domingo, 24 de março de 2013

ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM - DOMINGO DE RAMOS



BENDITO O  QUE VEM EM NOME DO SENHOR(Mc 11,9)

Diácono Milton Restivo

            “Levaram a Jesus o jumentinho, sobre o qual puseram as suas vestes. E ele o montou. Muitos estenderam as suas vestes pelo caminho, outros puseram ramos que haviam apanhado nos campos. Os que iam à frente dele e os que o seguiam, clamavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, do nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus” (Marcos, 11, 7-10)
            Jesus entra em Jerusalém.  É uma entrada triunfal, digna de um rei. O povo todo acorre para recebê-lo na entrada da cidade, ele que vem montado num jumentinho, como já havia predito o profeta Zacarias: “Exulta muito, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho da jumenta.” (Zc 9-9).
            O povo todo vem a ele, recebe-o na entrada da cidade e o acompanha em todo o percurso, cantando e louvando, estendendo seus mantos no chão à sua frente, empunhando ramos e galhos de árvores, como faziam aos seus reis e aos seus heróis que adentravam à cidade; somente os reis e os heróis do povo eram recepcionados daquela forma.
             Jesus, acompanhado de seus apóstolos, montado em um jumentinho, era recebido clamorosamente na cidade e entrava triunfalmente em Jerusalém.
            Era o começo do fim...  Estava chegando a sua hora... A hora final... A hora da entrega total...   A hora do sacrifício supremo... Os homens jamais entenderiam isso...
            Os homens não podem, jamais, entender o sacrifício de um Deus.
            E Jesus é a vítima, a hóstia imaculada, que se coloca nas mãos do Pai para sofrer os maiores sacrifícios, as maiores humilhações, as maiores dores e, finalmente, morrer por aqueles que não sabem amar.    A entrada triunfal em Jerusalém é o começo do fim.
            Horas depois, Jesus faria, com seus apóstolos, a sua última ceia e, na oportunidade, lavaria os pés de cada um deles (Jo 13,1-20); instituiria a Eucaristia (Lc 22,19-20); iria rezar angustiosamente e suar sangue no Horto das Oliveiras (Lc 22,39-47); suportaria com dor e resignação a traição de Judas (Lc 22,47-49); seria preso (Lc 22,47-54); Pedro, o Apóstolo que dissera que, se preciso fosse morreria com ele, o negaria por três vezes (Lc 22,54-62); seria flagelado, coroados de espinhos, coberto com um manto de púrpura, os guardas caçoariam dele, o povo zombaria dele, passaria por um julgamento injusto e, finalmente, pela covardia de um homem, Pilatos, que, na oportunidade, representava toda a humanidade, seria entregue para ser crucificado e levantado entre o céu e a terra no monte Calvário na presença de todo o povo e sob os olhares dolorosos de sua mãe, a mãe das dores... Na entrada triunfal de Jerusalém Jesus sabia que tudo isso lhe ia acontecer.
Ele apenas queria passar os seus últimos momentos neste vale de lágrimas com os seus apóstolos.  Queria dar-lhes as últimas instruções e fortalecê-los na fé.
            Um dia ele ainda diria: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo  quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28,17-20), e, para antecipar a sua permanência “todos os dias, até a consumação dos séculos”, no meio daqueles que o tem como Rei e Salvador, na última ceia que faz com seus apóstolos, institui a Eucaristia.
            A sua missão estava por terminar e Jesus não se esquecera de nada, absolutamente nada; agora, para comprovar e deixar claro a ingratidão dos homens, ele entra triunfalmente em Jerusalém e, aquele povo que o aclamava e o proclamava rei, vai ser o mesmo que, em seu julgamento irá gritar com cólera: “Crucifica-o” (Mc 15,13)
            A maior das injustiças está para ser consumada; o maior pecado da humanidade está para acontecer.  Mas, se não existisse o maior pecado, não poderia existir o maior perdão. Como os homens são volúveis, instáveis; são como bandeirolas ao sabor do vento, para a direção que o vento sopra, se inclinam.  Para onde vão as suas inclinações, os seus interesses, os seus desejos, os homens se deixam levar. Quantas vezes nos identificamos com aquele povo, aquelas pessoas que receberam triunfalmente Jesus em Jerusalém, montado em um jumentinho; quantas vezes isso acontece em nossas vidas. Quando tudo está bem, quando tudo corre às mil maravilhas, empunhamos ramos, colocamos nossos mantos no chão para que o Mestre passe por sobre eles, cantamos louvores e dizemos: “Bendito aquele que vem, o Rei, em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto dos céus!” (Lc 19,38). 
            Mas, quando a situação se inverte, quando tudo começa a dar errado, quando o Cristo quer testar a nossa fé, a nossa perseverança e nos faz passar por grandes tribulações, com a mesma mão que levantamos e abanamos os ramos para o saudar, atiramos-lhe pedras e, com a mesma boca e voz que cantamos louvores, gritamos: “Crucifica-o”. (Mc 15,13).  Não somos, em nada, diferentes daquele povo que o louvou e depois clamou por sua morte, e morte de cruz...
            Jesus sobe, pela última vez até a cidade de Jerusalém, que era o centro da religião judaica, aquela cidade que, por muitas vezes, recebera com festa os profetas, os enviados de Deus, os homens santos para, logo em seguida, matá-los por não concordar com as suas propostas de conversão, arrependimento e penitência. Com Jesus não ia ser diferente.
            Quantas vezes Jesus, com os seus apóstolos e discípulos, cruzou as portas daquela cidade, entrou em Jerusalém como o Enviado de Deus, pregando a Boa Nova, curando toda espécie de doenças, perdoando os pecados, afugentando os demônios, expulsando os vendilhões do templo, chamando a atenção e discutindo com os hipócritas escribas e fariseus que se julgavam justos e santos quando, na verdade, eram eles que levavam o povo para o caminho contrário aos ensinamentos de Jesus.
            Por muitas vezes Jesus estivera em Jerusalém, sempre levando a certeza da salvação eterna para aqueles que acreditassem nele, que ouvissem a sua voz e que colocassem em prática os seus ensinamentos.  Mas o povo é muito inconstante...
            Enquanto Jesus estava com o povo, o povo estava com Jesus, cercava Jesus muito mais interessado  em que Jesus lhe curasse os males físicos e lhe matasse a fome com multiplicações de pães e peixes do que em ouvir a Boa Nova da Salvação da qual Jesus se auto-proclamou, dizendo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”, (Jo 14,6), e garantiu: Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10,10).
            E agora Jesus está voltando, pela última vez, à cidade de Jerusalém... Seria a última vez que Jesus entrava, com vida, em Jerusalém. Não sairá de lá com vida. Que ironia!!!
            Nunca é demais repetir que, aquele mesmo povo que, por muitas vezes, se reuniu em praça pública, nas planícies, margens de lagos e montanhas para ouvi-lo, aquele mesmo povo que levou seus doentes até Jesus para serem curados de suas enfermidades, aquele mesmo povo que teve muitos de seus pecados perdoados, aquele mesmo povo que fora escolhido entre todos os povos da terra para receber, em primeiro lugar, a mensagem de salvação de Deus, também agora, nessa oportunidade  em que Jesus entra montado em um jumentinho pelas portas de Jerusalém, se reúne para recebê-lo como a um Rei e aclamá-lo como um vencedor, iria vociferar, dizendo: “Crucifica-o.” (Mc 15,13).
            Jesus conhecia muito bem aquele povo... Jesus conhece muito bem os homens... Ele já sabia que aquele povo que gritava, saudando-o: “Bendito aquele que vem, o Rei, em nome do Senhor!” (Lc 19,38), logo mais iria se juntar defronte ao palácio de Pilatos, apontaria o dedo em direção a Jesus, e diria: “Crucifica-o.” (Mc 15,13). Jesus sabia de tudo isso, mas ele era a vítima santa e imaculada que deveria ser entregue  para ser sacrificada pela salvação de todos os homens; ele era o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” (João, 1, 29).
            O povo de hoje nada mudou em relação do povo do tempo de Jesus; em nada se difere do povo que recepcionou Jesus com aclamações para depois pedir pela sua morte e crucificação...
            Mas, para aqueles que aderiram ao Mestre, aceitaram a sua mensagem e receberam Jesus como Salvador, Jesus deixa essa mensagem de amor e confiança: “Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for  e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde em estiver, estejais vós também. E para onde vou, conheceis o caminho.” (Jo 14,2-4).

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