O QUE SEI SOBRE DEUS?
Introdução
O que sabemos
de Deus? Que imagem temos d’Ele? Será correcta a nossa ideia de Deus? O que
Deus significa para cada um de nós? Eis-nos diante de algumas questões importantes
para as quais temos de encontrar resposta.
Como,
habitualmente, conhecemos mal o nosso Deus, cada um imagina-O à sua maneira.
Até O imaginamos com os defeitos dos homens. Então falamos assim: “Deus
esqueceu-se de mim”, “Deus abandonou-me”, “Deus castigou-me”...
Sem dúvida que
falar de Deus é sempre muito difícil porque a nossa linguagem é sempre
demasiado humana e limitada e, por isso, nunca poderá abarcar o que é divino e
transcendente. Daí que ao falar de Deus o façamos sempre de um modo imperfeito.
Afinal como é o
nosso Deus?
Toda a nossa
caminhada cristã é uma caminhada em Deus. Por isso, importa procurar clarificar
a imagem de Deus que temos em nós. Para sabermos quem Deus é comecemos por
aquilo que não é porque há ídolos que nos povoam o interior e desfocam a imagem
do verdadeiro Deus.
Bossuet, grande
autor e pregador francês, refere-se várias vezes ao «dilúvio da idolatria», ou
seja, aos falsos deuses que povoam a nossa imaginação, a nossa oração, a nossa
oratória, a nossa catequese. Precisamos
de «re-descobrir Deus», o que Ele diz de Si próprio, de clarificar a
imagem de Deus.
Muitas são as ‘imagens’ que nós criamos de
Deus. Quase sempre o problema dessas ‘imagens’ de Deus é que são feitas à
medida do homem, a partir das suas vivências. Tornamos Deus uma mera
projecção humana. Quando assim é desfiguramos o verdadeiro rosto de Deus e
construímos a nossa própria ‘imagem’ de Deus. Trata-se de um falso Deus.
Por isso, não
há – em rigor – ateus de Deus, há ateus destas ‘imagens’ de Deus. De facto, o que muitos negam não é o próprio Deus, mas
a ‘imagem’ que têm de Deus. Pode acontecer que aquele que diz que não crê
em Deus tenha razão, muita razão, ao recusar as ‘imagens’ que receberam dos
seus antepassados e que, muitos de nós, continuamos a apresentar.
1. As falsas imagens que tenho
de Deus...
Deus: Bombeiro Voluntário – Recorro a
Ele quando estou aflito, quando tenho necessidade, quando preciso... Lembro-me
d’Ele quando alguma coisa corre mal, quando não tenho solução para os meus
problemas. A vantagem deste ‘bombeiro’ é que Ele não me pede nada em troca, é
‘voluntário’.
Deus: Polícia Terrível – Deus é um polícia e a sua relação com
o homem é a de um fiscal atento para condenar todos os meus erros e todas as
minhas asneiras. É um deus de quem tenho medo. Os homens cumprem todas as suas
leis para evitar o castigo eterno que cairia sobre eles no caso de uma
transgressão.
Deus: Burocrata Distante – Um deus que
está nas nuvens ou no céu e que nem se preocupa com o homem. Quando olha para o
homem não olha ao coração nem tem em conta as suas intenções. O que Lhe importa
são as formalidades exteriores: que eu assista à missa todos os domingos, que
faça jejum e abstinência, que cumpra...
Deus: Juiz Carrasco – Um deus de dureza
implacável, de violência e agressividade, que condena, julga e castiga. Daqui
nasce o medo, a angústia, o escrúpulo doentio, incapacidade de diálogo filial e
a entrega confiante. Nasce a deturpação da oração, do crescimento interior e da
alegre aceitação própria e dos outros.
Deus:
Comerciante Cruel – Um deus com o
qual se fazem transacções «Se me deres isto... eu dou-te aquilo». Daqui nasce o
sentido «comercial» da vida, o sentido «utilitarista» da oração. Um deus que
pelo facto de ser deus faz negócio com o homem. Caso o homem não cumpra as suas
promessas este deus torna-se cruel.
Deus: Motor Cósmico – Um deus que é motor cósmico apresenta-se
como um monarca déspota que destrói o sentido da nossa liberdade. Torna-se um
rival do homem, o responsável por todos os desastres da vida e do mundo. A esta
imagem de deus está muito ligada a ideia do «tinha que acontecer» associada à
ideia do «destino».
Deus: Desmancha Prazeres – Um deus que
proíbe tudo o que o homem gosta de fazer. Este deus diverte-se a ver o homem a
fazer sacrifícios, deixar de comer ou de se divertir apenas com o objectivo de
mortificar o corpo e de lhe dar glória. Um deus que não quer que eu seja feliz.
2. Afinal qual é o rosto
verdadeiro de Deus?!
A este
propósito encontramos na Bíblia duas passagens fundamentais. A primeira está no
Antigo Testamento: «Eu sou Aquele
que sou» (Ex. 3, 14), diz Deus. A segunda está no Novo Testamento: «Deus é Amor» (1 Jo. 4, 8), diz S.
João.
«Eu sou Aquele
que sou» é o nome que o próprio Deus revela a Moisés no monte Horeb (também
conhecido por monte Sinai) e que significa «Eu sou Aquele que está sempre
convosco».
Mas mais do que este Deus que está sempre
connosco (AT) o nosso Deus é Amor (NT). Esta certeza de que Deus é Amor é a
verdadeira imagem de Deus. É a única resposta que podemos dar à pergunta – quem
é Deus?
Não se trata de
um amor teórico ou superficial mas procede da experiência concreta da vida. Foi
essa a experiência feita pelos primeiros cristãos e que significa «Deus é
apenas e só Amor» tudo o mais são atributos desse Amor (o Seu Amor é que é
misericordioso, compassivo, trinitário, todo poderoso, como o de um pai).
Neste sentido,
temos que dizer que Deus não pode
tudo porque Deus só pode o que o Amor pode. Ou seja, Deus só pode
ter acções e atitudes de amor. Esta é a única afirmação que torna possível
dizer que Deus não é o autor da guerra, do mal e do sofrimento. De facto, Deus
não é o Todo Poderoso que tudo pode. Senão, como é que era possível acreditar
num Deus Amor quando há tanto sofrimento e tanta gente inocente que morre? Deus
só pode o que o amor pode porque o Seu Amor é que é todo poderoso.
Este Deus
bíblico é o Deus da Aliança. Uma Aliança que o criador quis estabelecer com a
criatura. Na verdade não somos nós que fazemos uma Aliança com Deus mas é Deus
que estabelece uma Aliança connosco. Deste modo, a iniciativa não parte de nós
mas de Deus. Por tudo isto, não é Deus que se esquece dos homens e das mulheres
mas nós que nos esquecemos d’Ele; não é Deus que nos deixa de amar mas nós que
O deixamos de amar.
Este nosso afastamento
d’Ele é que é o pecado. Quantas vezes nos esquecemos d’Ele? Quantas vezes O
deixamos para segundo plano? Quantas vezes nos queixamos da Sua ausência?
Quantas vezes o acusamos de não fazer nada? Quantas vezes queremos que Ele faça
aquilo que só nós podemos fazer? Quantas vezes...?
Por isso, é que
são poucos os cristãos que sabem, de facto, o verdadeiro nome de Deus. Porque
se Deus é esta relação amorosa e se nós nos esquecemos tanto d’Ele como é que O
podemos conhecer? Uma relação assim precisa de tempo partilhado, precisa de
momentos concretos de encontro.
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