domingo, 19 de junho de 2016

QUEM DIZEM OS HOMENS QUE EU SOU? (Lc 9,18).

QUEM DIZEM OS HOMENS QUE EU SOU? (Lc 9,18).


No Evangelho de hoje parece-nos que Jesus busca a definição de sua identidade.
Especulação sobre a pessoa, o caráter e a vida de Jesus foi coisa que nunca faltou ao longo dos tempos, nem entre os judeus, nem entre os gentios, nem mesmo entre as gentes dos nossos dias.
As respostas à sua pergunta: “Quem diz o povo que eu sou?” (Lc 9,18), foram as mais desencontradas possíveis. Falaram de tanta gente e nem sequer aproximaram-se de quem seria realmente Jesus; aliás, nem falaram de sua pessoa, de sua família, de sua origem pobre e simples de Nazaré. Divagaram falando de personagens históricos e que, de uma maneira ou de outra, foram rejeitados pelo povo.
Talvez, na rejeição, Jesus tenha algo em comum com os personagens bíblicos citados.
À resposta do que Jesus perguntara: “Quem diz o povo que eu sou?” (Lc 9,18), os apóstolos responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. (Lc 9,19).
Havia muitas idéias de quem seria Jesus: seria João Batista a quem Herodes mandara matar? Seria Elias, a quem o povo judeu aguardava seu retorno? Seria ele um dos profetas que fora perseguido e morto pela incompreensão do povo e agora ressuscitara? 
     Por que foi citado o profeta Elias? Porque na tradição judaica Elias deveria retornar para anunciar ao povo o terrível dia do Senhor e para converter os corações transviados, como profetizara o profeta Malaquias, que dissera que Elias viria como o precursor do Messias: “Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Yahweh”. (Ml 3,23). Na verdade, esta profecia se realizaria em João Batista: “Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias...” (Lc 1,17), que é o precursor profetizado em Mateus: “É de João que a Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti.” (Mt 11,10).
Jesus responde a essa questão quando lhe perguntaram sobre o profeta Elias: “Os discípulos de Jesus lhe perguntaram: ‘O que querem dizer os doutores da Lei, quando falam que Elias deve vir antes?’ Jesus respondeu: ‘Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E o Filho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo’. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista” (Mt 17,10-13). João Batista encarnou o "caráter forte" de Elias.
Ninguém assumia a responsabilidade de dar a Jesus o crédito que ele fazia por merecer: não de ser João Batista, não por ser Elias que retornava, não por ser um dos profetas que ressuscitara, mas por ser “o Cristo de Deus”. (Lc 9,20).
Nos dias atuais vivemos situação semelhante: muitas religiões reconhecem Jesus parcialmente como um espírito de luz, ou líder histórico, político, ou revolucionário pacifista, ou grande mestre, ou expulsador de demônios e curador de doenças, ou taumaturgo, ou profeta ou até como o maior psicólogo que já existiu. Muitas seitas, que se dizem cristãs, em seus cultos, falam mais do demônio do que de Jesus.
Toda a Sagrada Escritura está cheia de respostas de profetas e santos que viveram antes desses acontecimentos e, mesmo sem conhecer a Jesus, já davam a sua opinião sobre quem ele seria.      
O santo homem Jó disse: “Eu sei que o meu redentor está vivo e que no fim se levantará acima do pó”. (Jó 19,25); o profeta Isaias declara: Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama ‘Conselheiro Maravilhoso’, ‘Deus Forte’, Pai para sempre’, ‘Príncipe da Paz’. Grande será o seu domínio e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre”. (Is 9,5-6); o rei Davi atesta: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará!” (Sl 23,1); Jeremias, o profeta das lamentações, assim o define: “manancial das águas vivas” (Jr 2,13).
Jesus não quer saber o que pensavam os que viveram antes que ele depois de haver assumido a natureza humana; ele quer saber agora, quando ele já havia feito tantos prodígios e ensinado o caminho do retorno para a casa do Pai: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20).
Marcos, no início do seu Evangelho testemunha Jesus como “O Messias, o Filho de Deus”. (Mc 1,1). Muita gente, nos Evangelhos, já havia sido testemunha ocular de Jesus e dá testemunhos a respeito disso: o velho Simeão, na porta do Templo, recebendo a família sagrada quando da apresentação de bebê Jesus para o cumprimento da Lei de Moisés: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações”. (Lc 2,29-30).
João Batista, o precursor do Messias afirmou: “Não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas sandálias”, (Mc 1,7) e “convém que ele cresça e que eu diminua!” (Jo 3,30), e ainda, apontando para Jesus e dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
As irmãs Marta e Maria que receberam muitas vezes Jesus em sua casa atestaram: “Eu acredito que tu és o Messias, o Filho do Deus, que devia de vir ao mundo!” (Jo 11,27).
Natanael, que foi testado por Jesus fez uma profissão de fé: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (Jo 1,49);
Tomé, que duvidou de Jesus ressuscitado, também fez uma profissão de fé, sendo o primeiro a reconhecer Jesus como Senhor e Deus: “Meu Senhor e meu Deus.” (Jo 20,28).
Os samaritanos, que receberam o testemunho da samaritana, dobraram seus joelhos diante do incontestável: “Já não é pelo que ela disse que nós cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que ele é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.” (Jo 4,42).
Até os inimigos declarados de Jesus sabiam quem ele era.
Os demônios: “Ele é o santo de Deus, o Filho do Deus altíssimo…” (Lc 8,28); Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8,29).
Os principais dos sacerdotes e os fariseus que o queriam matar: “Este homem opera muitos sinais; se o deixarem assim, todos crerão nele” (Jo 11,47).
Pôncio Pilatos, governador romano, que o mandou para o suplício da cruz: “Não vejo culpa alguma de que o acusais neste homem” (Jo 19,4,6).
Judas, aquele apóstolo que vendeu o Senhor por umas trinta moedas de prata, o preço de um escravo: “Traí o sangue de um inocente” (Mt 27,4).
O malfeitor que fora crucificado com Jesus, aquele que chamam de o “Bom” Ladrão”, mas ladrão nenhum é bom; eu prefiro chamá-lo de O “Ladrão convertido” e presenciara os últimos momentos da vida de Jesus: “Lembre-se de mim quando entrar no seu reino” (Lc 23,42).
O centurião romano que comandou a crucificação de Jesus e assistiu a sua agonia: “Verdadeiramente este é o Filho de Deus” (Mc 15,39).
Se o testemunho dos homens é importante, seja pelas pessoas que o deram, seja pelas circunstâncias que os levaram a confessar, o maior testemunho é o testemunho do Pai: “De mim testifica também o Pai, que me enviou” (Jo 8,18). E o testemunho é este: “Este é o meu Filho amado, em que me comprazo…” (Mt 3,17; 17,5).
Agora precisamos ter conhecimento do que Jesus falava de si próprio: “Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro” [...] “Eu sou o que testifico de mim mesmo…” (Jo 8,14.18); e o testemunho é: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá; e aquele que vive e crê em mim, nuca morrerá” (Jo 11,25); “Eu sou o pão da vida…” (Jo 6,35.48); “Eu sou a luz do mundo…” (Jo 8,12); “Eu sou o bom pastor… que dá a vida pelas suas ovelhas…” (Jo10,11); “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14,6). Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30).
Diante de Pilatos Jesus afirma a sua realeza: “Então, tu és rei?’ Jesus respondeu:’Você está dizendo que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a verdade, ouve a minha voz”. (Jo 18,37).
Não é somente o testemunho que Jesus dá de si mesmo que é importante, tanto pelo que ele é, como pelo que disse, como é importante o seu testemunho pelo que ele fez: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço testificam de mim, de que o Pai me enviou.” (Jo 5,36).
Jesus, ao perguntar aos Apóstolos: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20), Pedro, tomando a palavra pelos demais apóstolos, responde prontamente: “O Cristo de Deus”. (Lc 9,20).
Jesus é o Messias, o Cristo de Deus, o Filho do Deus vivo. Pedro fala em nome de todos, já que a pergunta foi dirigida a todos. Em Pedro está a resposta da Igreja à pergunta mais importante que Cristo podia fazer: a pergunta sobre a sua verdadeira identidade.
Mas, de onde Pedro tirou a sua resposta? Da sua capacidade intelectual? Do seu potencial humano para compreender a verdade sobre Jesus?
No Evangelho de Mateus, o próprio Jesus diz de onde veio essa inspiração para a resposta de Pedro: “Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. (Mt 16,17).
Paulo testemunhava nas sinagogas e pregava, “afirmando que Jesus é o Filho de Deus [...] que Jesus é o Messias.” (At 9,20.22).
Nas suas cartas Paulo testemunhou que, conforme acontecera com Pedro ao afirmar que Jesus é “O Cristo de Deus”, tendo Jesus lhe respondido: “não foi um ser humano que lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”, da mesma forma, ninguém conhece quem seja Jesus realmente e qual o seu  senhorio se não for assistido pelo Espírito Santo: “E ninguém poderá dizer ‘Jesus é o Senhor’ a não ser sob a ação do Espírito Santo”. (1Cor 12,3).
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina, dizendo: 422 - “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5). “Este é o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1): Deus visitou seu povo (cf Lc 1,68), cumpriu as promessas feitas a Abraão e à sua descendência (cf Lc 1,55); fê-lo para além de toda expectativa: enviou seu “Filho bem-amado” (cf Mc 1,11)”; 424 - “Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, cremos e confessamos acerca de Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Foi sobre a rocha desta fé, confessada por São Pedro, que Cristo construiu sua Igreja (cf Mt 16,18)”.
Ao Jesus nos perguntar: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20), o que lhe responderíamos? De acordo com a vida que vivemos é que damos resposta a essa pergunta.
Não podemos afirmar que Jesus Cristo veio de Deus, que é o Filho de Deus se não cumprimos as suas determinações, porque, se afirmarmos que ele é o Filho de Deus e, portanto, Deus, e não cumprirmos o seu mandamento do Amor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12), somos hipócritas, falsos e bajuladores, porque não adianta dizer que ele é o Filho de Deus se não testemunhamos isso em nossa vida, em nossas atitudes, e se não cumprirmos as suas determinações.
O nosso modo de vida, o nosso testemunho é que darão resposta sobre quem pensamos quem seja Jesus na realidade.
Então, para você, quem é Jesus? O que você pensa dele? Como você o encara? Como você vive em sua vida os seus mandamentos, as suas determinações, as suas mensagens, o seu Evangelho, o seu amor?
Você pode até dizer que acredita sinceramente que ele é o Filho de Deus que se fez homem, mas, honestamente, você ama como ele amou? Você reza como ele rezou? Você perdoa como ele perdoou? Você se entrega e sofre pelos outros como ele se entregou e sofreu? Você consola os necessitados como ele consolou? Você ajuda o seu irmão carente como ele ajudou? Você se alegra com os alegres e chora com os tristes, assim como ele fez?
Se você estiver fazendo tudo isso que Jesus fez e com muito amor, se você colocou a mão no arado e não olhou para trás, se você tomou a sua cruz e seguiu passo a passo as pegadas de Jesus com muito amor e aceitação, então eu acredito quando você diz que crê que Jesus Cristo é o Filho de Deus, é Deus.
Mas, sinceramente, você está fazendo isso?

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