SÃO
TOMÉ – O APÓSTOLO QUE QUER VER PARA CRER
Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, que quer dizer
“Gêmeo” quando da manifestação de Jesus para os apóstolos, não estava com eles.
Disseram-lhe os outros discípulos: “Vimos
o Senhor”.
Tomé, que no seguimento a Jesus, havia vivido tantos
contratempos e acontecimentos que não entendera, já não era o mesmo Tomé
crente, mas um Tomé receoso, cuidadoso, atento a todos os pormenores com a sua
crítica exigente que tinha direito a resposta razoavel para todas as
afirmativas que colocassem em dúvida a sua credibilidade.
Deixara de ser um
homem pronto a crer e aceitar, e passou a se preocupar em não ser vítima da sua
auto-ilusão, mas aquele que se recusava a crer até no que via. Tomé aceitara o
convite de Jesus para segui-lo, e tinha
se proposto até ir com ele para Betânia e, se fosse necessário, morrer com
Jesus; Tomé queria saber para onde Jesus dizia que iria para ele pudesse ir
junto, não importando para onde fosse.
Mas tudo havia se tornado uma ilusão: o
Mestre havia morrido, o sonho acabara. E agora vem os discípulos e lhe dizem: “Vimos o Senhor” exatamente no dia e
hora em que Tomé
estava ausente.
Estariam os discípulos de Jesus querendo brincar com coisa tão
importante e séria? Tomé já havia acreditado demais. Não queria sofrer uma nova
desilusão. Ao ouvir: “Vimos o Senhor”,
Tomé responde prontamente e com convicção: “Se
eu não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos
cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma acreditarei.” (Jo
20,25).
Como pode ser interpretada esta atitude de Tomé? Indiferença? Descrença?
Honestamente, qual teria sido a sua atitude numa situação dessa? Você
acreditaria prontamente no que diziam, ou deixaria transparecer a sua dúvida, a
sua incredulidade, a sua indiferença, a sua descrença? Indiferença não. Talvez,
o medo de se encontrar com Jesus depois de tudo que se passara. Tomé, que havia
se declarado pronto a morrer pelo Mestre, que havia encorajado os outros
apóstolos a seguí-lo, afinal, também, como os demais, havia fugido na hora de
perigo em que o Mestre fora preso, julgado, condenado e crucificado.
Talvez o
medo de sofrer uma nova desilusão. A convivência com Jesus havia levado Tomé a
um mundo que não era o seu, e nesse momento, afastado do seu Mestre, voltara à sua
antiga natureza materialista.
Assaltado pela tristeza, pela dúvida e pela
desilusão, recusava-se a crer mesmo naquilo que visse, até que pudesse agarrar
com as suas mãos e fazer como os cegos que por vezes se enganam menos que os que
tem visão. E acontece que, “oito dias
depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa e Tomé estava
com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e
disse: ‘A paz esteja com vocês’.” (Jo 20,26).
E acontece que Tomé estava
presente. A voz calma de Jesus soa no ambiente com toda a nitidez: “A paz esteja com vocês”. Era a mesma
voz que Tomé tão bem conhecia e que durante três anos lhe falara da
ressurreição que ele, agora, colocava obstáculo e se recusava em aceitar.
O Mestre não
dirige a Tomé uma única palavra de censura, como também não faria a cada um de
nós. Em vez disso, o Mestre voltara com a sua calma costumeira e serenidade
para lhes dar a sua paz. Essa paz que excede todo o nosso entendimento.
O
Mestre está mais pronto a conceder o seu perdão do que nós a recebê-lo. Jesus
aproxima-se, olha para cada um dos apóstolos e fixa o seu olhar em Tomé. Desta vez Jesus
viera propositadamente para Tomé.
Era o Bom Pastor que vinha buscar a ovelha
perdida, o Mestre que vinha em auxílio do seu discípulo querido. Jesus
dirige-se para Tomé e coloca-se na sua frente, e lhe diz: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e
coloca-a no meu lado. E não seja incrédulo mas fiel.” (Jo 20,27).
Numa
crise de fé, Tomé tem de decidir e agir. Ele sente uma nova, verdadeira e
poderosa fé nascer no seu coração. Aquele Mestre que ele tanto amara, aquele
por quem estivera pronto a dar a sua vida, aquele em quem crera como homem,
como Mestre, como amigo, aquele em quem crera sem esperança, estava na sua
frente. Cristo voltara de além-túmulo para lhe dizer que era mais do que um Mestre,
mais do que um amigo, mais do que um profeta.
Cristo voltara para lhe lembrar
as suas palavras: “Não
fique perturbado o coração de vocês; acreditem em Deus, acreditem também em
mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu teria dito a
vocês; vou prepara lugar para vocês. E, se eu for e preparar lugar para
vocês, virei outra vez, e tomarei vocês para mim mesmo, para que onde eu
estiver estejam vocês também. E para onde eu vou vocês conhecem o caminho.” (Jo 14,1-4).
Tomé, movido pela poderosa fé que sentia no seu
coração, disse o que até aí não tinha descoberto: “Meu Senhor e meu Deus”. (Jo 20,28). Tomé tornou-se o
primeiro dos apóstolos a se dirigir a Jesus nestes termos, chamando-o de “Meu Deus”.
Ninguém até aquele momento,
nem mesmo Pedro, nem mesmo João,
haviam pronunciado a palavra “Deus” dirigindo-se a Jesus. Tomé não se limita a ter uma nova opinião sobre a
ressurreição de Jesus. Ele toma uma decisão. “Meu Senhor”.
Ele
se arrepende e entrega-se incondicionalmente a Jesus aceitando-o como seu Salvador.
“Meu Deus”. Já não era a mesma fé sem esperança, movida pela lealdade a um
amigo. Daí em diante, Tomé punha Jesus Cristo em igualdade com Deus Pai, acredita
em Jesus Cristo
como o Filho único de Deus.
Por vezes uma fé forte cresce vagarosamente. Após
três anos de estudos e experiências, alegrias e desilusões, Tomé atingira a
verdadeira maturidade da fé em
Jesus Cristo como Deus onipotente. Tomé, o chamado de obstinado,
descrente no testemunho até aí dado pelos apóstolos, passara a ser o mais
convicto de todos, avançando logo do fato da ressurreição para o adorar como
Senhor e como Deus.
Quando da primeira
vez Tomé se decidira a seguir a Cristo para morrer por ele, arrastara os outros
apóstolos após si. Com esta nova experiência de Tomé e com a sua declaração de
fé, a quantos crentes, através dos tempos, tem Tomé trazido aos caminhos do
Senhor? Podemos dizer que, Tomé duvidou para que nós pudéssemos crer. Quantos
de nós queremos ver para crer.
E Jesus admoesta a Tomé e a cada um de nós: “Você acreditou porque me viu?
Bem-aventurados os que acreditaram sem terem visto.” (Jo 20, 29).
São lembrados
também, neste dia: São Leão II (papa), Santo Anatólio, Santos Irineu e Mustíola
(mártires), São Jacinto da Capadócia (mártir), Santos Júlio, Aarão e
companheiros (mártires).
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