domingo, 9 de agosto de 2015

“EU SOU O PÃO QUE DESCEU DO CÉU”. (Jo 6,41).


XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM

“EU SOU O PÃO QUE DESCEU DO CÉU”. (Jo 6,41).


Diácono Milton Restivo

Quando participamos do Santo Sacrifício da Missa e, durante a oração eucarística, o celebrante toma em suas mãos a hóstia, levanta-a sobre o altar para que todos os participantes possam contemplá-la, e diz em voz alta, para que todos possam ouvi-lo: “Na véspera de sua paixão, durante a última ceia, Jesus tomou o pão, deu graças e o partiu, e deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, todos, e comei: isto é o meu corpo, que será entregue por vós.” Depois, do mesmo modo, ao fim da ceia, Jesus tomando o cálice em suas mãos, deu graças novamente e o entregou aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, todos, e bebei: Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim.” (1Cor 11,23-25). 
Todas as vezes que participamos da Santa Missa e todas as vezes em que o sacerdote presidente da celebração repete essa atitude, estamos participando da ceia sagrada e estamos vivendo o maior mistério da nossa fé, chamados que somos à atenção pelo sacerdote que complementa: “Eis o mistério da fé”, e respondemos orientados por Paulo Apóstolo: “Toda vez que se come deste pão, toda vez que se bebe deste vinho, se recorda a paixão de Jesus Cristo e se fica esperando a sua volta.” (1Cor 11,26).  
      A Santa Ceia, esta cena maravilhosa, tocante e imorredoura, aconteceu na noite em que Jesus, já sabendo que tinha sido vendido aos judeus por um de seus apóstolos, Judas Escariotes, para ser condenado à morte, e tendo reunido todos os seus apóstolos para a despedida final, promoveu o que chamamos hoje de “Santa Ceia”, que seria a sua última ceia e reunião como os apóstolos, e ali, naquela oportunidade, institui o Sacramento da Eucaristia.
O Sacramento da Eucaristia é o Sacramento em que Jesus se faz presente todo inteiro no nosso meio, e Jesus instituiu esse sacramento exatamente para permanecer entre nós, para ser o “Emanuel” (cf Mt 1,23; Is 7,14), para que ele jamais nos deixasse e para que nós não ficássemos como ovelhas sem pastor perdidas nas intempéries da própria natureza humana que tem suas inclinações sempre contrárias ao Caminho, à Verdade e à Vida e, num último esforço de amor e doação total, Jesus entrega-se a nós no mistério infinito da Eucaristia.
Todas as vezes que participamos de uma Santa Missa, colocamo-nos ao redor da mesa com Jesus, como aconteceu na última ceia.
Todas as vezes em que participamos do sacrifício da missa estamos, como estiveram na última ceia, os doze apóstolos, ao redor da mesa, tendo Jesus ao centro, e participamos do banquete pascal, onde se serve, como alimento, o pão que se transforma no corpo de Jesus, e se bebe, como bebida, o vinho, que se transforma no sangue de Jesus que foi derramado “por todos os homens para o perdão dos pecados.”
Mas, para participarmos dessa Santa Ceia o Senhor Jesus quer que seus apóstolos e discípulos estejam limpos, sem a poeira do pecado, sem a mancha das más inclinações, sem a sujeita dos maus pensamentos, e por isso que Jesus se propôs a lavar os pés de seus apóstolos com a água do perdão e enxugá-los com a toalha da misericórdia do Pai antes de servir a ceia.
Jesus nos quer limpos para participarmos, efetiva e dignamente, da mesa da sua santa ceia, porque, como diz Paulo Apóstolo: “Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, cada um examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação”. (1Cor 11,27-29).
E é por isso que, em uma das Orações Eucarísticas o presidente reza, e nós repetimos com a Santa Igreja, dizendo: “Jesus Cristo, verdadeiro e eterno sacerdote, oferecendo-se a Deus Pai pela nossa salvação, instituiu o sacramento da nova aliança e mandou que o celebrássemos em sua memória. Sua carne imolada por nós é o alimento que nos fortalece, e o seu sangue por nós derramado, é a bebida que nos purifica.” (V oração eucarística).
Não adianta dizer que Jesus é o Filho de Deus, que Jesus é Deus se se duvida ou não se acredita em qualquer coisa que ele tenha feito, falado ou ensinado.
Quando, na última ceia, Jesus Cristo tomou em suas mãos o pão e o abençoou, dizendo: “Isto e o meu corpo”, e depois, sobre o cálice com vinho, disse: “Este é o cálice do meu sangue”, os apóstolos acreditaram na palavra de Jesus, porque, realmente Jesus havia dito que o pão era o seu corpo e o vinho era o seu sangue, e não somente representava isso.
Frei Agostinho, capuchinho, na revista do Cavaleiro da Imaculada de junho de 1984, escreveu: “Os apóstolos acreditaram porque já haviam se convencido inúmeras vezes que as palavras de Jesus Cristo sempre foram eficientes; o que Jesus dizia, ele fazia. Quando Jesus sarava os doentes, os doentes ficavam realmente curados; quando Jesus mandava sair os espíritos imundos, os espíritos imundos, mesmo contra a sua vontade, imediatamente saiam; quando Jesus mandou que se acalmassem as ondas do mar tumultuado, no mesmo instante a tempestade passou; quando Jesus resolveu matar a fome de milhares de pessoas com cinco pães e dois peixes, Jesus multiplicou os pães de tal sorte que as multidões ficaram fartamente saciadas; quando Jesus mandou sair Lázaro do túmulo mesmo já estando em adiantado estado de decomposição, Lázaro saiu vivo e perfeito do túmulo; quando Jesus mandou que o filho da viúva de Naim se levantasse de seu caixão mortuário, imediatamente aquele moço se levantou cheio de vida e saúde e foi devolvido para a sua mãe. Nenhuma palavra de Jesus foi frustrada ou desmentida. E por isso a nossa Santa Igreja nos ensina ao longo do tempo, ao longo de toda a sua história, com toda fé e veneração, que o pão consagrado e o vinho consagrado são verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo entregue na cruz e derramado por todos os pecados dos homens em todos os tempos. Jesus Cristo não somente realizou este ato pessoalmente na última ceia, mas, o que é mais importante mandou e autorizou os seus apóstolos e os sucessores dos apóstolos de todos os tempos a repetirem esse mesmo ato por toda a eternidade, quando disse: “Fazei isso em minha memória.” E os Apóstolos, enquanto tiveram vida, repetiram esse ato de Jesus com a fé e convicção firme de que o pão e o vinho que eles consagravam sobre o altar eram realmente corpo e o sangue de Jesus Cristo. E hoje, todos os sacerdotes da Igreja Católica Apostólica Romana, em todos os tempos e lugares, devidamente ordenados, repetem esse ato de Jesus ao longo dos tempos, até os confins do mundo. E nós, cristãos, assim instruídos, acreditamos na presença real, mesmo que sacramental, de Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia. Acreditamos piamente que Jesus Cristo está realmente presente na Eucaristia com o seu corpo, sangue alma e divindade, não porque entendemos esse mistério, mas porque, e acima de tudo, simplesmente acreditamos cegamente nas palavras e atitudes de Jesus Cristo. Ele nunca nos enganou; ele nunca mentiu. E por isso, com que amor então deveríamos nós correr para participarmos da Santa Missa.”
A Eucaristia é Deus morando conosco, é Deus no nosso meio.
Mateus, no seu Evangelho, procura nos dar a certeza que Jesus é Deus presente no meio de nós: no início, meio e final do seu evangelho Mateus diz: “Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”. (Mt 1,23; Is 7,14); “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de deles”. (Mt 18,20); “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. (Mt 28,20). 
A Eucaristia perpetua essa presença de Deus no nosso meio: Eu vou estar com vocês todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20).
Jesus não poderia ter afirmado uma coisa que não seria verdade, porque ele é a verdade por excelência, e no seu Evangelho disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (Jo 14, 6).
Como acontece o fato de Jesus continuar conosco, todos os dias?
Primeiro: Jesus está conosco através da sua Palavra, porque Jesus é a Palavra do Pai: “No começo a Palavra já existia. A Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. [...] E a Palavra se  fez homem e habitou entre nós. Pedro Apóstolo escreve em sua carta, confirmando isso: “A palavra de Deus permanece eternamente, e esta palavra é a que foi anunciada para vocês pelo Evangelho”. (1Pd 1,25).
Segundo: Jesus fica conosco na sua Igreja, que é o seu Corpo Místico, como disse o Apóstolo Paulo (1Cor 12, 12-31) “Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um, como parte desse corpo, é membro.” (1Cor 12, 27), e como nos ensina também o Concílio Vaticano II através da Encíclica Lumem Gentium, 1: “A Igreja  é o Sacramento ou o sinal ou instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano.”          
Terceiro: Jesus fica conosco pela presença e atuação do Espírito Santo, que é o seu próprio Espírito, conforme escreveu Paulo: “Deus manda aos seus corações o Espírito de seu Filho que clama “Abba”, que quer dizer “Pai””. (Gl 4, 6).
Quarto: Jesus continua conosco através da tradição da Igreja.
Quinto: Jesus está conosco através dos Sacramentos que nos conferem a graça, conforme disse o Papa Paulo VI na Encíclica “Mistérium Fidei, 38: “E ninguém ignora serem os sacramentos ações de Cristo que os administra por meio dos homens. Por isso, são santos por si mesmos e, quando tocam nos corpos, infundem, por virtude de Cristo, a graça nas almas.” e,
Sexto: Mas, sobretudo, Jesus Cristo fica conosco no Sacramento da Eucaristia, que é o seu corpo, o seu sangue e o seu sacrifício presentes em todos nós.
Na cidade de Cafarnaum, depois da multiplicação dos pães, Jesus disse: “O pão que hei de dar é minha carne para a salvação do mundo”. (Jo 6,51): “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo 6,56).
Esta promessa de Jesus Cristo foi cumprida na última ceia, antes de sua paixão e morte, e assim nos narra este episódio o Evangelista Mateus: “Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Tomou, depois, o cálice, rendeu graças e deu aos seus discípulos, dizendo: ‘Bebei dele todos porque este e o meu sangue, o sangue da nova aliança que é derramado por muitos homens em remissão dos pecados’. (Mt 26, 26-29).
A nossa Igreja sempre acreditou que assim, quando se celebra a santa ceia, a mando de Jesus e presidida por um sacerdote, ali está presente o corpo e o sangue de Jesus, e ali se renova o seu sacrifício. E, na santa missa, o celebrante repete as mesmas palavras de Jesus, quando disse ao tomar o pão: “este é o meu corpo”, e ao tomar o cálice: “este é o meu sangue”, e complementa, dizendo: “eis o mistério da fé”, e todos respondemos: “celebramos, Senhor, a vossa morte e anunciamos a vossa ressurreição, enquanto esperamos a vossa vinda.”
A palavra “Eucaristia” vem do grego, e quer dizer “Ação de graças”. No início da Igreja chamava-se “partir o pão” (cf 1Cor, 10,16).
A Eucaristia é, antes de tudo, uma refeição comunitária. Sempre e em toda parte, a refeição foi e é um símbolo de união entre as pessoas que se conhecem e que se estimam.
Eucaristia é, em primeiro plano, a refeição de irmãos que se amam, e mais do que isso, de irmãos que conhecem o Pai e são agradecidos a esse Pai por todos os benefícios que tem recebido e ainda receberão durante toda a sua vida.
Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual Jesus, na última ceia, tenha mandado Judas Escariotes embora e não tenha permitido que ele participasse da instituição da Eucaristia, pois aquilo era uma reunião de irmãos que se amavam e que amavam o Pai presente na pessoa de Jesus, e no coração de todos eles reinava o amor, menos no coração de Judas, onde já habitavam a traição e o desamor.
Paulo Apóstolo, preocupado com a indiferença e o pouco caso com que alguns primeiros cristãos estavam tendo na recepção da Eucaristia, chama a atenção deles, e chama a nossa atenção ainda hoje, escrevendo: “Aquele que come e bebe indignamente o corpo e o sangue do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.” (1Cor 11, 29). 
Jesus Cristo é o pão da vida, em primeiro lugar por causa de sua palavra que abre as portas da vida eterna a todos aqueles que crêem, e depois por sua carne e seu sangue que nos é dado a comer e a beber. (cf Jo 6,35-59).
Se não nos alimentarmos primeiro com a Palavra de Deus, jamais entenderemos o que seja a Eucaristia, e pouco proveito tiraremos dela, porque a Eucaristia, antes de tudo, deve ser o coroamento de uma vida autenticamente cristã, de uma vida inteiramente voltada para as coisas de Deus e dos irmãos.
Quando recebemos a Eucaristia sob a espécie de pão e vinho, estamos dando o nosso testemunho de autêntica vida cristã, de uma vida nos moldes do Evangelho, e de uma vida verdadeiramente voltada ao amor de Deus e ao próximo.

Se a Eucaristia é a refeição de irmãos que se amam, não podemos conceber em receber a Eucaristia estando com ódio, desavença e rancor no coração e não amor, porque Jesus disse: “Se você estiver diante do altar para oferecer o seu sacrifício e se lembrar que tem alguma desavença contra algum seu irmão, deixe ali a sua oferta e vai primeiro se reconciliar com o seu irmão, e depois volte e faça a sua oferta”. (Mt 5,23-24).

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