XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Nm 11, 25-29; Sl 18; Tg 5,1-6; Mc
9,38-43.45.47-48.
“QUEM NÃO É CONTRA NÓS É A NOSSO FAVOR”. (Mc 9,40).
Diácono
Milton Restivo
A primeira
leitura retrata o povo israelita, escolhido por Deus, depois de ser libertado
da escravidão do Egito, caminhando pelo deserto. O caminho já tinha sido longo,
mas faltava ainda muito para completá-lo até a terra que Yahweh lhe prometera.
O capítulo 11
do livro dos Números mostra-nos a ingratidão do povo contra Moisés e Yahweh, e
isso irritou o Senhor fazendo com que ele mandasse fogo e destruísse parte do
acampamento dos israelitas:
·
“O povo começou a queixar-se de suas
desgraças. Ao ouvir a queixa, a ira dele se inflamou, e o fogo de Yahweh
começou a consumir uma extremidade do acampamento.” (Nm 11,1).
O povo,
apavorado, apela para Moisés e Moisés intercede a Yahweh pelo povo:
·
“O povo gritou a Moisés. Este intercedeu
junto a Yahweh em favor deles, e o incêndio se apagou.” (Nm 11,2).
Não se
emendando e nem se intimidando com isso e ainda desafiando o poder de Yahweh, e
menosprezando os cuidados e o amor que Yahweh sempre demonstrou para eles, os
israelitas, apesar de receberem gratuitamente o maná que vinha do céu,
começaram a chorar e a lembrar dos alimentos que tinham no Egito, ainda que
eles tivessem sido escravos. (Nm 11,4-6).
Moisés não
suporta ver a ingratidão do povo e está à beira de um colapso; não suporta as
reclamações do povo e, já esgotado, à beira da estafa, sente-se sozinho e
prefere a morte:
·
“Eu sozinho não consigo carregar esse povo,
pois supera as minhas forças! Se é assim que me pretendes tratar, prefiro a
morte! Concede-me esse favor, e eu não terei que passar por essa desgraça.” (Nm
11,14-15).
É nesse
contexto que Yahweh manda Moisés escolher, no meio do povo, setenta anciãos ou
setenta representantes do povo para que Moisés pudesse partilhar a liderança
com eles.
Assim Moisés
não ficaria sozinho na direção desse povo exigente, mal agradecido e rebelde
(Nm 11,10-17). Para isso Yahweh desceu sobre a tenda da reunião, ao redor da
qual os setenta anciãos escolhidos estavam reunidos.
Ai Yahweh
falou com Moisés e separou uma parte do espírito profético que Moisés possuía e
a colocou nos setenta anciãos.
Então, todos
os anciãos começaram a profetizar por um tempo. (Nm 11,25).
Dois anciãos,
Medad e Eldad, não tinham ido à tenda e não estavam fazendo, portanto, parte da
instituição dos setenta. Mas o espírito de Yahweh pousa também sobre eles e
começaram igualmente a profetizar no meio do povo.
Quem pode
monopolizar o espírito de Yahweh?
Jesus diria
mais tarde:
·
“quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc
9,40).
Josué, no
entanto, enciumado, pede a Moises para proibi-los de profetizar.
E aqui vem o
grande ensinamento de Moisés:
·
“Você está
com ciúmes por mim? Oxalá todo o povo de Yahweh fosse profeta e recebesse o
espírito de Yahweh.” (Nm 11,29).
Muito tempo
depois o desejo profético de Moisés foi anunciado pelo profeta Joel:
·
“Depois
disso, derramarei o meu espírito sobre todos os viventes, e os filhos e filhas
de vocês se tornarão profetas; entre vocês, os velhos terão sonhos e os jovens
terão visões! Nesses dias, até sobre os escravos e escravas derramarei o meu
espírito!” (Jl 3,1-2).
E, no Novo
Testamento, isso vai se realizar plenamente no Pentecostes cristão. (cf At 2).
Na segunda
leitura Tiago, vendo que o espírito de Deus não permanecia naqueles apegados às
riquezas e aos bens terrenos, condena com veemência profética aos que se apegam
aos bens materiais e oprimem o irmão menos afortunado.
A comunidade
de Tiago vive no meio de uma sociedade que não se libertou totalmente da
idolatria, e era dominada pela ânsia de riqueza e do poder.
Todos queriam
ter mais riqueza e mais poder para o conforto, para o luxo e para o prazer,
riquezas essas conseguidas graças às injustiças praticadas contra os pobres.
As palavras de
Tiago se aproximam das palavras do profeta Amós que, no seu tempo, combateu
veementemente essa situação no Antigo Testamento:
·
“Eles (os
ricos) odeiam os que defendem o justo no
tribunal, e tem horror de quem fala a verdade. Porque esmagam o fraco, cobrando
dele o imposto de trigo. Eles poderão construir casas de pedras lavradas, mas
nelas jamais irão morar; poderão plantar vinhas de ótima qualidade, mas do
vinho não beberão. Pois eu sei que são numerosos os seus crimes e graves os
seus pecados: exploram o justo, aceitam subornos e enganam os necessitados no
tribunal! É por isso que nesse tempo o prudente se cala, pois é tempo de
desgraça.” (Am 5,10-13).
O profeta Amós
não para por ai, e continua:
·
“Ai dos (ricos)
que vivem tranquilos em Sião e se sentem
seguros no monte de Samaria. [...] Aplicando
o poder da violência, vocês pensam que estão afastando o dia fatal. Deitam-se
em cama de marfim, esparramam-se em cima de sofás, comendo cordeiros do rebanho
e novilhos cevados em estábulos; cantarolam ao som da lira, inventando, como
Davi, instrumentos musicais; bebem canecões
de vinho, usam os mais caros perfumes, sem se importar com a ruína de
José! Para isso vocês irão acorrentados à frente dos exilados. Acabou-se a
festa dos boas-vidas.” (Am 6, 1.3-7).
Tiago deixa
claro que a cobiça e a inveja são sinais de que a comunidade está traindo a sua
vocação. Em vez de romper com o mundo, está rompendo com Deus.
Em vez de ser
a luz que aponta um caminho novo, a comunidade cristã do tempo de Tiago - não estaria
acontecendo isso também a do tempo atual? – torna-se repetição dos velhos
caminhos da injustiça.
Os ricos
amontoam, egoisticamente, seus bens, ao invés de partilhar.
Os ricos ficam
cada vez mais ricos à custa dos pobres que ficam cada vez mais pobres.
O salário
lesado dos pobres é que clama contra os ricos.
Isso está
sendo observado por Tiago em seu tempo na sua comunidade.
Se existe alguma
semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência.
Os ricos
imaginavam que a riqueza era uma benevolência de Deus; só seria rico quem Deus
tinha preferência, enquanto que os pobres eram discriminados rejeitados no amor
de Deus, malditos e desprezados por Deus.
Jesus vem e
inverte essa situação:
·
“Deixem vir a mim os pequeninos, porque deles
é o Reino do Céu.” (Mt
19,14; Mc 10,14).
Os ricos, além
de monopolizar as riquezas que Deus fez para que todos delas usufruíssem, para
tentar ocultar suas injustiças, tentam também monopolizar o nome de Deus para
que disso possam tirar vantagens em seus próprios benefícios.
O Evangelho
mostra-nos que nem o nome de Deus e nem o nome de Jesus é monopólio de quem
quer que seja, muito menos de instituições religiosas, por isso Jesus diz:
·
“quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc
9,40).
Assim como
Josué ficou enciumado ao ver que dois anciãos, que não pertenciam aos setenta
escolhidos estavam profetizando em nome de Yahweh, no Evangelho desta liturgia,
também João fica enciumado ao ver que um homem, que não pertencia ao círculo
daqueles que seguiam o Mestre, fazia maravilhas em nome de Jesus:
·
“João
disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome! Mas nós o
proibimos, porque ele não nos segue.” (Mc 9,38).
É o ciúme
daquele que pensa que Deus é propriedade apenas de um grupo seleto, e que Deus
faz acepção de pessoas, e Jesus, de imediato, chama a atenção de João, dizendo:
·
“Não o
proíbam, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim.
Quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc 9,39-40).
A respeito
disso Pedro falaria mais tarde:
·
“Então,
falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de
pessoas.” (At 10,34).
O texto do
Evangelho da liturgia de hoje coloca em destaque o contraste entre os dois
grupos de seguidores e admiradores de Jesus: os que aderiram efetivamente a
Jesus e o acompanhavam onde quer que ele fosse, os seus discípulos mais
próximos, e os que ouviram falar dele, se simpatizaram com ele, aceitaram a sua
mensagem, compartilharam de seus ensinamentos, mas não o seguiam de perto como
os discípulos mais próximos.
Por isso,
aqueles que seguiam Jesus passo a passo, se julgavam no direito de fazer calar
os que não estavam tão próximos: Jesus é nosso e não o partilhamos com mais
ninguém e, por isso, vemos ai a intervenção de João, um dos Doze e que falou em
nome dos Doze, enciumado que estava, como Josué no Antigo Testamento, tomando
as dores dos demais discípulos e apóstolos, dirigindo-se a Jesus e reclamando
de que quem não o seguia também estava expulsando demônios, coisa que eles
mesmos, apesar de estarem com Jesus, não conseguiam fazer, como havia
acontecido anteriormente quando, um pai, traz seu filho até Jesus e lhe diz:
·
“Mestre,
eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o
ataca, joga-o no chão, e ele começa a espumar, ranger os dentes e fica
completamente rijo. Eu pedi aos teus discípulos para expulsarem o espírito, mas
eles não conseguiram.” (Mc 9,17).
É, no mínimo,
curiosa a pretensa autoridade dos discípulos retratada em João.
Um homem, que
não seguia de perto Jesus expulsava demônios em nome de Jesus, e os discípulos,
que não conseguiam expulsar demônios, o proíbem.
Os discípulos
se achavam donos da verdade, donos do nome de Jesus. Por que será? Seria
excesso de zelo, ou por que se julgavam donos da verdade, ou por que tinham
elevado grau de ciúme? Eles ainda não
haviam entendido que só é discípulo de Jesus não quem está associado a um grupo
que traz o seu nome, e sim quem faz o que Jesus ensinou, determinou e fazia:
·
“Assim
como o Pai me amou, e eu também amei vocês, continuem no meu amor. Se obedecerem a meus mandamentos, vocês continuarão
no meu amor, assim como eu tenho obedecido
aos mandamentos do meu Pai, e continuo no amor dele. [...] Vocês são meus amigos se fizerem
o que eu lhes mando. [..] Isto eu lhes mando: que vocês amem uns aos outros.” (Jo 15,9-10.14.17).
Serão amigos de Jesus quem fizer o que ele
manda, independente de pertencer ao grupo de quem quer que seja.
O nome de
Jesus não pode e nem deve ser monopolizado. Quem faz o que Jesus fez é que está
do seu lado.
Gandhi, o grande pacifista e de religião
hindu, apesar de admirar Jesus e conhecer o Evangelho, talvez não tenha se
convertido ao cristianismo, quem sabe, por vergonha e repulsa das atitudes dos
cristãos que são os responsáveis pela difusão da mensagem de Jesus e por esta
mesma mensagem, que deveria ser difundida e não ter sido como deveria, não ter
atingido a plenitude entre os homens, dizia:
·
“Não
conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato,
não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos. Vocês
nem começaram a viver segundo seus próprios ensinos.”.
Segundo
Gandhi, os cristãos “nem começaram a viver segundo seus próprios ensinos”,
ou seja, os ensinos de Jesus que deveriam ser os ensinos de todos os cristãos,
e ainda por cima, querem monopolizar o nome de Jesus.
Cristãos, de
vários seguimentos religiosos cristãos, lutam entre si para monopolizar o nome
de Jesus com a preocupação de apenas se promoverem pessoalmente e se realizarem
social, financeiramente e granjearem crédito na comunidade e na sociedade.
São para esses
que buscam privilégios e enriquecimentos usando o nome de Jesus, o recado de
Tiago:
·
“E agora,
vocês ricos: comecem a chorar por causa das desgraças, que estão para cair
sobre vocês. [...] O ouro e a prata
de vocês estão enferrujados; a ferrugem deles será testemunha contra vocês e
como fogo lhes devorará a carne! Vocês amontoaram tesouros para o fim dos
tempos. [...] Vocês tiveram na terra,
uma vida de conforto e luxo, vocês estão ficando gordos para o dia da matança”.
(Tg 5,1.3.5).
E esses, para
quem Tiago se dirige, eram cristãos de sua época e, possivelmente, da sua
própria comunidade.
Repito,
qualquer semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência.
Um pouco antes
de os discípulos se enciumarem dos que os que expulsavam demônios em nome de
Jesus e que não pertenciam ao seu grupo, vimos que os próprios discípulos não
conseguiam expulsar um demônio por falta de oração.
Logo a seguir,
discutiam fervorosa e ambiciosamente quem seria o maior no grupo (Mc 9,33-37).
Isso deixa claro que os discípulos não tinham aprendido ainda quase nada, ou
nada, do Mestre, mas mesmo assim já se achavam donos de Jesus e disputavam
postos e cargos de destaque no grupo que ainda não havia se formado.
A primeira
atitude a ser corrigida é a de querer reservar o Espírito de Jesus como
propriedade da comunidade ou de grupos específicos que se isolam da própria
comunidade, e isso dentro da nossa própria Igreja, com a ridícula pretensão de
que somente naquele grupo com aquela denominação é que o Espírito de Deus vai
agir. Não é.
Existem seitas
e religiões, que se dizem cristãs, e até grupos dentro da própria Igreja
Católica que assim agem e pensam, e se julgam como se fossem o único
receptáculo ou o contato privilegiado da manifestação do Espírito de Deus. São os “João” da vida.
Jesus não é
monopólio de ninguém.
O Espírito de
Deus não é monopólio de ninguém, e Jesus já afirmara isso:
·
“O vento
sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para
onde vai. Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito”. (Jo 3,8).
João se queixa
que um homem que não seguia Jesus e nem fazia parte do grupo que seguia Jesus
estava expulsando demônios em nome de Jesus, coisa que eles não conseguiam
fazer.
Atitude
mesquinha de querer dominar o Espírito de Deus, sequestrar o poder divino.
Isso,
infelizmente, é uma atitude bastante atual em certos setores mais antiquados
das Igrejas ainda hoje, que acham que toda a riqueza do mistério de Deus possa
caber dentro das margens estreitas de suas definições dogmáticas!
Hoje Jesus
ensina-nos a verdadeira atitude dum discípulo:
·
“Não lhe
proíbam, pois... quem não está contra nós, está a nosso favor”. (Mc
9,39.40).
Temos que
aprender e acolher as manifestações verdadeiras do Espírito de Deus em todas as
religiões e culturas, e estar alertas para que nós mesmos não o escondamos e
nem o deturpemos!
E Jesus ensina
o que deve ser feito para estar com ele: garante recompensa para quem der um
copo de água aos discípulos, porque eles são de Cristo:
·
“Eu
garanto a vocês: quem der para vocês um copo de água, porque vocês são de
Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. (Mc 9,41).
O primeiro
ensinamento é a partilha e ajuda mesmo nas coisas mais insignificantes.
O que vale um
copo de água?
O gesto de
doar, partilhar, acolher é muito mais valioso que o conteúdo da doação.
O segundo
ensinamento está na motivação do gesto: “porque
vocês são de Cristo”, pelo fato de serem de Cristo.
O texto não
fala “ser de Jesus”, mas “ser de Cristo”.
Cristo =
Messias = Cordeiro: é uma referência à realização das promessas salvíficas de
Deus anunciadas no Antigo Testamento.
O Cristo, se
não for o Cordeiro, não é o Messias, e Messias é o Ungido que tinha a missão
libertadora. Usando a expressão “de
Cristo”, Marcos quer fazer alusão à missão de Jesus.
Na
oportunidade em que aconteceram esses fatos, Jesus está a caminho de Jerusalém,
onde dará a sua vida para a libertação dos homens, onde ele se fará
·
“o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. (Jo 1,29).
Essa é a sua
missão. Talvez, nessa oportunidade, estivesse atravessando o território da
Samaria (cf Mc 9,30 – 10,1).
Os samaritanos
e os judeus eram antipáticos entre si, não se suportavam; eram até inimigos.
Os samaritanos
negavam até um copo de água para um judeu que, passando pela Samaria, estivesse
a caminho de Jerusalém; judeus e samaritanos não se amavam, e o que é pior, se
odiavam.
Neste
contexto, dar um copo de água tem grande significado político, religioso e
libertador: significa comprometer-se a cooperar com a missão libertadora de
Jesus e seus discípulos.
É preciso
cortar o mal pela raiz:
“E se alguém escandalizar um desses
pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado ao mar com uma
pedra de moinho amarrada no pescoço”. (Mc 9,42).
“Pequeninos” são os que crêem e aderiram
à mensagem de Jesus, não importando a que grupo pertençam.
“Escandalizar” significa conduzir ao
pecado, à perda da fé, ao descompromisso com o Messias libertador. Jesus avisa
que é melhor morrer do que causar danos aos pequeninos que acreditam na sua
mensagem.
O escândalo
existe quando há na comunidade quem pretende ser maior, ser servido em lugar de
servir, contradizendo o que Jesus dissera:
·
“Quem de
vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês. Pois o Filho do
Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida em
resgate de muitos! (Mt 20,26-28).
A ambição de
ser maior põe em risco a adesão dos “pequenos”
a Jesus.
·
“Se a sua
mão é ocasião de escândalo para você, corte-a. É melhor você entrar para a vida
sem uma das mãos, do que ter as duas mãos e ir para o inferno, onde o fogo
nunca se apaga. [...] Se o seu pé é
ocasião de escândalo para você, corte-o. É melhor você entrar para a vida sem
um dos pés, do que ter os dois pés e ser jogado no inferno. [...] Se o seu olho é ocasião de escândalo para
você, arranque-o. É melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só, do que
ter os dois olhos no inferno, onde o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca
se apaga.” (Mc 9,43-48).
Jesus cita
três membros do corpo – mão, pé e olho – com três sentenças simbólicas
igualmente construídas, mostrando o contraste entre o entrar na vida ou no
Reino de Deus, e ser jogado na Geena (lugar onde se queimava o lixo fora da
cidade e onde o fogo permanecia sempre aceso, símbolo da destruição e do
castigo futuro).
É preciso
fazer opções, por mais dolorosas que sejam, pois são opções entre o êxito e o
fracasso da existência: toda atividade (simbolizada pela mão), toda conduta
(simbolizada pelo pé) e toda aspiração (simbolizada pelo olho), que busca
prestígio e superioridade, está viciada e é necessário suprimi-la, pois põe em
perigo a fidelidade à mensagem e bloqueia o desenvolvimento pessoal. As imagens
que Jesus usa são fortes: cortar a mão, cortar o pé, arrancar o olho.
É preciso
cortar e arrancar tudo o que em si mesmo se oponha à mensagem e causa dano aos
que querem ser fieis a Jesus, não importando a que grupo pertençam.
Mão que
executa ações de amor e caridade para com o irmão; pé que conduz ao encontro do
irmão ou do irmão que se distancia e olho que é a aspiração de tudo o que
queremos de bom ou menos bom para a vida e no trato com o irmão.
Mão que
executa as ações, pé que conduz e olho que cobiça, eram a sede dos impulsos
pecaminosos e da concupiscência.
Com estas três
sentenças, Jesus ensina-nos a salvar nossa vida através do domínio da cobiça e
da ganância. Jesus ensina-nos a romper, definitiva e radicalmente, com tudo o
que conduz ao pecado, ou seja, a cortar o mal pela raiz, não importando a que
grupo pertença, porque
·
“quem não é contra nós, é a nosso favor.” (Mc
9,40).
Nenhum comentário:
Postar um comentário