MARIA,
MÃE DAS DORES
“E uma espada traspassará tua alma”. (Lc
2, 35). Palavras do velho Simeão à Maria,
Mãe de Jesus Cristo, quando da apresentação do Menino Jesus no templo oito dias
após o seu nascimento. Naquele momento Maria deve não ter entendido bem toda a extensão e profundidade dessas,
palavras, mas, durante toda a sua vida ela as guardou e meditou em seu coração.
Trinta anos
depois, quando seu Filho Jesus começou a sua vida pública e Maria começou a
observar a ingratidão do povo para com o seu Deus, e, principalmente, quando se
aproximava a hora final, quando seu Filho deveria se entregar para ser a vítima
santa e imaculada, Maria começou a entender melhor o significado daquelas
palavras. E essa espada de dor que se cravou na alma de Maria se fez sentir
mais dolorosamente a partir da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando
ela pressentiu que aquilo era o começo do fim.
Mesmo à
distância Maria acompanhou o triunfo de seu Filho, um triunfo que foi apenas um
relâmpago que cortou os céus para, logo em seguida, explodir na trovoada das
injúrias lançadas contra o seu amado Filho, e a tempestade da ingratidão dos
homens a quem ele viera para salvar, e agora o condenam à morte.
Nos lábios de
Maria ainda afloram aquelas palavras de
entrega total que ela pronunciara quando da anunciação do Anjo: “Faça-se em mim segundo a tua palavra.”
(Lc 1, 38); e Maria, naqueles momentos de dores em que a espada em sua alma
se fazia mais sentir, recordava das palavras do velho Simeão e repetia a sua
entrega total a Deus Pai, tornando, desta maneira, ainda mais perfeito o
sacrifício de um Deus Criador que morria pelas suas criaturas.
Maria, nesses
momentos decisivos da salvação da humanidade, nos momentos mais dolorosos da
vida de seu Filho, não se afastou dele, e onde quer que ele estivesse lá estava
ela, nem que fosse em espírito, para, com a sua presença, dar mais forças para
que seu Sagrado Filho pudesse suportar com mais amor a ingratidão dos homens. Maria estava lá, na última ceia, e
comungou também do Corpo Sacrossanto de seu Amado Filho, a vítima imaculada, a
vítima perfeita.
Maria sentiu
as dores da flagelação, porque a carne que estava sendo massacrada pela
flagelação era a sua carne, e o sangue que estava sendo derramado do corpo de
seu Filho era o seu sangue. Maria sentiu os espinhos entrarem dolorosamente na
fronte e na cabeça de seu Filho, porque, aquela testa que estava sendo rasgada
tão tristemente dolorosa pelos espinhos, era a mesma testa que ela afagava e
beijava quando o seu inocente Jesus dormia, quando ainda criança. A espada de dor, mais do
que nunca, se fazia sentir na alma de Maria. E ela já sabia que tudo isso ia
acontecer, porque os Profetas do Antigo Testamento já haviam antecipado a paixão e morte do seu adorado Filho, e
Maria conhecia muito bem as Escrituras
Sagradas.
E agora, o
seu Filho, que viera salvar, é condenado. O seu Amado Filho, que curara tantos
doentes, que fizera tantos cegos voltarem a ver, os paralíticos andarem, os
mudo falarem, que perdoara tantos pecados, que expulsara tantos demônios, que
acabara com tantos males, que afastara tantas preocupações, que alimentara
tantos famintos, que aliviara tantas dores, recebe agora, em seus ombros, uma
cruz, a cruz que seria o seu leito de morte, a cruz que o deixaria suspenso
entre o céu e a terra para que todos os que os que olhassem para ele e
reconhecessem nele realmente o Filho de Deus, fossem salvos.
A entrega de Jesus
era como um ato de desespero de alguém que queria salvar, enquanto os que
deveriam ser salvos relutavam em permanecer no pecado e permanecerem no pecado e distanciados do
seu Salvador. E Maria acompanhava o seu Divino Filho pelo seu caminho da cruz até
o Calvário. Maria sente os impactos e as dores das chicotadas que rasgam aquela carne virginal de seu Filho; sente o
nojo dos escarros no rosto; depois, ouve a pancada forte e surda do martelo nos
cravos, rasgando violentamente aquelas mãos que se ergueram somente e apenas
para abençoar, para fazer o bem, para salvar; os cravos rasgam os pés que
caminharam somente e apenas para levar a salvação a todos os homens.
Maria, como o
seu Filho, também estava despedaçada, e repetia a frase do Profeta que dizia: “Você que passa pelo caminho, veja se há
dor semelhante à minha dor.”
Não há e
nem pode existir jamais dor semelhante
à sua, Virgem Mãe.
E nós, todos
nós, sem distinção, somos responsáveis por tudo isso.
E, no final
de tudo, a Senhora, Mãe, nos aceita como filhos; a Senhora aceita ser a nossa
Mãe, nos tornando, assim, irmãos do seu Divino Filho, a quem nós matamos e por
meio de quem fizemos a Senhora sofrer a espada de dor profetizada pelo velho
Simeão. Jamais entenderemos, Mãe, a extensão do seu amor para conosco porque,
se fosse aplicar a justiça, estaríamos todos perdidos irremediavelmente, mas,
maior que a justiça divina está a misericórdia de Deus, e a Senhora, Mãe, é a
Mãe de Misericórdia, é a personificação da Misericórdia Divina.
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