“A PAZ ESTEJA CONVOSCO” (Jo 20, 21.26)
Às vezes, em muitas circunstâncias da
vida, nos sentimos sozinhos, abandonados, isolados.
Nesse isolamento sentimos um vazio
intenso e o silêncio grita alto dentro de nós todas aquelas coisas que
gostaríamos que se tornassem conhecidas e aceitas para provar que somos
humanos, que acertamos algumas vezes e erramos outras tantas; e o silêncio explode
dentro de nosso cérebro, dentro do nosso peito, dentro do nosso coração,
ressoando fortemente em nossa alma e, desesperadamente, buscamos paz,
procuramos a paz, lutamos pela paz, desejamos ardentemente a paz... paz...
paz... Como necessitamos de paz.
Como procuramos a paz, como desejamos
a paz. Paz interior. Paz de espírito. Paz na alma. Paz onde vivemos. Paz onde
trabalhamos.
Como procuramos a paz. Mas como a
procuramos nos lugares mais equivocados, nos lugares onde, absolutamente, ela
não está, não se encontra, e, nessa busca desenfreada pela paz mais nos
confundimos, mais nos desesperamos, mais nos perdemos, mais nos equivocamos.
Mas, o que é paz? Se procurarmos no
dicionário encontraremos que paz é ausência de guerra, é tranquilidade,
serenidade, sossego, descanso, ausência de hostilidade, silêncio...
Mas a paz que o nosso espírito, o
nosso coração, a nossa alma busca não é somente ausência de guerra, nem
tranquilidade, nem o que tudo o mais que o dicionário pressupõe.
A paz que buscamos, a paz verdadeira é
estarmos de bem conosco mesmos e com Deus, mesmo que à nossa volta haja
confusão, guerra, incompreensão, agressões...
A paz verdadeira vem de Deus, somente
de Deus; paz interior, paz de consciência, paz de espírito, paz na alma, paz no
coração...
A paz que buscamos não é essa paz que
é sinônimo de tranquilidade, mesmo contrariando a definição de paz que nos dão
os dicionários da nossa língua portuguesa.
Realmente, a paz que vem de Deus não
pode ser sinônimo de tranquilidade, porque, por um paradoxo, o Senhor Nosso
Deus nos dá a sua paz exatamente para não nos deixar em paz, para não nos
deixar tranquilos, porque, quem tem a paz que vem do Senhor não pode estar
tranquilo ao conviver com tantas injustiças, tantas mentiras, agressões,
infidelidades, falsidades, agressões, desumanidade, desamor, tantos interesses
escusos que existem entre as pessoas, e o pior, pessoas que se dizem cristãs, e
isso em quaisquer seguimentos cristãos e no mundo inteiro.
Quem tem a paz que vem do Senhor não
pode se acomodar, não pode se tranquilizar, porque a paz que o Senhor nos dá
não é a mesma paz que o mundo transmite:
“A minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se perturbe nem se
intimide o vosso coração.” (Jo 14,27).
Quem tem a paz que vem do Senhor Nosso
Deus não pode se omitir ao ver tantas e tantas faltas e falhas, tantos pecados
imperarem nos locais que, por força das circunstâncias e princípios, deveriam
ser santos; não podem concordar com aqueles que deveriam se postar em defesa
dos oprimidos e dos injustiçados se calarem criminosa e covardemente; não pode
ter repouso ao presenciar tantas agressões covardes contra aqueles que não
podem e não sabem se defender, tanto física quanto moral, psicológica e até
religiosamente.
Por isso, a paz não é e nem pode ser
sinônimo de tranquilidade.
O Senhor nos dá a paz mas não nos
deixa em paz...
A paz que vem do Senhor é aquela que
deve nos desalojar do nosso comodismo da mesma maneira como aconteceu com
Maria, a mãe de Jesus que, após receber em seu coração e no seu ventre a Paz
personificada no Filho de Deus, não se acomodou e partiu para uma longa viagem
ao tomar conhecimento, pela boca do Anjo que viera lhe trazer a Boa Nova da
vinda do Messias, que a sua parenta Isabel, mulher já de idade avançada, necessitava
de sua ajuda, de sua presença para auxiliá-la nos preparativos dos últimos dias
de sua gravides temporã, conforme nos narra Lucas, 1,26-27.
Só os valentes tem essa paz
verdadeira. Os valentes que assumem de corpo e alma os preceitos emanados das Sagradas
Escrituras e ditados pelo Senhor Nosso Deus e que se sintonizam com a vontade
divina para servirem de instrumentos nas mãos do Pai a fim de dar continuidade
ao plano de salvação iniciado por Jesus Cristo e que se prolonga na luta do
dia-a-dia de sua Igreja.
E o resultado dessa paz nem sempre é
uma velhice tranquila ou uma aposentadoria sem lutas e abastada como todos
desejariam que fossem.
O resultado dessa paz é, muitas
vezes, a incompreensão dos homens e do
mundo, é uma coroa de espinhos, são flagelos, chacotas, indiferenças e dores
que, muitas vezes, terminam ao se ver o mundo do alto, mas do alto de uma cruz,
como aconteceu com o Senhor Jesus, e isso não é novidade pois que, o Senhor
Jesus já nos alertava a respeito disso:
“Não existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor.
Basta que o discípulo se torne como o mestre e o servo como o seu senhor.”
(Mt 10,24-25).
Essa paz que buscamos desesperadamente
a encontramos gratuitamente e nos é transmitida, através dos apóstolos e
discípulos, pelo Senhor Jesus: ”A paz
esteja convosco. (Jo 20, 21.26), e “Deixo-vos
a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se perturbe nem
se intimide vosso coração.” (Jo 14,27). Por incrível que possa parecer,
vemos que todos aqueles que receberam a paz diretamente do Senhor Jesus e,
estando em pleno gozo dessa paz, foram perseguidos, caluniados, flagelados,
assassinados, martirizados. E ai nos vem a pergunta: “Que tipo de paz é essa que, para gozá-la plenamente, passa-se por todas
essas privações?”
Essa é a paz verdadeira que vem do
Senhor Nosso Deus nos dando plena segurança de que vale à pena ser perseguido
pelo mundo e incompreendido pelos homens e até por aqueles que amamos de
verdade; vale à pena, desde que permaneçamos fieis às observâncias dos
preceitos evangélicos transmitidos por Jesus Cristo e consolados por sua
exortação: “Bem-aventurados os que são
perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos,
porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram
os profetas, que vieram antes de vós.” (Mt 5,10-12).
A paz que recebemos do Senhor Nosso
Deus nos traz alegria interior.
A paz que o mundo nos oferece se
transforma em remorso.
O Senhor faz bem-aventurados todos
aqueles que vivem na sua paz e a sua paz e as bem-aventuranças evangélicas são
o conforto que o Senhor dá aos que vivem na sua paz: “Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos
céus. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os
aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os que tem fome e sede de
justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os
que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os
que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos,
porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram
os profetas, que vieram antes de vós.” (Mt 5,3-12).
Bem-aventurados os que buscam a paz no
Senhor, os que vivem plenamente essa paz e que a transmite a todos os que o
cercam. Precisamos dessa paz, buscamos essa paz e somente essa paz porá fim ao
silêncio gritante que ecoa em nossos corações pelas indecisões que a vida nos
traz...
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