sábado, 15 de julho de 2017

PARÁBOLA DO SEMEADOR

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

“A SEMENTE QUE CAIU EM BOA TERRA É AQUELE QUE OUVE A PALAVRA E A COMPREENDE. ESTE PRODUZ FRUTO.” (Mt 13,23)

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Diácono Milton Restivo

O Evangelho de Mateus mostra, a partir da parábola do semeador, a segunda parte do ministério de Jesus.
Na primeira parte Jesus se apresentou ao povo como o Messias e, no sermão da montanha, que abrange os capítulos de 5 a 7 de Mateus, faz uma comparação da Lei de Moisés com aquilo que o Messias esperava de seus seguidores, onde Jesus repete por várias vezes, após citar uma determinação da Lei de Moisés: “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos... eu, porém, lhes digo...” (Mt 5,21.27.33.38.43). Depois Jesus escolhe os doze apóstolos (Mt 10, 1-5), enviando-os para anunciar a todos os judeus que “O Reino do Céu está próximo”. (Mt 10,5-15).
No capítulo 13 do Evangelho de Mateus Jesus dá início ao chamado discurso das parábolas do mistério e, somente neste capítulo Jesus conta sete parábolas, tendo explicado algumas.
As parábolas contadas por Jesus neste capítulo são: do semeador (Mt 13,4-23); do trigo e do joio (Mt 13,24-30); do grão de mostarda (Mt 13,31-32); do fermento (Mt 13,33-35); do tesouro escondido (Mt 13,44); das pérolas (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50).
Neste domingo o Evangelho apresentado é o da parábola do semeador; nos domingos subsequentes serão apresentadas as demais parábolas constantes deste capítulo.
No discurso do Sermão da Montanha, constante dos capítulos de 5 a 7 de Mateus, Jesus olhou para o passado, para a Lei de Moisés e, nesta segunda parte do seu ministério, começando com as parábolas, Jesus olha para o futuro e define o Reino de Deus que deve ser vivido por todos aqueles que aderirem à sua mensagem e aos que optarem a colocar a mão no arado e não olhar para trás (cf Lc 9,62). 
      Mateus dá inicio ao capítulo 13 dizendo: “Naquele dia, Jesus saiu de casa, e foi sentar-se às margens do mar da Galiléia”. (Mt 13,1).
Como entender essa atitude de Jesus? Até então Jesus havia relutado para fazer com que as autoridades do povo, os líderes religiosos do judaísmo e o povo em geral, entendessem a sua missão e assimilassem a sua mensagem, mas não obteve êxito porque: “Logo depois, os fariseus saíram e fizeram um plano para matar Jesus.” (Mt 12,14). A seguir Jesus anuncia uma nova geração, um novo povo: “... todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Mt 12,50).
O capítulo 13 de Mateus começa com Jesus saindo de casa e indo sentar-se às margens do mar da Galiléia. Mateus é muito perspicaz, e se for analisado isso com os olhos da fé e à luz da teologia, pode-se entender que a casa que Jesus saiu seria Israel e o mar que se descortinava à sua frente, seria toda a humanidade.
A partir daí Jesus deixa de tratar especifica e diretamente com Israel, mas se volta para toda a humanidade. E Mateus continua: “Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé na praia.” (Mt 13,2).
Por várias vezes os Evangelhos narram Jesus ensinando de uma barca (Mc 3,9; 4,1; Lc 5,3) incluindo esta citação de Mateus. Pedro era pescador e, costumeiramente, é dito que a barca de onde Jesus ensinava era a de Pedro, criando assim a imagem da Igreja como sendo a barca de Pedro de onde Jesus ensina.
A parábola era um método muito comum entre os rabinos palestinos, porque era de fácil compreensão para o povo em geral. As parábolas têm também algo enigmático, que exige uma explicação mais detalhada, o que Jesus muitas vezes fazia em particular para seus discípulos, como foi o caso desta parábola do semeador.
E Jesus começa a ensinar por parábolas.
Muitas vezes, para se fazer entender quando transmitia sua mensagem, Jesus lançava mão de ilustrações tiradas da natureza, como, por exemplo, a parábola do semeador que meditamos hoje e que consta, além de Mateus, também nos Evangelhos de Marcos 4,1-9 e de Lucas 8,4-15.
Jesus lançava mão dos costumes domésticos e da vida diária como, por exemplo, a parábola do fermento em Mateus 13,33; a parábola da lâmpada em Marcos 4,3-9; de acontecimentos contrários que acabavam trazendo alegria, como as parábolas da ovelha desgarrada e da moeda perdida em Lucas 15,3-10; eventos da história recente como a parábola do rei que distribuiu moedas para seus empregados e os cobrou depois para ver que destino haviam dado a elas, em Lucas 19,11-28; das lições da vida doméstica, como a parábola do filho pródigo em Lucas 15,11-32; costumes e tradições, como a parábola das dez virgens em Mateus 25,1-13 e do casamento do filho do rei em Mateus 22,1-14; de profissões como pastor em João 10,11-14, do agricultor em João 15,1; e até de jogos infantis, como em Lucas 7,31-32. Muitos mais exemplos poderiam ser aqui citados.
As parábolas de Jesus estão sempre fora da compreensão dos fariseus por causa de sua hostilidade, e do povo, por causa de sua incredulidade.
Os discípulos perguntaram porque Jesus falava ao povo assim, em parábolas, ao invés de falar às claras. Jesus respondeu, dizendo que havia duas espécies de ouvintes: os discípulos a quem foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, e o povo e dos fariseus a quem esse conhecimento foi omitido por causa de sua hostilidade e incredulidade: “os discípulos aproximaram-se, e perguntaram a Jesus: ‘Porque usas parábolas para falar com eles’? Jesus respondeu: ‘Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. Pois a quem tem será dado ainda mais, será dado em abundância; mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem.” (Mt 13,10-12).
Costumeiramente rotula-se este domingo como o domingo do Semeador, ou da parábola do Semeador.
A parábola do Semeador contém três elementos fundamentais: o semeador, a semente e o terreno. O Semeador e a semente são constantes. O Semeador é habilidoso e espalha a semente por igual qualquer que seja o tipo de terreno. A semente é, indiscutivelmente, boa; muitos terrenos nem tanto. Mas o trabalho hábil do semeador e a capacidade de germinação da semente dependem, para seu sucesso, da natureza do solo, e aqui é focalizada a parábola.
A que se referia Jesus no tocante a esses três elementos?
O semeador seria o Pai: “Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor.” (Jo 15,1).
A semente é a Palavra, não palavra com inicial minúscula, mas a Palavra por excelência: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. No começo ela estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” (Jo 1,1-4).
A semente, portanto, é a Palavra, e Jesus é “a Palavra que se fez homem e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). Claro que o semeador é elemento fundamental no plantio porque, sem ele, a semente não seria lançada na terra e não encontraria lugar e espaço para germinar. Mas, mais do que ater-se na pessoa do semeador, Jesus é repetitivo quando fala da semente e cuidadoso sobre o terreno onde esta semente se aloja.
Jesus coloca-se a si mesmo como a semente, considerando que a Semente é a Palavra que o semeador, Deus Pai, espalha sobre a terra.
Nem todos os textos são fiéis quanto a esses versículos, pois o certo seria escrever "palavra" com "P" maiúsculo como foi escrito nos originais da narrativa da parábola do semeador nos Evangelhos de Mateus e Lucas. E Lucas é taxativo e específico, quando diz: “A parábola quer dizer o seguinte: a semente é a Palavra de Deus.” (Lc 8,11). E a Palavra de Deus é Jesus: “a Palavra que se fez homem e veio habitar entre nós” (Jo 1,14).
Esta semente é comunicada de várias maneiras através da pregação das Escrituras.
A Palavra traz vida, consolo, alívio e orientação ao que a recebe.
A Palavra é uma semente com vida, poder e penetrante em si mesma: “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto onde a alma e o espírito se encontram e até onde as juntas e medulas se tocam; ela sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos.” (Hb 4,12).
A parábola do semeador realça vivamente, por um lado, a qualidade daqueles que receberam a Palavra e, por outro lado, as características que deverá reunir o que semeia a preciosa semente que é a Palavra.
Conforme disse Isaias na primeira leitura, essa semente é a Palavra que saiu da boca de Deus e que foi enviada do céu  e “assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a Palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la” (Is 55,10-11).
É importante que se note o papel do semeador. Sem o semeador a semente não será lançada.
Em primeira instância, como já foi dito, o semeador é o Pai, “pois Deus (o semeador) amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único (a Palavra – a semente) para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho (a Palavra – a semente) ao mundo (o terreno), não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele.” (Jo 3,16-17).
Depois de ter recebido a Palavra - a semente - do semeador que é Deus Pai, cada cristão é convocado, vocacionado por Deus como instrumento para a propagação do Seu Reino, da sua Palavra. Mas o cristão só pode ser efetivamente semeador da Palavra quando se rende totalmente à vontade do Pai.
Todos os cristãos devem ser semeadores das boas novas de Jesus, da Palavra, que é Jesus.
O Evangelho é a semente que produz vida. A terra onde estas sementes devem ser plantadas é cada pessoa com a qual o cristão convive. Isso deve ser feito com fé, pois ao lançar a semente, quem a lançou perde o controle sobre ela e, finalmente, deve esperar com paciência e oração até que a semente frutifique no coração das pessoas.
Verifica-se que na parábola Jesus não diz nada sobre a aparência do semeador, ou de sua capacidade, personalidade, reações ou realizações. O semeador simplesmente põe a semente em contato com o solo. É o ministério do cristão: semear com persistência.
A ação do cristão deve ser em todo o tempo e sem desanimar, conforme diz o livro do Eclesiastes: “Quem fica olhando o vento nunca semeia; quem fica olhando as nuvens, jamais colherá. Assim como você ignora o caminho por onde o sopro da vida entra nos ossos dentro do ventre da mulher grávida, assim também você ignora a obra de Deus, que fez todas as coisas. De manhã, semeie a sua semente, e de tarde não dê descanso à sua mão, porque você não sabe qual das sementes irá brotar, se esta ou aquela, ou se as duas serão boas.” (Ecl 11,4-6).
Jesus também disse que nem sempre o que semeia colhe, mas “um semeia e o outro colhe” (Jo 4,37) e antecipa “aquele que semeia, se alegra junto com aquele que colhe.” (Jo 4,36b).
O que semeia tem a promessa de que haverá frutos, mesmo que outro os colha: “Aquele que colhe, recebe desde já o salário, e recolhe fruto para a vida eterna.” (Jo 4,36a).
Paulo Apóstolo, como semeador da Palavra, tinha consciência disso, e afirma: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer. Aquele que planta e aquele que rega são iguais; e cada um vai receber o seu próprio salário, segundo a medida do seu trabalho.” (1Cor 3,6-8).
Uma das grandes virtudes do semeador é a paciência, porque toda plantação requer paciência e perseverança de quem a executa, conforme diz Tiago na sua carta: “Olhem o agricultor: ele espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a chuva do outono e da primavera. Sejam pacientes vocês também; fortaleçam os corações, pois a vinda do Senhor está próxima.” (Tg 5,7b-8).
Numa semeadura há a parte humana que lança a semente e a parte divina que faz a semente germinar e florescer. A parte humana, quando bem feita, não frustra a parte divina. Quando a parte humana falha, perde a oportunidade para sempre. Perde-a por negligência, por abuso ou mau uso. O atleta que não se exercita, perderá a força e o poder dos músculos. Se os dons de Deus não forem usados, vão perder-se, porque: “Quem sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.(Tg 4,17).
Ao terminar a parábola, “os discípulos aproximaram-se, e perguntaram a Jesus: ‘Porque usas parábolas para falar com eles’? Jesus respondeu: ‘Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. Pois a quem tem será dado ainda mais, será dado em abundância; mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem.” (Mt 13,10-12).
E Jesus aproveita para explicar com detalhes a parábola contada.
O Semeador é o Pai; Jesus é a semente, e a semente é a Palavra: “A parábola quer dizer o seguinte: a semente é a Palavra de Deus.” (Lc 8,11). E a Palavra de Deus é Jesus: “a Palavra que se fez homem e veio habitar entre nós” (Jo 1,14).
Na parábola foram colocados quatro tipo de terrenos: beira do caminho onde todos passam, terreno pedregoso impróprio para o plantio, meio dos espinhos onde as sementes são sufocadas e terra boa onde a semente germina e dá bons e abundantes frutos. Qualquer explicação além daquela que o próprio Jesus deu seria uma repetição daquilo que já se tem conhecimento.
Aquele que não entende porque não quer compreender, seria o terreno à beira do caminho: “vem o Maligno e rouba o que foi semeado no coração dele.” (Mt 13,19).
Aquele que gosta da mensagem, mas não a leva a sério, seria o terreno pedregoso: “é aquele que ouve a Palavra, e logo a recebe com alegria. Mas ele não tem raiz em si mesmo, é inconstante: quando chega uma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, ele desiste logo.” (Mt 13,21-22).
Aquele que dá maior valor ao mundo, ao ganho e às riquezas, é o terreno cheio de espinhos: “é aquele que houve a Palavra, mas a preocupação do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a Palavra, e ela fica sem dar frutos.” (Mt 13,22).
Agora, aquele que entende a mensagem, a obedece e a vive, é a terra boa: “é aquele que houve a Palavra e a compreende. Esse, com certeza, produz fruto. Um dá cem, outro sessenta, e outro trinta por um.” (Mt 13, 23).
E Jesus termina a parábola dizendo: “Quem tem ouvidos, ouça.” (Mt 13,9).

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