XI DOMINGO DO TEMPO COMUM
A FORÇA DO REINO – O GRÃO DE MOSTARDA
Ano – B; Cor – Verde; Leituras: Ez
17,22-24; Sl 91 (92); 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34.
“O REINO DE DEUS É COMO UMA SEMENTE DE
MOSTARDA, QUE É A MENOR DE TODAS AS SEMENTES DA TERRA”. (Mc 4,26-34).
Diácono Milton Restivo
Todo o ano litúrgico gira em torno de um único
mistério: a morte e ressurreição de Jesus em sua plenitude. No tempo
comum, como nos demais tempos litúrgicos, damos continuidade à celebração desse
mistério de Cristo.
Em cada domingo, fazemos memória dos relatos da vida
pública de Jesus.
Celebrando diferentes acontecimentos narrados nas
Sagradas Escrituras, vamos nos aproximando mais e mais do mistério de amor de
Deus pela humanidade.
Tendo como ponto de referência a Páscoa, cada domingo é
o fundamento e o núcleo do próprio ano litúrgico (SC aa106). Até porque,
de acordo com o testemunho das Escrituras, a assembléia cristã de culto
acontece no primeiro dia da semana:
·
“No primeiro
dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão.” (At 20,7);
·
“Todo primeiro
dia da semana, cada um coloque de lado aquilo que conseguiu economizar...” (1Cor 16,2).
Para entendermos bem o que seja o Tempo Comum, vamos
buscar nos escritos do Padre José Bortolini um esclarecimento que nos seja razoável:
·
”Tempo Comum,
na liturgia, não é sinônimo de rotina ou algo que acontece sem ser notado. O
tempo comum abraça todas as estações do ano: um pouco do verão em janeiro e
fevereiro, um pouco do outono em junho, todo o inverno e dois terços da
primavera. As estações são uma metáfora das etapas da vida ao longo do tempo
comum. O desabrochar da existência na primavera e no Batismo das crianças; a
pujança, vitalidade e fecundidade dos jovens e adultos no Crisma e Matrimônio;
o branquear dos cabelos e amadurecimento sapiencial no outono da terceira
idade; o inverno e o silêncio, a Unção dos Enfermos e a Páscoa irreversível de
cada pessoa rumo à casa do Pai: “Não fique perturbado o coração de vocês.
Acreditem em Deus e acreditem também em mim. Existem muitas moradas na casa do meu Pai.
Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para
vocês. E quando eu for e lhes tiver preparado um lugar, voltarei e levarei
vocês comigo, para onde eu estiver, estejam vocês também”. (Jo 14,1-3). O Tempo
Comum está inserido no Ano Litúrgico que é a celebração da vida de Jesus Cristo
ao longo de um ano. A cada ano, nós, os cristãos, revivemos as etapas mais
importantes da vida de nosso Senhor: seu nascimento, a morte, ressurreição,
ascensão e o envio do Espírito Santo; durante o Ano Litúrgico nossa caminhada
de fé é marcada pelos momentos fortes da vida do Senhor. A solenidade da
Santíssima Trindade é a primeira grande celebração após a retomada do Tempo
Comum. A cor litúrgica que a Igreja se reveste durante o Tempo Comum é o verde:
o altar (mesa da Eucaristia) e o ambão (mesa da Palavra) estarão revestidos com
uma toalha de cor verde; os paramentos do presidente da celebração: as estolas
e a casula do bispo e do padre e a estola e a dalmática do diácono também serão
verdes. O verde é a cor da esperança. O Tempo Comum, no começo do ano, começa
logo após o fim do Ciclo do Natal, que se encerra com o Batismo do Senhor. A
segunda-feira seguinte à festa do Batismo do Senhor já é a segunda-feira da
primeira semana do Tempo Comum. Neste ano de 2.012, durante o período do Tempo
Comum, estamos no ano B no que se refere às leituras do Evangelho; o ano B é de
Marcos, assim como o Ano A é Mateus e o Ano C é Lucas. A primeira leitura dos
domingos do Tempo Comum é sempre do Antigo Testamento e, tematicamente, prepara
o terreno para o Evangelho. O Salmo responsorial está sempre sintonizado com a
primeira leitura. A segunda leitura é sempre do Novo Testamento e é leitura
contínua dos principais trechos das Cartas e do Apocalipse. Nem sempre a
segunda leitura combina estreitamente com a primeira e o Evangelho. Um dos
objetivos dessa organização é fornecer, no intervalo de três anos, uma visão
integral dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.” (extraído do livreto “Por que creio - Tempo Comum, 40
respostas e perguntas” do Padre José Bortolini, editora Paulus).
É no comum da vida que se prova a arte de bem viver.
É no cotidiano que provamos nossa fidelidade ao
Senhor, razão de nossa vida e de nossa missão. Assim o Tempo Comum do Ano
Litúrgico evidencia a presença amorosa e fiel do Senhor nos acontecimentos
extraordinários ou rotineiros que tecem nosso dia-a-dia: conflitos e cansaços,
convivência, trabalho, lazer, lutas...
Experimentamos a Páscoa vivendo o dia-a-dia como tempo
de graça e salvação.
O Domingo
é, no Tempo Comum, Páscoa e Pentecostes semanais, dia do encontro gratuito da
comunidade para proclamar a vida que vence continuamente a morte, fazendo a
memória do mistério Pascal de Jesus.
A liturgia recomeça o Tempo Comum com Jesus
continuando a falar em parábolas sobre o Reino de Deus. No capítulo 4 de Marcos
Jesus continuou a ensinar o povo por meio de parábolas.
Primeiro Jesus conta a parábola do semeador que saiu
para semear, que nós conhecemos como a parábola do semeador.
Como é sabido, parábola é uma narração, geralmente
curta e baseada num acontecimento rotineiro e diário ou sazonal, para ensinar
uma verdade vivencial, moral ou espiritual, através de comparação com a vida
real.
A parábola é uma das formas da pregação de Jesus:
·
“Muitas coisas lhes falou em parábolas” (Mt 13,3).
Jesus fala aos discípulos e às multidões em parábolas.
A parábola permite então uma avaliação da profundidade
das relações que cada pessoa tem com Jesus: o critério de nossa intimidade com
Cristo está no fato de sermos seus discípulos (Mt 12,48-49; 13,55-57).
A parábola é “sacramento”, isto é, a parábola é um
gesto de Deus para o homem, um chamado e uma “provocação” de Deus ao
interlocutor humano.
Na parábola Jesus retoma casos e imagens da própria
vida: o campo, a semeadura, a casa, o mercador, a ovelha, o patrão, o
empregado, a vinha... É da realidade terrena e da vida vivida de cada dia que
Jesus chega às realidades sobrenaturais. É a lógica da encarnação.
Jesus, sempre que ficava sozinho com seus discípulos,
estes lhe perguntavam qual era o sentido das parábolas que lhes contava:
·
“Quando Jesus ficou sozinho, os que estavam com ele,
junto com os Doze, perguntaram o que significavam as parábolas”. (Mc 4, 10).
E Jesus os esclarecia a respeito.
No Evangelho deste domingo Jesus inicia falando do
homem que lançou a semente na terra.
Essa é a nossa função, essa é a função de todos os
cristãos: lançar a semente. Como na parábola do semeador, não importa aonde a
semente venha a cair, o importante é semear.
Não é responsabilidade do semeador se a semente cair
em terreno árido, rochoso, cheio de espinhos, e também não é sua
responsabilidade se a semente vier a germinar ou não. Isso vai depender do
terreno onde a semente caiu e da participação do agricultor, que é o Pai.
Por isso, Jesus tranquiliza o semeador:
·
“Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente
vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece”. (Mc 4,27).
Depois de espalhar a semente, de proclamar a Palavra,
o semeador, o cristão, pode dormir e acordar sossegado na certeza de ter
cumprido o seu dever; o que vem depois vai depender da terra em que a semente,
a Palavra foi semeada:
·
“porque o homem não sabe como isso acontece”,
porque é o Pai que passa a agir, e “a
terra produz fruto por si mesma” (Mc 4,28a).
Os resultados se fazem aparecer:
·
“primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por
fim, os grãos enchem a espiga” (Mc
4,28b).
Há a necessidade de que o semeador que semeia a
semente ou o cristão que proclama a Palavra confiarem e serem pacientes até que
elas germinem e frutifiquem como se estivessem esperando a vinda do ceifador,
que é o Pai, o agricultor, conforme disse Tiago em sua carta:
·
“Irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Olhem
o agricultor: ele espera pacientemente o fruto precioso da terra, até receber a
chuva do outono e da primavera. Sejam pacientes vocês também; fortaleçam os
corações, pois a vinda do Senhor está próxima”. (Tg 5,7).
Mas Jesus não para por ai; ele quer ver o resultado da
germinação e da frutificação da semente que foi lançada na terra:
·
“Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a
foice, porque o tempo da colheita chegou”. (Mc 4,29).
Assim como o semeador anseia pelo resultado de sua
plantação, e quando ela frutifica, ele apanha a foice para apará-la e colhê-la,
também o Pai, o agricultor anseia pela germinação e frutificação da Palavra que
foi lançada nos corações; no tempo oportuno Ele virá com a foice para colher os
seus frutos; os colherá, se tiverem vingado ou os cortará e lançará fogo na
plantação se estes o tiver decepcionado, conforme já dissera o profeta Joel:
·
“Lancem a foice, porque a colheita está madura. Venham
pisar, pois o tanque está cheio e os barris transbordando, porque é grande a
maldade das nações”. (Jl 4,13).
Depois dessa explanação, Jesus volta a se preocupar
com o Reino dos Céus e procura fazer uma comparação ou alusão:
·
“O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor
de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda cresce e
torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os
pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (Mc 4,31-32).
Como poderíamos trazer para os nossos dias essa
comparação que Jesus faz do Reino, da semente de mostarda, do seu crescimento
vertiginoso, dos seus grandes galhos e do abrigo que fornece aos pássaros?
O Reino de Deus é uma realidade no nosso meio. Um
grande edifício começa com o lançamento de um pequeno tijolo. Com pequenas
pedras se faz uma grande montanha. Com gotas de água se formam fontes, que se
tornam rios que se agrupam no mar, formando o grande oceano. Uma grande ceara
começa com o lançamento, por parte do semeador, de uma primeira e pequena
semente. Então o Reino de Deus começa com cada um dos cristãos.
O cristão é o primeiro tijolo, a primeira pedra, a
primeira gota de água, a primeira pequenina semente de uma grande plantação que
é o Reino de Deus.
O que está faltando para que Deus realize o seu grande
sonho de concretizar o Reino dos Céus? Semeadores da Palavra. Para o semeador
exercer a sua função há a necessidade da semente.
Tentar fazer uma colheita sem plantar a semente é
completamente ridículo.
Além de semeadores da Palavra, o cristão também deve
ser semente nas mãos do Pai e que esteja disposto a que o Senhor o plante onde
ele queira.
Toda semente destaca-se pela insignificância,
humildade e pequenez, e Jesus faz referência à menor de todas as sementes, a da
mostarda.
Quando o cristão se identificar com essa semente e se
deixar ser plantado onde o Pai o determina, de única, humilde e solitária
semente, ele germinará, crescerá, frutificará e os pássaros do céu irão buscar
conforto e refúgio nos seus galhos.
Jesus define bem o sacrifício, a entrega total e a
missão da semente:
·
“Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica
sozinho. Mas se morre, produz muitos frutos”. (Jo 12,24).
O Reino de Deus começou somente com um que subiu na
montanha para rezar, que depois escolheu doze, que depois escolheu setenta e
dois:
·
“Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de
rezar. E passou toda a noite em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos
e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Mt
6,12-13).
·
“Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a
dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus”. (Mc 6,7).
·
“Convocando os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre
todos os demônios, bem como para curar doenças, e enviou-os a proclamar o Reino
de Deus e a curar” [...] “Depois disso escolheu outros setenta e dois
discípulos, e os enviou dois a dois para toda cidade e lugar onde ele próprio
devia ir”. (Lc 9,1-2; 10,1).
Por que os mandou dois a dois para proclamar a chegada
do Reino? Porque ele havia dito:
·
“Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, eu estarei no meio deles”. (Mt
18,20).
Veja como o Reino de Deus se propagou por sobre a
terra: começou com uma simples sementinha de trigo que foi jogada no chão,
morreu e, depois de três dias, ressuscitou germinando, e deu muitos frutos:
·
“Eu garanto a vocês;
se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre,
produz muito fruto.” (cf Jo 12,24);
Esse grão que caiu na terra, morreu e ressuscitou,
escolheu doze, depois escolheu setenta e dois, depois escolheu a mim e a você e
que, por nós, fundou a Igreja sobre a qual o poder do inferno nada poderá
contra ela:
·
“... e o poder
da morte nunca poderá vencê-la.” (Mt
16,18b).
E tudo começou com um pequeno grão de mostarda, com o
grão de trigo que foi crucificado, jogado na terra, ressuscitado para nos
enviar o Espírito de Deus.
Será que deu para entender o que Jesus quis dizer:
·
“O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor
de todas as sementes da terra. Mas quando é semeada, a mostarda cresce e
torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os
pássaros do céu podem fazer ninhos à sua sombra”. (?) (Mc
4,31-32).
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