sábado, 14 de setembro de 2013

O FILHO PRÓDIGO

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Ano – C; Cor – Verde; Leituras: Ex 32,7-11.13-14; Sl 50; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32.

"ASSIM COMO O PAI ME AMOU, EU TAMBÉM AMEI VOCÊS” (Jo 15,9).

Diácono Milton Restivo

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Muitas vezes, nos nossos momentos de reflexão, passam em nossa memória, como num filme repisado, fatos, cenas e histórias ocorridas em nossa infância que, quando a rememoramos, nos invade uma nostálgica saudade. Muitas dessas histórias ainda nos servem como motivo de meditação. Quando leio e medito a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32), recordo quando a professora de religião, a devotada catequista, na minha infância, me preparava para assumir o meu lugar na Igreja de Jesus Cristo, e, no intuito de fazer com que eu e todos os meus coleguinhas de classe entendêssemos de uma só vez o grande amor que o Pai tem por seus filhos e ao mesmo tempo o supremo sacrifício de Jesus Cristo, que morreu, por amor, por todos nós, numa cruz, de maneira clara, precisa e comovente, contava para nós. E essa narrativa era mais ou menos assim:
"Numa fazenda distante, há muito tempo atrás, onde havia abastância de tudo, vivia um pai, que era o proprietário da fazenda, e seus dois filhos. Nada lhes faltava; a vida era um paraíso. Certo dia, o filho mais moço, que até então só conhecia o que havia de bom e de melhor e que convivia em plena harmonia com o pai e com o irmão mais velho, talvez enfastiado de tanta prodigalidade e querendo conhecer novas pessoas, novas terras e novos costumes e viver novas aventuras, chega-se ao pai e lhe diz que quer a sua parte na herança porque entendeu que já chegou o momento de viver a sua própria vida. O pai, temeroso das consequências desse ato impulsivo do filho e preocupado com as sequelas irreparáveis em sua vida no futuro, tenta demovê-lo dessa idéia, explicando-lhe que ali, em sua casa, era tudo seu, tinha de tudo e nada lhe faltava e que a vida lá fora poderia não ser tão boa como ele estivesse imaginando que fosse; mas tudo o que o pai tentou fazer foi em vão, e o filho insistiu: “Pai, dá-me parte dos bens que me toca. E o pai repartiu entre eles os bens. Passados poucos dias, juntando tudo o que era seu, o filho mais novo partiu para uma terra distante...” (Lc 15,12-13).  Na fazenda ficaram o pai e o seu irmão mais velho. O tempo passou, e foi passando, e, todos os dias, o pai ia até a entrada da fazenda e aguardava ansioso o retorno do filho aventureiro e, dia após dia, frustrado com a não volta de seu filho o pai, de tão acabrunhado que ficou, adoeceu, causando grandes preocupações ao filho mais velho. O filho mais velho, vendo o sofrimento do pai, vai até seu leito e lhe diz: “Meu pai, estou preocupado com o seu estado de saúde. Sei que isso é consequência da partida de seu filho e meu irmão mais novo. Tranquilize-se, então, pai, vou à busca de meu irmão mais novo; vou partir por este mundo a fora e não voltarei enquanto não encontrá-lo, ainda que isso me custe a vida”. O velho pai abençoou o filho mais velho e este partiu, deixando naquele coração paterno, velho, cansado e sofrido, uma tênue réstia de esperança. O irmão mais velho, preocupado com o destino do irmão mais moço e com a saúde de seu velho pai, partiu e começou a percorrer o mundo à busca de seu irmão e filho ingrato que havia desprezado todo o conforto de sua casa além do amor do pai e do irmão mais velho e ir à busca de vida nova e novas aventuras. Andou muito e por muito tempo, sem descanso. Após muito andar e já extenuado, para buscar descanso, entrou em uma pequena cidade a fim de refazer suas forças e dar continuidade às suas buscas. Ao se aproximar do centro da cidade observou uma movimentação inusitada, uma aglomeração de pessoas, muito vozerio e agitação nervosa; a multidão estava revoltada. O filho mais velho, então, procurou certificar-se sobre o que estava acontecendo; infiltrou-se no meio da multidão agitada e nervosa e, após consultar várias pessoas, verificou tratar-se  de uma execução  em praça pública: ali, naquele local público, aquele povo ia presenciar a execução de um criminoso, um homicida. Bem lá na frente, no meio da praça, estava armado o cadafalso, a forca, onde deveria ser executado o criminoso. Voltando seu olhar para um lado da praça observa que surge um séquito de soldados armados escoltando o criminoso que ia ser julgado e, indubitavelmente, condenado à morte e executado ali mesmo.  Acompanhando o séquito estava o juiz que ia julgar e daria a sentença final e  o carrasco que executaria a pena de morte. Subiram no tablado do cadafalso, que ficava acima do povo, o criminoso entre dois soldados, o juiz e o carrasco. O irmão mais velho ficou perplexo, petrificado com a cena que estava presenciando; ficou estarrecido e, com espanto e extrema tristeza constatou que o criminoso que iria ser julgado e possivelmente condenado à morte não era outro senão seu irmão mais  novo. O criminoso foi julgado e... condenado à morte... Era costume daquele povo que depois do julgamento e antes da execução da sentença de morte, o juiz fizesse três perguntas ao condenado e a todos aqueles que presenciavam tão terrificante cena. E o juiz fez a primeira pergunta ao condenado à morte: Você reconhece que é culpado do crime pelo qual está sendo condenado à morte?”Respondeu o condenado: “Sim”. O juiz faz a segunda pergunta, dirigindo-se ao condenado: “Você está arrependido do que fez?” Respondeu o condenado: “Sim”. Era praxe o juiz dirigir a terceira pergunta ao povo que presenciava a execução e, dirigindo-se à multidão, pergunta: “Alguém, dentre vocês, quer morrer no lugar do condenado?” Fez-se silêncio mortal na praça; era possível ouvir o zumbido do esvoaçar de qualquer mosca que por ali passasse. Quem seria tão insano de sacrificar a sua própria vida em favor de um condenado que não havia respeitado a vida de outro? O juiz repete a pergunta aos presentes: “Alguém, dentre vocês, quer morrer no lugar do condenado”? O irmão mais velho assistia perplexo aquela cena constrangedora e terrível e, naquele momento, em frações de segundo, passa por sua cabeça o sofrimento do pai moribundo que já havia perdido seu filho mais novo para o mundo e agora só teria notícia de sua morte infame: não o veria mais, e isso poderia acarretar a morte também de seu pai. O amor pelo pai e pelo irmão mais novo falou mais alto no coração do irmão mais velho e era o momento de ele manifestar a maior prova de amor que ele mesmo herdara do pai: “Assim como meu Pai me amou eu também amei vocês: permaneçam no meu amor”. (Jo 15,9). Era o momento do sacrifício supremo e mostrar a maior prova de amor: “Não existe amor maior do que dar a vida pelo seu irmão”. (Jo 15,13). Então, para espanto geral de todos aqueles que presenciavam aquela cena lúgubre, uma voz se levantou no meio da multidão emudecida: “Eu quero morrer no lugar dele!”Era o irmão mais velho. Ao dizer isso, o irmão mais velho abriu caminho entre a multidão estupefata e se dirigiu com decisão ao cadafalso. O irmão mais novo, já condenado à morte, ao vê-lo, abraçou-o e chorou amargamente. Ao presenciar aquela cena pungente o juiz permitiu que os dois trocassem algumas palavras a sós e o irmão mais velho inquiriu ao mais novo como tudo aquilo havia acontecido, considerando que ele havia saído da casa de seu pai com uma fortuna considerável na bolsa. O irmão mais novo conta que: “Depois de haver consumido tudo (toda a sua riqueza), houve naquele país uma grande fome e ele começou a sentir necessidade. Foi, pois, e pôs-se ao serviço de um dos cidadãos daquela terra. Este o mandou para os seus campos guardar porcos. Desejava encher o seu estômago da lavagem que os porcos comiam e ninguém lhas dava. Mas, tendo entrado em si, disse: quantos empregados há na casa de meu pai, que tem pão em abundância e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e lhe direi: "Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um de teus empregados.” (Lc 15,14-19). E continua na sua narrativa o filho mais moço: "E, a partir dai, comecei a minha caminhada para a casa do pai, mas, no caminho, a miséria era tanta e a fome terrível que, na ânsia de sobreviver, me vi obrigado a roubar para ter o que comer e fui surpreendido e, para me defender acabei por matar um homem, e, por isso, estou nessas condições...”  Depois de narrar todo esse acontecimento o filho mais jovem tentou demover o irmão mais velho dessa sua atitude extrema, de se entregar à morte por ele porque o criminoso havia sido ele e não o irmão que se propusera a morrer em seu lugar. O irmão mais velho o tranquilizou, dizendo: “O nosso pai está velho e alquebrado por todos esses acontecimentos, abatido e doente e, a cada dia que se passou de sua partida ele mais se abateu e mais doente ficou; então eu lhe prometi que você voltaria para a nossa casa, ainda que isso custasse a minha própria vida.” E o irmão mais velho, segundo o costume daquele povo, tomou o lugar do irmão mais moço no cadafalso, e este voltou para a casa do pai que “... viu-o, ficou movido de compaixão, e, correndo, lançou-lhe os braços ao pescoço e beijou-o." (Lc 15,20), às custas da vida do irmão mais velho...
Hoje eu entendo o que essa minha catequista queria nos transmitir: o nosso irmão mais velho, diferentemente da parábola, é JESUS CRISTO que dá a vida por todos e por cada um de nós que viramos as costas para o Pai, para que tenhamos condições de voltar para a casa do Pai...

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