terça-feira, 5 de agosto de 2014

OS GESTOS SIMBÓLICOS DO PAPA FRANCISCO

OS GESTOS SIMBÓLICOS DO PAPA FRANCISCO

O novo Papa Francisco, antes de pronunciar discursos e escrever encíclicas foi realizando uma série de gestos simbólicos de grande carga significativa que foram facilmente captados por todo o mundo e foram amplamente difundidos pelos meios de comunicação.
Estes gestos foram mudando o ambiente eclesial dominante, aproximaram a Igreja do mundo de hoje e suscitaram a esperança de uma nova primavera eclesial:
  • proclama-se simplesmente Bispo de Roma, 
  • assume o nome de Francisco, o poverello [pobrezinho] de Assis que queria reformar a Igreja, 
  • pede orações por ele ao povo, 
  • beija um menino deficiente e abraça um homem com o rosto totalmente deformado, 
  • na Quinta-feira Santa lava os pés de uma jovem muçulmana de uma prisão, 
  • em Assis come com crianças com síndrome de Down, 
  • vai à ilha de Lampedusa em sua primeira viagem para fora de Roma e joga uma coroa de flores amarelas e brancas ao mar em memória dos emigrantes mortos, 
  • convoca um dia mundial de oração e de jejum pela paz na Síria interpelado fortemente pelos rostos das crianças mortas por armas químicas, 
  • usa seus sapatos velhos em vez dos sapatos vermelhos de seu antecessor, 
  • opta por não morar nos Palácios Apostólicos Vaticanos, mas na residência de Santa Marta, 
  • viaja por Roma em um carro simples e pequeno para não escandalizar as pessoas dos bairros periféricos populares, 
  • responde a perguntas de um jornalista não crente, 
  • convida rabinos da Argentina para visitá-lo em Santa Marta, 
  • presenteia sapatinhos para o neto de Cristina Fernández de Kirchner, 
  • recebe Gustavo Gutiérrez, o pai da Teologia da Libertação, 
  • leva um ramo de flores à sepultura do Pe. Pedro Arrupe, 
  • convida quatro mendigos para o seu aniversário, 
  • visita favelas no Rio [de Janeiro, Brasil] e casas de migrantes africanos em Roma... 
Estas “florzinhas do Papa Francisco”, assim como as “florzinhas de João XXIII”, foram facilmente entendidas pelo povo.
Os especialistas em semiótica ressaltam o valor significativo dos gestos simbólicos, que vão além das palavras, pois os símbolos sempre dão o que pensar. Isto é verdade, mas à margem desta explicação semiótica, há outra razão mais profunda que explica esta mudança de receptividade eclesial e mundial: estes gestos simbólicos de Francisco têm um profundo sabor evangélico, têm o cheiro do Evangelho, de Jesus de Nazaré. Por isso, não apenas seus gestos, mas também suas palavras são acolhidas agora de uma forma nova.
O que Francisco diz e faz não é senão traduzir o Evangelho para o mundo de hoje: está mais preocupado com a fome no mundo do que com os problemas intraeclesiais [internos da Igreja Católica], afirma que mais do que se centrar obsessivamente nos problemas morais é preciso anunciar a grande alegria da salvação que vem de Jesus, sonha que a Igreja seja uma Igreja pobre e dos pobres.
Pouco a pouco foi acrescentando aos gestos simbólicos mensagens de grande conteúdo pastoral, desde as suas homilias diárias na Capela de Santa Marta até a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Se João Paulo II e Bento XVI eram professores universitários, Francisco é, sobretudo, pastor, como João XXIII.
Mudou totalmente o clima pastoral, há um ar novo vindo desta vez do Sul, “do fim do mundo”, do mundo dos pobres. Os gestos e palavras de Francisco não são fruto de uma improvisação, mas consequência do seu trabalho pastoral em Buenos Aires, do seu contato com o povo, com as favelas, com os padres “villeros” [da periferia]. Mudou também o clima eclesial, há alegria e entusiasmo entre os fiéis, há expectativa e surpresa nos ambientes sociais e políticos que o nomearam o Homem do Ano; 2013 foi o ano do Papa Francisco.
Víctor Codina - teólogo jesuíta espanhol

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