“’SENHOR, ONDE MORAS?’ ‘VEM E VÊ’.”
João
Batista, estando às margens do rio Jordão e vendo Jesus passar ao longe,
aponta-o para dois de seus discípulos, João e André, e lhes diz: “eis o Cordeiro de Deus”. Ouvindo essas
palavras os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-se para eles e vendo que o
estavam seguindo, Jesus perguntou: ‘o que vocês estão procurando?’ Eles
disseram: ‘Mestre, onde o senhor mora?’ Jesus respondeu: ‘Venham e vejam”. (Jo
1,36-39).
Se hoje
chegássemos a Jesus e lhe fizéssemos essa mesma pergunta que os discípulos de João
lhe fizeram quando o encontraram pela primeira
,vez: “Senhor, onde o Senhor mora?” da mesma
forma que ele respondeu para aqueles discípulos, responderia para cada um de
nós: “Venha e veja”. Mas, onde seria
a morada de Jesus?
Para
sabermos realmente, haveria necessidade de partirmos de uma de suas
recomendações: “Tudo o que você fizer a
um desses pequeninos, foi a mim que você fez” (Mt 25,40); reforçado por
outra afirmativa: “Eu vim para servir, e
não para ser servido”. (Mt 20,28). Há a necessidade, também de atentar para
uma chamada de atenção, quando Jesus falava da escatologia, do fim dos tempos,
do destino eterno de toda a humanidade: “Eu
tive fome... eu tive sede... eu era estrangeiro... eu estava nu... eu estava
doente... eu estava na cadeia...” e o que vocês fizeram por mim?
Se
entendermos bem essa chamada de atenção de Jesus, saberemos de imediato onde
ele mora e para onde ele nos convida para vivenciar com ele o espírito do amor, da caridade, do
desprendimento, da entrega total e ai, permaneceríamos com ele como fizeram
aqueles dois discípulos, não apenas um dia, mas a vida inteira. Se seguirmos
Jesus para que ele nos mostre onde ele mora, com certeza nos levaria a muitos
lugares.
Jesus nos
levaria a uma favela, onde famílias inteiras vivem à margem da sociedade,
excluídas dos benefícios que todos os cidadãos deveriam ter por justiça e por
direito como moradia, transporte, educação, saúde, segurança, condições básicas
de higiene e vivem marginalizadas pela sociedade podre e de rótulo enganador.
É ai que
Jesus mora. Na favela, onde as mulheres grávidas não são assistidas no
pré-natal e seus filhos nascem, como nasceu Jesus num curral de animais e teve
como primeiro berço um tronco de árvore escavado onde os animais se alimentavam
que, poeticamente, chamam de manjedoura. Foi ali que Jesus começou a sentir o
que é ser excluído, discriminado, rejeitado e esquecido como o são os que moram
na favela.
É ai que
Jesus mora. Jesus nos levaria a um reduto onde moram e dormem os moradores de
rua, sem ter um colchão para dormir, um cobertor para se aquecer, porque dormem
sobre o cimento frio das calçadas tendo como colchão papelões e como cobertores
folhas de jornais. Dormem de estômagos vazios, mas de almas cheias de esperança
de dias melhores. Vivem de sobras de pães e de restos de comida que são
disputados pelos cães com os quais eles dividem, demonstrando, assim, se os
homens e mulheres não têm generosidade para com eles, eles têm pelos seus
companheiros de infortúnio, os cães. É ai que Jesus mora.
Jesus nos
levaria numa sala de espera de Pronto Socorro, onde centenas de pessoas doentes
e necessitadas de cuidados médicos esperam horas para serem atendidas, e quando
são nem sempre têm o atendimento digno e merecedor de um cidadão que paga para
ser atendido nesses momentos de urgência e extrema necessidade. Mães que
seguram seus filhos no colo preocupadas com a febre alta que não passa.
Filhos que
acompanham seus pais idosos que nem na velhice tem uma assistência digna de um
cidadão que viveu a vida toda pela família e agora as famílias os vê morrerem à
míngua. É ai que Jesus mora.
Jesus nos
levaria a uma ambulância que tem por finalidade atender ao chamamento de
socorro das pessoas que passam por momentos difíceis de saúde e que não têm
condições de se dirigir por meios próprios até um ponto de atendimento, um
hospital, um pronto socorro e chegando a esses pontos de atendimentos não são
recebidos porque, dizem, não tem vaga, não tem médico especialista para a sua
doença, não tem leito e a ambulância faz uma via sacra com o doente buscando
hospitais que o possa socorrer. É ai que Jesus mora.
Jesus nos
levaria num orfanato, onde crianças foram rejeitadas por suas famílias, por
seus pais que lhe negaram amor, assistência, educação e segurança e que são
cuidadas por pessoas que, embora tenham muito amor para dar, não tem afinidade
nenhuma com essas crianças.
Crianças com
futuros incertos e que estão na espectativa de alguma família de bom coração
que as adote para que elas possam ter dignidade e uma vida de esperança. É ai
que Jesus mora.
Jesus nos
levaria a um asilo, onde velhos, depois de terem dado a vida para os seus
filhos, educação e expectativa de vida melhor, são jogados por esses mesmos
filhos nesses lugares porque, cuidar deles dá muito trabalho e, afinal das
contas os filhos precisam viver a sua própria vida e não podem perder tempo
cuidando de quem já não produz. É ai que Jesus mora.
Onde mais
Jesus nos levaria para dizer onde ele mora? Num presídio, num prostíbulo, num
manicômio, ao lado de um leito de um moribundo... É ai que Jesus mora...
Então, será
que entendemos o que Jesus quis dizer, quando disse:“Tudo o que você fizer a um desses pequeninos, foi a mim que você fez”
(Mt 25,40); reforçado por outra afirmativa: “Eu
vim para servir, e não para ser servido”. (Mt 20,28), “Eu tive fome... eu tive sede... eu era estrangeiro... eu estava nu...
eu estava doente... eu estava na cadeia...” e o que vocês fizeram por mim?
Será que agora sabemos onde Jesus mora?
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