleva como a
aurora, bela como a lua, resplandecente como o sol, temível como batalhões?” (Ct 6,10).
Deus opera as suas maravilhas nos
pobres, nos humildes e nos corações desapegados das coisas do mundo, e Maria
preencheu em tudo os requisitos exigidos e os desejos do Pai.
Para conhecermos bem Maria, para
encontrarmos dentro de sua humildade todo o esplendor da graça da qual Deus Pai
sempre a cumulou, precisamos conhecer o que os santos que a amaram muito e a
reverenciaram em toda as suas vidas disseram e escreveram sobre ela e como esses
santos e santas descobriram em Maria virtudes incalculáveis, tesouros com valores
infinitos e como eles se colocaram sob a proteção materna de Maria.
A nossa inteligência é pequena,
os nossos conhecimentos parcos, pouquíssimos mesmo; então, por isso, há a
necessidade de procurarmos ler escritos dos grandes santos e santas que amaram
e veneraram Maria e nos ensinam como devemos amar e venerar a Mãe de Deus e
nossa Mãe. Todos os santos que amaram Jesus amaram também Maria sem diminuir ou
depreciar o seu amor por Jesus.
Jamais chegaremos a Jesus se não
for pelas mãos imaculadas de Maria, considerando que Jesus chegou até nós,
assumindo a sua natureza humana pelo ventre sacrossanto de Maria.
O próprio exemplo é Jesus quem
nos dá. Para Jesus chegar até nós, ele quis precisar de Maria. Se não fosse por
Maria jamais teríamos Jesus como o temos. Jesus, para se fazer o Filho do
Homem, ele quis precisar de Maria.
O homem, para se fazer filho de
Deus, tem que precisar de Maria também, porque foi no Calvário, nos estertores
da morte, quando Jesus sentiu que partiria irremediavelmente deixando os homens
sozinhos, foi ali, naquele momento supremo de dor, de angústia e de
aniquilamento total que Jesus nos dá Maria como Mãe (cf Jo 19,25-27).
Se quisermos chegar com mais
segurança até Jesus, tem que ser pelas mãos imaculadas de Maria. E nós conhecemos
tão pouco dessa ligação tão íntima de Maria com Jesus Cristo e de Jesus Cristo
com Deus Pai.
Os santos e santas devotos de
Maria nos ensinam e nos esclarecem como devemos amar de verdade Maria. Não
podemos nos descuidar de conhecer melhor e mais a cada dia que passa esse mar
de graças que é Maria.
São Luiz Maria Grignon de
Montfort, grande devoto de Maria no seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção à
Santíssima Virgem Maria” nos dá uma verdadeira lição de conhecimento sobre
Maria e como devemos amá-la, e nos diz: “Deus
fez um lago muito grande de água, e o chamou de mar – depois fez um mar de
graças e o chamou Maria”.
São Bernardo, em uma das orações
mais lindas feitas em honra à Maria nos diz que: “jamais se ouviu dizer que alguém que tivesse recorrido à proteção de
Maria, tivesse deixado de ser por ela atendido”.
São Maximiliano Maria Kolbe, o
fundador da Milícia da Imaculada, o santo polonês canonizado pelo nosso Papa
João Paulo II, nas conversas que tinha com seus frades, jamais deixou de dizer,
e jamais se cansava de dizer: “meus
filhinhos, amem a Nossa Senhora, o tanto que vocês quiserem e mais do que vocês
puderem”.
E Santa Terezinha do Menino Jesus
dizia sempre que o caminho mais curto para se chegar até Jesus é Maria. E como seria bom se todos nós, a exemplo de
São Luiz Maria Grignon de Montfort, repetíssemos todos os dias e a toda hora: “sou todo vosso, ò minha amada mãe e senhora,
e tudo o que tenho vos pertence”.
Os
cristãos de todos os tempos reconhecem em Maria a Mãe do Rei do Universo, Jesus
e, sabemos que, a mãe do Rei é Rainha, e Maria, além de Rainha é a Mãe de
misericórdia, doçura da vida, esperança nossa. Rainha dos céus, Rainha da
terra, Rainha de todo o universo.
Rainha
radiante como o sol, Rainha coroada de estrelas, rainha vestida com o azul do
infinito, Rainha linda como o raiar de um novo dia. Rainha, Rainha dos Anjos, Gabriel, Rafael, Miguel. Rainha
de todos os Anjos que lhe prestam homenagens sem cessar pelos séculos dos
séculos.
Rainha
dos Anjos que cantaram radiantes “Glória
a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14)
quando o Cristo Senhor, o Rei, o filho da Rainha nascera.
Rainha
dos Anjos que a levaram gloriosa de corpo e alma para os céus por ocasião de
sua assunção que comemoramos nesta data, para, junto de Deus, receber a
recompensa por ter sido a mais pura e a mais santa de todas as criaturas,
depois de seu Filho Jesus.
Rainha
dos Patriarcas, Rainha de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Judá, de José, de
Moisés, de todos aqueles que foram colunas mestras para a consolidação do povo
de Deus e a implantação da justiça e da lei do Senhor no mundo.
Rainha
de Israel, do povo escolhido, donde nasceria o Salvador, o Sol da Justiça.
Rainha
dos Profetas, de Isaias, Jeremias, Malaquias, Oséias. Rainha de todos aqueles
que prepararam o povo escolhido para a vinda do Senhor. Rainha de João Batista.
Rainha
dos Profetas de todos os tempos, de todos aqueles que fizeram de sua palavra a
palavra de Deus, de sua vontade a vontade de Deus, de sua vida a vida de Deus.
Rainha
dos Apóstolos, de Pedro, João, Paulo, Tiago, Mateus.
Rainha
de todos os que disseram sim ao chamamento vocacional de Jesus Cristo.
Rainha
de Anchieta, de Teresa de Calcutá, da Irmã Dulce, da Irmã Paulina do Coração
Agonizante, do Frei Galvão, dos Diáconos, dos Presbíteros dos Bispos e do Papa.
Rainha
de todos aqueles que, ainda nos nossos dias, fazem valer no nosso meio a
Palavra viva do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Rainha
dos Mártires, de Sebastião, de Maria Goretti, de Maximiliano Maria Kolbe, de
Dóroti, de Ezequiel Ramim, de D. Romero, de Chico Mendes, da irmã Lindalva, de
todos aqueles que deram a sua vida e derramaram o seu sangue por sua fé, por
sua religião, por sua pátria, por seus ideais, como os desaparecidos políticos
de todos os países, como os mortos anônimos que são desenterrados nos
cemitérios latinos americanos e de todo mundo, como as vítimas dos campos de
concentrações de todos os tempos, vítimas de regimes que não respeitam os
valores e os direitos humanos.
Rainha
dos confessores, Rainha daqueles que não tem vergonha, não tem medo e nem
receio de dizer que são cristãos seguidores de Jesus Cristo, ainda que isso
lhes custe o emprego, o sossego, e até a própria vida. Rainha daqueles que
confessam a sua fé tanto nos tempos de paz como nos tempos de guerra, tanto nos
tempos calmos, como nos tempos de perseguições religiosas.
Rainha
das Virgens, de Terezinha do Menino Jesus, de Maria Goretti, de Cecília, de Ifigênia,
de Inês, de Luzia.
Virgem
Rainha, Rainha de todas as Virgens que dedicaram e dedicam a sua vida inteira
para cuidar dos filhos dos outros, dos filhos que não tiveram e que tornaram
seus filhos por amor dos irmãos e de Jesus Cristo.
Rainha
de todos os Santos, dos santos de ontem, dos santos de hoje e dos santos de amanhã;
dos santos que estão na glória de Deus Pai, dos santos que caminham conosco
neste vale de lágrimas, dos santos que despontam no amanhã da esperança de dias
melhores.
Rainha
concebida sem pecado original, Rainha pura, Rainha bela, Rainha casta, Rainha
imaculada. Rainha preservada pela graça de Deus da mancha do pecado de qualquer
natureza.
Rainha
da paz, não da paz que se resume na ausência de guerra, mas da paz interior,
ainda que o mundo esteja explodindo na maior violenta das guerras.
Rainha
da paz que vem do amor, da paz que vem da fé, da paz que vem de Jesus Cristo,
da paz que o Mestre desejou e deixou aos seus apóstolos, quando disse: “Eu deixo para vocês a paz, eu lhes dou a
minha paz. A paz que eu dou para vocês não é a paz que o mundo dá. Não fiquem
perturbados, nem tenham medo”. (Jo 14,27).
Rainha
e Mãe da Igreja que é o povo de Deus e que caminha por veredas muitas vezes inseguras,
mas sempre conduzido pela estrela dos magos que fatalmente o levará até a gruta
de Belém onde o Senhor Jesus o espera, e onde a Rainha, de braços abertos e com
um largo sorriso receberá a todos os que, partindo deste vale de lágrimas,
depois deste desterro, para nos mostrar a Jesus, que é o bendito fruto de seu
ventre, ò clemente, ò piedosa, ò doce, sempre Virgem e Mãe, sempre Rainha...
Maria é a Rainha que se fez escrava: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se
em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38).
Poderia Deus permitir que o corpo de Maria, que foi o
sacrário vivo de seu Filho durante nove meses e onde seu Filho assumiu a
natureza humana para ser o Emanuel, o Deus conosco, poderia Deus permitir que
esse corpo tivesse o mesmo destino dos corpos de todos os pecadores e fosse
consumido pela terra? Absolutamente! O Senhor o resgatou e mandou seus anjos
virem buscá-lo para que Maria gozasse, de corpo e alma, a recompensa por ter-se
colocado nas mãos de Deus, ouvido a Palavra, se engravidado da Palavra e dado
luz à Palavra, que é a salvação de todos os homens. E é isso que comemoramos hoje: a Assunção de
Maria aos céus.
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