TODOS OS SANTOS E SANTAS E FINADOS
“VENHAM BENDITOS DE MEU PAI! RECEBAM
COMO HERANÇA O REINO QUE MEU PAI PREPAROU PARA VOCÊS DESDE A CRIAÇÃO DO MUNDO”. (Mt 25,34).
Diácono Milton Restivo
O dia de Todos os Santos deveria ser comemorado, como
sempre foi, no primeiro dia de novembro que antigamente também era feriado, mas,
como deixou de ser feriado, a Igreja transfere esta comemoração de Todos os Santos
para o primeiro domingo do mês de novembro.
O dia de Todos os Santos, como sugere a comemoração, é
dedicado a todos os santos e santas existentes; aos santos e santas que
conhecemos e aos santos e santas que não conhecemos; aos santos e santas que
sabemos o nome e a sua história, e aos santos e santas que não sabemos o nome
nem a história de sua vida e que jamais ouvimos falar ou ouviremos falar; aos
santos e santas que conviveram conosco e que nos anteciparam na casa do Pai e
lá estão nos aguardando.
Esta data é dedicada a todos os santos e santas que
todos conhecem o seu nome e às santas e santos anônimos.
A festa de Todos os Santos é uma das comemorações mais
antigas e mais importantes do calendário litúrgico; é a festa da família de
Deus, da família da Igreja de Jesus Cristo.
A fé nos apresenta as santas e os santos todos como
nossos irmãos e irmãs que viveram em épocas e lugares diferentes. A fé
apresenta-nos os santos e santas como membros da mesma família, da família a
qual todos pertencemos através do batismo.
Como membros dessa família, devemos nos encher de
alegria e congratularmo-nos com os nossos irmãos e irmãs que já venceram o
mundo, a carne e o demônio e se acham, agora, num lugar onde não há mais
lágrimas, sofrimento, tristeza ou dor.
A Igreja apresenta-nos os santos e santas como modelos
de vida cristã e nos orientam na penosa viagem para a casa do Pai. Eles e elas
já passaram pelo que estamos passando, viveram os problemas que estamos vivendo
e, por isso, nos indicam os meios que devemos aplicar para chegarmos ao porto
da salvação.
E esses meios que eles usaram e nos ensinaram, é a
observação dos mandamentos, da Lei de Deus, a observação da caridade e da
partilha ao próximo, os mandamentos da lei da Igreja, trabalho, oração, mortificação,
e aceitação dos sofrimentos que não podemos evitar.
A festa de Todos os Santos é, para nós, que ainda caminhamos
neste vale de lágrimas, um dia de alegria, de consolo e de animação: eles foram
como nós somos e, pelo seu estilo de vida conseguiram a graça da santidade; nós
também somos como eles e podemos e devemos conseguir.
Os santos e santas foram o que somos hoje: homens e
mulheres lutadores e, muitos dentre eles, grandes pecadores que reconheceram em
Jesus a salvação e a ele aderiram incondicionalmente. Os santos e santas foram
o que nós somos hoje, e nós seremos o que eles são: “Benditos do Pai”.
Temos, dentro de nós, a semente da esperança do céu. Quem
tem esperança, santifica-se.
Cremos na vida eterna. Na luta, na dor, no desânimo e
nas tribulações, lembremo-nos da glória que nos espera.
Daqui a pouco tudo estará acabado e podemos, nós
mesmos, se seguirmos os ensinamentos de Jesus Cristo e os exemplos dos santos e
santas, experimentar e nos deliciar com as maravilhas celestes antecipadas por
Paulo Apóstolo: “Olho algum viu, ouvido
nenhum ouviu, nem jamais veio à mente do homem o que Deus preparou para aqueles
que o amam.” 1Cor, 2, 9).
Santos e santas não são somente os que gozam da
veneração nos altares da família cristã.
Todos os que estão na casa do Pai, gozando da eterna
bem-aventurança da presença de Deus são os nossos santos e santas, saibamos ou
não os seus nomes, as suas histórias, os seus sacrifícios, os seus martírios.
Os nossos parentes, amigos, benfeitores, os nossos
antepassados que já passaram por esta vida, por este vale de lágrimas, e que
agora gozam da eterna bem-aventurança, são os santos e santas que comemoramos
no dia de Todos os Santos; são os santos e santas anônimos da nossa festa.
Quantos conhecidos nossos e que conviveram conosco lá
estão e são comemorados no dia de hoje. Com quantos santos convivemos e que
hoje, na glória eterna eles rezam por nós, velam por nós. Se estão na glória de
Deus Pai são santos e santas e simplesmente, para serem santos e santas, não há
a necessidade de terem sidos canonizados e frequentarem o ensejo da veneração
do povo.
Nesta festa de Todos os Santos somos convidados a
lançar um olhar nas magníficas habitações celestes e contemplar as multidões de
santos e santas, aqueles benditos do Pai que se acham no reino que lhes foi
preparado desde o princípio dos tempos: “Venham
vocês, que são abençoados pelo meu Pai. Recebam como herança ao Reino que meu
Pai lhes preparou desde a criação do mundo”. (Mt 25,34).
Não há espetáculo aqui na terra, por mais belo e
atraente que seja que se possa comparar com a grandiosidade do céu que hoje se
abre à nossa vista, e repito os dizeres de Paulo: “Olho algum viu, ouvido nenhum ouviu, nem jamais veio à mente do homem
o que Deus preparou para aqueles que o amam.” 1Cor, 2, 9).
Todos sabemos e temos conhecimento, principalmente
através das folhinhas e dos calendários que a nossa Igreja, em cada dia do ano
nos propõe à veneração, a memória e a lembrança de um ou mais santos e santas,
de um ou mais bem-aventurados que foram modelos de perfeição cristã como a nos
estimular na prática da virtude que nos leva ao nosso destino eterno, a
verdadeira imortalidade para a qual foram criados todos os homens.
Todos os dias veneramos um ou mais santos. Todos os
dias é dia de algum santo, conhecido ou não. Mas, mesmo nos trezentos e
sessenta e cinco dias do ano, mesmo que veneremos centenas de santos por dia,
jamais veneraríamos todos os santos que estão na casa do Pai.
Claro, não os conhecemos a todos; são centenas de
milhares, canonizados ou não, que são venerados ou não. E é por isso que a
nossa Santa Igreja, na sua sabedoria que lhe transmite o Espírito Santo,
instituiu o dia de Todos os Santos e Santas, para que nenhum santo ou santa
ficasse no esquecimento, seja ela ou ele conhecido ou não.
No dia de Todos os Santos veneramos os nossos irmãos e
irmãs que se encontram na glória eterna gozando das bem-aventuranças eternas. Não
é necessário ser canonizado para ser santo.
A Igreja simplesmente canoniza alguns para que sirvam
de modelo de vida cristã a todos os demais que caminham neste vale de lágrimas,
mas, em comparação às centenas de milhares de santos que se encontram na casa
do Pai, os canonizados são poucos, pouquíssimos mesmo.
Todos os que estão no céu, gozando da presença
beatífica de Deus, são santos e santas.
Todos os que viveram em plenitude as bem-aventuranças
pregadas por Jesus Cristo e que foram perseguidos por amor da justiça e do nome
do Senhor, são santos e santas. E é por isso que a Igreja, na comemoração do
dia de Todos os Santos e Santas, através dos Santos Evangelhos, nos lembra a
todos as bem-aventuranças pregadas por Jesus a todos os homens.
Quem levou e leva a sério essas bem-aventuranças e,
quem é injuriado, perseguido, caluniado e maltratado por segui à risca as
bem-aventuranças pregadas, ensinadas e vividas por Jesus, já é santo e santa
nesta terra e, quando partir para a casa do Pai, será recebido com festas na
morada eterna que Deus Pai preparou para todos.
Santos e santas não são somente aqueles que já gozam
da presença eterna de Deus Pai.
Temos muitos santos e santas que hoje estão caminhando
conosco, ao nosso lado, vivendo conosco no nosso dia-a-dia, padecendo conosco
as agruras da vida, rindo conosco nas mesmas alegrias e chorando nas mesmas
lágrimas as nossas tristezas e procurando viver as bem-aventuranças pregadas,
ensinadas e vividas por Jesus Cristo. Santos somos todos nós que vivemos a vida
da graça, que vivemos a vida de Deus.
“A terra está
cheia de santos. São os pobres e os aflitos, gente que chora porque foi privada
das coisas mais necessárias para sobreviver ou porque foram atingidas
injustamente naquilo que existe de mais sagrado.Santos são os mansos deste
mundo, os que não têm forças para se defender, os que não podem levantar a voz
para reclamar os seus direitos. Santos são os que tem fome e sede de justiça,
que não se conformam com este mundo violento... Santos são os misericordiosos
que aprenderam com Jesus Cristo a lei do perdão e do amor. Santos são os puros
de coração que nunca se deixaram levar pela corrupção... Santos são os que
promovem a paz, fonte de todos os bens, princípio da alegria...” (Padre Virgílio).
Santos somos todos que caminhamos seguindo as pegadas
de Jesus neste vale de lágrimas.
No início do mês, no dia dois de novembro, comemoramos
também os nossos falecidos, os que nos anteciparam na casa do Pai. Todos nós,
sempre e de um modo especial, nos lembramos dos nossos falecidos. Todos temos,
dentro de nós, uma lembrança, um vazio deixado por alguém a quem amamos e que
partiu para a vida que não se acaba mais.
Todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos a dor do
luto, lamentamos o lugar que ficou vazio na mesa, no sofá da sala, reclamamos a
voz que se calou, sentimos a falta da presença que se tornou ausência.
Em muitos lares, senão em quase todos, já passou a
figura tenebrosa e indesejável da morte, e a morte já levou muitos dos nossos
entes queridos. Se não conhecêssemos Jesus e a sua mensagem, talvez não
houvesse esperança em nossos corações e nossa vida seria uma fuga eterna da
morte, uma fuga de uma realidade que nenhum ser vivente sobre esta terra poderá
se livrar; o que nos conforta, quando pensamos sobre a morte ou somos atingidos
por ela através de um ente querido, são as palavras de Jesus: “Em verdade, em verdade eu lhes digo: se
alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.” (Jo, 8,51).
Até Jesus e a sua Mãe, Maria, conheceram a morte e
passaram por ela; passaram, mas venceram a morte, nos dando a esperança e a
certeza de uma vida plena depois desta vida, a vida que não se acaba, a vida
eterna, a vida que Jesus veio nos trazer em abundância, e Jesus afirma isso no
seu Evangelho quando conversava com as irmãs de Lázaro, Marta e Maria: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em
mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá
para sempre.” (Jo, 11, 15-26).
A morte é, para o cristão, apenas a passagem que une o
nosso tempo à eternidade; a morte é a porta que se abre para que possamos
entrar na vida que Jesus preparou para todos, “e não nos devemos admirar porque vai chegar a hora em que todos os que
estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que fizeram o bem,
sairão para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal, para a ressurreição
do juízo.” (Jo 5,28-29).
Todos, quando
morre alguém da nossa família, do nosso círculo de amizade choramos, e às vezes
choramos muito. É bom chorar, é necessário que se chore porque as lágrimas
sinceras são as provas mais evidentes do amor que tínhamos por aquela pessoa
que se foi; as lágrimas são a demonstração e a exteriorização dos nossos
sentimentos mais sinceros e mais íntimos.
Todo cristão chora quando um ente querido parte para a
vida eterna. Mas o cristão não chora de desespero nem de revolta.
O cristão chora, sim, mas de saudade. Sentimos saudade
do ente querido que se foi, mas temos confiança nos ensinamentos evangélicos de
Jesus, acreditamos na sua mensagem e temos a certeza evangélica de que os
nossos entes queridos, que conviveram longo tempo conosco neste vale de
lagrimas e que ouviram a voz do Bom Pastor e fizeram parte do seu rebanho,
agora, depois de sua morte, estão na glória de Deus Pai, na casa do Pai onde,
segundo uma das promessas de Jesus, existem muitas moradas: “Não se perturbe o seu coração; creia em
Deus, creia também em mim. Na
casa do meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse eu não teria dito isso
para vocês, porque eu vou preparar um lugar para vocês. Quando eu tiver ido e
tiver preparado um lugar para vocês, de novo voltarei e tomarei vocês comigo,
para onde eu estiver estejam também
vocês.” (Jo 14,1-3).
Paulo, na sua carta aos Romanos, escreveu para nos
confortar a respeito da morte: “Ou vocês
não sabem que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo , fomos
batizados na sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para
que assim, como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai,
assim nós também possamos caminhar numa vida nova. [...] Mas, se estamos mortos com Cristo,
acreditamos que também vivemos com ele, pois sabemos que Cristo, ressuscitado
dos mortos, não morre mais: a morte não tem poder sobre ele. (Rm 6,3-4.8-9).
Paulo, através dessa sua carta nos dá a certeza que a
vida eterna já começou aqui e agora em nós pelo batismo e pela fé no Senhor
Jesus.
João Evangelista, com sua mensagem de fé e amor,
também nos conforta a todos e nos dá a certeza de que, um dia, após a nossa
morte, veremos realmente a Deus tal qual ele é.
Na sua primeira carta, João nos escreve: “Filhinhos, vejam como é grande o amor que o
Pai tem por nós! Seu amor para conosco é tão grande que ele nos deu a graça de
sermos chamados “Filhos de Deus”, e o somos de fato. O mundo não nos conhece,
porque não conhece a Deus. Meus queridos amigos, já somos filhos de Deus aqui e
agora, embora, externamente ainda não apareça o que vamos ser. Mas sabemos, com
certeza, que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele porque o veremos como
ele realmente é. Todo aquele que tem essa esperança nele se torna puro, como
também ele é puro.” (1Jo 3,1-3).
O que nos conforta sobre os pensamentos que temos
sobre os nossos falecidos são as palavras de Jesus: “Deus, não é Deus dos mortos, e sim dos vivos, porque para ele todos
vivem.” (Lc 20,38).
Tudo isso revigora a nossa certeza de que os nossos
mortos, os nossos entes queridos por quem a gente derramou copiosas lágrimas de
dor e saudade, todos eles estão na casa do Pai.
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