IRMÃ DULCE -
UMA SANTA NASCIDA NA BAHIA
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes,
que na vida religiosa adotou o nome de
Irmã Dulce, assumindo o nome de sua mãe, nasceu em 26 de maio de
1914, segunda filha de Dona Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes e de
Augusto Lopes Pontes, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia,
que nos anos 1920 saía pela cidade atendendo famílias sem condições de pagar um
tratamento dentário.
O avô paterno, Manuel Lopes Pontes,
nasceu em Santo Amaro em 1845. Político, advogado, professor e militar,
fundou o Colégio Santo Antônio na rua direita de Santo Antônio além do Carmo e
foi um dos idealizadores do "Monumento aos Heróis do 2 de julho"
sendo o tesoureiro da obra, 1895. Ele também comandou o 5º Batalhão de
Infantaria da Guarda Nacional, em 1897, no governo Luiz Viana, época da Guerra
de Canudos.
Em 1949 a irmã
Dulce começou seu trabalho emm favor de moradores de rua. Começou com setenta
doentes moradores de rua.
Irmá Dulce era
magrinha, frágil e sem recursos. Irmã Dulce tinha 35 anos e nenhum local para
abrigá-los. Dez anos antes ela já havia invadido cinco casas na Ilha do Rato,
em Água de Meninos, Salvador, para onde levara doentes recolhidos nas ruas. Foi
expulsa e peregrinou com seus enfermos por vários locais da cidade.
Até que conseguiu
autorização da madre superiora do Convento Santo Antonio para usar uma
construção ao lado: um galinheiro.
Sessenta e sete
anos depois aquele galinheiro se transformou no Hospital Santo Antonio, na
Avenida Dendezeiros do Bonfim, 161, em Salvador, com uma média de 16,5 mil
internações e dez mil cirurgias anuais, trezentos e setenta e três leitos, um
Centro de Tratamento Intensivo e atendimento em dezessete especialidades,
divididas entre as enfermarias de clínicas Médica, de Longa Permanência
(crônicos) e Cirúrgica.
E Maria Rita, a
Irmã Dulce - Beata Dulce dos Pobres, a Bem-Aventurada Dulce dos Pobres - foi
considerada santa pelo Vaticano: a primeira nascida no Brasil.
As galinhas
criadas pela madre superiora? Viraram canja para os doentes.
13 de março de
1992. 16h45.
O coração de Irmã
Dulce parou de bater.
Ela tinha 77 anos
e há 2 mal conseguia respirar. 70% de seus pulmões estavam comprometidos. Um
ano antes, no dia 20 de outubro de 1991, recebera a bênção e extrema-unção, das
mãos do papa João Paulo II.
Irmã Dulce tinha
bronquiectasia, doença degenerativa que danifica as vias aéreas dos pulmões,
causa tosse crônica e acúmulo de muco nos brônquios pulmonares.
Ela dormia no
máximo 4 horas por dia, em uma cadeira de madeira maciça, o que fez por 30 anos
- para pagar uma promessa que fizera pela recuperação de sua irmã, Dulcinha,
que, em 1955, deu à luz a Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, sobrinha e
atual superintendente das obras sociais. Dulcinha teve uma gravidez de alto
risco e poderia morrer. Irmã Dulce cumpriu a promessa até 1985, quando
passou a dormir em uma cama após muita insistência dos médicos.
Seus últimos 16
meses foram de sofrimento, "meses de agonia, meses de Calvário", nas
palavras de Dom Murilo Krieger, arcebispo de São Salvador da Bahia, primaz do
Brasil.
O corpo de Irmã
Dulce foi sepultado na Capela das Relíquias, na Igreja da Imaculada Conceição
da Mãe de Deus, em Salvador e, 8 anos depois, os restos mortais acabaram
transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, sede das Obras Sociais
Irmã Dulce, onde ficaram até 2011. A partir de então encontram-se no Santuário
erguido no local.
Maria Rita de
Sousa Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, segunda filha de Dona
Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes e de Augusto Lopes Pontes, dentista e
professor da Universidade Federal da Bahia, que nos anos 1920 saía pela cidade
atendendo famílias sem condições de pagar um tratamento dentário.
O avô paterno,
Manuel Lopes Pontes, nasceu em Santo Amaro em 1845. Político, advogado,
professor e militar, fundou o Colégio Santo Antônio na rua direita de
Santo Antônio além do Carmo e foi um dos idealizadores do "Monumento aos
Heróis do 2 de julho" sendo o tesoureiro da obra, em 1895. Ele também
comandou o 5º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, em 1897, no governo
Luiz Viana, época da Guerra de Canudos.
Ladeira da
Independência, 61, no bairro de Nazaré.
Era ali que
morava a menina Maria Rita.
Foi naquela casa
que decidiu se dedicar à vida religiosa, quando tinha apenas 13 anos, depois de
visitar áreas carentes de Salvador, acompanhada por um tia. Mas era jovem
demais e por esse motivo acabou recusada pelo Convento de Santa Clara do
Desterro.
As imagens de
fome e pobreza presenciadas por ela nunca foram esquecidas. E na casa de número
61 a menina de 13 anos começou a receber pessoas necessitadas, com o apoio da
irmã Dulcinha. Logo eram tantos mendigos, moradores de rua e abandonados que a
casa da Ladeira da Independência ficou conhecida como "a portaria de São
Francisco".
Mas 6 anos antes
ela já pedia farinha à mãe, para entregar aos garotos pobres de Água de
Meninos.
Dulce Maria, mãe
de Irmã Dulce, morreu aos 26 anos de idade. A menina Maria Dulce tinha 7 anos.
Um ano depois fez a Primeira Comunhão, na Igreja de Santo Antônio Além do
Carmo, junto com os irmãos Augusto e Dulcinha.
O amor e seus sonhos são a única porta
para a eternidade.
-- Irmã Dulce --
Maria Rita teve
que esperar até 8 de fevereiro de 1933, dois meses após receber o diploma de
professora pela Escola Normal da Bahia, para ser aceita no Convento de São
Francisco, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, pela Congregação da Irmãs
Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, primeira casa de formação
desta congregação no Nordeste.
Ficava para trás
a garotinha que brincava de guerra de mamona com os irmãos, empinava pipa,
andava de bonde e fazia bordados. A menina que brincava na rua, sabia tocar
acordeon e adorava futebol, a torcedora do Esporte Clube Ypiranga - time
formado por operários -, que ia a todas partidas do clube do coração, com o pai
e os irmãos, e vibrava a cada gol marcado (um tio seu dizia que ela nascera
"no corpo errado”, tamanha era a sua paixão pelo esporte).
Mas continuava
com ela a boneca Celica, que ganhara aos 4 anos, e que nas tardes de domingo
emprestava às noviças do convento em São Cristõvão, cidade histórica a 22
quilômetros de Aracaju.
"Ela comia
pouco, como um passarinho, em um pires", contava a Irmã Maria das Neves.
"E só após se certificar que as outras irmãs estavam se alimentando
corretamente."
13 de agosto de
1933. Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes recebia o hábito e
passava a usar o nome de Irmã Dulce, uma homenagem à mãe.
Anjo dos Alagados
15 de agosto de
1934. Irmã Dulce volta a Salvador, em companhia das Irmãs Tabita e
Capertana, para trabalhar na abertura do Hospital Espanhol, no bairro da
Barra, desempenhando funções de enfermeira, sacristã, porteira e responsável
pelo raio X. Ela também recebeu a tarefa de ser professora de Geografia e
História no Colégio Santa Bernadete, no Largo da Madragoa, na Cidade Baixa.
Em 1935, surgia
em Salvador a comunidade de Alagados, conjunto de palafitas na parte interna da
Península de Itapagipe, sobre a Enseada dos Cabritos. A comunidade era formada
por operários que trabalhavam nas antigas fábricas espalhadas pela península.
As casas, barracos
de madeira construídos sobre estacas fincadas em mangues e ligadas por pequenas
passarelas de tábuas "pairavam" sobre um mar de fezes e garrafas de
plástico; os moradores conviviam com o cheiro forte de esgoto e as doenças
surgidas da falta de saneamento básico.
A área chegou a
ter 3,5 mil palafitas e cerca de 100 mil habitantes, só começando a ser
erradicada na década de 80.
No mesmo ano Irmã
Dulce criou um posto médico juntamente com o Dr. Bernadino Nogueira para
atender operários da comunidade. A imprensa da época começava a chamá-la de
“Anjo dos Alagados”.
"Ela limpava
feridas, dava cobertor aos que tinham frio, dava medicamentos, cortava os
cabelos destas pessoas, alimentava os que tinham fome e se aproximava daqueles
em que ninguém ousava tocar", lembra Osvaldo Gouveia, assessor de Memória
e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). O ex-professor de
Museologia da Universidade Federal da Bahia (UFBa) chegou às obras em 30
de maio de 1993, para ficar 3 meses como auxiliar na fundação do memorial
dedicado a contar a vida de Irmã Dulce. O que era para durar um trimestre
perdura por 26 anos.
Gouveia é
conhecido como ‘a bíblia humana da trajetória de Irmã Dulce’, tamanha a sua
dedicação e conhecimento sobre a vida da freira.
Uma cusparada
Irmã Dulce
evitava envolvimento com política. “Ela sempre afirmou que o partido dela eram
os pobres, era a pobreza. Nunca vi a imagem de Irmã Dulce em um santinho de um
político e olhe que diversos deles vieram atrás dela para garantir votos;
queriam ter a figura dela veiculada a eles e ela sempre foi muito categórica
quanto a isso, sempre dizia não", diz Osvaldo Gouveia.
A freira baiana
era insistente ao pedir dinheiro para a organização. Uma vez, recebeu uma
cusparada de um feirante na Feira de São Joaquim, na mão que estendera.
“Ela não aceitava
um não como resposta, porque sabia que a negativa não era para ela, mas para os
pobres, para os miseráveis", explica o assessor de Memória e Cultura da
Osid.
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